quinta-feira, 27 de abril de 2017

A esquerda, o silêncio e a religião

“Na JEC, os assistentes apresentavam o Cristo como o macho, o forte, o homem, o cara que veio para fazer uma revolução, não uma revolução em termos políticos, mas de qualquer maneira uma revolução, pessoal, humana, de salvação. Isso continha uma mística tremendamente forte para nós. Essa era a religião que nós estávamos querendo. Isso teve um aspecto muito, muito positivo. (...) Foi com esse embalo místico que chegamos à AP: temos uma missão, somos uma geração com uma missão salvadora.” Herbert José de Souza, o Betinho, no primeiro volume da obra coletiva Memórias do Exílio, publicada em 1976

Por que tantos militantes de esquerda têm tanta dificuldade em criticar a figura de Lula? De onde vem a barreira intelectual? Por que a idolatria, embora cansada, não arreda pé? Ou, quem sabe, o que existe aí é dependência psíquica?

Para encarar essas perguntas, uma esfinge do nosso tempo, começo invocando o passado. Começo pelo testemunho de Betinho, registrado no texto De Muitos Caminhos, que está no primeiro volume de uma coletânea organizada por Pedro Celso Uchôa Cavalcanti e Jovelino Ramos, sob a orientação de Paulo Freire, Abdias do Nascimento e Nelson Werneck Sodré. Publicada originalmente em Portugal, em 1976, a obra foi também impressa em São Paulo, pela Editora e Livraria Livramento Ltda., em 1978. É um documento precioso e, em muitos aspectos, incrivelmente revelador.

No caso de Betinho, é revelador o nexo que ele aponta entre a ação política e o cristianismo. A Ação Popular (AP), nascida da Juventude Estudantil Católica (JEC), trazia em seu código genético inspirações católicas e marxistas. Foi criada em 1962, teve peso no combate contra a ditadura militar e, nos anos 70, seria absorvida pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B), que não era chegado a sacristias. Por aí – embora não tenha sido só por aí –, ramificações do cristianismo acabaram por dar às mãos ao materialismo raso dos que adoravam Joseph Stalin, também chamado de “guia genial dos povos” ou algo por aí.

Também para o Partido dos Trabalhadores, o PT, gerado nas greves operárias do ABC paulista do final da década de 70, afluíram correntes católicas de esquerda, incluindo setores das célebres comunidades eclesiais de base. Além dos cristãos, acorreram para a sigla operária fileiras stalinistas e trotskistas (o Brasil é o país da mestiçagem dos contrários – sobretudo da mestiçagem religiosa). Por todos esses “muitos caminhos”, no dizer de Betinho, as ideologias se travestiam de profissão de fé e vice-versa.

Por certo, essa fusão – ou confusão – de fé religiosa e militância política não é marca distintiva dos socialistas. A direita também tem disso. Ouvindo Donald Trump falar, a gente tem a sensação de estar diante de um fundamentalista ultraortodoxo que não se manifesta como agente político, mas como pregador disposto a combater os infiéis com a mais sacrossanta violência.

A opinião, quando elevada a fator de coesão de um grupo, de uma turma, de um partido (como de uma igreja), confere à ação coletiva um aspecto de movimento religioso. Em toda parte é assim. Em todas as ideologias. Tanto que Yuval Noah Harari, autor do best-seller mundial Homo Deus (publicado no Brasil pela Companhia das Letras), diz que até mesmo o humanismo é uma religião, assim como o socialismo e o liberalismo. Quanto a isso, portanto, nada de novo sob o Sol.

Mas o tema deste artigo não é a religiosidade na política em geral. Só o que pretendo discutir aqui é a possibilidade de uma relação entre as perguntas que estão lá no primeiro parágrafo – por que Lula parece ser esse mito intocável aos olhos de seus seguidores? – e uma religiosidade específica, menos abrangente e mais localizada: a religiosidade presente nessa política de silêncios obsequiosos do PT e de seus grupos satélites.

Não que Lula seja a reencarnação do “Cristo forte” de que falava Betinho. Dizer isso seria fazer piada e, ainda que não sejam poucos os que cederam ao fascínio de ver no carisma de Lula a imagem-síntese de uma “revolução pacífica” que estaria em marcha, não é o caso de fazer piada. Falando sério, a dificuldade de núcleos de esquerda de fazer a crítica de determinadas condutas de Lula não vem de uma visão primitiva de que ele seja santo, mas do medo mudo de que tratá-lo como um simples ser humano (“um brasileiro igualzinho a você”, lembra?) ponha a perder toda a “mística” que se ergueu dele.

Aliás, a desculpa “tática” que alguns dão tem que ver com isso. Criticar Lula seria fazer o jogo da direita e enfraqueceria a causa, dizem eles. Acontece que a desculpa “tática” é, também ela, religiosa: qualquer seita reage assim para proteger seu profeta, o que não deixa de ser compreensível. A dimensão divina do profeta funciona como o alicerce das crenças: se ela for abalada, toda a catedral virá abaixo.

