segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Objetivos políticos da reforma da Previdência

As articulações de Michel Temer e companhia para aprovação da Reforma da Previdência rodeia o noticiário político e a vida econômica de todos. Após vacilo do próprio presidente da República, o governo percebeu que entregar os pontos da Reforma seria decretar o próprio fim. Para que mais serviria um governo como o de Michel Temer?

Subitamente, no entanto, a entourage do presidente enxergou na hipótese da aprovação da reforma o seu novo despertar; o ressurgir das cinzas das denúncias do Ministério Público e até sonhar com uma candidatura presidencial, quiçá, com o próprio Temer, ressuscitado como ''grande reformador''. Seria como se a reforma, no limiar da cripta do ostracismo de Temer pudesse gritar: Michel, levanta-te e anda!


Faz todo sentido, na situação em que o governo se encontrava, logo após Temer quase jogar a toalha da reforma, o caminho para o governo seria — e é — mesmo o tudo ou nada. Além disso, é evidente que alguma reforma é, de fato, necessária: ao longo dos anos, transformações demográficas estruturais colocaram o sistema previdenciário, como está, em xeque.

Além disso, no Brasil, a distribuição de riqueza, por meio da previdência, é desigual e injusta: um monumento ao poder e aos privilégios corporativos. Nesse sentido, talvez tardiamente, o governo mudou o foco de sua ação. Se antes corria do enfrentamento com o funcionalismo, hoje faz um embate necessário, talvez por não lhe sobrar alternativa. Aliás, aqui cabe um parêntese indigesto:

(Nesse sentido, o noticiário do embate pela reforma talvez falhe em não mostrar os bastidores da reação a ela: como estariam se comportando os lobbies de juízes, promotores, agentes da receita e professores universitários, por exemplo, na defesa de seus interesses e na pressão a parlamentares? Será que assimilaram os inevitáveis custos da mudança ou, naturalmente, se mobilizam na defesa do que consideram seus direitos? Mas, esta é outra questão. Voltemos ao campo das considerações fiscais.)

Todavia, são inúmeras as evidências de que o próprio esforço pela reforma denuncia o pouco apego a questões fiscais e de justiça social: concessões fiscais feitas, em nome da reforma comprometem-lhe o sentido e os próprios motivos para faze-la. Os números estão nas primeiras páginas dos jornais (aqui). O país chegará, ao final, ao ponto de se perguntar qual o custo e não o ganho fiscal da reforma da previdência? O processo ainda está em andamento. São as tais negociações, nunca muito transparentes.

Isto sem considerar a natureza da reforma ministerial, em curso, feita em nome da aprovação da reforma previdenciária. O loteamento do ministério das Cidades, em várias facções da base, revela que o motor da reforma não é necessariamente reformista — por mais que pareça uma contradição em termos —; é fisiológico. Basta verificar a guerra, na base, em torno das secretarias de Saneamento e Habitação, as que trazem maiores retornos os políticos e partidos que as ocuparem.

Paradoxos?

Não. Se o esforço fiscal perseguido pela reforma custa tolerância e mais gastos fiscais, mitigando os resultados pretendidos, é porque os objetivos, últimos e mais recônditos da reforma, não são verdadeiramente fiscais. São políticos: produzir símbolos, na ânsia de o governo mostrar que ainda está vivo. Tem lógica.

Sob vários aspectos, a reforma é necessária. Mas, seria o caso de se perguntar se ela está sendo feita em nome da racionalidade econômica anunciada ou se seus motivos se resumirão aos objetivos políticos. Há grande diferença entre um e outro, não apenas em relação à qualidade da reforma — e da transparência democrática — mas também em relação a seus efeitos de longo prazo; políticos e econômicos.

Carlos Melo

Sucessão vive prévia ente os crus e os podres

No Brasil, o eleitor costuma espantar-se pouquíssimo. Se a conjuntura servir uma sopa de ratazanas, a maioria não fará a concessão de uma surpresa. São ratazanas? Pois que venham. E com pimenta. De repente, na antessala de 2018, as pesquisas eleitorais empurram o brasileiro para um ponto de fastio com a política, forçando-o a concentrar-se nos dois extremos do espectro culinário: os crus e os podres.

Aos pouquinhos, vão-se os crus —os genuínos, como Sergio Moro e Luciano Huck, saltam da gôndola. Os disfarçados, como João Doria, são abandonados na prateleira. Os dissimulados, como Jair Bolsonaro, se oferecem para ser consumidos in natura. Mas basta abrir a boca para revelar a presença de elementos tóxicos.


