terça-feira, 30 de maio de 2017

O tempo

Ótica do tudo ou nada não serve para enxergar a crise brasileira

Poucas aberturas de romance são tão trovejantes como a de "Um Conto de Duas Cidades", de Charles Dickens. "Era o melhor dos tempos, era o pior dos tempos; (...) era a estação das Luzes, era a estação das Trevas; era a primavera da esperança, era o inverno do desespero."

A Paris revolucionária do final do século 18, onde os personagens londrinos Darnay e Carton vivem a sua agonia, torna verossímil a imagética apocalíptica contida naquelas sentenças iniciais. O Brasil em transe desde 2013 não é para tanto.

A violência ao final do último protesto em Brasília não destoou da habitual. Células neoanarquistas abrigadas nas marchas da esquerda botaram para quebrar.

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Não há multidões a guerrear contra o statu quo. Tampouco há tropas do czar patrocinando banhos de sangue em reação. As PMs são mal preparadas para a repressão, mas não deixaram rastro de cadáveres ao atuarem nos protestos, alguns bem violentos, dos últimos quatro anos.

O "Exército nas ruas" era uma piada das redes esquerdistas que às vezes gostam de alegorias como as de Dickens. Um punhado de soldados a resguardar prédios da União após as depredações em nada remete a autoritarismo ou ditadura.

O chamado mercado também tem seus momentos barrocos. O "tudo ou nada" associado à realização breve da reforma da Previdência é um exagero. Vamos logo observar indicadores e expectativas se acomodarem, com prejuízo modesto, à perspectiva de que esse importante acerto de contas aconteça apenas em 2019.

E o que dizer das propostas que brotam no noticiário de punição coletiva aos políticos com atropelo de regras constitucionais? Antecipar eleições gerais? Com que poder revolucionário o faríamos? Quem lideraria a cruzada? Os templários do Ministério Público e do Poder Judiciário?

Um pouco de ceticismo nos faria bem. O Brasil não vai acabar nem se salvar amanhã.
Vinicius Mota

A história dolorosa de um fracasso

Se a divulgação das escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal serviu para alguma coisa, no mínimo elas fizeram o país ter a dimensão do caráter de seus representantes no Executivo e no Parlamento. Que fino tratamento se dispensam, especialmente quando se veem afetados pela infidelidade de delatores, antes seus cúmplices prediletos. Raramente as mães, talvez por ser o mês de maio, foram tão lembradas. Porque espantado ninguém fica mais.

A profusão de escândalos e bandalheiras de que se tem conhecimento é estarrecedora e já anestesiou completamente a sensibilidade do brasileiro. Nunca neste país se furtou tanto, desviou-se tanto, apropriou-se tanto do Orçamento público como nestes tempos. Em denúncias anteriores, as empreiteiras de obras públicas comandaram a festa. Agora foi a vez dos frigoríficos da família Batista e companhia, reconhecidos sem favor algum como os homens mais ricos do Brasil e, com destaque, os maiores caras de pau de que já se teve notícia nas cercanias do poder político e econômico.


Risonhamente, falando como se estivessem num encontro de amigos, eles inundaram o noticiário nacional com revelações as mais contundentes, instalando o pânico no Executivo, no Legislativo, no Judiciário, na Minas Arena, no civil e no religioso. Sobrou pra todo mundo, com farta comprovação de fotos, vídeos, gravações, recibos de depósito, malas com chip, o que nos deixa a certeza de nossas precariedades, de nossa absoluta insegurança, política e jurídica.

Um grupo empresarial tornado poderoso graças, especialmente, a sua capacidade de aliciar políticos e técnicos de governos passeou de forma olímpica pelos bancos estatais, BNDES, Caixa e Banco do Brasil, fabricou sob medida e aprovou no Congresso leis que tornaram mais lucrativos e prósperos seus negócios, subornou, comprou opiniões e consciências (?), concedeu empréstimos para pagar advogados de políticos que não lograram “fazer dinheiro em sua vida pública”, manejando cifras absurdas e nunca vistas.

