sexta-feira, 27 de abril de 2018

Como caminhar para a saída

O Brasil precisa suspender as hostilidades. Manter essa briga de faca no escuro é o modo mais eficaz de não permitir que o que quer que seja mude. E não mudar tudo, e logo, vai nos levar reto para uma ditadura da violência organizada violenta o bastante para deter a violência desorganizada que está pondo o país em pânico.

Ditadura de que “lado”?

Daquele que nos manterá impossibilitados de aprender democracia, fora do nosso tempo e condenados a voltar sempre ao ponto de partida como estamos voltando mais uma vez agora…

Lava Jato?

É o que temos pra hoje. Quem ainda resiste ao desespero resiste agarrado a ela porque fora dela nada nos foi oferecido. Mas a esta altura todo mundo já aprendeu a manipulá-la. Ha lava jatos para todos os gostos e finalidades e só a menor e menos poderosa delas é realmente séria. O caminho para dar a cada um o que ficou devendo à justiça seria voltarmos a respeitar os pormenores, o que quer dizer reduzir drasticamente a velocidade. Deus (ou o diabo) está nos detalhes que o Brasil foi levado a deixar de enxergar porque essa era a unica maneira de evitar que os condenados na Ação Penal 470, do Mensalão, diferentes de todo o resto da boa e da má política do Brasil como de fato são, fossem expulsos para sempre do jogo democrático que trabalham para destruir por dentro.

A primeira parte das gravações dos 1829 candidatos de 28 partidos pedindo dinheiro de campanha que Joésley tem guardadas e às quais dá ou não “acesso” a jornais e TVs on demand, é igual para quem parou por aí ou para quem foi além vendendo favores para se locupletar. Apoiar só nessa parte as manchetes é a maneira mais fácil de seguir com o plano de desmoralização do único poder eleito da república excluido o Executivo que nomeia a cúpula do Judiciário. Aquele plano que começou pelo assalto aos fundos de pensão das estatais e pela criação de monopólios artificiais para financiar a compra de votos de congressistas no atacado, primeiro, e a de campanhas a granel mais adiante, para a consecução do projeto de poder antidemocrático com pretensões multinacionais que Lula descreve pessoalmente nas suas perorações ao Foro de São Paulo disponíveis no Youtube.

Diferenciar financiamento de campanha de corrupção e essas duas coisas de conspiração contra a democracia é perfeitamente possível como ficou demonstrado na sentença do Mensalão. Só que leva tempo. O tempo que a Lava Jato séria gasta nos seus processos e as lava jatos bandalhas atropelam nos delas. O tempo que deveria ser obrigatoriamente gasto em apuração independente dos fatos entre o “acesso” dado às gravações dos joésleys e a publicação das manchetes acusatórias. Um tempo, enfim, que este Brasil periclitante já não tem mais.

Eleições?

Ok. Mas quem for eleito terá de governar um país à beira do caos.
Montar um time tecnicamente capaz de deter a explosão da maior bomba fiscal jamais plantada nos alicerces da nação é o de menos. Mas até isso está prejudicado. No meio dessa guerra que fez a presunção de culpa substituir a presunção de inocência na cabeça das pessoas e na nossa (des)ordem judicial televisiva nenhum quadro técnico bem intencionado à altura do desafio terá coragem de vir trabalhar para governos. A chance de acabar incinerado é praticamente certa.

Mas parada dura mesmo é a política. Essa bomba fiscal não poderá ser desarmada sem uma mudança profunda nas regras de apropriação da riqueza nacional vigentes. Como construir maiorias para enfrentar 518 anos de corporativismo constitucionalmente “petrificado” num país conflagrado e com a política fechada à entrada de sangue novo?

Parece uma missão impossível mas a necessidade sempre fez milagres. O estado está a ponto de dissolver-se num país miserabilizado que emasculou a iniciativa privada e confiou tudo ao estado. Ha uma consciência clara até dentro da “privilegiatura” de que se não pusermos ao menos no horizonte visível o fim da desigualdade perante a lei que se traduz no sumidouro da previdência pública e está na base desse desastre ela vai morrer junto com o organismo que parasitou além do limite da sobrevivência. É uma faca de dois gumes pois para quem já não se vexa de abraçar ditaduras assassinas é a explosão que interessa, e para tê-la basta não fazer e não deixar fazer nada.

