terça-feira, 6 de junho de 2017

Será verdade que o Brasil não tem jeito?

Volto da Itália depois de duas semanas, de onde acompanhei a subida da maré política no Brasil. De longe, a crise que se avulta a cada dia parece mais brutal. O Brasil continua sendo visto, da Europa, como um país feliz, belo e alegre. E quando se comenta sobre a corrupção política, dizem que se trata de uma epidemia mundial.

Depois de aterrissar no Brasil, ao perguntar a meus amigos como estão as coisas, todos me repetem o mesmo mantra: que este país não tem conserto. Será verdade? O certo é que a política se apresenta a cada hora mais sem saída. Em poucos dias tudo parece se precipitar no abismo. O presidente Temer se afunda a cada hora que passa e com ele seu governo e a esperança de uma melhora na economia que agonizava quando chegou ao poder. A ex-presidenta Dilma, que Temer substituiu depois que ela perdeu seu mandato devido a um polêmico impeachment, volta a ser objeto de investigação do TSE, que pode anular as eleições que lhe deram a vitória em 2014 e fazê-lo assim perder seus direitos políticos. E se ainda fosse pouco, os procuradores de Curitiba pedem para seu antecessor, o mítico e popular presidente Lula, pena de prisão por corrupção. Três presidências da República desacreditadas, em alguns anos, parecem um desafio capaz de destruir todas as esperanças na política até nas democracias mais sólidas. Resistirá o Brasil a esse terremoto político, ao qual, ao mesmo tempo, os analistas mais ponderados não veem saída, já que o vírus da corrupção parece ter infectado toda a classe política, com poucas exceções? Como no relato bíblico de Sodoma e Gomora, hoje parece impossível encontrar um só justo na cidade política brasileira.

Tudo perdido então? Me fazia esta pergunta voltando de Veneza, a milagrosa cidade que, segundo todos os especialistas, deveria estar já sepultada sob suas águas há séculos. Tudo nessa cidade de arte, única no mundo, onde a ausência de carros nos permite ouvir os passos das pessoas na rua, é precário, difícil, às vezes parece uma cidade impossível. E no entanto aí está, a cada dia mais cobiçada pelos turistas do mundo. Continua em pé, desafiando todos os pessimismos que continuam proclamando sua morte anunciada.

Veneza sempre foi vista como símbolo e desafio de um país como a Itália que, apesar de seus terremotos políticos, incluído o do escândalo da Mani Pulite, equivalente à Lava Jato brasileira, soube emergir graças sobretudo à pujança de uma sociedade empreendedora, rica em criatividade, que segue seu caminho e é capaz de promover novos renascimentos ainda em meio à mediocridade e, às vezes, sujeira de sua política.

Com esses pensamentos rondando minha chegada ao Brasil, país para o qual se diz que não há conserto, leio no jornal O Globo o artigo do psicanalista Paulo Sternick, intitulado Só um milagre salva o país. Citando a escritora e pensadora Hannah Arendt, o autor recorda que a emergência do novo, ainda em meio às crises políticas mais sombrias, se dá da forma mais inesperada e inexplicável para o raciocínio. A isso Sternick chama de milagre possível, que não precisa ser religioso, mas que nasce da vontade da sociedade de querer resgatar a dignidade na política, já que a vida é sempre uma pulsão que reage diante do inimigo.

A esperança, também para o Brasil, nesta hora de noite escura, poderá vir não de seus políticos, que representam um mundo apagado e sem esperança, mas desse impulso de vida de cada um de nós que, como recordava Freud, acaba sendo mais forte que a morte. Os políticos passam – inclusive os presidentes, maiores responsáveis pela vida pública –, e os brasileiros, como são vistos lá fora, serão capazes de alcançar esse milagre de saber fazer renascer, diante das adversidades, como está começando a fazer até em seu velho e eterno amor, o futebol.

Não deixa de ser significativo que o vergonhoso 7 a 1 da Copa do Mundo, de repente esteja se transformando em esperança de hexacampeonato, um milagre possível para um treinador como Tite, que chegou de surpresa, com sua alma simples, sem falatórios vazios nem fanfarronices, trabalhando com vontade, convencido de que o Brasil pode ser melhor. Alguém que acredita que sempre é possível se levantar e que o impensável, e hoje impossível, pode amanhã ser uma realidade.