Logo, logo, só restarão os podres. Condenado, Lula, tornou-se repugnante para o paladar comum, e, portanto, só é digerido pelos 35% que ainda engolem o PT. Michel Temer, moído por um par de denúncias criminais, passou a fazer pose de Tartare, a carne picada que os franceses servem crua. Mas a podridão no governo já atingiu aquele estágio em que a comida come a si mesma. Quem está perto já foi devorado, como Aécio Neves. Ou está na fila, como Henrique Meirelles,

Geraldo Alckmin, com aparência de leite estragado, se finge de queijo fino ou de iogurte de chuchu. O diabo é que seu prazo de validade só poderá ser conferido quando o Superior Tribunal de Justiça levantar o sigilo do processo que recebeu do Supremo Tribunal Federal. Algo que precisa ser feito o quanto antes. De preferência ontem.

Josias de Souza

O povo não é bobo

No palanque, o ex Lula, travestido de alvo das elites, prega que o “povo não tem de pagar imposto de renda sobre salário”. Na outra ponta, o deputado Jair Bolsonaro promete que todos os brasileiros terão armas de fogo.

Nada que, digamos educadamente, seja factível ou habite as prioridades do cidadão.

Primeiro e segundo colocados nas pesquisas de intenção de voto a um ano da eleição presidencial, ambos discursam com doses idênticas de irresponsabilidade.

Como jogam quase sozinhos estão contabilizando sucessos. Boa parte deles, fora da lei.


Mas as vantagens da antecipação deslavada -- à qual a Justiça eleitoral fecha os olhos, deixando ferir a isonomia entre os pretendentes futuros já na fase preliminar -- podem custar caro mais à frente, quando e se o eleitor vier a exigir propostas dos concorrentes.

Como Bolsonaro pretende armar todo o povo? Vai criar a bolsa-revólver?

O que Lula, que governou o país por oito anos consecutivos e não desonerou o salário de IR enquanto podia, vai dizer ao trabalhador? Como explicará as benesses que deu às elites que condena no papo? O que mesmo ele tem para oferecer além da prometida revogação dos atos do presidente Michel Temer, escolhido a dedo por ele para compor a chapa com sua pupila Dilma Rousseff?

Pretende reeditar a escalada de consumo que escamoteou a pobreza, permitindo a compra da TV nova perdida no carnê do desemprego? Ou escolher novas empresas campeãs nacionais, “eikes e joesleys” para assaltar o Estado com subsídios, financiamentos e concessões generosas? E novamente enriquecê-los com facilidades para financiarem o rei e seus amigos.

Tanto Lula quanto Bolsonaro vão precisar mais do que boa lábia.

Políticos em geral e candidatos em particular tendem a abusar da repetição enfadonha dos reclames por mais segurança, mais emprego, mais saúde, mais educação, mais e mais daquilo que eles prometem toda eleição e não entregam. Falam o que acham que o público quer ouvir, sem qualquer lastro com a realidade ou compromisso futuro.

Mas, diante do estado de corrupção generalizada em quase todos os motores da máquina pública, impostos estratosféricos e serviços de péssima qualidade, dificilmente o eleitor vai se iludir com as bravatas de sempre.

Enganam-se os que de antemão só veem espaços para aventureiros quando a crise se agudiza. Por vezes, ela funciona como bússola e orienta o eleitor a rejeitar discursos vazios e exigir propostas mais viáveis, por vezes até duras. Foi assim na França de Emmanuel Macron e até na vizinha Argentina de Mauricio Macri.

Não é preciso ir longe. Há exemplos caseiros, como o do governador Mario Covas, que, para desespero dos marqueteiros da época, antecipou, durante a campanha de 1994, que não concederia reajuste ao funcionalismo público paulista. Venceu as eleições.

Há chances concretas de o eleitor levar a sério alguém que aponte com firmeza – e sem fantasias – um plano para revolucionar a estrutura de segurança pública que tem se mostrado ultrapassada e ineficiente na maioria dos estados. Ou para universalizar o Ensino Médio, que hoje atrai pouco mais de 50% dos jovens, sendo que mais de 40% deles abandonam o curso antes de concluí-lo. Ou ainda para reparar o absurdo de 35 milhões de brasileiros sem água tratada e mais de 100 milhões sem acesso à coleta de esgoto quanto mais a tratamento, que só chega a 42% do montante coletado. Tudo a condenar populações imensas ao subdesenvolvimento e à miséria eterna.

