sexta-feira, 19 de maio de 2017

O grande dilema no labirinto

que vale mais? A verdade, que é perene, ou o interesse nacional, que é transitório? – indagou em 1944 o conde Claus Von Stauffenberg, coronel do Exército alemão, ao propor a seus camaradas eliminar Hitler para terminar com a 2.ª Guerra e “salvar a Alemanha de um demente”. Ele era o “grande herói de guerra” – havia perdido um olho e um braço ao lutar na frente russa –, mas enfrentava a hesitação de seus companheiros de armas. Todos concordavam com a demência de Hitler e a necessidade de eliminá-lo, mas alguns titubeavam em função do “interesse nacional”. Daí a pergunta que passou à História. Por fim, fez-se o atentado. A bomba feriu, mas não matou Hitler, que se vingou com crueldade, fuzilando ou enforcando centenas de oficiais e civis antinazistas.

Recordei agora a pergunta-dilema do conde alemão – “a verdade perene ou o transitório interesse nacional?” – em razão do terremoto desencadeado entre nós pela “delação premiada” em que Joesley e Wesley Batista exibiram até uma gravação que – se verdadeira – compromete o próprio Michel Temer como presidente. Semanas antes, em entrevista a este jornal, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), havia sustentado “ser legítimo” investigar o presidente da República “mesmo por delitos estranhos ao seu atual mandato”.

O decano do STF lembrou que por duas vezes, em 1992, na época de Fernando Collor, o tribunal reconhecera a legitimidade de investigar o presidente por atos anteriores ao mandato. A imunidade temporária significa apenas que “não pode ser responsabilizado em nenhuma denúncia”. Ou seja, pode ser investigado por atos fora do governo, mas jamais denunciado à Justiça.

Surgia aí, então, o confronto entre a busca da verdade e o interesse nacional, ou o que assim é chamado. Celso de Mello é figura exponencial no STF, não por ser o decano, mas pela meticulosa ponderação, cultura, lucidez e independência. Costuma atender com rigor à norma fundamental da Justiça e das leis: buscar a verdade e, por meio dela, sanar os conflitos.

Na época, fiz a mim próprio uma pergunta impertinente, descabida e imprópria: está o Brasil em condições de conhecer a verdade profunda do poder político?

A Lava Jato desnudou a rede de corrupção na Petrobrás e daí em diante se abriram as cloacas em que se oculta a sordidez de subornos em outros setores da área federal, governos estaduais ou municipais, em conluio com empresas privadas de obras públicas.

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Todos os cinco ex-presidentes da República vivos, além do próprio Temer, aparecem mencionados como favorecidos financeiramente nas “delações premiadas” de empresários íntimos do poder. Na mesma situação estão atuais governadores (até o de São Paulo, do PSDB), dezenas de senadores e deputados de diferentes partidos (neles, os líderes parlamentares do governo) e oito atuais ministros, incluídos Eliseu Padilha e Moreira Franco, íntimos do presidente. Aécio Neves (derrotado por Dilma Rousseff por pequena margem de votos na eleição presidencial de 2014) foi suspenso do mandato de senador. Estão presos ex-ministros e ex-deputados, grandes empresários, doleiros, “operadores” do PMDB, do PT e do PP e ex-diretores da Petrobrás ligados aos três partidos, alguns já condenados.

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral está preso por roubos hipermilionários a um Estado em dificuldades há décadas. A corrupção chegou à usina atômica de Angra dos Reis: o almirante que dirigia a Nuclebrás está preso, já condenado.

Quando a Lava Jato mostrou o roubo de centenas de milhões de dólares, a então presidente Dilma mudou, em 2015, a direção da Petrobrás e Aldemir Bendine deixou a presidência do Banco do Brasil e foi dirigir e moralizar a petroleira. Agora se sabe que meses antes o moralizador Bendine exigira R$ 17 milhões de propina para conceder empréstimo bilionário do próprio banco para financiar obras da Odebrecht na Petrobrás…

A gravação das “delações premiadas”, que a TV mostra todo dia, revela a arrogância dos corruptores. Confessam crimes como se revelassem fórmulas mágicas de concentração de riqueza. Mostram o servilismo de altos funcionários e políticos de quase todo o arco partidário, comprados como produtos de supermercado.

“Já estava virando prazer comprar alguém”, narrou Hilberto Mascarenhas, um dos diretores da Odebrecht, revelando o lado patológico do suborno, à espera de um novo Freud para desvendar o insaciável sadismo deste bizarro capitalismo.

Cada novo delator amplia a delação anterior e revela formas distintas de corromper ou de “ser obrigado” a conceder propinas milionárias. Surgem, então, os “operadores”, nova atividade em que marginais vindos do baixo crime são guindados a representantes das direções partidárias nos negócios sujos.

Por isso, vale minha absurda pergunta: estamos preparados para a verdade?

Na hipótese de que o procurador Rodrigo Janot pedisse investigar o presidente da República por ato anterior ao mandato (como admitiu Celso de Mello) e na eventualidade de que se confirmassem as suspeitas, o chefe do governo não sofreria nenhuma sanção. Continuaria no cargo como uma sombra, destituído de autoridade e da possibilidade de mandar até no trivial e rotineiro. E seria o caos!

Agora, quando o opulento frigorífico JBS carneia um boi em pleno repasto do exercício presidencial, passaríamos do caos à convulsão absoluta que nos poderia levar a inventar um salvador messiânico, tão demente como aquele que surgiu na Alemanha em plena crise, em 1933, e depois conturbou e quase destruiu o mundo.