A decisão do TSE não acabará com a crise

Ninguém poderá dizer o que acontecerá hoje, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE): se os ministros decidirão a favor ou contra o presidente Michel Temer, se é que decidirão. Qualquer palpite é chute, torcida; informação, não há. Nos últimos dias, os prognósticos derreteram, fatos novos emergiram e tornaram as águas mais turvas. A prisão de Rodrigo Rocha Loures terá influência na opinião dos juízes? Novas revelações surgirão ao longo do julgamento? O certo é que a crise continuará tanto quanto o país permanecerá em seu labirinto.

Contudo, é curioso perceber como uma defesa pode se trair e entregar seu cliente: auxiliares e advogados do presidente da República acorreram aos microfones para colocar sob suspeição o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot. Anteciparam-se e denunciaram que o Ministério Público (MP) poderia trazer informações de última hora, comprometedoras em relação a Temer, com o objetivo de influenciar o TSE. Incrível, não se alega inocência, nem se nega a existência ou veracidade de eventuais denúncias, apenas se contesta o oportunismo de traze-las a público. O pior réu é o réu confesso.


Haverá mesmo mais o que apresentar, como sabem? E o que sabem auxiliares, defesa e o próprio presidente que, sendo revelado, possa colocar Michel Temer em situação pior do que a que já se encontra? Quem tem advogados assim, não precisa de acusação.

O que se revela é que há um ciclo de desgastes a conta-gotas, onde indícios, áudios e fitas de última hora indicariam bastidores de pressões capazes de botar Michel Temer atordoado, de joelhos. Como se um imaginário capitão Nascimento lhe agredisse e dissesse: ''pede pra sair''. Se o presidente da República pode ser afetado por uma dinâmica assim, é porque não mais governa.

Isto tem importância política, sim. E não há como esconder fatos dessa constrangedora natureza sob a pele fina de um suposto julgamento técnico. A tática governista se limita a ganhar tempo sem resolver a crise, prolongando sua agonia. Nenhum processo nesse campo é apenas jurídico — o impeachment de Dilma já revelara isto. Às vésperas de perder o pescoço na guilhotina, George-Jacques Danton constatara que ''o processo é sempre político''. Nada disso é novo.

Se ministros do tribunal se influenciam ou não por elementos desse tipo, isto é pouco relevante: independente do julgamento, se fatos novos vierem a público o presidente, que está por um fio, ficará à deriva; a situação do governo ainda mais desconfortável. Livrar a cara no Tribunal, apelar, delongar pode até ser fácil, o difícil será recuperar a mínima credibilidade social necessária e, depois, o controle da base parlamentar; fazer reformas.

De modo que, independente do julgamento (ou não) de hoje, a questão consiste em responder como será, afinal, o que restar do mandato de Michel Temer — dure ele mais um ano e meio, mais quinze dias ou quinze horas.

A própria incerteza de concluir o mandato já é tema de apreensão: o que esperar de alguém que não sabe o que será de seu amanhã; se haverá um amanhã? Se isto é ruim nas relações pessoais, o que dizer do presidente da República? Independente do TSE, uma espada pesará para sempre sobre a cabeça do governo; o bafo do medo não cessará, seja ele de Rodrigo Rocha Loures, Eduardo Cunha, ou Lúcio Funaro. A incerteza perseguirá Michel Temer como sombra; não se governa nem a si e nem a um país com temores desse tipo.

Como tubarões, deputados e senadores se movimentam pelo cheiro de sangue que percebem nas águas que os rodeiam. Num Congresso majoritariamente fisiológico, o governo fragilizado nada será além de um refém da desconfiança e do medo; o país restará conduzido por personagens preocupados, antes, com a salvação da própria pele, pendurados num pau de circo chamado ''Foro Privilegiado''. Uma nação não se constrói assim. É mediocridade demais, até para o Brasil destes dias.