Concordando ou não com ele, o estudo Um ajuste justo, apresentado pelo Banco Mundial na semana que passou, é um bom início de conversa.

Nas 160 páginas dele há propostas ousadas que vão desde reformas radicais na Previdência e no sistema de assistência, à adequação das universidades públicas à paridade social, cobrando dos que têm maior poder aquisitivo – e que são maioria dentro delas - para subsidiar os mais pobres. Sugere ainda o congelamento de salários de servidores, que, na média, ganham mais do que o dobro de seus semelhantes na iniciativa privada.

O embate ficaria mais encorpado, mais rico e digno se fosse travado em torno da concordância ou discordância de propostas dessa natureza.

Os palanqueiros de sempre – Lula à frente – vão resistir a ele. Até porque não suportam o debate de ideias. Nada do que difere do que eles pensam pode, nem hipoteticamente, ser proveitoso, quando mais bom.

Para Bolsonaro, tudo que vier é lucro. Para o ex Lula, a encarnação de mártir foi escolhida há tempos e cabe em qualquer figurino: na vitória ou na derrota, na glória ou na prisão.

Talvez não se atentem para dois fatos: intenção de voto um ano antes da eleição irriga o ego, mas pouco mede. E o eleitor não é trouxa.

Gente fora do mapa

Acreditei no passarinhoa

Um economista contou que a corrupção é problema ético, e não econômico. Por um lado, não estaria entre as razoes que explicam atraso ou ineficiência econômica. Portanto, suas consequências econômicas seriam limitadas.

Disse que corrupção seria lubrificante eventual da economia, evento sem importância no grande esquema das coisas.

Ele não vive no mundo real. Ignorei o economista.

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Um empresário contou que corrupção é parte do custo de fazer negócios. Bom investimento, que no fim facilitaria a realização de negócios tornando mais eficiente e rápido a realização do empreendimento, sem qualquer prejuízo ao usuário do produto final. Controles mais apertados e processos mais rigorosos sairiam, contou ele, mais caro. Sem corrupção, seria impossível empreender.

Era desculpa autoindulgente. Não acreditei no empresário.

Um político disse que corrupção é necessária. Democracia é cara, disse. E, como tudo que é caro, precisaria ser custeada. Sem doações polpudas de origem duvidosa, não seria possível ser eleito e defender os interesses do povo. Caixa dois, ou, como preferem os políticos, recursos não contabilizados, seriam simplesmente uma necessidade da democracia.

O argumento soou cínico. Não ouvi o político.

Um ativista político contou que existe corrupção justificável. Dependeria de quem pratica. E de quais as intenções. Se for por um bem maior, tudo bem. E dependendo de quem a pratica, nada seria imperativo moral ignora-la. Obrigação cívica mesmo. Corrupção, portanto, seria boa em alguns casos e aceitável para algumas pessoas. Mas condenável em todos os outros casos e pessoas.

Não soou justo. Nem bom. Melhor não levar o ativista a sério.

Um cidadão contou que depende da corrupção. Se for pequena, não tem importância. O que importaria é o valor envolvido. Não existiriam problemas em pequenos pagamentos que aliviam o vida e o dia-a-dia dos pequenos inconvenientes aos quais estariam sujeitos caso não houvessem esses pagamentos. E as consequências, inócuas. Que mal poderiam criar alguns cobres trocando de mãos? Até valeria a pena. Não pegar fila, não levar multa, ou poder estacionar em lugar proibido seriam recompensas suficientes.

Achei desconcertante. Tomar errado como certo é nocivo no presente e no futuro. Pior que aceitar corrupção como normal, é ensinar as gerações futuras a corromper ou serem corrompidas. Fiquei pasmo. Não soube o que dizer.

Um passarinho me contou que corrupção é ruim. Sempre. Atrasa, destrói, empobrece, desvirtua a democracia, torna tudo mais caro e sem qualidade. Mas grave que tudo, insere a corrupção entre os hábitos e costumes aceitáveis e aceitos por cidadãos comuns, tornando-os complacentes. Quando a tolerância é consenso, corrupção vira cultura. Fica imperceptível. É transmitida de geração a geração. Subtrai mais que o dinheiro. Rouba a vergonha, o que não faz o corrupto mais rico, mas torna a todos mais pobres.