Assim, o “interesse nacional” mais parece um dilema extraviado num labirinto e já não há como distingui-lo da verdade plena. É como se, perdidos em estrada remota, perguntássemos qual o caminho para tal lugar e recebêssemos uma resposta peremptória: na primeira entrada à direita, tome à esquerda…

Receita para ficar bilionário no Brasil sujo

Quer ficar bilionário? Quer mesmo? Aqui vai a receita: ajude a eleger um presidente, empregue na sua empresa parentes e amigos desse presidente ou ex-presidente, alie-se a um grupo de políticos influentes em Brasília, peça empréstimos ao BNDES, na Caixa Econômica Federal, no Banco do Brasil e em outros bancos estatais, alicie os presidentes dos fundos de pensão, financie campanhas de políticos e junte-se a lobistas poderosos e influentes. Pronto, com esses ingredientes alguns brasileiros se transformaram em bilionários da noite para o dia. Um, Eike Batista, solto do presídio de Bangu, é vigiado por tornozeleira eletrônica. Outros, os irmãos Batista, donos da rede frigorifico JBS, viraram delatores e personagens de outro escândalo que abala a república. Detonaram o Temer, Aécio, Cunha e toda elite política do país.

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A penalidade: multa de 220 milhões de reais por ter assumidamente declarado que corrompeu políticos, comprou leis no Congresso Nacional e financiou campanhas. Ora, uma merreca para quem embolsou 8,1 bilhões de reais do BNDES na gestão petista de Luciano Coutinho, presidente do Banco, e durante os governos Lula/Dilma/Temer. Agora se sabe que os irmãos Batista eram mais influentes do que os Odebrecht no governo do PT. Eram, digamos assim, os comem quietos da república. Tanto é que mesmo depois do bombardeio da Lava Jato, eles continuaram distribuindo dinheiro à moda mineira. Doaram, por baixo dos panos, 2 milhões de reais para ajudar o Aécio a pagar seus advogados e alimentavam o Eduardo Cunha com uma mesada milionária em troca do seu silêncio sobre as falcatruas de Temer e aliados do PMDB.

Você entendeu a fórmula mágica para ser bilionário no Brasil sujo? Não? Então vamos lá. Com a ajuda de dirigentes corruptos que administram bancos estatais, quase todos escolhidos por governantes mercenários, eles captam recursos para desenvolver suas empresas com risco zero. Quando quebram, o paizão, o estado, assume o prejuízo. E o empresário, que não é bobo, na maior cara de pau, logo grita: “Quebramos porque o país, administrado por um governo incompetente, mergulhou o país numa recessão econômica”. Pronto, está justificado o calote. Com o dinheiro depositado no exterior, a família se refugia nos balneários europeus. Ou passam a viver uma vida de tédio em Miami e Nova Iorque. O desemprego, causado pela recessão, dane-se, não é problema deles.

É aí que o bicho pega. Desempregados, os trabalhadores logo são convocados pelas centrais sindicais para irem às ruas lutar por seus direitos. É melhor do que ficar em casa com fome. Na concentração, eles ganham um troquinho, um sanduiche de mortadela, uma camisa vermelha e ensaiam as palavras de ordem como se tivessem em um set de filmagem. Coitado! Já foi manipulado pelo empresário e agora são colocados na linha de frente pelos sindicatos pelegos para virar saco de pancadas, levar porrada da polícia. Como disse Marcelo Odebrecht, na sua delação premiada, a empreiteira pagava os dirigentes pelegos para evitar greves nos seus canteiros de obras quando se via ameaçada de paralisação. Portanto, para os trabalhadores sobram os chutes e as cacetadas da polícia. Não há divisão de receita.

Administrando as centrais e os sindicatos como um feudo, os pelegos passam a ter um poder descumunal nesses movimentos sociais e reivindicatórios porque contam com a melhor matéria prima: o trabalhador, acionado a qualquer momento, para manter a chama acesa nas ruas. E, mais uma vez, vira massa de manobra. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. É mordido na jugular pelo empresário refratário, corrupto e caloteiro que toma o seu dinheiro emprestado e não paga. E é escravizado e manipulado por dirigentes sindicais que insistem em arrancar dele compulsoriamente uma contribuição sindical que ele nem sabe para onde vai.

Esse é apenas um ciclo comum da exploração do trabalhador. É assim, vai continuar assim e dificilmente vai mudar. Quanto mais puxar o fio do novelo, mais suja a linha fica. Quem não se lembra, por exemplo, do Banco do Sílvio Santos? Ele foi a bancarrota, mas a viúva logo apresentou uma solução para comprá-lo. A Caixa Econômica absorveu o prejuízo, o empresário se safou, e continuou gozando da cara da gente todos os domingos, gritando no auditório: “Quem quer dinheiro, quem quer dinheiro”.

E o trabalhador, desempregado, reúne à família em torno da TV para se entreter com o apresentador bufão sem saber que ele deixou um rombo no sistema financeiro de bilhões de reais por gestão fraudulenta do Banco Panamericano, prejuízo assumido, em parte, pela Caixa Econômica, um banco social, que recolhe o dinheiro dos empregados nem sempre usado em causas nobres.

Viu, trabalhador, como pra você não tem saída!

Onde enfiaram a descarga?

Há um corre-corre politicamente correto para descobrir a saída ou saídas. Não seria o caso de perguntar: Cadê a descarga?
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Cantando no escuro

No momento em que escrevo está tudo muito confuso. Concordo com a ideia de que o Brasil entrou numa rota de incerteza. Mas existem algumas bússolas, ainda que precárias.

Em alguns artigos afirmei que a difícil tarefa de Temer consistia em jogar ao mar os que fossem envolvidos na Lava Jato e saber, com precisão, se em algum momento ele também teria de se lançar na água. Pois bem, chegou a hora. Temer deve abandonar o barco. O momento é ruim porque uma tímida recuperação aparecia no horizonte.