No curso de suas manobras, negociaram com o Ministério Público Federal uma robusta delação, surpreendentemente aprovada em tempo recorde pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), para assim não serem mais incomodados em seu descanso. Fecharam a questão e foram para Nova York, de onde já saíram, sem deixar endereço, curtindo alegremente o achincalhe, o deboche imposto nossas instituições.

Deixaram assanhados nas ruas de domingo os movimentos “Fora, Temer” como se tivéssemos uma nesga de solução, uma perspectiva séria e exequível, um nome mais ou menos aceitável para assumir o comando de um país que todos os dias surpreende-se com o joguete que viramos nas mãos de aproveitadores, de bandalhos, de políticos sem compromisso e sem a dimensão de seus atos. Não temos opções, em quem confiar. Que fracasso! Valei-nos, Mário Lago.

Extrema unção

É da medicina que a atividade cerebral se acelera antes da morte e aquela aparência de frágil debilidade subitamente se transforma em movimentos que, pela vivacidade, impressionam aos que vão levar a extrema unção. Mas é hora da morte: não há como resistir. É escolher a melhor gravata porque, mesmo entre os mortos, há os que se mexem depois da guilhotina.

A situação chegou a um ponto de paroxismo da falta de vergonha que se quer dar agora a impressão de anormal normalidade, pondo-se em votação a agenda das reformas, pretendendo tocar o governo as usual e ganhando tempo em busca de uma saída menos desonrosa.

Parece que, desta vez, o susto foi tão grande que até malas de dinheiro extraviadas nos ingênuos porões da pouca vergonha foram reencontradas, faltando nelas pequena parte reservada para o vinho, afinal também confessadamente devolvida.

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A hora é grave e, sem hipérbole, terrível, admitia o velho Negrão de Lima, Ministro da Justiça testemunha da aguda crise do governo Vargas no Palácio do Catete. Agora, os ameaçados ministros se penduram nos foros privilegiados, demitindo, nomeando, ameaçando no interesse do Brasil, enquanto os assessores salvam-se como podem, pulando como ratos no mar de lama.

Outra grave hora chega e, quando o Brasil se vê caindo no abismo da desesperança, deve bater um pouco de juízo na cabeça de quem tem algum papel de liderança. Como dizia o sábio da política: está de vaca não reconhecer bezerro no curral. E, nessas horas, é melhor ter juízo do que fingir de doido de rua, atacando para defender.

Nos bastidores fervilham as apostas: quem será o timoneiro da pinguela até 2018? Muitos ambicionam, ninguém se apresenta “candidato ao doce sacrifício”. Como será? Eleições diretas como a voz das ruas ou indiretas como reza a Constituição? Que saída se dará? A votação do TSE, antes terrível ameaça de cassação da chapa, agora aparece como bóia de honrosa salvação: uma saída pela frente provocada por erros de outros.

Indulto para o presidente? Asilo no Uruguai? Embaixada no Paraguai? Licença para curtir a dor no Equador? Subindo o Maia como controlar o festeiro Ramalho? Reformas às pressas podem acabar como frankensteins mal acabados. Pode-se decretar o recesso do Congresso por falta de compostura e a vacância do governo por falta de assessores. Há uma desconfiança geral de armação, de perdões aos pecados da carne e é melhor botar as barbas de molho.

O maior pecado em política é revelar a verdade antes da hora. O presidente cometeu o pecado do general Castelo Branco ao dizer, cedo demais, que não seria candidato à sucessão. Jogou fora as cartas de negociação e saiu da mesa do poder.

Les jeux sont faits, diria o crupiê vendo a ruína do cassino.

Paisagem brasileira


Igreja de São Francisco e o Museu de Arte Sacra, em São Cristóvão (SE) 

A marchinha da moda: 'Mamãe eu quero' votar em corrupto

Muitos brasileiros que votaram num dos traidores do povo para presidente, o que foi derrotado, estão enojados, perplexos, revoltados. Na maioria das vezes, nem sabem quem apoiar nesse momento. Na falta de tudo, até de esperança, rejeitam todos.

Entre aqueles que votaram nos traidores que venceram, muitos estão tristes, desiludidos, arrasados pela perfídia criminosa dos que consideravam defensores do povo. Não sabem como reagir ou o que fazer.