Acreditei no passarinho.

Elton Simões

Mais ricos criam grupo de aposentados precoces e aumentam disparidade da Previdência

A introdução de uma idade mínima para todos os tipos de aposentadoria é um dos pontos mais debatidos e polêmicos quando o assunto é a mudança da Previdência brasileira. O argumento de que a população aumentou a longevidade e vive mais anos justifica a regra, mantida no novo texto da reforma apresentada pelo presidente Michel Temer, nesta quarta-feira. A proposta estabelece uma idade mínima para aposentadoria dos trabalhadores: homens aos 65 anos de idade e mulheres, aos 62. Sob a legislação atual, pode-se requisitar o benefício, na maioria dos casos, de duas formas no Regime Geral da Previdência Social (RGPS), por meio do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). De acordo com o tempo de contribuição - 30 anos para mulheres e 35 anos para os homens- ou por idade, a partir de 60 anos (mulher) e 65 anos (homem) com no mínimo 15 anos de contribuição.

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Mas na prática, a regra atual cria uma distorção e quem se beneficia da aposentadoria por tempo de contribuição, antecipando o ganho da pensão antes mesmo dos 60 anos, são só os mais favorecidos. Com mais acesso a estudos, garantem empregos formais com mais facilidade do que os menos abastados, pois contribuem compulsoriamente para a Previdência com a carteira assinada. Já os trabalhadores mais pobres arcam com as dificuldades estruturais da desigualdade do país. Sem estudos, só conseguem empregos no mercado informal e portanto não contribuem seguidamente com a Previdência. Desta forma, a grande massa se aposenta, atualmente, muito mais por idade ou pelo regime de Benefício da Prestação Continuada (BPC) – benefício destinado a idosos e a deficientes físicos pobres, que só pode ser acessado por pessoas com idade a partir de 65 anos –, que paga o equivalente a um salário mínimo.

Por outro lado, os mais ricos, mesmo entrando depois no mundo laboral, são muito menos expostos à informalidade, conseguindo contribuir mais para a Previdência e assim, se aposentam precocemente, antes mesmo dos 50 ou 60 anos. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) reforçam o diagnóstico de que os aposentados por tempo de contribuição estão na elite do mercado formal de trabalho e, portanto, na parte superior da distribuição de renda. São considerados aposentados ‘precoces’ mulheres na faixa de 46 a 54 anos e homens de 50 a 60 anos. Em 2015, esse grupo eram formado por 2,3 milhões de pessoas. Excluindo as aposentadorias por invalidez, eram 1,6 milhão de pessoas nessa faixa de idade já aposentados, muitos inclusive continuando no mercado de trabalho.

A pesquisa do IPEA mostra que mais da metade desse grupo estão entre os 30% (mulheres) e 50% (homens) mais ricos da população brasileira, quando se considera a renda mensal per capita. “Criamos um sistema em que os trabalhadores de maior rendimento se aposentam mais cedo, com um benefício maior e, em geral, eles tendem a ter uma expectativa de vida maior também", explica Rogério Nagamine Constanzi. O economista e outros pesquisadores do IPEA que analisaram os dados da PNAD de 2015 ressaltam ainda que os aposentados por tempo de contribuição na faixa de 50 anos possuem qualificações acima da média e, com plena capacidade laboral, continuam a trabalhar. Em 2015, a idade média dos aposentados por tempo de contribuição foi de 54,7 anos. "Aí podemos perceber que, sem uma idade mínima, a aposentadoria deixa de ser um mecanismo de substituição de renda para se tornar uma complementação de renda de pessoas com boa condição socioeconômica", diz o economista.

Trata-se de uma dinâmica cara para os cofres públicos quando a ordem é reduzir o déficit da Previdência. Para se ter uma ideia, em setembro de 2015 a despesa com previdência para esses aposentados precoces que continuavam a trabalhar chegou a um patamar similar ao gasto mensal do programa Bolsa Família na época, cerca de 2,1 bilhões de reais. A média da renda de trabalho dos aposentados precoces ocupados também era maior que dos trabalhadores não aposentados da mesma faixa de idade.

Na opinião de Constanzi, caso a proposta de idade mínima - de 62 anos para mulher e 65 para homem- enviada pelo Governo de Michel Temer seja aceita no Congresso, parte dessa distorção poderia ser eliminada, e ajudaria bastante no ajuste previdenciário que é cada dia mais inevitável. “Há uma necessidade grande de se fazer a reforma por conta do envelhecimento, mas o melhor é fazer isso corrigindo os componentes regressivos [tira mais de quem tem menos]”, explica Constanzi.