Na verdade, o que restou no poder foi uma parte da grande quadrilha que dirigiu o País nos últimos anos. Agora o quadro se torna um pouco mais completo.

Depois da Odebrecht, a delação da JBS também tem a capacidade de revelar o conjunto do quadro político-partidário no Brasil, sobretudo a necessidade de renová-lo. Ela pode surpreender-nos com detalhes, nomes ou mesmo ritual. Foi uma delação com filmes, áudios, chips nas mochilas, numeração de notas anotada, enfim, uma ação perfeitamente orquestrada.

Nela, além de Temer, caiu também Aécio Neves. Ele já estava sob suspeita, com vários inquéritos. Um deles, originado na delação da Odebrecht, diz respeito à Usina de Santo Antônio, em Porto Velho, Rondônia. Agora Aécio afirma que sua relação com Wesley Batista era pessoal. É impossível imaginar que a JBS, assim como a Odebrecht, tenha apenas amizades. O termo amigo é somente uma forma de encobrir interesses recíprocos.


Enfim, foram quase todos para o espaço. Com o que restou do Congresso é preciso cumprir a Constituição, levando em conta uma variável essencial: a crise econômica, 14 milhões de desempregados. Naturalmente que uma formulação dessas é muito vaga, cumprir a Constituição significa fazer o que está escrito nela ou o que for inserido de forma legal, por meio das votações no Congresso.

Há uma ideia de fazer novas eleições para tudo, envolvendo também os parlamentares. Essa é uma saída complicada, porque dificilmente eles aceitariam encurtar o próprio mandato.

Independentemente dos rumos imediatos, certamente a sucessão de terremotos que abala o País deixará mortos, fraturas expostas e ferimentos leves entre os políticos. A sociedade terá importante papel, pois dependerá dela não apenas a renovação, mas também o controle de uma nova etapa.

O velho sistema eleitoral era movido a dinheiro. Tanto o PSDB como o PT sempre pensaram em ficar 20 anos no poder. Era preciso grana para se eleger, grana para governar e grana para se reeleger. O tempo inteiro é marcado pelo encontro de duas máquinas: a de empresários buscando lucros e a de políticos buscando grana. O planejamento nacional vai para o espaço, o governo do País torna-se apenas a administração do assalto aos recursos populares, de forma que as duas partes estejam satisfeitas. Até que uma delação premiada se instale entre elas.

O que sempre me espanta no Brasil é a surpresa com certos escândalos. A JBS arrancava generosos empréstimos do BNDES, buscava dinheiro em todos os setores públicos onde podia arrancá-lo. Mesmo em termos transparentes, era a maior financiadora de campanhas políticas .

A própria polícia já estava no seu rastro, investigando-a em várias frentes. Havia algo muito sério por trás de tudo isso. Não era claro ainda o papel do PMDB nessa história.

Todos intuíamos que Eduardo Cunha, por exemplo, tinha uma bancada pessoal, movida a propina. Supunha-se que o dinheiro viesse de várias empresas. Agora parece que a JBS teve papel decisivo.

Todos intuíam os vínculos de Temer e Cunha. Mas poucos sabiam como eram profundos, a ponto de Temer estimular o pagamento de um cala-boca para evitar a delação de Cunha.

Também sabíamos que era estranho o BNDES financiar uma empresa de carnes. Nesse caso, era mais fácil duvidar. Bastava ver o volume de dinheiro investido na JBS e o quanto a empresa empregava nas campanhas do PT.

Enfim, o esquema político-partidário estava envolvido, por intermédio de suas principais siglas. A delação da JBS apenas confirmou o processo de decomposição irreversível.

Toda essa tragédia que arruína um país e amplia o sofrimento de seu povo talvez pudesse ser atenuada. Já na década de 1980 discutíamos se os partidos não eram uma forma de organização historicamente condenada. Partido ou movimento?, perguntávamos.

Essa discussão existia também na França e creio que talvez tenha tido uma remota influência na forma como o atual presidente, Emmanuel Macron, se elegeu. São temas que talvez tenhamos de recuperar assim que baixar a temperatura, elevada pelo desfecho policial de nossa História recente.

Os fatos são escabrosos, os jornalistas tendem a uma certa hesitação, o momento é de tatear num quarto escuro em busca de uma tomada de luz. Ainda não dá para respirar, porque são necessárias soluções imediatas, serenas, que levem em conta, sobretudo, os altos níveis de desemprego.

Embora, como afirmei, seja correta a expressão rota de incerteza, a bússola constitucional está aí, assim como existem algumas ideias que possam tirar-nos desta maré baixa. O sistema partidário afundou, algumas instituições se destacaram e a própria sociedade cresceu muito em informação e nível de consciência.

A História não apresenta ao Brasil um problema insolúvel. Apenas vai dar trabalho, ansiedade e muita turbulência. É melhor assim. Demorou muito.

O ideal agora é conversar entre nós, amigos, parentes, colegas de trabalho, sem nos prendermos só às notícias sensacionais, mas focando nas saídas. O mundo real nos interroga. A política só tem sentido quando se propõe a melhorar a vida das pessoas. Fora disso é uma agitação custosa e funesta.

A redemocratização brasileira caiu num pântano. A guinada perversa para a corrupção contribuiu para nos arruinar e lançar tanta gente no desemprego. Numa situação dessas, a chegada da polícia é um alívio e renova as esperanças.

Gente fora do mapa

yasunao:  HEAVEN | more and more (138p):
Síria, Narciso Contreras

Temer renuncia a oferecer uma saída menos dolorosa para a crise

Foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, nos anos 80 do século passado quando era senador e José Sarney presidente da República, que um dia afirmou debochado:

- A crise viajou.