Mas para quem pensa no bem do Brasil é bom lembrar que para reformar um sistema defeituoso como o nosso é preciso antes de mais nada identifica-lo como tal . Reconhecer que, como comprova o fato de já termos dado a volta completa no circuito das ideologias no comando colhendo sempre o mesmo resultado, é o sistema que entorta todos que toca e não as pessoas que entortam o sistema.

Todas as forças necessárias para empurrar a mudança estão vivas e operantes. Mesmo diante da maior operação de patrulhamento jamais arquitetada na história da televisão brasileira, havia uma maioria no Congresso Nacional, como a que ha no Brasil aqui de fora e também dentro dos setores mais profissionais e pior pagos do serviço público, disposta a devolver privilégios em nome da salvação nacional. Mas ela foi bloqueada pelas defesas que o sistema erigiu contra a alteração de si mesmo, a mais forte das quais é a imprecisão da representação do Brasil Real no Brasil Oficial.

É preciso suspender a validade dessas defesas contra a devolução, em prazo marcado, de um país sob nova direção onde esteja absolutamente claro quem representa quem. Contra a entrega ao povo/eleitor, única fonte de legitimidade como reza a constituição, do direito à ultima palavra em todas as decisões que, ou afundam, ou fazem os países voarem. A receita é conhecida, testada e aprovada: eleições distritais puras, precariedade dos mandatos e empregos públicos retomáveis por iniciativa popular a qualquer momento (recall), direito ao referendo das leis dos legislativos, direito à reconfirmação periódica dos juízes encarregados de faze-las cumprir.

Isso – e só isso – cerca e mata a corrupção.

A eleição de outubro pode e deve ser plebiscitária. Quem propuser entregar ao povo o comando do seu próprio futuro, leva. Deixar rolar como está é suicídio.

Fernão Lara Mesquita

Falta de pressa

Um dos aspectos mais fascinantes da crise política brasileira e do comportamento de elites pensantes é a perda da noção de tempo. Não se detecta sentido de urgência no trato de qualquer questão essencial para arrancar o País do buraco ao qual teríamos chegado de qualquer jeito – à incompetência, irresponsabilidade e voracidade de governos do PT e seus associados devemos “agradecer” por terem apressado nosso encontro com a hora da verdade (a de que estamos ficando velhos sem termos ficado ricos).

Sociedades caem vítimas de seus próprios mitos com mais frequência do que se pensa. Para permanecer em tempos recentes, e como caricatura para ilustrar o argumento, pensem nos nazistas (que se achavam imbatíveis) ou nos soviéticos (que se achavam donos do futuro). No caso brasileiro, o título do clássico de 1941 de Stefan Zweig – Brasil, Um País do Futuro – às vezes parece uma maldição. É óbvio que o livro não tem a menor culpa disso, mas a postura de boa parte de elites aqui sugere terem se tornado adeptas da crença de que o futuro nos pertence e inevitavelmente será risonho. Como se sabe, em História não há o inevitável.

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Em outras palavras, acreditamos que o tempo trabalha a nosso favor, sobretudo quando lidamos com prazos mais dilatados, e optamos por ignorar evidências. A principal chama-se janela demográfica, que está se fechando e foge ao nosso controle. Nos acostumamos a crescer nos últimos 30 anos incorporando ao mercado de trabalho um número grande e aparentemente inesgotável de jovens mal qualificados. Para crescer e enfrentar agora a competição lá fora teremos de melhorar índices de produtividade estagnados há décadas, e com menos jovens à disposição – algo que já se reflete no eleitorado: pela primeira vez a proporção de jovens entre 16 e 24 anos diminuirá em 2018 em relação à última eleição, enquanto cresce o peso relativo dos eleitores acima dos 60.