Segundo estatísticas do Registro Civil de 2016, publicadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil registrou no ano passado uma queda de 5,1% dos nascimentos em todas as regiões do país. Segundo previsões do instituto, a longo prazo, a tendência é que a população brasileira tenha um envelhecimento progressivo. O número de pessoas acima dos 64 anos no Brasil deve saltar de 16 milhões em 2015 para 48 milhões em 2050.

O economista destaca que o Brasil ainda tem uma população jovem, porém com o nível de despesa previdenciária de países com proporção de idosos que chega a ser o dobro da nossa. As despesas com o sistema previdenciário representam hoje cerca de 13% de todo o Produto Interno Bruto (PIB), bem acima da média da OCDE (9%) e da União Europeia (11,3%).

Onda retógrada

Os politicamente corretos são muito barulhentos. Representam uma minoria que se dá ares de maioria como se por mágica fosse a encarnação do “progresso”. Colocam-se numa posição absoluta, a partir da qual procuram desqualificar a todos os oponentes. Agora tentam caracterizar a reação majoritária dos brasileiros às suas imposições como se estivéssemos vivendo uma onda retrógrada.

Retrógrada segundo qual perspectiva?

Curiosa a posição desses que se apresentam como a representação do “progresso”. No mais das vezes estamos diante de gente que por décadas a fio defendeu os petistas, compactuando com toda a ruína produzida por eles e sempre omissa na condenação da corrupção que então já grassava. Como hoje o descalabro salta aos olhos, salvo para quem não quer ver, sobrou a luta pelos costumes, como se assim pudessem ancorar em porto seguro, capaz de lhes angariar um pouco de reconhecimento. Reconhecimento almejado, pois estão ansiosos por uma bússola qualquer. Mas guardam a soberba dos supostamente justos.

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Aliás, seus porta-vozes são alguns intelectuais e artistas esquerdizantes. Intelectuais que vivem num mundo à parte, o de universidades que se fecham dentro de si mesmas, resistentes a qualquer confronto com a realidade, e artistas muito bem pagos que procuram aumentar seus rendimentos com verbas públicas.

Exemplo dessa miopia reside no modo de tratar o crime e a insegurança, que se expandem no País. Aqui vivemos uma inversão completa de valores. O cidadão encontra-se desarmado, não tem direito a legítima defesa, enquanto os bandidos ostentam armas militares, exibindo todo o seu poder de fogo. Policiais são assassinados, mas basta a morte de um criminoso para se iniciarem investigações patrocinadas por ditas comissões de direitos humanos.

O direito do cidadão, do homem de bem, é usurpado, enquanto os criminosos encontram defensores. Note-se que quando um bandido é morto em confronto, é frequentemente noticiado que um “morador da favela” teria tido esse destino, como se dessa maneira houvesse a descaracterização do que está em questão. Quem defende o cidadão, que não tem o direito de se defender?

A situação chega às raias do absurdo. No Centro-Oeste do País um casal foi vítima de invasão de seu domicílio por bandidos armados. A mulher deu o alarme e o marido, tendo seu quarto invadido, reagiu, matando um dos assaltantes. Ele tinha registro da arma.

Depois, na delegacia, ele teria sido indiciado por “homicídio”! Não me surpreenderia se, amanhã, a família do criminoso reivindicasse uma reparação qualquer, apoiada por conselhos de direitos humanos, contra o cidadão de bem que defendeu a própria vida e a de sua mulher.

Se o Exército, em sua missão constitucional de defesa da lei e da ordem, mata um marginal em confronto nos morros do Rio, é imediatamente noticiado que ele teria matado um “civil”. Não um marginal armado, pesadamente armado, mas simplesmente um civil, como se fosse um acidente com um cidadão qualquer. A reação do politicamente correto à proteção legal de militares que exerçam funções de polícia bem mostra a deturpação que estamos vivendo. Parece que os politicamente corretos, sim, preferem bandidos que ostentam fuzis. Ficam bem na foto? Aliás, os “defensores” vivem em condomínios de luxo, usufruindo toda a segurança. Isolam-se na vida cotidiana e se dão o reconforto “moral” da verborragia.