Sarney era a crise. E havia viajado para o exterior deixando um país politicamente convulsionado e uma inflação mensal gigantesca que só fazia crescer. No fim do seu governo, chegaria a mais de 80% por mês.

Fernando Henrique sugeriu, ontem, que o presidente Michel Temer renunciasse, sem ousar dizer que a crise é ele. Mas se tivesse dito acertaria outra vez.

Temer herdou do PT, mais precisamente de Dilma, a crise que empurrou o Brasil para a maior recessão econômica de sua história desde os últimos anos 30. Quando ela dava sinais de recuperação, ele passou a ser a crise.


A teimosia em permanecer no cargo só dá razão ao ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger que decretou: “O poder é o afrodisíaco mais forte”. E também ao cientista Albert Einstein que observou cáustico:

- O esforço para unir a sabedoria e o poder raramente dá certo e somente por tempo muito curto.

Por experiente, com uma trajetória política de mais de 40 anos, imaginou-se que Temer acumulara sabedoria. Qual o quê... Acumulou em alto grau apego pelo poder. Sempre esteve perto dele. Alcançou-o finalmente.

Ao resistir a deixá-lo contra todas as evidências de que isso seria o melhor para o país, repete apenas o exemplo de políticos de sua estirpe, cegos e ao mesmo tempo deslumbrados pelas miçangas do poder.

Foi assim com Fernando Collor. A poucos meses de ser deposto, ele ouviu o conselho de mais de um amigo para que renunciasse. Collor convocou o povo para sair às ruas em sua defesa. Ele saiu para acusá-lo.

Collor denunciou seu impeachment como um golpe. Dilma faria o mesmo tantos anos depois – e também cairia. Na tentativa de ser original, Temer se diz vítima de “uma conspiração” e de “uma cilada”.

Não há conspiração alguma. Temer caiu de fato numa cilada executada por um empresário e amigo dele há mais de 20 anos que, clandestinamente gravou a conversa que o condenou.

Mais pelo que ouviu conivente e cúmplice do que mesmo pelo que disse, Temer forneceu todas as razões para alimentar o sentimento da maioria dos brasileiros desejosos de vê-lo pelas costas.

Pesquisa nacional online aplicada, ontem, junto a 2.800 pessoas acima dos 16 anos pelo Instituto Paraná conferiu que quase 87% delas querem a saída de Temer.

Sem apoio das ruas, que já não tinha, do mercado financeiro que passou a amargar volumoso prejuízo, e vendo se esfarelar sua base de sustentação no Congresso, como Temer pretende se aferrar à cadeira presidencial?

Talvez aposte na solidariedade de deputados e senadores atingidos como ele pela Lava Jato. Deve saber, porém, que eles não são confiáveis e que cobrarão muito caro por isso.

De resto, ninguém consegue governar se perde autoridade política. Foi o que aconteceu com Dilma e, agora, também com Temer, o primeiro presidente no exercício do cargo a ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal.

Definitivamente, 2016 é um ano que não quer acabar.

Temer não era refém, mas parte da banda podre

Sejamos claros e diretos: Michel Temer tornou-se gestor de um governo terminal. Sua voz soou numa conversa vadia gravada por um delator. Aécio Neves, seu principal aliado no Congresso, foi pilhado num pedido de propina. Temer anunciou ao país que não renuncia. Mas seus ministros e apoiadores já começaram a renunciar ao presidente. Temer logo perceberá que há um déficit de apoiadores ao seu redor. Ele também notará que precisa não de aliados políticos, mas de uma boa banca de advogados. Temer migrou da condição de presidente para a posição de investigado em inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal.


Por ironia, Temer escolheu o seu próprio caminho para o inferno. Fez isso ao imaginar que poderia governar dando de ombros para a Lava Jato, a maior investigação de corrupção já realizada na história da República. Quis reformar o país abraçado ao entulho. Verificou-se que ele não era apenas refém da banda podre, mas parte da podridão.

Temer assumiu prometendo virar a página. E virou. Só que para trás. As consequências da crise serão duras. As reformas que corriam no Congresso foram ao freezer. A economia, que dava sinais de recuperação, voltará a deslizar. Enquanto Temer finge que ainda preside, o sistema político busca uma porta de incêndio, qualquer coisa que se pareça com uma saída. Seja qual for a solução, sempre parecerá um remendo. A eleição de 2018 será o melhor remédio. Que pode virar um purgante. Depende de você, caro eleitor. As ruas voltaram a ser protagonistas.

A encruzilhada

Estamos numa situação difícil. Que devemos ao presidente Michel Temer. Como pode um presidente da República, um jurista conhecido como grande constitucionalista, receber em sua casa, à noite, um empresário cuja conversa ele deveria ter, de imediato, mandado calar e mais, avisado ao Ministério Público?

Nada desculpa o presidente. Mas nada, também, perdoa o empresário que, em minha opinião, teve um papel infame e que muito mal fará ao Brasil.

Joesley Batista não foi um simples colaborador da Lava Jato, como outros delatores que se valeram das informações para diminuir sua pena. Não, ele agiu como um perfeito traidor. Lá de Nova York, usufruindo dos milhões de dólares que possui, hospedado num bom hotel com sua jovem esposa, ele enviou aos brasileiros uma carta pedindo perdão, piegas, e se fazendo passar por vítima das circunstâncias. A mim me fez mal ouvir a leitura de suas palavras...

“Errar é humano. Ser apanhado em flagrante é burrice.”(Millôr Fernandes). 