O que é particularmente triste é ver o PT se resignando à condição de seita e desistindo da crítica política. É triste porque, embora sempre exista um pouco de religiosidade na ação política, uma agremiação de esquerda que se contenta em se comportar como seita abandona a própria identidade da esquerda, baseada na contestação.

A própria ideia moderna de esquerda é produto da contestação intelectual, é produto da potência crítica dos que pensaram contra a ordem. Logo, uma esquerda sem crítica não é esquerda. É só uma igrejinha. No diminutivo.

É interessante notar, hoje, que a Igreja Católica tem mais facilidade em discutir o dogma da “infalibilidade papal” do que o PT em pôr em pauta eventuais “erros” – falar em “crimes” seria pedir demais – cometidos pelo seu líder maior. O Vaticano até convive com a ideia de um papa que erra. O PT, parece que não.

Em tempo, Betinho fez a crítica do seu passado e se reinventou. O PT e seus apoiadores aflitos (ou envergonhados) insistem no caminho oposto. Por quantos séculos mais?

Feche os ouvidos! Abra os olhos!

É meio como a coisa dos assassinatos depois que passaram a ser filmados nas ruas. A gente sabe como as pessoas se matam desde Caim e Abel. Mas ver isso ao vivo é sempre muito chocante. Assistir às autópsias, então, faz a maioria das pessoas passarem a “raciocinar” com o estômago.

É o ponto em que estamos. Às vezes revolta, às vezes abre um oco na alma ir à minucia de cada queda delatada, mas novidade mesmo não ha. Sempre foi essa a regra do jogo e ela sempre foi clara. A coisa chegou onde chegou porque nos últimos 30 anos ninguém, eleitor ou, principalmente, autoridade judiciária, jamais cobrou sua aplicação. É perfeitamente possível, hoje como antes, apurar quem, com “caixa 1” ou “caixa 2”, arrecadou para financiar eleições, quem aproveitou para se locupletar e quem, junto com isso, vendeu leis, vendeu a pátria, vendeu a alma ao diabo pelos faustos do poder. Pode-se traçar de onde saiu e onde foi parar cada tostão movimentado. As “contrapartidas” viraram leis, MPs, contratos e contas na Suíça. Nada que se possa ocultar. Estão nos anais do BNDES, bilhão de dólar por bilhão de dólar, as operações de cooptação de um “baixo clero da ONU” que estenderia para além das fronteiras da América Latina bolivariana os sonhos de poder e os métodos para conquista-lo desenhados no Foro de São Paulo e ensaiados no “mensalão”.


 Corrupção é, essencialmente, déficit de democracia; impotência do representado diante da falcatrua do representante

Ha, portanto, enormes diferenças na motivação e na extensão da ação e dos danos produzidos por cada ator da novela da destruição do Brasil. Isso de condenar a regra que não se aplicou em vez do desleixo de não te-la aplicado é o padrão que deságua sempre nas insidiosas “jabuticabas” que nos têm mantido fora do mundo e na miséria.

A continuação da parte dessa história que tem como horizonte o “excesso de democracia” praticado na Venezuela depende de se conseguir apagar essas diferenças. É nessa confluência que a força reacionária da “privilegiatura”, pela primeira vez ameaçada de recuo pelas reformas de Temer, se veio somar à correnteza do “lulismo”. Mas o pior foi mesmo ter o acaso conspirado mais uma vez contra o Brasil ao fazer coincidir tudo isso com o auge da Operação Lava Jato. É nesse cruzamento infeliz de forças que, uns arrastando, outros sendo arrastados pelos vazamentos sucessivos, viram-se os guardiões da justiça forçados a abrir o pacote da Odebrecht “em bruto”, o que aplainou as diferenças e de novo “zerou” o placar eleitoral.

A situação do Brasil, entretanto, não tem mais conserto com paliativos. O acerto de contas entre os dois Brasis não é mais uma questão de opção. É uma impossibilidade matemática não faze-lo. Só falta saber em quantas etapas sucessivas e com que dose adicional de desperdício e morticínio ele se dará.