Mulheres e crianças são estupradas cotidianamente. A leitura de jornais e sites torna-se um horror, o leitor entrando em contato com as maiores barbaridades. Aí o politicamente correto toma posição contra os estupradores, para logo defender a tese de que na prisão devem ser ressocializados. Como assim? Devem ser punidos e obrigados a viver à margem da sociedade, pois se mostraram inaptos para a vida familiar e social.

O politicamente correto defende uma posição romântica segundo a qual o ser humano seria bom em sua essência, tendo, conforme Rousseau, sido pervertido pela sociedade, pelo capitalismo, pela miséria, e assim por diante. Ora, há pessoas que não têm nenhuma propensão para o bem e, enquanto tal, deveriam passar a vida no sistema carcerário. Saindo, voltam a cometer os mesmos crimes. E permanecem pouco tempo na prisão, beneficiadas por várias medidas de redução de penas.

Uma filósofa americana de gênero, em recente visita pelo Brasil, deu outro claro exemplo do que significa ser “progressista”. Segundo ela, o Hamas e o Hezbollah, por serem de esquerda, seriam progressistas e assim deveriam ser considerados. Traduzindo: os terroristas seriam “progressistas” por serem de esquerda. Aliás, sob sua dominação as mulheres não têm nenhum direito. Homossexuais tampouco. É melhor deixar para lá tantas contradições que são uma afronta ao pensamento.

Quando a sociedade reage à insegurança, à afronta a seus valores, é como se estivesse tomando posição contra o “progresso”. Começam, então, a vociferar contra a “direita”, os “conservadores”, contra os que se insurgem contra essa nova forma de dominação minoritária, particularmente presente nos meios de comunicação e no posicionamento de alguns juízes e promotores.

Procuram impor-se calando seus adversários por “direitistas” e tentando conseguir supostas “interpretações” da lei que lhes dariam ganho de causa contra a imensa maioria da população. E recusam-se a consultas populares por medo de perderem. Poderíamos, por exemplo, ter consultas desse tipo sobre o desarmamento e o aborto. Deveriam submeter-se ao processo democrático.

O politicamente correto vive de sua vociferação na mídia e na atuação de seus grupos minoritários, muito bem organizados. Quando são contrariados, gritam histericamente contra a onda retrógrada!

Paisagem brasileira

Lagoa com capivaras, João Bosco Campo

Acredite: Turma do MBA divide 138 por 138 e acha zero

Num país de tantas desigualdades como o Brasil, onde grupos privilegiados distorcem os fatos para manter as benesses, somente uma revolução educacional poderá mudar essa realidade. “Do jeito que as coisas estão, caminhamos rapidamente para o fracasso como nação”, diz, coberto de razão, o professor Hélio Arthur Irigaray, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Como educador, Irigaray lida com o que se pode chamar de nata dos estudantes, aqueles que já passaram pelos bancos das universidades e estão fazendo pós-graduação e MBA. Espera-se que esses alunos apresentem um nível de conhecimento muito acima da média nacional. Para desespero do professor, no entanto, o que se tem visto é um despreparo total. Muitos dos que pagam até R$ 5 mil de mensalidade não sabem sequer fazer cálculos básicos de matemática. Também não sabem escrever corretamente.

“Outro dia, durante uma aula de matemática financeira, pedi para os alunos fazerem um conta simples, dividir 138 por 138. Metade da turma disse que o resultado era zero, quando o correto era um”, afirma Irigaray. Em outro momento, ele foi questionado ao mostrar que 1/4 corresponde a 25%. “Me perguntaram como tinha feito aquele milagre”, relembra.

Numa aula de português, um aluno, que tem um importante cargo em uma multinacional em São Paulo, escreveu, em uma redação, “faichetaria”, quando o correto seria faixa etária. “Fiquei perplexo”, enfatiza o professor da FGV. Para ele, o desconhecimento assustador de português e matemática é reflexo do descaso com que o Brasil sempre tratou a educação. “Não importa o nível socioeconômico do estudante, a formação é ruim em todos os casos”, emenda.

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Irigaray conta, ainda, que, nas universidades que oferecem bolsas a alunos carentes, os professores são obrigados, muitas vezes, a chegarem duas horas antes do início das aulas para tentar tirar o atraso no conhecimento dos estudantes. Não é uma tarefa fácil. Além da formação deficiente, os alunos chegam com fome. Absorver o que está sendo ensinado é desgastante demais.