Desculpe, senhor Michel Temer, mas não conheço outra palavra para rotular o que o senhor fez ao receber para um papinho o dono da JBS.

Dizia George Orwell que ninguém chega ao Poder com a intenção de largá-lo. Algum leitor poderá contrariar o grande escritor britânico lembrando que Jânio Quadros largou o poder espontaneamente. É verdade. Mas ele errou no salto e caiu no buraco...

Já Michel Temer não pretende errar ao saltar o abismo. Não tem vontade de largar o Planalto. Está muito afeiçoado ao Poder e rodeado por ministros que temem perder o foro privilegiado. Portanto, ele não pensa em renunciar; foi o que afirmou hoje, muito enfaticamente.

Mas quer ele queira quer não, fica difícil agora, depois da gravação de sua conversa com o empresário Joesley Batista ter vindo a público, ele continuar Presidente da República.

Jornalistas de peso e analistas políticos afirmam que a melhor solução para o Brasil, neste momento tenebroso que atravessamos, é seguir fielmente a Constituição. E o que diz o ‘livrinho’ que devemos fazer no caso da saída do presidente em exercício? Simples: uma eleição indireta, pelo Congresso, quando qualquer brasileiro nato, com mais de 35 anos, poderá ser eleito para completar um mandato tampão até 2018.

Mas por esse Congresso? Será que algum brasileiro aceitaria essa solução? Não acredito.

Há outra solução que não fira a Constituição? Sim, há. Seria uma emenda constitucional (Proposta de Emenda à Constituição) apresentada pelo deputado Miro Teixeira (REDE/RJ) que prevê eleições diretas para a escolha de um próximo presidente que exerceria o poder por um mandato de quatro anos.

Infelizmente, há no caminho das soluções constitucionais uma enorme pedra, quase que irremovível: quem poderiam ser os candidatos? Você, leitor, sugere algum nome?

Sinceramente, eu não vejo ninguém. Essa é a triste encruzilhada em que estamos.

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Cadê o gelo que tá aqui, na Antártida?

O lado mais feio da estagnação

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Há algo mais cruel, mais feio e mais custoso que o desemprego de 14,2 milhões de pessoas, 13,7% da força de trabalho brasileira – números do primeiro trimestre. É a subutilização de 26,5 milhões, 24,1% da população ativa. Para compor este contingente é preciso somar a população desempregada, a parcela ocupada em um número insuficiente de horas e aquelas interessadas em trabalhar, mas, apesar disso, incapazes de ingressar no mercado. Este último grupo constitui a força de trabalho potencial, na classificação usada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A população subutilizada correspondia a 22,2% do contingente economicamente ativo no trimestre final do ano passado e a 19,3% nos primeiros três meses de 2016. Esses números são obtidos na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua e geralmente publicados pouco tempo depois dos dados tradicionais do desemprego.

A desocupação cresceu dramaticamente desde o começo da recessão, na passagem de 2014 para 2015. Com a retração dos negócios em todos os setores da economia, as demissões cresceram e com isso aumentou, mês a mês, o número de pessoas em busca de ocupação para manter-se e também para sustentar a família ou ajudá-la a sobreviver.

Sinais de melhora na oferta de vagas têm aparecido recentemente, em alguns setores. Em abril foram criados 59,9 mil postos de trabalho com carteira assinada, diferença entre admissões e demissões. A informação foi divulgada nesta semana pelo Ministério do Trabalho. Mas, apesar da abertura de vagas, a melhora ainda é insuficiente, e assim deve continuar por algum tempo, para reverter a desocupação acumulada nos últimos dois anos.

A evolução do cenário é mostrada principalmente pelos números do desemprego. Mas esse quadro expõe apenas uma parte dos fatos. O drama real é mais amplo, porque inclui a experiência do subemprego (ocupação por tempo insuficiente) e um tipo menos visível de frustração, o das pessoas interessadas em trabalhar, mas, por algum motivo, deixaram de procurar trabalho ou, se o procuraram, foram impossibilitadas de assumir a atividade.

Esse quadro mais completo vem sendo mostrado, há alguns meses, pela Pnad Contínua. A proporção entre a força de trabalho subutilizada e a desocupada tem oscilado, mas a diferença entre o contingente maior e o menor tem sido sempre superior a 75%.

No primeiro trimestre do ano passado, os subutilizados eram 19,3% da força de trabalho, os desocupados, 10,9%. O maior grupo superava o outro por uma diferença de 77,1%. Nos três meses finais de 2016 as taxas foram, respectivamente, 22,2% e 12%, com diferença de 85%. No período de janeiro a março deste ano os desocupados foram 24,1% da força de trabalho e os desempregados, 13,7%, com diferença de 75,9%.

A comparação entre os dois grupos dá uma ideia mais clara das condições efetivas do mercado de trabalho e das possibilidades de ocupação e renda. No trimestre inicial deste ano, por exemplo, quem se limitasse a considerar os 14,2 milhões de desempregados teria uma visão muito incompleta do cenário. Esse quadro já era sombrio, mas o conjunto real era muito pior. Seria preciso, no mínimo, acrescentar 5,3 milhões de pessoas subocupadas por insuficiência de horas de trabalho, atividade semanal inferior a 40 horas. Na maior parte dos casos, essa insuficiência deveria resultar em renda menor e maior instabilidade.

A ampla subutilização da força de trabalho retarda a recuperação do consumo e a reativação da economia. Há, em todo caso, algumas boas notícias. A reanimação de alguns segmentos industriais tem aberto a perspectiva de mais empregos decentes, com melhor combinação de salários e de benefícios e com registro formal. Parte das indústrias tem conseguido melhor desempenho com base na exportação. Para a maior parte dos segmentos, a recuperação deve ser lenta, mesmo com avanço de ajustes e reformas. Se as condições políticas travarem esse avanço, a conta do desemprego ainda será paga por muito tempo.