O estado toma 36% do PIB em impostos e mais 10% do PIB na forma de deficits. São 2 trilhões e 500 bilhões de reais. Na União, 54% dos gastos são com aposentadorias e outros benefícios para inativos, 41% são com salários de funcionários ativos. Só 5% é investido em qualquer coisa que não seja pessoal. A média das aposentadorias pagas no “nosso” Brasil é de R$ 1,6 mil. No “deles”, de R$ 9 mil no Poder Executivo que propõe a reforma e de R$ 25 mil no Legislativo, R$ 28 mil no Judiciário e R$ 30 mil no Ministério Publico que, em voz alta ou em voz baixa, resistem a ela. Dentro de cada um desses poderes o abismo entre os salários básicos e os balúrdios acumulados por dentro e por fora da lei, com fraude em cima de fraude, pelos respectivos “marajás” é ainda mais fundo que o que existe entre salários e aposentadorias dos brasileiros de 1a e 2a classe. Como “eles” são, ao todo, 10 milhões e os “marajás” muito menos ainda, tem-se que perto de 40% do PIB fica nos bolsos de menos de 5% da população, um grupelho que, em pé, não enche a Praça dos Três Poderes, com a maior parte dessa fatia concentrada nos de uma ínfima minoria dentro dessa minoria. Se, portanto, a reforma da previdência privada é um imperativo demográfico, a da publica é um imperativo de salvação nacional. Ou nós acabamos com isso ou “eles” acabam conosco.

O que a extensão das delações está provando é que de PSOL a pastor, de Odebrecht a trabalhador braçal aliciado por advogadozinho achacador, tudo que ingressa no “sistema” ou apodrece ou é expelido. Sem reformas que o alterem na essência não existe hipótese de salvação.

Corrupção é, essencialmente, déficit de democracia; impotência do representado diante da falcatrua do representante. “Estatizar” o financiamento de campanhas não conserta isso e implica a “lista fechada” que agrava essa impotência. O atrelamento dos sindicatos ao imposto sindical por Getulio Vargas condenou à morte a democracia no Brasil. O cerco foi fechado com uma “justiça do trabalho” que, ao institucionalizar o achaque, passou a corromper a base da sociedade. O “apelegamento” dos movimentos sociais e partidos políticos pela Constituição de 88 foi a pá de cal. É impossivel pensar em “democracia representativa” num país onde todas as fontes primárias de representação da sociedade são sustentadas por impostos e independentes de seus representados. Contornar a industria do achaque pela “terceirização” é condição essencial para a ressurreição do emprego no Brasil. Mas acabar com o imposto sindical é inverter o polo do mais antigo e fundamental dos vetores de forças negativas que atuam sobre o “sistema”. O financiamento de campanhas pelo estado vai na direção contrária. O que torna eleições baratas de modo orgânico e saudavel é encurtar o raio do território onde um político está autorizado a pedir votos. E isso se consegue com eleições distritais, método que, de quebra, torna explícito o laço de dependência entre eleitores e eleitos sem o qual é impossivel uns controlarem os outros.

Sim, a Lava Jato é intocavel. Mas feche os ouvidos ao barulho e abra os olhos às evidências. Sem reformas não vamos a lugar nenhum. E faze-las aos pedaços vai custar mais do que podemos pagar.

Gente fora do mapa

Fan Ho Lunch 1962, from “Hong Kong Yesterday”:
Fan Ho (1962)

Legalidades e propinas

O que causa repulsa não é o projeto de distribuir renda ou empoderar os menos favorecidos, mas o elo entre altos administradores federais com empresas para burlar o mercado, enganar o eleitor e roubar a sociedade

O estudo de sociedades tribais mostra que é possível existir governabilidade sem leis escritas, igreja, parlamento e Estado. Elas operam substantivamente de modo pessoal e recíproco, ao passo que nós instituímos uma tradição na qual o pessoal e o impessoal se alternam e misturam. Em aldeias o obrigatório se manifesta nos rituais.
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O estabelecimento de uma administração federal republicana no Brasil, cujas leis ainda são tomadas como panaceias capazes de tudo resolver, não soterrou reversões e resistências vindas da sociedade de modo a fortalecer todo tipo de laços extralegais. Tentando coibir com leis uma dinâmica social relativamente imprevisível, criamos uma dialética negativa entre leis e relações humanas. Assim, quanto mais legalidade, mais ativamos o “você sabe com quem está falando?” e o “jeitinho” — esses afins da propina e, de um outro plano, da malandragem malazarteana como um modo aprovado de resolver situações. Não é por acaso que no Brasil, como dizem Stuart Schwartz e Richard Moneygrand, o “legal” é sinônimo do bom!
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É justamente nesse espaço entre o formalismo institucional igualitário e “pessoas” com influência política (obtidas ou não pelo igualitarismo) ou por dinheiro que se instala uma “ética de simpatias”. Por meio dela, faz-se uma ponte entre legisladores e empresários, entre donos do governo e donos de empresas. O alvo dessa passagem sempre foi, com as isenções que confirmam a norma, a subtração de recursos da sociedade.
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O Estado (e o governo que o personifica) usado como um recurso para empregar parentes e amigos sempre foi uma rotina e uma obrigação. A novidade que hoje testemunhamos está no volume, na estrutura e na justificativa ideológica que se usa para legitimar esse assalto jamais visto — a ponto de levá-lo à ruína. Aliás, estampar confissões e colaborações como “delações” revela a força da ética altruística da amizade contra o sistema legal porque denunciar amigos é — no Brasil — o cúmulo da falta da caráter.
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Toda a sociologia política que nos antecede trata de uma questão central: a passagem da casa e do parentesco como instituições controladoras de acesso a riqueza e poder, para instituições impessoais como o contrato de Maine e a “civitas” de Morgan — um sistema no qual o parente e o amigo são englobados pelo cidadão submetido a impessoalidade igualitária. Do “axioma da amizade”, como dizia Fortes, confirmando São Tomás de Aquino, ao “axioma da igualdade” que tanto assombrou Tocqueville nos Estados Unidos, existem — como vemos indignados — convivências e exageros. Pois não há nenhuma sociedade exclusivamente fundada no parentesco ou na cidadania; nem numa plena informalidade na qual uma ética de condescendência tudo perdoe, proscreva e autorize, nem numa ética igualitária que bloqueie afeições e intimidades.