No meio destes, uma minoria detém todas as certezas. Atendem a manifestações convocadas por artistas e chacoalham ao som de Mamãe Eu Quero, a mais auto-referente e deliciosamente edipiana de todas as marchinhas de carnaval.

Os conhecedores dessa arte popular dizem que boa parte da marcha foi inventada na hora da gravação, em 1936, por seus autores, Jararaca e Vicente Paiva.

Os que a repetem, hoje, exigindo Diretas Já, convocação roubada do original, autêntico, pensam mesmo é na volta da Jararaca.

São, na maioria, militantes ou simpatizantes dos pequenos partidos de esquerda. Aqueles mesmo que gritam, incitam à destruição e têm “a mão dilacerada”, na voz passiva, como se não estivessem segurando o rojão para jogar na cara dos que evitaram, mais uma vez, a incineração de patrimônio pertencente à nação.

Depois de gritar, cuspir, agredir, quebrar e incendiar, com a honrosa e elogiável exceção dos que só cantaram Mamãe Eu Quero, acabam todos fazendo a mesma coisa: votando na Jararaca ou se aliando ao partido da Jararaca.

Esta, evidentemente, é fiel ao imperativo dos répteis venenosos. Manda a massa de manobra pedir Diretas Já, mas prepara o bote para escapar ao serpentário de Curitiba.

Não é segredo para ninguém, tudo tem sido feito praticamente à luz do dia. O que explica que, fora a pelegada e os profissionais, pessoas inteligentes, educadas nas melhores escolas, com alto nível de espírito crítico e acesso a todo tipo de informação, incorram nesse tipo de auto-engano?

Não são ingênuas. E quem acredita nessa palavra depois que foi invocada pelo participante-chave no encontro que intoxicou o Brasil?

Não são iludidas. E, se fossem, teriam que arcar com a responsabilidade de fechar olhos, ouvidos e nariz à podridão, ao estrondo e ao fedor do que está acontecendo à nossa volta.

Seriam mal resolvidas? Reconhecer que defendem sabotadores de seus próprios ideais talvez seja difícil demais. Talvez afete egos despreparados para distinguir entre a auto-imagem e os sonhos que confiaram aos traidores do povo.

Artistas, em especial, são movidos por egos especialmente sensíveis. Querem encantar, seduzir, hipnotizar. Querem ser incondicionalmente amados, como todo mundo. Mas com a intensidade avassaladora dos que vivem na maior de todas as bolhas, o mundo único da celebridade.

Um mundo onde só recebem aplausos, elogios, louvores, apologias, loas, encômios. Adoração total e incondicional.

Por isso, sofrem quando descobrem que podem ser amados por sua arte, por sua inteligência criativa, por suas músicas maravilhosas, por suas espetaculares interpretações; mas criticados, repudiados e até ridicularizados por suas posições políticas.

Vão para a rua e cantam Mamãe Eu Quero.

Como tudo o que fazem tem enorme destaque, ganham intensa cobertura. Acham que estão defendendo uma causa nobre, comandando as massas, liderando a revolução etc etc. Não entendem quando riem da cara deles.

Estão encantados, seduzidos, hipnotizados pela ideia de votar na Jararaca. Se entendessem que sua visibilidade excepcional também implica em responsabilidade maior pelo que dizem em público, estariam menos comprometidos.

Se tivessem menos certezas absolutas e mais dúvidas, estariam em companhia melhor.

13 pontos para embasar qualquer análise de conjuntura

1 – O foco do poder não está na política, mas na economia. Quem comanda a sociedade é o complexo financeiro-empresarial com dimensões globais e conformações específicas locais.

2 – Os donos do poder não são os políticos. Estes são apenas instrumentos dos verdadeiros donos do poder.

3 – O verdadeiro exercício do poder é invisível. O que vemos, na verdade, é a construção planejada de uma narrativa fantasiosa com aparência de realidade para criar a sensação de participação consciente e cidadã dos que se informam pelos meios de comunicação tradicionais.