Para quem comemora o aumento da nossa renda per capita nos últimos, digamos, 15 anos, cumpro aqui o papel chato de lembrar que a diferença para a renda per capita dos países avançados permanece inalterada, ou até um pouco pior para nós. Embora briguem sobre quais fatores afetam diretamente o crescimento de países, economistas não duvidam da forte influência exercida por uma taxa mínima de investimento anual. A nossa é baixíssima e piorou, pois o setor público, do qual tanto dependemos, perdeu essa capacidade de investimento. Em outras palavras, estamos jogando contra o tempo.

Há outros sinais preocupantes, dos mais variados, indicando que nós gostamos de acreditar que as coisas se resolvem por decurso de prazo. Abominamos o sistema político-eleitoral, por exemplo, mas deixamos passar recente oportunidade para reescrever as regras das próximas eleições, que provavelmente asseguram a permanência de boa parte das figuras e dos métodos que detestamos. E, recentemente, ao considerar o habeas corpus para Lula, o Supremo Tribunal Federal forneceu um exemplo acabado da mentalidade dos estamentos burocráticos que mantém o País sob seu firme domínio: a mentalidade que prefere manipular prazos e evita abordar frontalmente problemas difíceis.

Filmes e exposições na Alemanha lembraram no ano passado os 75 anos do suicídio de Stefan Zweig (um dos escritores mais populares na Europa na metade do século 20) e sua mulher, ocorrido em Petrópolis. Ainda em vida seu livro sobre o Brasil como um país do futuro tinha sido criticado como ingênuo. Consigo entender o que Stefan Zweig, transformado em “Kulturpessimist” pela catástrofe europeia daquela era, enxergou como esperança no Brasil. O problema é a nossa falta de pressa.

Qual é a única coisa que une os brasileiros e que o poder prefere esconder?

Será verdade que, como injustamente se divulga no exterior, os brasileiros estão divididos em tudo? Que nada é capaz de unir os cidadãos de um lado e do outro do arco político? Há dois brasis irreconciliáveis em tudo? A julgar pelos resultados da última pesquisa nacional do Datafolha, a resposta é não.

Nenhum texto alternativo automático disponível.

De acordo com essa pesquisa, quem aposta em um Brasil dividido em tudo deve se sentir frustrado. Existe um tema que vem incendiando a opinião pública nos últimos anos e que se intensificou com a condenação e prisão de Lula: o apoio à Lava Jato, cuja continuidade é defendida por 84% dos brasileiros. Apenas insignificantes 12% acham que deve terminar. O Brasil todo parece unido na luta contra a corrupção e contra as tentativas de “estancar a sangria”, sonho de tantos políticos e poderosos e até mesmo de boa parte do Supremo Tribunal Federal. Entre esses 84% que querem que a Lava Jato continue estão, por exemplo, 77% dos eleitores de Lula, algo que o PT, que acusa a Justiça de ser seletiva com seu partido, deveria explicar, se de fato a grande maioria de seus eleitores também defende essa cruzada contra a corrupção.

Outro dado importante de uma pesquisa anterior do Datafolha confirma que os brasileiros concordam, quase unanimemente, que a Lava Jato deve seguir seu caminho: em 22 anos, é a primeira vez que a corrupção é a maior preocupação do país. Não é a violência? Não. A corrupção já preocupava quatro vezes mais em 2015. E a educação? Também não. Preocupa quatro vezes menos que a corrupção. Não seria economia, ou o desemprego, a maior preocupação dos brasileiros? Não, a corrupção preocupa cinco vezes mais. E a saúde, a angústia das filas nos hospitais? Nem isso. A corrupção interessa duas vezes mais que a saúde.

Será que os pré-candidatos à presidência tomaram consciência de que a sociedade como um todo, pobres e ricos, continua a favor da luta contra a corrupção? E os governadores, senadores e deputados que pretendem ser reeleitos? Terão percebido os excelentíssimos magistrados do Supremo que a única coisa que parece unir os brasileiros é a luta contra a corrupção, e quase 60% defendem a prisão após condenação em segunda instância sem esperar pelos recursos a instâncias superiores? E que a grande maioria é contra o foro privilegiado?