É justo esse jogo que ressurge com uma extraordinária nitidez entre nós.
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O que hoje causa repulsa não é o projeto de distribuir renda ou empoderar os menos favorecidos. Não! É o elo entre os mais altos administradores federais com empresas com o objetivo explícito de burlar o mercado, enganar o eleitor e roubar a sociedade. É descobrir que partidos políticos usam a linguagem da igualdade em público, mas operam por meio de amizades instrumentais.

Para Eric Wolf, que falou sobre o papel da amizade em sistemas industriais, haveria dois tipos de amizade: as afetivas, baseadas no altruísmo; e as que têm como alvo uma troca explícita de bens, cargos e serviços. As que demandam pagamentos imediatos — quase-contratuais — não fosse pelo uso do codinome e do seu caráter particular. A amizade afetiva é o cimento da própria vida social, a outra ocorre fora da casa e, no caso brasileiro, ajuda a realizar ambições inconfessáveis implícitas no modelo não politizado do sistema: o poderoso deve ser rico e o rico, poderoso. Nenhum deles é controlado ou teria limites. Esse seria o ideal da nossa autocracia: nada a detém, exceto a sua ausência de caráter.
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Devo relembrar um outro teorema da vida política nacional? Devo recordar, com Oliveira Vianna e com os “delatores” que resistimos a tudo, menos ao pedido de um amigo? Sobretudo quando ele é o “Amigo”?

A novidade intragável é quando a lei não é mais controlada por quem tem foro privilegiado. É quando falamos em limites para uma elite que jamais teve consciência de até onde pode ir. Essa elite que passou da escravidão ao trabalho livre controlado por sindicatos domados pelo governo e pelos incontáveis "pais dos pobres" e compadres dos ricos...
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A tentativa de controlar os limite das promotorias, defendida por políticos citados na Lava-Jato, demonstra o teorema. Eles não querem ficar do lado da lei, o que desejam é fazer uma lei que esteja ao seu lado. No Brasil, o impessoal é o oposto do nosso estilo de vida. Se a impessoalidade engendra a igualdade, ela deve ser controlada. Eu não compartilho meus amigos poderosos com meus amigos comuns para não perder o controle sobre eles...
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Confundimos politicar com politizar. E policiamos com tal abuso e arrogância, que e a política virou uma bruxaria. Não é mais feita pensando no país, mas na nossa salvação. Amém..
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Roberto DaMatta 

Trova do assalto

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“A bolsa ou a vida” – eu ouço
e retruco as ironias:
- Que leve as duas, seu moço,
pois ambas estão vazias.

Roberto Medeiros

Reforma trabalhista, por si só, não aumentará número de empregos

A reforma trabalhista, pela qual o governo Temer tanto se empenha, não tem o poder mágico de ampliar o mercado de trabalho e assim reduzir os índices de desemprego no país. O mercado de trabalho depende diretamente do aumento de renda da população e da expansão da economia. Não tem o poder mágico de alargar a oferta de colocações no universo produtivo.

Mas é assim que o tema está sendo tratado e o que se pode dizer é que com isso, torna-se difícil fazer recuar a taxa de desemprego no país. O fato de a nova legislação permitir que sejam firmados acordos além dos limites da lei, representa uma flexibilização que só pode contribuir para achatar mais os salários, porque numa fase de dificuldade os trabalhadores terminarão aceitando o estabelecimento de condições adversas para firmar seus contratos. Poderá haver casos em que o reajuste anual perca para a inflação o significará o retrocesso social bastante lamentável, sobretudo se a prática se estender por vários anos.