Carlos Melo

Todos leigos

O Brasil de hoje está dividido em dois tipos de gente. De um lado, há os que mandam na aprovação de leis e, principalmente, na sua aplicação. São os políticos, que executam a primeira tarefa do jeito que se sabe, e depois deles camadas sucessivas de advogados caros ou influentes, desembargadores, procuradores gerais ou parciais, ministros de tribunais superiores e, acima de todos, os onze cidadãos que estão no momento no Supremo Tribunal Federal; frequentemente, chamam a si mesmos de "juristas". Do outro lado estão os "leigos" — todos os demais cidadãos brasileiros, cujo papel é obedecer a tudo o que o primeiro grupo decide. Não apenas obedecer: têm de estar de acordo, sob pena de serem acusados, justamente, de "leigos". É mau negócio ser leigo neste país. Na melhor das hipóteses, para os que controlam o aparelho legal, esse indivíduo é um ignorante que jamais sabe o que está falando, não tem capacidade mental para entender as decisões dos juristas e acha que o triângulo tem três lados, quando pode ter cinco, sete ou qualquer número que os magistrados resolvam, pois "decisão judicial não se discute, cumpre-se". Na hipótese pior, os leigos que discordam de algum desses decretos imperiais — diversos deles, comicamente, são chamados de "monocráticos", ou tomados por uma pessoa só, no palavreado da moda — são denunciados como "inimigos do Estado de Direito".


Justamente agora, com essa prodigiosa e extraordinariamente turva operação de artilharia em torno do mandato do presidente da República, o Brasil está vivendo um dos grandes momentos da charada judicial aqui descrita. A questão realmente central, ai, é a seguinte: continua incompreensível, há mais de vinte dias, por que um empresário que confessou oficialmente crimes capazes de lhe render dezenas de anos de cadeia foi perdoado pelo procurador-geral da República, e por um ministro do STF, de todos os delitos que tinha confessado, junto com o irmão, e para o resto da vida; não enfrentará um único processo penal na Justiça brasileira nem ficará um minuto na cadeia. No momento, relaxa no exterior na companhia de seu iate, ou de seus bilhões, ou de outros confortos. Um cidadão em atraso com o pagamento de pensão alimentícia, por exemplo, está em situação muito mais perigosa que ele e o irmão perante a Justiça nacional. É impossível entender: está escrito na lei que é proibido subornar, mas os juristas — no caso, o PGR e o ministro "monocrático" do STF — podem perfeitamente decidir que é permitido, sim senhor, cometer o crime de suborno quando ambos decidirem que é.

O PGR e o seu entorno nos garantem que, sem o perdão dado aos delatores, crimes muitíssimo mais graves ficariam "sem punição". Como ele pode ter certeza disso? Quer dizer que crimes, no Brasil, só podem

ser apurados se houver delação? E que crimes monumentais seriam esses? Como garantir, também, que serão punidos? Nada disso é explicado com um mínimo de lógica. A aberração toda fica especialmente agressiva quando se pensa, por dois minutos, que o procurador, sobretudo um que procura "geral" e procura para ninguém menos que a "República", é pago pelo contribuinte para colocar criminosos na cadeia — e não para fazer o contrário, permitindo que escapem para Nova York no seu jato particular Gulfstream Aerospace G550, com capacidade de levar até vinte passageiros. Mas tudo isso só é incompreensível para o leigo, esse amador ingênuo, chato e incapaz de raciocinar como um jurista; é um bobo que utiliza a palavra "justiça" e acredita que a autoridade pública deva tomar decisões "justas". Para os que influem ou mandam no sistema judiciário brasileiro, o leigo, tristemente, é incapaz de pensar como um profissional sério da ciência jurídica. Ali, como sabem as pessoas realmente qualificadas para tomar decisões legais, o que importa não é a aplicação do conceito romântico, tolo e pedestre de "justiça", e sim a aplicação da "lei"; não interessa que as decisões sejam "justas", e sim que sejam "legais" — isto é, que estejam de acordo com o que os altos tribunais decidirem.

Você acha uma alucinação que criminosos confessos como os irmãos Joesley e Wesley Batista recebam permissão legal para praticar crimes, como, por exemplo, subornar com 50 000 reais por mês um procurador federal de Justiça? Ou não acha certo que dois bilionários possam comprar a sua impunidade com dinheiro — no caso, menos de 11 bilhões de reais, a ser pagos em prestações ao longo de 25 anos? Problema seu. Você é um leigo. Cale a boca. Caia fora.

Paisagem brasileira

alcanyara
Alcântara (MA)

Agamenon: Há malas que vêm para o bem!

Eu, como brasileiro... Quer dizer, eu não como ninguém, nem mesmo a Isaura, a minha patroa. Enfim... Eu, enquanto cidadão brasileiro, venho me sentindo o mais completo idiota, um zé-mané e imbecil profissional de carteira assinada.