Sabemos que mais de um magistrado disse não entender o que significa a voz das ruas e que lhes interessa mais a letra da lei que no seu espírito, que é o que deve ser levado em conta quando se trata de julgar indivíduos de carne e osso. Não é segredo que, no Brasil, antes da Lava Jato, a Justiça procurava ser humana e respeitosa com os condenados importantes, para quem a presunção de inocência deveria ser sagrada. O condenado sem nome tornava-se, por outro lado, um número frio e sem alma.

Um povo que foi capaz de metabolizar sem dramas nem tumultos a prisão de Lula e dos grandes industriais do país acusados de corrupção talvez seja mais solidamente democrático e socialmente mais saudável do que uma minoria exaltada se esforça para negar. Se for esse o caso, é uma injustiça grave apresentar, no exterior, um Brasil à beira de um descarrilamento democrático, um golpe militar ou uma guerra civil, como vi escrito em jornais sérios. É injusto porque é falso. O que o mundo deve saber é que, no Brasil, até os mais pobres estão mais preocupados com a corrupção dos poderosos do que com a própria economia, algo que só seria concebível em países com velhas raízes democráticas.

Às vezes, chego a pensar que este país pode até dar uma reviravolta na teoria de Murphy, segundo a qual “se algo pode dar errado, dará”. Talvez seja capaz de interpretar essa lei pessimista mudando-a para o lado positivo: “se algo pode dar certo, dará”. E se nas próximas eleições, apesar de todo o pessimismo, acabar, por exemplo, acontecendo o melhor?

Paisagem brasileira

ICAPUI, Ceara, Brasil
Icapui (CE)

A esquerda é o Titanic de 2018

Que a esquerda está em crise em boa parte do mundo não chega a ser uma grande novidade. Novidade é que significativa parcela do mais importante partido da esquerda brasileira, o PT, esteja contribuindo para esse cenário geral de crise com uma forte pitada de ridículo.

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Se a única ideia que os petistas podem oferecer é essa estupidez de acrescentar “Lula” ao nome, é melhor chamar o Tiririca para substituir a Gleisi Hoffmann na presidência do partido. Palhaçada por palhaçada, fiquemos com quem é mais autêntico.

Idiotice à parte, passemos a uma crítica fulminante à esquerda vinda de um acadêmico, Wanderley Guilherme dos Santos, de impecáveis credenciais esquerdistas e um propagandista entusiasmado do governo Lula.

“Esse é um mundo no qual a esquerda do século 20 não tem mais lugar. Por isso toda esquerda no mundo hoje é obsoleta, conservadora e reacionária. Ela se organizou em termos de pensamento e ação no século 19 para concorrer com o liberalismo em termos de imaginário futuro de organização social. O liberalismo oferecia o progresso, a esquerda oferecia a revolução pela ruptura. A queda do muro de Berlim destruiu esse projeto alternativo. A esquerda desde então tem estado na defensiva e não é à toa que sua palavra de ordem seja resistência”, escreveu esse cientista social para o último número de 2017 da trimestral revista Inteligência.

Sou obrigado a concordar com ele, até porque já escrevi inúmeras vezes que a esquerda — não só a brasileira — não conseguiu ainda sair dos escombros do muro de Berlim, mesmo passados quase 30 anos da queda. Foi também o fim do comunismo e é intrigante que mesmo a esquerda que não comungava com o comunismo soviético tenha se ressentido.

Se a obsolescência da esquerda tivesse provocado apenas a ascensão de uma direita civilizada, não haveria grandes problemas. Veja-se o Chile: a esquerdista Michelle Bachelet dá lugar ao direitista Sebastián Piñera, que, quatro anos depois, devolve a cadeira a Bachelet para que ela a entregue, após outros quatro anos, a Piñera. E o Chile vai em frente, tropeçando às vezes, mas sem uma crise tremenda como a que devorou o Brasil e ainda se faz sentir.