Segundo Irigaray, esses exemplos só reforçam a sua percepção de que o Estado brasileiro tem que passar por uma mudança profunda. Deve concentrar todos os seus esforços em apenas três pilares: educação, saúde e segurança. É para esses setores que devem ser direcionados os elevados impostos pagos pela população. “É preciso enxugar drasticamente o tamanho do Estado, tem que privatizar tudo. Bancos, empresas. Não há porque o governo manter estatais que só servem para cabide de emprego e para negociações políticas”, diz.

Uma máquina pública mais enxuta, na visão do professor da FGV, poderia desenvolver programas de saúde que, em vez de tratar de doentes, priorizaria a profilaxia, a prevenção. Na educação, a opção seria por escolas de tempo integral, com professores superqualificados. Certamente, isso ajudaria a diminuir drasticamente a violência que tomou conta do país e provocou o desemprego. “Veja o caso do Rio de Janeiro, onde lojas e restaurantes estão fechando por falta de segurança”, ressalta.

Dentro desse processo de Estado mínimo, Irigaray defende a reforma da Previdência. Para ele, da forma como está estruturado hoje, o sistema de aposentadorias privilegia os ricos. São eles que ficam com os maiores benefícios. A grande massa recebe entre um e dois salários mínimos. “Portanto, a reforma da Previdência é necessária, não apenas por corrigir as distorções do sistema, mas também para conter o rombo das contas públicas. O governo não têm dinheiro para mais nada. Não faz investimentos em infraestrutura nem destina recursos suficientes para a educação, a saúde e a segurança”, destaca.

Apesar do desencanto, o professor da FGV acredita que o Brasil tem jeito. Mas será necessário uma sociedade mais atuante, que escolha bem seus governantes e defina prioridades. Não pode a maioria sustentar pequenos grupos que tomaram o Estado de assalto. “Temos que acabar com o Estado patriarcal, cartorial, que funciona para poucos”, frisa. Se conseguir romper com esse atraso e acabar com os feudos que sempre estiveram no poder, certamente a educação, a saúde e a segurança serão prioridades.

“Um país com uma população mais bem educada atrai investimentos. Essa é a base para o crescimento sustentado”, acrescenta Irigaray. Resta saber se a maioria acredita nisso ou prefere manter o que está aí, um quadro de corrupção, de desmandos e de desrespeito com aqueles que sustentam a máquina pública.

Linchamentos atuais são parte de uma economia de mercado e marketing digital

Não creio na boa-fé da maioria que se diz indignada com frases infelizes que soam racistas ou atitudes suspeitas de assédio sexual.

O que move a maioria esmagadora dos “indignados” nas redes sociais e fora delas é o gosto de sangue. Não há nenhum senso de justiça ultrajado aqui, mas, sim, o mero gosto da humilhação das vítimas “culpadas”. O simples gosto pelo linchamento. Se os “movimentos progressistas” não tivessem eles mesmos virado um “mercado de impacto”, gerando milhões de dólares, (quase) ninguém estaria nem aí pra vítimas de racismo ou sexismo. A própria luta da Inglaterra contra a escravidão foi um business em si.

Essa constatação em nada retira do combate às misérias humanas o seu justo valor, mas nos ajuda a entender, de uma forma mais “sociobiológica”, o gosto pelo linchamento de pessoas de grande sucesso e competência como William Waack e Kevin Spacey. O sucesso envenena a alma do rebanho. A inveja move a turba “indignada”. O ressentimento é seu café da manhã cotidiano. O ódio, seu afeto primário. A irrelevância, seu estado natural. Sua ética é fake. “Fake ethics”.

Não acho que a histeria ao redor desses dois casos (e outros) seja fruto de avanço moral e político da humanidade. Linchar pessoas, que não podem se defender, exerce sobre nós a mesma força de atração que a luz exerce sobre mariposas ou insetos em geral. As redes sociais são apenas o caldo de cultura de bactérias em que a fúria animal humana por sangue se manifesta.

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Olhemos de mais perto esse enxame. Mas, antes, um reparo. Se você considera um desses dois casos “culpado” e, por isso mesmo, “merecedor da punição coletiva”, cuidado! Nunca deixe se levar por esse gosto de sangue travestido de “justiça”. Principalmente se você for uma pessoa de sucesso e pública, um dia você poderá ser a próxima vítima de linchamento.