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Uma questão que passou despercebida refere-se ao reajuste do salário mínimo, que, pela lei atual, inclui para efeito de cálculo o valor do IPCA mais o índice de crescimento do PIB. Mas como o PIB vem apresentando crescimento negativo, vale apenas o IPCA. Esse sistema é adotado também para os aposentados e pensionistas do INSS. Caso não venha a ser, verifica-se o seguinte, o reajuste do salário mínimo vai superar as correções salariais acima do piso o que significa que através do tempo, cada vez mais maior número de pessoas passam da escala em que se encontram para o patamar básico do país – o salário mínimo. Esta é a tendência da política atual.

Enfim, o processo econômico tem que que estar voltado para promover o crescimento dos níveis de renda, o que em última análise significa incentivar tanto a produção quanto o consumo. E sem o avanço produtivo não haverá evolução social no Brasil.

Imagem do Dia

Circus Lane, Edinburgo (Escócia)

O que estão fazendo os homens maduros que não trabalham nem são aposentados?

Desde a Antiguidade, as culturas ocidentais mostram uma preocupação em dividir a vida humana em fases buscando encontrar nelas alguma ordem e previsibilidade. Estas são marcadas, de um lado, por eventos biológicos, como puberdade, menarca, maternidade, menopausa, viuvez, senilidade, morte etc.; e por outro, por eventos sociais, como formatura, primeiro emprego, casamento, aposentadoria etc. Ao longo da história, o Estado moderno assumiu questões que eram da ordem privada e familiar e passou a regulamentar as etapas do curso da vida. Estas são normatizadas do nascimento à morte, com ênfase na escolarização, entrada e saída do mercado de trabalho e aposentadoria (Debert, 2010). 

Até pouco tempo atrás, consideravam-se apenas três fases: primeira (infância e adolescência); segunda (vida adulta); e terceira (velhice). A entrada no mercado de trabalho é um dos eventos que marca o início da vida adulta para os homens e, da mesma forma, a saída dele, via aposentadoria, é o que caracteriza a entrada na última fase da vida ou a velhice. Ou seja, os homens têm a vida pautada pelo mercado de trabalho, dado que a escola, que marca a infância, pode ser considerada como o evento preparatório para ele. Para as mulheres, casamento e maternidade ainda são os eventos mais importantes na sua inserção social nessa fase da vida, muito embora a sua participação, tanto na escola quanto no mercado de trabalho, tenha crescido (Camarano, 2006). 

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O que se pretende chamar a atenção nesta nota é para o crescimento do número de homens brasileiros de 50 a 69 anos que não trabalhavam, nem procuravam trabalho e nem eram aposentados entre 1992 e 2012. Estes homens passarão a ser chamados de “nem nem”. Constituíam 4,2% dos homens nessa faixa etária, em 1992, e passaram a constituir 7,9% em 2012. Esse aumento ocorreu devido à redução da sua participação na atividade econômica e foi mais elevado no grupo 50-59 anos. Por outro lado, embora a proporção de mulheres nessa categoria seja predominante, a proporção de mulheres nessa condição diminuiu de 23,4% para 18,8%. 

O fenômeno dos “nem nem” foi primeiro observado entre a população jovem, no caso jovens que não estudavam e nem trabalhavam. No grupo de jovens também predominam as mulheres, mas tem se observado um aumento no número de homens de 15 a 29 anos e uma redução no número de mulheres.4 Por razões diversas, tal fenômeno pode apresentar implicações socioeconômicas importantes nas duas situações. No presente trabalho, chama-se a atenção para o novo regime demográfico, que já está requerendo uma permanência mais longa do trabalhador na atividade econômica para compensar, pelo menos parcialmente, os efeitos negativos do envelhecimento populacional e da redução da oferta de força de trabalho. No entanto, o que se observa entre os homens brasileiros, não é apenas uma aposentadoria precoce, mas, também, uma parcela crescente que deixam o mercado de trabalho sem se aposentarem. Isto leva a se perguntar em que fase da vida esses homens podem estar alocados, ou se novos eventos/papéis sociais estão caracterizando a vida dos homens brasileiros. 

A pergunta principal desta nota técnica é se esses homens estão em condições de vulnerabilidade: não procuram trabalho por desalento, não estão aposentados por falta de um histórico de contribuições e/ou estão inseridos em uma família capaz de garantir-lhes a sobrevivência básica até conseguirem uma posição satisfatória no mercado de trabalho e/ou se aposentarem. O objetivo desta nota é traçar um perfil desse subgrupo populacional, tendo como pano de fundo as vulnerabilidades e potencialidades advindas do contexto familiar no qual ele está inserido, comparando com as outras possibilidades de inserção social. Parte-se do pressuposto de que idade, escolaridade, estado conjugal, condição no domicílio e renda domiciliar afetam a alocação do tempo desses indivíduos. 
Leia mais o artigo de  Ana Amélia Camarano e Daniele Fernandes

Não acredite em tudo o que você vê no Senado

A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou nesta quarta-feira proposta que acaba com o foro privilegiado, enviando para a primeira instância do Judiciário os políticos e autoridades que cometem crimes comuns. Antes que você comece a celebrar, vai aqui um conselho: mantenha os fogos na gaveta e o champanhe na geladeira. Do contrário você pode se decepcionar. São nulas as chances de uma proposta como essa virar lei rapidamente.