O problema é que o vácuo deixado pela esquerda foi preenchido pela extrema-direita, como escreve Dani Rodrik, um heterodoxo professor de economia política internacional na Escola de Governo John F. Kennedy, da mitológica Harvard:

“Tivessem os partidos políticos, particularmente os de centro-esquerda, perseguido uma agenda mais ousada, talvez o crescimento de movimentos de direita, nativistas [nacionalistas], pudesse ter sido evitado”.

O raciocínio parece correto, mas o problema é que nem a direita (civilizada) nem a esquerda puseram de pé até agora uma agenda capaz de contrapor-se “às queixas que autocratas populistas exploraram com sucesso — desigualdade e ansiedade econômica, a percepção de declínio do status social e o abismo entre as elites e os cidadãos comuns”, para citar de novo Rodrik.

A esquerda brasileira acha mesmo que pôr “Lula” no nome é uma agenda suficiente?

Comparsas S.A.

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Em Brasília, todos são inocentes e todos são cúmplices
Nelson Rodrigues

Dois cremes afanados, um diploma falso: adeus, governadora

Uma mulher loira, bem vestida, de salto alto e bolsa elegante, passa por um constrangimento de feitura própria.

Pega furtando dois potes de creme antirrugas num supermercado, é levada por um segurança para a “salinha”. Recusa-se a reconhecer o flagrante até que um policial é chamado.

Acaba vasculhando a bolsa em busca de notas e moedinhas. O vídeo de 2011, divulgado agora, acabou com a carreira política de Cristina Cifuentes. Teve que renunciar ao cargo de presidente da Comunidade de Madri, equivalente a um governo estadual no Brasil.

Foi um castigo merecido. Que político, num país decente, pode resistir a um “engano”, como ela tentou disfarçar, no valor de “pouco mais de 40 euros”? Ao mais vergonhoso dos vídeos íntimos?

Como no caso do furto, ela vinha se recusando a reconhecer as evidências de outra trambicagem: um mestrado fake em Direito Público.

Cristina Cifuentes é de direita, do partido do austero primeiro-ministro Mariano Rajoy. Ganhou a antipatia redobrada da esquerda quando comandou a segurança de Madri durante o período de grandes manifestações de protesto na época em que, na prática, a Espanha faliu.

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Com a mão dura de Rajoy e sacrifícios de todo o país, a Espanha se recuperou. Como os Borbons, a casa real da monarquia parlamentarista, a esquerda não esquece e não perdoa nada.

Ninguém deveria saber melhor disso do que Cristina Cifuentes, boa de briga e de fazer listas de inimigos.

Uma das virtudes da democracia, este sistema tão imperfeito, é justamente a ideia de que um partido vigia o outro – em vez de ambos se associarem para a formação de quadrilha contra o dinheiro do povo.

Incorrer na mesa estranha obsessão de políticos por diplomas falsos e teses plagiadas demonstra o gosto pelo risco da governadora caída.

Em 2012, o presidente da Hungria, Pal Schmitt, foi obrigado a renunciar ao cargo, mais cerimonial do que importante, por plágio em tese de doutorado sobre Olimpíadas na era moderna. Nada menos que 180 páginas haviam sido copiadas de um autor búlgaro.

O mesmo desvio de caráter havia levado à queda, um ano anos, de Karl-Theodor Friherr von und zu Guttenberg como ministro da Defesa da Alemanha. A tese de doutorado plagiada era sobre direito constitucional. Como indica o sobrenome cheio de preposições, ele é de uma família nobre.

Gente com menos pedigree já teve currículo com inexistentes mestrado e doutorado em economia. Corrigiu-se com uma declaração antológica, entre tantas. Antologia tal como concebida por Stanislaw Ponte Preta.

“Lá, tem um equívoco, sim: a parte relativa ao mestrado está errada. A relativa ao doutorado não está errada no que se refere a ser doutoranda. Mas está errada no que se refere ao curso que eles me botaram.”

Lembraram-se?