Esbórnia dos boçais

Disparados a uma velocidade que, diariamente se acelera, já estamos talvez em plena transformação. O fim será o fim apocalíptico, encher de ócios com a facilidade da mais fácil vida.
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Marco Melgrati
Um bom automóvel, uma boa passeata, restos de conta no banco e a severidade da programação social que não permitirá angústia nem revoltas. E bons lucros. Muitos e bons lucros em toda a parte. Espera-nos, em suma, uma grande festa de boçalidades
João Palma-Ferreira

Obrigado, Lula e Dilma!

Os liberais costumam dizer que Lula e Dilma já fizeram mais pelo liberalismo de Pindorama que todos os grandes liberais, brasileiros e estrangeiros, cujos vastos ensinamentos parecem muito pouco diante das políticas desastradas, dos desmandos e das falcatruas daqueles dois ex-presidentes petistas.

Cientes disso, várias cabeças coroadas do esquerdismo tupiniquim continuam a defender os governos petistas com unhas e dentes, mesmo diante de tantas evidências e provas, não só dos crimes da dupla, mas de suas políticas intervencionistas e inflacionistas. Alguns atribuem tal postura ao fanatismo, mas estão enganados. Os caras de pau que ainda defendem os governos do PT estão, na verdade, lutando por algo que lhes é muito mais caro que a imagem de um partido ou político.

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Para essa gente, todas as esperanças e sonhos de um mundo mais justo dependem dos resultados de determinados processos políticos e instituições. E o Estado é a principal ferramenta para a construção desse mundo melhor. Por isso, ele deve ser protegido, guardado, defendido e celebrado. A verdade revelada segundo a qual o Estado não é um mal necessário, mas o grande provedor e a fonte de todas as coisas boas que a humanidade pode construir, deve ser mantida a todo custo.

Os mandarins da esquerda tupiniquim têm pelo menos 50 anos de trabalho incessante e fartos recursos investidos na construção e exaltação do status moral elevado do Estado. Tal imagem deve ser resguardada a todo custo, sob pena de enormes prejuízos à causa. Assim, quaisquer eventuais falhas ou desvios de rumo devem ser considerados meros retrocessos temporários.

Por outro lado, o menor sinal de algum sucesso deve ser proclamado com campanhas de marketing exaustivas. O cidadão comum, despido de ideologia, deve ser submetido constantemente a homilias implacáveis sobre a santidade essencial do setor público. Não é por mero acaso que o senso comum do brasileiro médio esteve tão impregnado da crença nos direitos grátis, como se o Estado fosse capaz de prover algum produto ou serviço sem antes tomar os respectivos recursos da própria população.


O que Lula e Dilma fizeram em prol do liberalismo foi muito mais do que simplesmente reduzir o tamanho do Estado, sonho de 11 em cada dez liberais. Isso virá a reboque, assim espero. O que eles fizeram foi algo ainda mais aterrorizante, pelo menos do ponto de vista dos ideólogos da esquerda, que ainda insistem em defendê-los: eles arruinaram o dogma do Estado benevolente e provedor e, assim, desacreditaram suas santas instituições. Hoje, o cidadão brasileiro olha para o Estado e seus representantes com imensa desconfiança.

A História já demonstrou de forma cabal que o velho sistema de comando e controle estatal não pode durar para sempre, seja pela própria ineficiência do setor público, seja pela voracidade dos seus agentes e protegidos. O problema é que as sociedades muitas vezes demoram demais a perceber isso, e talvez este seja um dos papéis mais importantes que a Operação Lava-Jato está, ainda que involuntariamente, representando neste grande drama da vida brasileira. E é precisamente por isso que sua atuação tem levado os partidários do esquerdismo empedernido a atacá-la de forma tão dura e implacável, tentando defender o indefensável, justificar o injustificável, na esperança de manter viva uma ideologia zumbi.

João Luiz Mauad

Depois de ouvidas as gravações

O governo Temer está morto. Aquela gravação é letal e o que ha de menos grave nela é a questão Eduardo Cunha cujo destaque foi forçado para caracterizar os dois elementos que, tecnicamente, podem sujeitar um presidente a impeachment: obstrução de justiça e crime cometido durante o exercício do mandato. Toda essa operação foi armada para essa finalidade e isso foi o que melhor se encaixou no figurino técnico exigido mas o resto da conversa é bem pior que aquele trecho.

Que o momento escolhido para trazer tudo isso que já estava guardado ha tempo nas gavetas dos operadores do “sistema” à tona não foi o amor à justiça mas sim a perspectiva de aprovação iminente das reformas que, pela primeira vez na história, arranhariam de leve a incolumidade dos marajás agora abortadas para a estaca zero, não tem dúvida nenhuma. Mas mesmo mostrando, como mais uma vez mostraram, quem é que de fato governa o Brasil, lição de que a nação não se esquecerá ao longo do pesadelo que vem aí, terão de dobrar o lombo e voltar a discuti-las, e logo, porque a alternativa agora é a morte.

Esse serviço, venha o que vier, Temer prestou à nação. Com todas as reservas com que tentou inutilmente evitar colidir de frente com o “marajalato” que, nem no dia de ontem, conseguiu encher uma praça inteira pelo país afora, está sabido e re-sabido o que é que está matando o Brasil.
É, também, horrivelmente fascinante para quem viveu as redações no tempo em que tudo era, antes de mais nada e acima de tudo, referido a isso, como o Brasil “não é matéria” para quem vive naquela tão longínqua e tão próxima estação espacial chamada Brasilia, seja para os que têm por função mandar-nos as chuvas de raios lá daquele Olimpo, seja para os que vivem nele apenas para cobrir a vida desses semi-deuses malignos.