Há na CCJ do Senado uma dezena de enrolados na Lava Jato. O mais notório é Edison Lobão, que preside o colegiado como se tivesse pele de cordeiro. “A pressa é inimiga da perfeição”, disse Lobão, ao perceber que companheiros de infortúnio como Renan Calheiros e Jader Barbalho embarcavam na canoa do foro por pura irritação. Os membros da bancada da Lava Jato estavam de cabeça quente. Irritaram-se com mudanças feitas numa outra proposta, que acabara de ser aprovada por unanimidade. Trata-se do projeto sobre abuso de autoridade.


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De autoria de Renan, o projeto foi aprovado depois que o relator Roberto Requião concordou em passar uma borracha no trecho que abria brecha para a punição de juízes e procuradores por conta de mera divergência na interpretação da lei. A coisa era vista como ameaça pela força-tarefa da Lava Jato. Houve intensa pressão nas redes sociais. Retirado o bode que interessava a Renan e sua infantaria, a proposta passou suavemente, em votação simbólica.

Aproveitando o embalo, os defensores do fim do foro privilegiado foram ao microfone. Os senadores Ronaldo Caiado e Randolfe Rodrigues recordaram que o Supremo Tribunal Federal está na bica de aprovar, em maio, uma interpretação que restringirá o direito ao foro especial. Se vingar a nova interpretação, a Suprema Corte passaria a julgar políticos e autoridades apenas por crimes praticados durante e em função do exercício dos mandatos ou dos cargos públicos. O grosso da turma da Lava Jato desceria para o primeiro grau —uma parte cairia no colo de Sergio Moro.

Atordoados com a derrota na votação do texto sobre abuso de autoridade, os membros da turma de Renan decidiram, por assim dizer, chutar o balde. Embarcou na canoa do fim do foro porque, excetuando-se os chefes dos três Poderes, a proposta prevê o fim da prerrogativa para todas as autoridades, inclusive para juízes como Sergio Moro e ministros do Supremo. Foi como se a banda dos investigados entoasse o refrão composto por Romero Jucá: “Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada.”

Para que a suruba seja organizada, a proposta aprovada pela CCJ terá de ser aprovada pelo plenário do Senado em dois turnos de votação. Se isso acontecer, o texto segue para a Câmara. Será debatido nas comissões antes de ser pendurado na pauta do plenário. Ali, precisa passar por mais dois turnos de votação. Quer dizer: vai ficar para as calendas.

Assim, se você não quiser fazer papel de bobo, recomenda-se colocar na vitrola aquela música do grupo Mamonas Assassinas, que virou hit de festas infantis na década de 90. O verso mais pungente fala do drama de uma alma inocente que se meteu numa suruba: “Já me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém.” Cuidado, a distância mais segura que você pode manter da suruba do Congresso é a urna de 2018.

O cansaço que nos ronda é uma ameaça que não pode prosperar

Acompanho a política desde menino. Não sei se isso foi bom ou ruim. A lembrança mais longínqua que guardo é a de uma cédula, salvo engano, de cor azul, que funcionava como prova (ou recibo) de uma colaboração, em dinheiro, doada à candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes (herói dos 18 do Forte de Copacabana e patrono da Força Aérea Brasileira). Sob o slogan “Vote no brigadeiro, que ele é bonito e solteiro”, sua vitória era dada como certa. Isso ocorreu em 1945, durante a República Velha, na 12ª eleição direta. Data da eleição: 2.12.1945. Em 1950, o censo dizia que tínhamos 51.944.397 habitantes.

Já houve, leitor, esse tipo de contribuição, sem prejuízo do então (módico) caixa 2, que, em nosso “jeitoso” país, remonta, com certeza, ao tempo de Pero Vaz de Caminha. Guardei a cédula durante anos, como se fosse um troféu. Serviu para marcar páginas de algum livro do colégio. O tempo era brabo, de pós-ditadura, e Virgílio de Mello Franco adotou a frase “o preço da liberdade é sua eterna vigilância”, que virou mantra da União Democrática Nacional (UDN), adversária ferrenha do Partido Social Democrático (PSD). Ambos de saudosa memória.

O brigadeiro, autêntico “varão de Plutarco” (a expressão já saiu de moda), não conseguiu eleger-se presidente nas duas vezes que tentou. Em 1945, quando disputou pela UDN, Getúlio o derrotou com o general Eurico Gaspar Dutra, lançado pelo PSD. Dutra foi eleito com 3.351.507 votos. O brigadeiro obteve 2.039.341 votos, e o candidato do insistente Partido Comunista Brasileiro (PCB), Iedo Fiúza, 519.818 votos.