4 – Os grandes meios de comunicação não se constituem mais em órgãos de “imprensa”, ou seja, instituições autônomas, cujo objeto é a notícia, e que podem ser independentes ou, eventualmente, compradas ou cooptadas por interesses. Eles são, atualmente, grandes conglomerados econômicos que também compõem o complexo financeiro-empresarial que comanda o poder invisível. Portanto, participam do exercício invisível do poder utilizando seus recursos de formação de consciência e opinião.

5 – Os donos do poder não apoiam partidos ou políticos específicos. Sua tática é apoiar quem lhes convém e destruir quem lhes estorva. Isso muda de acordo com a conjuntura. O exercício real do poder não tem partido e sua única ideologia é a supremacia do mercado e do lucro.

6 – O complexo financeiro-empresarial global pode apostar ora em Lula, ora em um político do PSDB, ora em Temer, ora em um aventureiro qualquer da política. E pode destruir qualquer um desses de acordo com sua conveniência.

7 – Por isso, o exercício do poder no campo subjetivo, responsabilidade da mídia corporativa, em um momento demoniza Lula, em outro Dilma, e logo depois Cunha, Temer, Aécio, etc. Tudo faz parte de um grande jogo estratégico com cuidadosas análises das condições objetivas e subjetivas da conjuntura.

8 – O complexo financeiro-empresarial não tem opção partidária, não veste nenhuma camisa na política, nem defende pessoas. Sua intenção é tornar as leis e a administração do país totalmente favoráveis para suas metas de maximização dos lucros.

9 – Assim, os donos do poder não querem um governo ou outro à toa: eles querem, na conjuntura atual, a reforma na previdência, o fim das leis trabalhistas, a manutenção do congelamento do orçamento primário, os cortes de gastos sociais para o serviço da dívida, as privatizações e o alívio dos tributos para os mais ricos.

10 – Se a conjuntura indicar que Temer não é o melhor para isso, não hesitarão em rifá-lo. A única coisa que não querem é que o povo brasileiro decida sobre o destino de seu país.

11 – Portanto, cada notícia é um lance no jogo. Cada escândalo é um movimento tático. Analisar a conjuntura não é ler notícia. É especular sobre a estratégia que justifica cada movimento tático do complexo financeiro-empresarial (do qual a mídia faz parte), para poder reagir também de maneira estratégica.

12 – A queda de Temer pode ser uma coisa boa. Mas é um movimento tático em uma estratégia mais ampla de quem comanda o poder. O que realmente importa é o que virá depois.

13 – Lembremo-nos: eles são mais espertos. Por isso estão no poder.

Maurício Abdalla

Cracolândia de Bogotá: dúvidas depois de um ano de intervenção policial

Por fora, o que resta do Bronx, espécie de cracolândia da capital colombiana, é um amontoado de tijolos e ferros. A prefeitura de Bogotá demoliu 23 das 62 edificações que formavam um dos maiores mercados de droga da Colômbia. Dentro, nas poucas casas que continuam de pé, roupas, brinquedos, móveis, papéis, doses de drogas, cachimbos para fumo... guardam o forte odor que lembra que no centro da cidade havia uma entrada para o inferno.

Passou um ano desde que mais de 2.000 policiais desocuparam o Bronx. A chuva e o frio de Bogotá não podem ir contra os fantasmas dessas quatro ruas para onde, todos os dias, cerca de 3.000 pessoas iam em busca de todo tipo de drogas. Em uma jornada, as famílias que dominavam o negócio podiam chegar a embolsar 40.000 dólares (130.000 reais). A Força Pública levou quase duas décadas para pisar nesse território protegido pelos sayayines, a segurança privada dos narcos, e pelos policiais que sucumbiram à extorsão.


Bronx de Bogotá
Toda essa população, consumidores e narcotraficantes, abandonou a área em 28 de maio de 2016 para se distribuir por setores vizinhos. O prefeito Enrique Peñalosa acabou com a chamada “república independente do crime”. Não há uma nova onda (o nome que recebem esses mercados na Colômbia) tão grande na cidade. O que se encontra em um passeio pelo centro de Bogotá são pequenos herdeiros. Ao contrário do que aconteceu aos milhares de indigentes do Bronx, os chefões que controlavam este mercado não foram detidos durante a operação policial.