Aquela doença pega! Uns com mais outros com menos dolo, ninguém perde uma frase que seja com as hemorragias que possam nos causar. Todos os lados entregam-se com uma volúpia quase sexual às emoções da luta pelo poder como se elas não implicassem nada mais que as substituições de peças em Brasilia.

É preciso, agora, aprender a “ler” esse novo/velho Brasil. Como nunca ha uma novidade de que ninguém nunca tivesse suspeitado antes, o verdadeiro fato para quem quer saber quem é que está movendo quais pauzinhos nessa nossa eterna briga de navalha no escuro é sempre EM QUE MOMENTO se usa aquilo que todo mundo sempre soube mas, segundo o jogo das cumplicidades, fingia não saber num sistema onde abrir um partido político dá renda financeira automática e qualquer candidatura tem de pedir votos em áreas quase continentais. Olhar a coisa por esse viés do momento da “desova” é sempre elucidativo. A segunda chave para a compreensão da verdade é a tradicional, de que falava sempre Sherlock Holmes: a quem interessa o “furo” passado ao órgão de imprensa da vez (na atual quadra dos acontecimentos, tendo em vista 2018).

Isso posto, vamos às gravações.

Aécio foi mesmo um acidente de percurso. Um acidente fatal. Ele não é nem muito melhor, nem muito pior do que o que está à sua volta (resista sempre ao barulho ou seu cérebro vira massa para escultura!) mas tornou-se uma questão definitivamente resolvida. Não tem remissão.

Já a gravação Joesley x Temer parece, em primeira audição, menos inofensiva do que seria bom para o Brasil e do que fazia crer a confusa descrição dela feita por O Globo. Para o que interessa, que são as reformas, nada se alteraria mais depois da simples detonação do tiro, não importa onde ele viesse a acertar. Essa é a parte que interessa a quem puxa o gatilho. Mesmo assim, justiça seja feita. O caso só não é absolutamente claro ainda porque o que está lá é um longo monólogo de Joesley cuidadosamente ensaiado para dara conhecer três ou quatro histórias diferentes e citar todos os seus personagens, entremeado por murmúrios quase sempre inaudíveis de Temer. O que é inteligível ‘e suficientemente pesado mas o contexto é o que lhe dá o último sentido; a mala de dinheiro no final é o “fio terra” que “arruma” tudo.

Excepcionalmente desta vez, porém, existe uma maneira de tirar isso 100% a limpo. É ir saber, na Petrobras e no Cade, qual era a situação do contrato de fornecimento de gas para a alteração do qual Joesley teria pedido a ajuda de Temer. Checando qual foi a alteração havida no contrato, se é que houve alguma, e em que valores resulta essa alteração, ficaremos sabendo se a “semanada” de R$ 500 mil ao longo de 20 anos realmente faz sentido e se já estava mesmo na hora dela começar a ser paga. E isso nos dirá não só quanto Temer tem ou não tem a ver com isso como também, se tiver, se não será obrigatório reverter uma “correção” que precisou ser comprada por tanto dinheiro.

Afinal, não está fácil demais para os ésleys livrarem-se de tudo que fizeram e embolsaram só com uma cartinha de desculpas e mais o que lucraram com sua última “aquisição” junto à Petrobras e mais as gigantescas posições em dólares montadas meia hora antes do Globo detonar sua bomba?

Paisagem brasileira

Serra das Laranjeiras, José Rosário

Tá chovendo para cima

O presidente Temer falou. Pagou pra ver. Jogou a crise pro campo jurídico, terreno de sua especialidade. Prometeu provar que não comprou o silêncio de ninguém. Terá condições de parar a engrenagem?

Temer tornou-se um político frágil numa velocidade jamais vista na República. De presidente poderoso e reformador, em questão de minutos, teve seu poder dramaticamente reduzido. A ponto de muitos de seus aliados considerarem sua situação insustentável e o mercado ter ficado muito desanimado. Tudo com base na crença de que “O Globo tem mais” a falar sobre.


Michel Temer, como homem de coragem, foi um dos poucos a sair a público para se defender e defender o governo. O outro foi Eliseu Padilha. Apesar de Temer ter sido firme e vigoroso, seus aliados ainda estão em estado de choque.

Mas o tamanho da crise o torna o passageiro da crise. A segunda vítima das denúncias, é o processo de reformas. Sem definir o futuro de Temer nada vai acontecer. A terceira vítima poderá ser a maioria que Temer tinha a seu favor no TSE.

Moro em Brasilia há 30 anos, sou testemunha de todas as categorias possíveis e imagináveis de crise, já vi ministros e presidentes caírem de forma espetacular, sei como se formam as metasteses politicas e os caminhos de cura.

A essência desta, porém, é quase o “sobrenatural da silva” dos acontecimentos, como diria Nelson Rodrigues. Deve ser por isso que um amigo de infância me telefonou ontem à noite (quarta-feira) depois do JN dizendo: “Tá chovendo pra cima”.

Europa abre batalha contra o desperdício

This is a simple food waste poster I like the way it looks as its simple but effective:
As cifras apresentadas no relatório do Parlamento Europeu são gigantescas – e vergonhosas: cada cidadão da União Europeia desperdiça anualmente, em média, 173 quilos de comida. A deputada liberal Ulrike Müller fez o cálculo: "Cada europeu joga quase dois quilos de alimentos no lixo por semana."