Afinal de contas, um montão de gente vem roubando há um tempão em quantidades siderúrgicas, em dimensões hidrelétricas, em cifras supersônicas, em valores petroquímicos, enquanto o otariano aqui se dedicava a aplicar pequenos golpes, achaques miserinha, extorsões de mixaria achando que era o Pica das Galáxias. Se tivessem me convidado para essas jogadas milionárias, hoje não estaria passando necessidade, no miserê, e, ainda por cima, seria um Guerreiro do Povo Brasileiro.

Resultado de imagem para loures e a mala charge

Enquanto isso, um sujeito entra numa pizzaria e faz um pedido para viagem. Vem então uma mala (o pedido era para viagem) e, no lugar da muçarela e da calabresa, a pizza vem recheada com quinhentos mil reais, que ele pega correndo e bota num táxi. Depois tira 35 mil para pagar a corrida e não pede recibo nem troco.

No Palácio do Jabáru, o esconderijo secreto do Temer, o presidente em pessoa recepciona um açougueiro (antigamente era o padeiro ou o leiteiro) de madrugada, escondido da mulher e de todo o resto do Brasil, e acaba com o lombo assado. Depois de confessar, a dupla de corrupção universitária Joesley e Wesley acerta a Mega Delação Premiada e se manda para Nova York, com o iate e tudo.

“Devido de que” à crise, a violência nas grandes metrópoles só aumenta: roubaram os ossos do Garrincha! Deve ser para botar na sopa... Em Brasília, o PT fez um congresso à luz do dia e a polícia nem apareceu. No final do encontro, o ex-presidente e futuro presidionário Luiz Inácio Lalau da Silva diz que não vai ser preso, pois não tem provas. Claro que não! Lula nem terminou o primário.

A Fátima Bernardes recomenda a mortadela da Seara. A Seara é da JBS, que, por sua vez, é do PT. Agora tudo faz sentido! Foi por isso que o Bonner parou de comer a mortadela da Fátima.

Agamenon Mendes Pedreira é mala sem alça e sem foro privilegiado.

Sem inocentes

O Tribunal Superior Eleitoral retoma hoje o julgamento da nulidade da eleição de Dilma Rousseff e Michel Temer, por abuso de poder econômico na campanha de 2014.

Já se passaram 29 meses da abertura desse processo, um ano da deposição de Dilma por crimes de responsabilidade e se prevê para breve uma denúncia contra Temer por delitos em série no exercício do mandato — de prevaricação à corrupção. Os prejuízos da confusão política são imensuráveis, a expressão matemática de um deles é a soma de 14 milhões de desempregados nas cidades.

A eloquência dos fatos já revelados conduz a uma certeza: não há inocentes na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Nenhum texto alternativo automático disponível.

A começar pelo Judiciário. Sua face eleitoral está no TSE. Instalado em majestosa sede de 111 mil metros quadrados, o tribunal é um monumento orçamentário de R$ 1,2 bilhão ao ano, onde se gastam R$ 360 mil por ano apenas na gerência da compras de combustível para a frota.

Sua função básica é o controle e a fiscalização das contas de candidatos e partidos, mas em 2014 não enxergou uma fraude de 56% (R$ 196 milhões) nas contas da chapa Dilma-Temer.

Nem viu um gasto “extra” de R$ 71 milhões da JBS e da Odebrecht na compra de partidos e construção da coligação que deu ao PT-PMDB de Dilma e Temer tempo 30% maior que o dos adversários no rádio e na televisão.

A JBS já confessou ter usado ilegalmente outros R$ 20 milhões para comprar a coligação do PSDB de Aécio Neves. Coligações eleitorais, vale lembrar, foram vetadas pelo Congresso, mas acabaram ressuscitadas pelo Supremo Tribunal Federal, que mantém seis dos seus 11 juízes em atividade permanente na Justiça Eleitoral.

Pode-se argumentar que a maior parte das fraudes realizadas por Dilma-Temer era de difícil percepção, pela natureza dos crimes de corrupção, sem uma profunda investigação como a realizada nos últimos 29 meses, agora exposta em mais de 8.500 páginas do processo.