Em 1950, também candidato pela UDN, Eduardo Gomes foi novamente derrotado, agora pelo próprio ex-ditador. Depois de alguns anos, o “pai dos pobres” voltou ao poder pelo voto direto. Caiu pouco tempo depois, durante crise política, cujo oposicionista obstinado era o então jornalista Carlos Lacerda. Não esperou sua derrubada. Preferiu o suicídio, 19 dias depois do atentado da rua Toneleros, em Copacabana – uma trama comandada por Gregório Fortunato, que chamou Climério Eurides de Almeida (da guarda pessoal de Getúlio e amigo de Gregório) e Alcino João do Nascimento. Morreu Rubens Florentino Vaz, major da Aeronáutica, que assumira a segurança pessoal de Lacerda. Lutero Vargas, filho dileto de Getúlio, segundo Alcino, teria sido o mandante.

Inicia-se assim a suposta carta-testamento deixada pelo ditador Getúlio Vargas: “Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar minha voz e impedir minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e, principalmente, os humildes”. E, finalmente, conclui Getúlio: “Eu vos dei minha vida. Agora ofereço minha morte. Nada receio. Serenamente, dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.

De 1945 para cá, por quantas crises graves passou o país? À exceção do enorme aumento da população e do PIB (tornou-se, então, hábito roubar ou gastar sem critério o dinheiro público), que mudanças tivemos em nossa prática política? A resposta é sua, leitor.

A transformação do país depende somente de nós. Exclusivamente. Podemos iniciar agora a construção de um novo Brasil.

A capitulação não é o melhor caminho.

Paisagem brasileira



Paisagem de Cuiabá (1950),  Yarema D’Ostrog Gembatiuk (1910-1996)

Lula e sua pesada bagagem

As declarações dos empresários Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro sobre suas relações com Lula complicaram de vez a situação do ex-presidente. Mas a questão que envolve a possibilidade de sua prisão pode não ser resolvida rapidamente. Afinal, prender um ex-presidente da República provoca amplas repercussões nacionais e internacionais.

No entanto, a situação jurídica de Lula está cada vez pior e dificilmente ele conseguirá escapar de uma pesada condenação por parte do juiz Sérgio Moro, à frente das investigações na Operação Lava-Jato. Lula provavelmente poderá recorrer em liberdade e aí sua sorte estará nas mãos do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) do Superior Tribunal de Justiça (STJ).


A questão crucial é saber se o TRF4, localizado no Rio Grande do Sul, cujo meio jurídico tem conhecidas tendências esquerdistas, condenará Lula com celeridade a ponto de torná-lo inelegível. Como se sabe, uma condenação em segunda instância de órgão colegiado fará dele um ficha-suja.

Lula, por sua vez, age de forma clara: transforma-se em vítima e candidato à Presidência para jogar em Moro a pecha de perseguidor de político popular. O resultado nas pesquisas de opinião endossa a estratégia de Lula: é o único que estaria assegurado no segundo turno se a próxima eleição presidencial fosse realizada hoje.

Miais recentemente, o ex-presidente e o juiz passaram a protgonizar uma polêmica sobre sobre as condições em que se dará o encontro entre ambos – dia 3 de maio ou mais tarde, com 87 testemunhas ou menos, embalado por manifestações populares alusivas ao dia do trabalhador ou um teste de pré-lançamento de campanha.

O embate serve de maneira conveniente à personalidade marqueteira de Lula, que todos os dias tem assunto para alimentar a mídia. Com a vantagem de se tratar de uma agenda positiva, que evita as palavras corrupção e propina, e põe no centro do debate a questão da democracia.

Recentemente, o sociólogo André Singer, um dos formadores das teses do lulopetismo, afirmou em artigo que a estabiidade da democracia só estará garantida se Lula concorrer em 2018: "No lusco-fusco em que nos encontramos, o destino jurídico do líder petista será chave”, escreveu.

Caso Lula seja candidato, raciocina Singer, “a recomposição do tecido democrático esgarçado pelo golpe parlamentar ganha densidade”. Na hipótese contrária, a instabilidade tende a se prolongar. Logicamente, o raciocínio de Singer é mais do que um exagero.

Como a próxima eleição não será realizada hoje e nem se sabe se Lula estará ou não elegível em 2018, tudo o que vemos é um samba-enredo destinado a transformá-lo em herói do povo mesmo com evidências chocantes de privilégios indevidos. É a construção de uma narrativa que funciona, em parte, pelo fato de os demais partidos também estarem sendo atingidos pelo tsunami da Lava-Jato.