Não existe relativização de valor de linchamentos. Ou são condenados a priori ou são justificáveis de acordo com a vontade do freguês. E você poderá ser a próxima vítima do freguês.

Você se lembra que, anos atrás, quando ladrões foram linchados nas ruas do Brasil, muitos criticaram (com razão) esses linchadores de rua, e uma jornalista, que aparentemente defendeu os linchadores, foi ela mesma linchada nas redes sociais?

Pois bem. É interessante perceber que há uma semelhança ideológica entre o grupo que defendia (com razão) os ladrões vítimas de linchamento e o grupo que agora adere (sem razão) ao linchamento de Waack.

Por que ladrões não devem ser (e não devem ser mesmo) linchados na rua, mas um jornalista essencial para o Brasil deve ser linchado nas redes sociais (e quem sabe nas ruas)? Por que é injusto linchar ladrões, mas é “progressista” linchar alguém como Waack? Simples: porque todo linchador é um canalha. Não há regra, só o gosto do sangue que ele quer beber.

A tese segundo a qual jornalistas devem ser “santos” se alimenta de hipocrisia tanto quanto a tese segundo a qual santos devem ser santinhos.

O politicamente correto destruiu qualquer possibilidade de reflexão minimamente honesta sobre virtudes na vida pública contemporânea. Essa discussão está morta. O politicamente correto criou o “fake ethics”. A presunção de “retidão política” implica a prática da mentira pública. A democracia é, essencialmente, idiota em sua pretensão de ser politicamente correta.

A reação imediata da Globo é paradigmática: todos temem a turba. Pior: ela, a Globo mesma, é um celeiro de inteligentinhos que adoram linchamentos. Linchamentos, hoje, são parte da economia de mercado. Uma sub-área do marketing digital.

No caso de Kevin Spacey, vemos a já identificada tendência contemporânea em “gozar” mais com a histeria relacionada ao tema do assédio sexual do que gozar, de fato, com a penetração sexual física. À medida que os jovens deixam de fazer sexo, mais obcecados ficam com o tema do assédio sexual. Por trás do linchamento público de Kevin Spacey esconde-se o crescente ódio ao sexo real.

A proibição de manifestar desejo sexual real será logo cláusula pétrea da Constituição e da ONU.

Luiz Felipe Pondé

O lulômetro está de volta

Uma vitória de Lula pode derrubar a Bolsa e levar o dólar a R$ 4. A estimativa foi divulgada pela corretora XP, que disse ter ouvido 211 investidores. É a volta do terrorismo de mercado, que sempre tenta ditar o resultado das eleições. Em 1989, o presidente da Fiesp anunciou que 800 mil empresários deixariam o país se Lula fosse eleito. A frase facilitou a vitória de Fernando Collor, que confiscou a poupança e deixou a economia em frangalhos.

Em 2002, o Goldman Sachs lançou o “lulômetro” e projetou um câmbio nas alturas. O megainvestidor George Soros disse que o Brasil teria que escolher entre o tucano José Serra e o caos. O petista assumiu com o dólar a R$ 3,52 e voltou para São Bernardo com a cotação a R$ 1,66.

O novo estudo da XP sugere que a vitória de Lula em 2018 faria a Bolsa despencar para 55 mil pontos. A moeda americana poderia bater os R$ 4,10. O cenário muda da água para o Romanée-Conti em caso de vitória de Geraldo Alckmin ou Luciano Huck. O mercado fica ainda mais eufórico com a hipótese João Doria. O prefeito murchou nas pesquisas, mas ainda é o queridinho da Faria Lima.

Há muitas formas de se fazer terrorismo eleitoral. Em 2014, a propaganda do PT espalhou que a comida sumiria do prato dos pobres se Dilma Rousseff fosse derrotada por Marina Silva. A petista se reelegeu e produziu a maior recessão do pós-guerra.

No terrorismo de mercado, o truque é substituir a opinião de milhões de eleitores pelo desejo de um punhado de financistas. É um jogo em que a banca sempre vence. Mesmo que caia no ridículo, a profecia ajudará alguns espertos a enriquecer.

Outro dado divulgado na sexta-feira mostra como o mercado costuma confundir análise com torcida. Para 46%, Alckmin será o eleito. Pode ser que isso aconteça, mas hoje o tucano tem apenas 8% das intenções de voto. Se os investidores ouvidos pela XP acreditassem no que dizem, não se esforçariam tanto para lançar Doria e Huck no caldeirão de 2018.