A Secretária de Segurança de Bogotá emitiu um relatório no qual garantia que a criminalidade na área tinha caído 12% desde a intervenção. As lesões e os homicídios diminuíram 48%, mas os furtos se mantêm quase no mesmo nível. O EL PAÍS entrou em contato com Daniel Mejía, responsável pela pasta na cidade, e que tem o comando das polícias, mas não obteve resposta para poder entender como foram feitas essas estatísticas, já que em 22 de maio passado a polícia desarticulou o bando Los Reyes, procedente do Bronx. Esse grupo tinha cometido entre 10 e 25 assassinatos em um setor próximo, em nove meses, segundo as autoridades.

A prefeitura diz ter atendido “integralmente”, sem especificar o tipo de assistência, mais de 2.000 indigentes que disseram vir da onda em alguma das sete unidades distribuídas pela cidade. Esses lugares têm capacidade para cerca de 2.000 pessoas, segundo informação da Secretária de Integração Social de Bogotá. “Há três estatísticas de quantos moradores de rua há na cidade e todas são velhas”, afirma Alirio Uribe, representante na Câmara do Polo Democrático, um partido de esquerda, e crítico do modo como foi feita a intervenção no Bronx. “Há uma da prefeitura que contabilizou 10.000; outra do Ministério da Saúde, de 2015, que afirma serem 22.000; e uma terceira, de 20.000”. Números que superam a capacidade de ajuda integral dos albergues que, por ora, estão funcionando. “Em 2017 serão abertas 10 novas unidades, com 730 novas vagas e ênfase na formação para o trabalho”, promete o prefeito.

Uribe propõe a criação de “zonas humanitárias”, lugares onde os indigentes e dependentes de drogas possam dormir, comer, fazer sua higiene, estar sob vigilância e ser atendidos em condições de salubridade. “A droga poderia ser dispensada a eles”, diz. Os atuais centros de assistência não podem ministrar nenhum tipo de entorpecente nem metadona durante o tempo que atendem aos consumidores. “Concordamos em que algo tem de ser feito, mas não se vê a solução.” Onde seriam construídas essas zonas humanitárias? “Ninguém os quer, nem suas famílias nem seus amigos nem os vizinhos nem os comerciantes”, explica. “Eles são as vítimas, em algum lugar é preciso mantê-los.”

Três famílias resistem nos edifícios que ainda não foram derrubados no Bronx. A polícia que vigia há um ano a área, cercada 24 horas por dia, explica que alguns vigiam as propriedades para seus donos e outros negociam a venda com a prefeitura. “Neste setor serão desenvolvidas novas indústrias da Economia Laranja: criação, design, publicidade, brinquedos, artesanato, artes cênicas, artes visuais, música, meios audiovisuais e moda”, diz o prefeito Peñalosa. “Além disso, haverá o serviço do TransMilenio [o sistema de ônibus de Bogotá] e uma estação da primeira linha do metrô.”

Os primeiros guindastes que aparecerem no Bronx se encarregarão da construção de uma sede administrativa da Prefeitura que deverá estar concluída em 2019, segundo informam na Empresa de Renovação e Desenvolvimento Urbano (ERU), encarregada do projeto. “Já foram investidos 13 bilhões de pesos [cerca de 13 bilhões de reais] nestas ruas”, explicam. Em paralelo, serão abertos concursos públicos para atrair instituições educacionais para que construam no centro da cidade suas escolas de artes. Ao mesmo tempo, a ERU afirma que será fortalecida a economia existente: as dezenas de ferrarias e outras oficinas que povoam esta área. Um plano que pretende também fazer com que novos tipos de comércio e serviços cheguem a estes bairros.

Na prefeitura de Bogotá há a consciência de que essa renovação não será visível em curto ou médio prazo. Os críticos, como Alirio Uribe, veem nesse plano a entrada perfeita para “os grandes investidores”. O preço do metro quadrado no bairro de San Victorino, uma zona comercial perto do Bronx, é similar ao da região mais cara de Bogotá, no norte da cidade, onde residem as camadas mais ricas. “Estamos usando uma base cadastral para a avaliação dos hectares”, dizem na empresa de urbanismo da prefeitura. “Quanto aos demais preços tratados, seria falar de especulação.”