Tal narrativa não funcionará mais adiante porque a mochila de fracassos e equívocos de Lula está transbordando e isso custará caro em uma possível tentativa de se reeleger. Em campanha, ele já não contará com a generosa ajuda das empreiteiras. Além disso, o PT está desidratado e envergonhado, por conta da sucessão de escândalos em torno de seu nome. Sem contar o fato de que o mundo sindical não estará unido a seu lado.

Para piorar, caso Lula consiga chegar a 2018 elegível, sofrerá um bombardeio midiático intenso, já que passou a personalizar tudo de ruim que aconteceu no Brasil nos últimos anos. Poderá até chegar ao segundo turno, mas ganhar é outra história.

O perigo no naufrágio

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Com o afundamento do PT, que nasceu ostentando o baluarte da ética, na lama da corrupção, os partidos todos se igualaram em sordidez. A pior consequência disso é que, para o cidadão comum, fica a impressão de que a política tem como único objetivo servir como meio rápido e eficaz de enriquecimento ilícito, sem distinção de nomenclatura ou de ideologia. E, a partir desse raciocínio, não importa quem escolhemos para nos representar, na vida real não faz a menor diferença. E aqui reside o perigo: é na desesperança que prosperam os arautos do fundamentalismo e os aproveitadores de toda espécie
Luiz Ruffato, Lições da eleição francesa 
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Eu te consumo, ele enrriquece

A cidade deserta onde cada um se isola em seu mundo, acabando com o contato pessoal.:
John Holcroft
Há alguns dias, Anderson França, o Dinho, grande escritor que despontou para o mundo dos livros impressos e distribuídos nas livrarias através da internet, autor de “Rio em shamas” (Editora Objetiva), conversava com os seus seguidores a respeito do eterno dilema de quem publica no Facebook — que, ao contrário do YouTube, e de blogs que eventualmente lucram com anúncios, não remunera ninguém:

“Faço textos e crônicas de graça porque me realizo” escreveu o Dinho. “Mas entendo o argumento de quem diz que entretenho milhões de pessoas, e só o Mark ganha.”

Este é o drama de todos nós que produzimos conteúdo para a maior rede social de todos os tempos. Escrevemos — ou fotografamos ou fazemos arte e vídeo — porque gostamos, porque nos realizamos quando nos comunicamos com outras pessoas, mesmo percebendo que, enquanto doamos tempo e talento, quem realmente ganha com a nossa produção é ele, o Facebook. Isso é especialmente complicado para quem vive da sua produção intelectual, e que, apesar de contabilizar milhares de seguidores, continua enfrentando dificuldades. Likes, como aprendemos rapidamente, não pagam o aluguel.

O problema é que o ser humano é o único animal que conta histórias. Das cavernas da Serra da Capivara, em que desenhos e pinturas nos falam de caçadas ocorridas há 50 mil anos, às telas de milhões de computadores e de celulares espalhados pelo planeta, formamos, desde que viemos ao mundo, extensas teias de conversas e de lembranças. Somos tão movidos pelo desejo de dividir sonhos e experiências quanto pelo de registrar o que nos acontece para tentar entender o mundo; uma atividade de tal forma necessária que, por vezes, chega a prescindir de plateia e de reconhecimento.

(Isso explica os longos diários das nossas avós fechadinhos a chave, os livros inéditos trancados nas gavetas que os autores não abrem para ninguém, ou, mais recentemente, os milhões de textos soltos na internet em blogs que contemplam o nada. Tanto faz que ninguém leia; muitas vezes, o importante é pensar, escrever, guardar memórias enquanto ainda estão frescas.)

É com essa necessidade imperiosa de comunicação que contam as redes sociais, que nascem e se formam de um desejo atávico marcado no DNA humano desde a pré-História. Em tese, a sua própria existência é a “remuneração” que oferecem, ao abrir plataformas que promovem o encontro de pessoas. Nessas praças gigantescas, as funções se sobrepõem: somos ao mesmo tempo picadeiro e plateia, consumidores e objeto de consumo.

O YouTube remunera os geradores de conteúdo porque ninguém está no YouTube por acaso, batendo papo — as pessoas vão ao YouTube para ver alguma coisa, e se essa alguma coisa não for interessante, deixarão de ir. O conteúdo que produzimos traz as pessoas de que o Google precisa. Já o Facebook, ao contrário, oferece público para o nosso conteúdo: essa é a sua moeda.

Um dia isso talvez se resolva. Pode ser que daqui a algum tempo, encontradas ferramentas de monetização (ô palavra horrível!), a gente olhe para trás e se espante:

— Mas como foi que produzimos tanto sem ganhar dinheiro?

Até lá, continuaremos nos encontrando todos os dias no planeta azul do Zuckerberg, gerando montanhas de conteúdo uns para os outros — e lucro, muito lucro... para ele.

Cora Rónai