No entanto, a contabilidade oficial da chapa PT-PMDB estava recheada de falsidades. E o TSE sabia disso desde a quinta-feira 4 de dezembro, duas semanas antes de diplomar a dupla vitoriosa nas urnas, por relatórios apresentados pelo Banco Central, Tribunal de Contas da União e Receita Federal.

Eles alertaram para registros de doações acima do limite legal de empresas como Partner Gráfica, Saepar Serviços, Solar BR Participações, Ponto Veículos, Gerdau Aços Especiais e Minerações Brasileiras Reunidas, entre outras. Avisaram, também, sobre casos como o da Vale Energia que doou quantia milionária, duas vezes e meia acima do seu capital social registrado. Chamaram a atenção, enfim, para situações como a da Rio Tibagi Serviços, que aportou meio milhão de reais sem possuir, segundo o Tribunal de Contas, registros básicos como “capital social e faturamento bruto”.

O julgamento das contas Dilma-Temer é importante, independentemente do desfecho, porque resume a leniência institucional com a liquefação da política brasileira. Deveria servir de marco à refundação da Justiça Eleitoral. Caso contrário, continuará no papel de cartório a que foi reduzida por 2.244 políticos, beneficiários de propinas e subornos disfarçados de doações eleitorais em jogos de poder bancados por grupos como Odebrecht e JBS.

José Casado

Crise do governo Temer não terminará no TSE

A crise que desnorteia o governo de Michel Temer sobreviverá ao julgamento do Tribunal Superior Eleitoral sobre a chapa vitoriosa em 2014. Há 20 dias, a pergunta que incomodava o presidente era: “Será que ele conseguirá aprovar as reformas?” Hoje, a interrogação que persegue Temer é outra: “Será que ele terminará o mandato?” E o espetáculo do TSE, seja qual for o veredicto, não modificará essa realidade.

Na hipótese que o governo considera mais benigna, os prognósticos de Temer se confirmarão e o TSE afastará a lâmina do seu pescoço. Neste caso, Temer continuaria com a cabeça a prêmio no inquérito que responde no Supremo Tribunal Federal. Ali, o presidente está na bica de subir de status: passará de investigado a denunciado até a próxima semana.

Na pior hipótese, o TSE passará o mandato Temer na lâmina. E o presidente lançará mão de todos os recursos judiciais ao seu alcance para tentar reverter a sentença —primeiro, no próprio TSE. Depois, no Supremo. Neste cenário, o presidente ficaria tão absorvido pela crise que não teria tempo nem disposição para tratar de tarefas menores como, digamos, governar.

Noutros tempos, o governo soltaria fogos se alcançasse no TSE a graça divina de um pedido de vista que adiasse o julgamento. Hoje, a fuga já não serve de lenitivo para Temer. O PSDB, principal aliado do governo no Congresso, não parece disposto a acrescentar aos seus incômodos o fardo da cumplicidade em movimentos inexplicáveis.

“Se houver manobras dilatórias no TSE, o PSDB correrá o risco de coonestar o que o povo não quer e a economia não suporta, ajudando o governo a empurrar a situação com a barriga?”, indagou Fernando Henrique Cardoso, o sábio do ninho, em artigo publicado no domingo.

O próprio FHC cuidou de sinalizar a resposta: “…Apoiei a travessia e espero que a pinguela tenha conserto. E se não? E se as bases institucionais e morais da pinguela ruírem? Então caberá dizer: até aqui cheguei. Daqui não passo. Torçamos para que não sejamos obrigados a tal. Se o formos, e o tempo corre, assumamos nossas responsabilidades históricas com clareza diante do povo e das instituições.''

Ao assumir a poltrona de Dilma, há um ano, Temer fazia pose de restaurador econômico. Esforçava-se para imprimir na sua biografia a marca das reformas liberais. Desprezado pelas ruas, adulou o condomínio fisiológico do Congresso e ganhou a simpatia do empresariado. A plutocracia fingiu não ver o rastro pegajoso de PMDB que Temer carregava atrás de si.

Depois que a delação hiper-premiada de Joesley Batista, da JBS, ganhou as manchetes, ficou ainda mais evidente que Temer faz parte da gosma. Fragilizando-se o seu suporte Legislativo, ficará claro também que a reforma da Previdência foi para as cucuias. E a nata do PIB brasileiro não dará a Temer nem bom dia.