Cristina Cifuentes ainda tentou se segurar, renunciando ao mestrado que nunca fez. Pediu desculpas por “aceitar as facilidades” oferecidas pela Universidade Rei Juan Carlos, numa prova adicional de cinismo autodestrutivo.

Já estava com o filme queimado quando apareceu o vídeo do furto. Não renunciou de moto próprio, como ficou evidente com a declaração seca de Rajoy: “Podia ter nos poupado disso”.

Pelo menos, não disse que foi golpe.

América Latina é a região mais violenta do mundo

A América Latina é a região mais violenta do mundo, segundo estudo feito pelo Instituto Igarapé e publicado, nesta quinta-feira (26/04), pelo diário americano Washington Post. O think tank brasileiro com sede no Rio de Janeiro compilou as estatísticas num relatório em forma de aplicativo interativo, no qual o internauta pode obter informações sobre homicídios mundo afora.

Ao menos 437 mil pessoas são assassinadas no mundo a cada ano – uma média de 6,2 assassinatos por 100 mil habitantes. A América Latina e o Caribe abrigam 8% da população mundial, mas concentram 33% dos homicídios globais. Dezessete dos 20 países com as maiores taxas de homicídios estão localizados na América Latina e no Caribe. Quatro países da região – Brasil, Colômbia, México e Venezuela – são responsáveis por um quarto (25%) dos assassinatos globais.

Mais de 130 grandes cidades latino-americanas (com mais de 250 mil habitantes) podem ser consideradas altamente perigosas, pois têm taxas de homicídios superiores a 25 para cada 100 mil habitantes.

Entre as 50 cidades mais violentas do mundo, 43 estão localizadas na América Latina e no Caribe. As quatro primeiras são San Salvador, em El Salvador, Acapulco, no México, San Pedro Sula, em Honduras, e Soyapango, em El Salvador. O Top 10 tem três cidades brasileiras: Marabá, São Luís do Maranhão e Ananindeua.

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Dos aproximadamente 437 mil assassinatos anuais pelo mundo, quase metade são cometidos com armas de fogo – na América Latina e no Caribe este número sobe para 66%. Mundialmente, 74% das vítimas são homens, enquanto na América Latina e no Caribe a cifra sobe para 81%. Além disso, mais da metade das vítimas latino-americanas e caribenhas têm idade entre 15 e 29 anos. A região tem as maiores taxas mundiais de feminicídio: encabeçam a lista Haiti (57%), Suriname (46%) e Granada (36%).

Existem 36 países com taxas de homicídios abaixo de um por 100 mil habitantes. Vinte estão na Europa, 11 na Ásia, três na Oceania e dois na África. Os países com as menores taxas de homicídio no mundo são Andorra, o principado de Mônaco e a Grécia. Na América Latina, o Chile apresenta a menor taxa de homicídio: 2,7 assassinatos para cada 100 mil habitantes.

Os autores do relatório do Instituto Igarapé tentaram dar uma explicação para o problema endêmico de homicídios na América Latina e no Caribe. Eles fizeram questão de esclarecer que não é que toda a América Latina seja violenta, mas que há áreas determinadas nas quais ocorre uma quantidade desproporcional de homicídios.

A América Latina é particularmente suscetível a condensações de crimes por causa de sua urbanização desenfreada. As cidades latino-americanas cresceram mais rápido do que na maioria das outras partes do mundo durante os últimos 50 anos. Em 2000, por exemplo, três quartos da população vivam em cidades – praticamente o dobro da proporção na Ásia e na África.

Segundo a publicação britânica The Economist, "a mudança do campo para a cidade concentrou os fatores de risco para violência letal – desigualdade, jovens desempregados, famílias deslocadas, serviços governamentais deficientes, fácil acesso a armas de fogo".

Além disso, os autores do relatório do Instituto Igarapé afirmaram que, em muitos casos, não há forças de segurança suficientes, particularmente em áreas de alta criminalidade. E, em diversos casos, os policiais estão envolvidos com o crime organizado. Além disso, a maioria dos assassinatos não é resolvida. Em algumas partes da América Latina, apenas um em cada 20 homicídios reportados é solucionado.

Deutsche Welle