Caso se tratasse de artigos estragados, o fato seria compreensível, mas o pior é que uma boa parte dos gêneros descartados ainda seria perfeitamente comestível. Muitas vezes joga-se comida fora por se acreditar que ela seja inaproveitável, o que muitas vezes não é o caso.

"Nos países industrializados, a maior parte dos gêneros alimentícios é desperdiçada no fim da cadeia de abastecimento, ou seja, na comercialização e consumo. Cada um arca com parte da responsabilidade de resolver esse problema", alertou a relatora sobre o assunto, deputada social-democrata croata Biljana Borzan.

A UE se propôs reduzir à metade a quantidade de seus alimentos descartados até 2030. O Parlamento apresentou à Comissão Europeia uma série de sugestões para alcançar essa meta, baseadas em duas constatações.

A primeira é que o desperdício ocorre sobretudo em nível domiciliar. Isso significa que ou as firmas como restaurantes e cantinas se organizam melhor para aproveitar as mercadorias, ou se come mais nas residências. Ou talvez ambas as alternativas se apliquem.

A deputada Müller acredita que os consumidores são "a chave para o sucesso" do combate ao desperdício. "Por isso devemos aguçar a consciência para o problema, voltar a dar mais destaque à educação alimentar e possibilitar ao consumidor melhor acesso a informações importantes."

E aqui entra a segunda constatação relevante: o prazo de validade é um fator central para a decisão de descartar os produtos. Ficou claro que muitos consumidores entendem errado essa informação: eles pensam que se o iogurte ultrapassar a data estipulada em sequer um dia, está estragado e seu lugar é no lixo.

Como expresso no termo alemão Mindesthaltbarkeitsdatum, se trata de um prazo mínimo de validade, dentro do qual, e em condições ideais de armazenamento, cor e consistência do produto são garantidos. Consumi-lo mais tarde não implica necessariamente uma intoxicação alimentar. Nesse sentido, a fórmula inglesa best before parece mais elucidativa: até a essa data, a qualidade e o sabor são "os melhores", porém depois também estarão bons.

Além de reivindicar que os consumidores sejam melhor informados, o Parlamento Europeu também sugeriu que se abra mão do prazo de validade em determinados gêneros alimentícios.

O agricultor e deputado do Partido Popular holandês Jan Huitema cita diversos estudos, segundo os quais, se esse quesito for retirado de produtos mais duráveis como café, macarrão ou arroz, "vai-se desperdiçar até 12% a menos".

Outra sugestão com grande maioria no órgão legislativo europeu é liberar de imposto de valor agregado (IVA) as doações de alimentos, como incentivo para que as empresas joguem fora menos produtos.

Para além da política, contudo, também há mudanças em andamento. Cresce o número de projetos de pequeno e grande porte cuja proposta é enfrentar o problema do desperdício.

Recentemente, por exemplo, o ministro alemão da Alimentação, Christian Schmidt, entregou o prêmio "Bom Demais para o Lixo" na categoria "produção" à iniciativa Knödelkult, que produz os apreciados bolos de massa cozida chamados knödel, klosse ou canederli com o pão não vendido de padarias locais.

À cadeia de supermercados Edeka Südwest coube o prêmio "comércio" por sua "Bolsa de mercadorias": pela intranet, a empresa oferece a suas filiais artigos com prazo de validade curto ou frutas e legumes altamente perecíveis a preços mais baixos.

E o restaurante berlinense Restlos Glücklich (literalmente: "satisfeito sem deixar resto"), que produz seus pratos com produtos alimentícios retirados de circulação, foi o vencedor da categoria "gastronomia".

A UE também está à procura de ideias criativas como essas para reduzir a montanha de resíduos orgânicos que a comunidade produz. Projetos em nível local se aliam a ambiciosas iniciativas legais de Bruxelas para que menos comida preciosa vá parar nas latas de lixo do Velho Continente.

Christoph Hasselbach

Se fôssemos espertos

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Comecei a suspeitar de algo errado com a educação no Brasil quando uma de minhas filhas, matriculada num colégio "experimental" do Rio em fins dos anos 70, chegou aos oito anos sem ser alfabetizada. Em troca, subia e descia de árvores com uma destreza de Jane do Tarzan. Seu colégio dava grande importância a essa disciplina e, não por acaso, o pátio parecia uma miniatura da Mata Atlântica.

Desde então, nosso sistema de ensino vem procurando novas fórmulas com as quais preparar os garotos. Uma delas propôs –e conseguiu– extinguir do currículo o latim, talvez por ele não figurar entre as línguas oficiais da Disney World. Outra postulou o desaparecimento da geografia, sob a alegação de que era inútil saber, digamos, os afluentes do rio Amazonas –para que decorar a resposta a uma pergunta que jamais lhes seria feita?

Mas isso foi então. Nos últimos 15 anos, voltamos aos conteúdos, só que para tentar inverter o polo da história –diminuindo a presença do opressor europeu e enfatizando a dos nossos indígenas e africanos. Com isso, menos Estácio de Sá e d. Pedro 1º, por exemplo, e mais Zumbi dos Palmares e o cacique Araribóia. Muito justo –mas o que faremos com o Aleijadinho, Chiquinha Gonzaga, Machado de Assis, Lima Barreto, Di Cavalcanti, Mario de Andrade, Elizeth Cardoso, Ademir da Guia, Taís Araújo e a torcida do Flamengo, todos com algum branco descascado na composição?

Enquanto no Brasil discutimos ideologia, Portugal há anos começou a privilegiar o ensino de português e matemática em suas escolas. Sem ler ou escrever direito, ninguém chegará à história e à filosofia. E sem uma forte base matemática, ninguém dará para a saída no mundo cibernético. Os portugueses começam a colher os frutos dessa política.