No momento, são três as prioridades máximas de Temer: manter fechada a boca de Rodrigo Rocha Loures, o ex-assessor filmado correndo com a mala da propina de R$ 500 mil da JBS, fingir que ainda preside e não cair. Temer enxerga fantasmas em toda parte: no STF, na Procuradoria-Geral da República, na Polícia Federal… Todos são culpados pela crise, menos o presidente.

O que ainda mantém Temer na Presidência é o desentendimento dos seus aliados quanto à escola de um substituto. Antes de responder à pergunta incontornável — ‘Será que ele que termina o mandato?’— os protagonistas da eleição indireta terão de decodificar a senha que pode livrar o sistema do beco-sem-saída. Passa pela resolução do seguinte mistério: quem colocar no lugar?

Juízes se julgam deuses, procuradores, santos e advogados, a ética pura

A política é um circo. Quanto menos você tiver esperança política, menos você se iludirá sobre a realidade política. O ceticismo em filosofia sempre aconselhou uma postura mais conservadora e cuidadosa quanto às promessas políticas. Desde que a política se tornou objeto de fé, passamos a ter expectativas salvacionistas através da política. E a política não passa da conquista, gestão, manutenção e distribuição do poder.

Não há nenhuma dimensão "ética" na política, nem nunca houve. O que há são sociedades mais ricas em que seus políticos destruíram outras sociedades no mundo para garantir o aspecto de santos nas suas próprias (e a população goza dessa santidade na mesma medida).

Eu, pessoalmente, espero o mínimo da política. Que não nos atrapalhe em demasia, por isso, que seja mínima.

O erro crasso de quem espera uma redenção política é não prestar atenção na política mais próxima dele. É comum grandes canalhas cotidianos agirem de modo politicamente canalha nas instituições em que trabalham, mas sustentarem um discurso "ético" na "grande política" (esse mito de gabinete).

Por exemplo, mentir, manipular o cotidiano institucional, usurpar ganhos alheios, destruir carreiras de colegas em universidades, igrejas, sindicatos de classe, grupos artísticos, corporações de todos os tipos, enfim, fazer política real. Mas quando se trata de falar da "grande política", enche os olhos de lágrimas em nome da justiça social.

A redenção do mundo via política virou um mercado para canalhas específicos. Pense bem e verá que há um perto de você.

O mundo não é perfeito, claro. Mas o Brasil parece, nos últimos tempos, trabalhar duro para destruir nosso cotidiano. O homem é um animal frágil moralmente, sempre foi e sempre será. Mas vivemos agora, de fato, a ruína moral dos Poderes no país.

Em matéria de Poderes da República no Brasil, o Executivo sempre teve vocação getulista, ou seja, a vocação de ser o "pai ou mãe dos pobres". A miséria no país sempre foi um importante capital para correntes coronelistas-populistas como a do PT.

O Legislativo é a representação perfeita do fisiologismo corrupto. Trabalha para si mesmo. Basta ver a corrida dos insetos em busca das misérias pós-Temer. Dane-se a estabilidade econômica. Querem a miserável Presidência por alguns meses.

A economia é a única coisa que importa nisso tudo, mas, infelizmente, semiletrados de todos os tipos pensam que, quando se diz que é a economia que importa, estamos a defender "O Capital". Chega a ser ridícula a força desse mito ("Das Kapital") no pensamento.

Não, "economia" aqui significa que você perde o emprego, deixa de comprar coisas, e os outros perdem o emprego porque você deixou de comprar coisas. Estágios são fechados, lojas também. Tudo para de circular. Mas você, que acredita em Papai Noel, ainda não entendeu que é a economia que sustenta tudo, inclusive coisas fofas, como os direitos humanos. E o dinheiro nunca foi produzido pela Chapeuzinho Vermelho.

E o Poder Judiciário? Esse mesmo que até pouco tempo muita gente pensava ser um produto real da Marvel. Uma mistura de Batman, Super-Homem, Capitão América, Homem de Ferro e Thor. Não. O Poder Judiciário não é um monólito de pureza.

Se o Executivo tem vocação ao populismo, e o Legislativo à corrupção pedestre, o pecado do Judiciário é a arrogância e a onipotência. Juízes se julgam deuses, procuradores santos, advogados representantes da ética nacional. Risadas?

Para ingênuos talvez, mas não para quem já leu mais do que dois livros na vida. O Poder Judiciário, inclusive, ou principalmente o STF, é também um poder "político" na medida em que sofre a mesma pressão para articular, privilegiar, perseguir, em nome dos interesses materiais ou ideológicos de seus membros.

E em meio a isso tudo, vem a moçada das diretas já, como num surto de gozo dos anos 1980. Como se a maioria desses (afora os ingênuos) não fossem os fanáticos da soberania popular "pura" ou não fossem os coronelistas do PT apostando na ressurreição do seu Drácula de bolso.

Imagem do Dia

Ive Freya:
Finnich Glen, ou Púlpito do Dabo (Escócia)

Governos indecentes

Há pouco mais de dois séculos, a corrupção e a estagnação sistêmicas abateram nas lâminas das guilhotinas uma aristocracia sem responsabilidades e cheia de privilégios.

A centralização administrativa promovida pela monarquia absoluta dos reis da França esvaziara as atribuições da nobreza feudal, que se convertera em casta inútil.

A irrefreável ascensão do ideal democrático da igualdade tornava inaceitáveis aqueles privilégios de uma classe que ia perdendo sua legitimidade.

À medida que subiam os impostos do Antigo Regime, os privilégios dessa casta se tornavam cada vez mais ofensivos à população.

Para Tocqueville, o Antigo Regime e a revolução de 1789 eram indissociáveis, uma continuidade histórica mais do que uma inexplicável ruptura.


A corrupção e a estagnação sistêmicas que sofremos agora refletem o desafortunado descarrilamento de nossa inacabada transição do antigo regime militar para uma Grande Sociedade Aberta.

A expansão ininterrupta dos gastos públicos e a ocupação política do aparelho de Estado são a linha de continuidade a explicar a escalada dos escândalos de corrupção e a degeneração das práticas políticas.

“As enormes somas que passavam pelas mãos do Estado davam oportunidade para fraudulentos contratos de fornecimento, corrupção, subornos, malversações e ladroeiras de todo gênero”, já advertia Marx no clássico “As lutas de classe na França: 1848-1850”.

A contínua exposição na mídia de piratas privados, burocratas corruptos e criaturas do pântano político tornou-se, nas modernas democracias representativas, o equivalente dos espetáculos de decapitação em praça pública ocorridos na radical “democracia” jacobina. Para moderar uma insaciável guilhotina midiática, o Congresso deve abrir mão de seus privilégios (foro privilegiado, aposentadorias nababescas), sem hesitar no exercício de suas funções (aprovar reformas).

A degeneração moral de nossa democracia emergente é explicável. “O engano fatídico foi julgar que a adoção de procedimentos democráticos permitiria dispensar limitações ao poder governamental. Não é que a democracia representativa seja necessariamente corrupta. Mas só um governo com poderes limitados pode ser um governo decente”, alertava Hayek, em seu clássico “Direito, legislação e liberdade”.

Sociedade coadjuvante

Péssima situação a que vivemos e que certamente poderá piorar. E muito. São as consequências de um país que não enxerga há muito programas, bandeiras, compromissos, cuja história a cada dia mais se faz em torno das pessoas, e não de suas ideias. E assim e por isso, nada também se fez, que não o jogo de poder, no qual a sociedade é mera coadjuvante e seu interesse, um capítulo à parte
Luiz Tito

Se escapar...

Vi um quadro de alerta na porta dos elevadores de um prédio público que, além de enumerar procedimentos de segurança em caso de incêndio, arrematava com a frase: Se escapar, chame os bombeiros.

A indicação puxada pro terror é perfeita para o agora.

Se escapar...

Anda muito difícil escapar.
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Oceanos longe de nós, correm soltas guerras declaradas, nada santas, com todas as tragédias e dores que provocam – terra arrasada, mortos, feridos, mutilados, refugiados errantes, expatriados para além de suas fronteiras, rejeitados em fronteiras mais seguras.

Seguras?

Pelo mundo, o terrorismo é ameaça real, constante. Os alvos são cidadãos comuns, gente como a gene. Explosivos são a modalidade mais comum dos ataques que vêm do nada, em qualquer lugar. Nos últimos dois anos, atropelamentos, tiros, esfaqueamento acrescentam corpo a corpo ao terror.

São ataques sem coordenação central, mas iniciativa de um ou alguns que odeiam – a própria vida inclusive. Por causas difusas, saem para matar quantos conseguirem até que sejam mortos.

O ódio é a pilha de todas as violências, toda a barbárie. Aqui e lá.

Vítimas do terrorismo pelo mundo somam mais de 16 milhões, mais de 43 mil mortos. Iraque, Paquistão e Índia registram o maior número de ataques e de vítimas.

Mas, quando tudo – carros, facas, aviões, bombas – vira arma, ninguém, nenhum lugar é suficientemente protegido,

Nos cinco primeiros meses de 2017, no planeta Terra, 3.349 pessoas morreram em atentados terroristas.

Notícia de ontem: em três semanas, o Brasil alcança esse número de mortos, seja nos assassinatos coletivos – as já vulgarizadas chacinas – ou no um a um de cada dia. Jovens de 15 a 29 são os mais atingidos - a maioria é negra, pobre e das desprotegidas periferias brasileiras.

No Brasil de hoje a violência é intensa e cada vez mais espalhada. Aqui a guerra é real , mas não declarada.

Em 20 anos, entre 1955 e 1975, morreram 1,1 milhão de pessoas nas guerras do Vietnã. No Brasil, também em 20 anos, entre 1995 e 2015, outros 1,3 milhão foram assassinados.

Em 2015, foram 59.080 as vítimas de homicídio - 161 mortos por dia. A maioria classificada como MVCI – morte violenta com causa indeterminada.

“Temos uma crise civilizatória”, concluiu um técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Não disse quanto custa ao país, nem ao mundo, a crise civilizatória.

Uma “googada” e sabemos que, no mundo de 840 milhões de famintos, as despesas militares de três anos superam 1,7 trilhões. Tipo, 260 dólares por pessoa.

O comércio internacional de armas convencionais movimenta US$ 80 bilhões por ano. Mas o número real deve ser bemmm maior. Os principais exportadores, China e o Reino Unido, por exemplo, não dão informação precisa sobre essas suas exportações.

Questão de segurança, entende?

Ou seja, o dinheiro rolado nesse “business” é estimado. Nunca estão incluídas vendas para o mercado doméstico ou as embaixo do pano –contrabando e a tal da caixa 2, com a qual estamos muito familiarizados.

A crise civilizatória é também cínica.

Combatemos guerras vendendo armas. Combatemos assassinatos comprando armas, aparelhando melhor a polícia para alcançar o mesmo nível de armamentos dos bandidos, que compram dos produtores, que são absolutamente democráticos nas vendas. Vendem para quem paga – bandido ou mocinho, no oficial ou no não contabilizado.

A crise civilizatória não tem fronteiras.

Aqui, no nosso penar sem fim de perplexidades, chegamos até um Ministro da Fazenda que sonegou impostos durante todo o tempo que cuidava da economia.

Temos um presidente investigado.

Temos pencas de indignados indignos,

Temos um humorista-apresentador de TV que recebe uma notificação extrajudicial, rasga, derrama nas partes intimas, recolhe e envelopa, para devolver ao remetente. Antes, destaca por escrito que a encomenda segue com “cheirinho especial”. Para não deixar dúvidas sobre o grau da grosseria e do deboche, toda a ação é gravada e postada nas redes sociais.

Recente, ali na Paraíba e em Pernambuco, tivemos rebeliões em centros socioeducativos – desses que guardam menores “apreendidos”. Num e noutro, morreu gente. Sete daqueles mortos socioeducados foram queimados vivos por outros dos socioeducados.

Nas rebeliões de presos maiores de 18 anos, degolar é costumeiro. Notícias que, de tão corriqueiras, passam batido.

O menu da “crise civilizatória” é amplo. Não há spy que dê conta. E eles são muitos.

Assim, se escapar do terrorismo, da guerra, da bala perdida, do assalto, da degola, da fogueira, de corruptores e corrompidos, das escutas, reze.

Agradeça ao divino, porque seguro mesmo só o céu, esse que existe como abstração, como sinônimo de paraíso, que é a esperança de coisa melhor a ser alcançada, um dia, talvez, quem sabe, para os merecedores.

E para merecer é preciso andar santo e muito protegido por outros santos, vida afora. Coisa muito difícil nas crises civilizatórias.

PS: Se escapou hoje, agradeça. E reze também pelo TSE.