sábado, 8 de abril de 2017

Tudo é enorme no Brasil, menos o biquini

A primeira coisa que entendi ao chegar ao Brasil, há alguns anos, foi que aqui tudo é enorme – dos letreiros das lojas até os cartazes publicitários. Da cordialidade das pessoas à violência. É enorme a desigualdade social (entre as dez maiores do planeta), assim como a solidariedade entre os mais pobres.

Tudo é grande, menos os biquínis, embora eles também contenham uma sensualidade gigante. Uma amiga espanhola que veio nos visitar quis comprar um, mas desistiu: “São mínimos!” Quando ainda era presidente, Lula cunhou, para exaltar a dimensão de suas proezas, a frase “nunca antes neste país”.
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É enorme também a capacidade que os brasileiros demonstram para aceitar os estrangeiros, assim como os resquícios da escravidão, que continuam provocando discriminação entre brancos e negros. É um lugar em que o sentido mais aguçado é o tato. Ninguém se abraça e beija mais, e com maior entusiasmo, do que os brasileiros. Até os homens.

São enormes a resignação e a aceitação da fatalidade. E grande o medo da modernidade. É desmedida a corrupção de muitos de seus políticos, e enormes os seus privilégios, suas filas de carros oficiais e seus exércitos de assessores. Suas aposentadorias de luxo e seus salários escandalosos. É imensa a exibição dos milionários. Não escondem sua riqueza; vangloriam-se dela.

Uma de minhas primeiras crônicas de costumes ao chegar ao Brasil abordou as dimensões do país. Falava sobre um empresário da construção que havia comprado seis milhões de hectares na Amazônia porque, segundo me disse, ali sua mãe “havia enterrado o umbigo”. Quando lhe perguntei se para isso precisava comprar tanta terra, respondeu: “Bem, como já decidi comprar...”. Havia em seu terreninho vários rios e comunidades indígenas. Ele nem sabia disso.

O Brasil é um gigante em suas dimensões geográficas. Só o estado de São Paulo equivale à Espanha em número de habitantes. É enorme a sua floresta, sua biodiversidade, sua quantidade de água doce (cerca de 20% do total mundial) e suas abundantes colheitas. Tudo aqui cresce rápido. Deixem um terreno baldio e, em pouco tempo, terá se transformado em bosque. É enorme o número de sindicatos (17.000) e de pessoas com foro privilegiado (33.000), de templos evangélicos (220.000) e de denominações religiosas (20.000). Existe até a Igreja Evangélica Pentecostal do Cuspe de Cristo.

São volumosas suas carências sociais. Falta moradia para oito milhões de famílias que se amontoam nas favelas. Treze milhões de pessoas estão sem trabalho. Cerca de 60% da população adulta é analfabeta funcional, e 30% dos jovens que entram na universidade têm dificuldade para entender um texto. Todo ano, um milhão de crianças abandonam a escola. Ao mesmo tempo, o Brasil possui uma robusta e moderna tecnologia. Exporta até aviões.

É grande também a força da criatividade dos jovens brasileiros. É imensa a dor de milhões de cidadãos e quase infinito o seu desejo de felicidade, assim como a sua extraordinária e invejável capacidade de fazer frente às dificuldades da vida. E são assim, sem limite, sua simpatia e seu amor pela festa.

Pequenos, no Brasil, só encontrei os biquínis e a falta de generosidade desses poucos que acumulam a maior parte da riqueza do país. O Brasil, com todas as suas contradições e corrupções, é essa enormidade que se deixa amar facilmente e que acaba nos conquistando.

O maior dos direitos humanos

Às vezes, no decorrer desta viagem, perguntaram-me o que penso do Brasil. Pergunta rotineira, mas a que eu respondo como se ela fosse a principal: em todo o mundo nós somos como um rebanho mandado para o matadouro enquanto nos preparam para vencedores. Mas no Brasil ainda há uma espécie de predestinação que é o que faz a esperança de um povo. (…)
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No Brasil, onde muitas mudanças se operam, eu notei no homem comum um respeito profundo pela bondade que, de certo modo, não se adota ou se cultiva como identidade coletiva, mas que não está condenada. De repente, ela está presente, arde como uma lâmpada, aparece como o maior dos direitos humanos.
Agustina Bessa-Luís, "Breviário do Brasil"

Paisagem brasileira

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Brasil e a lição dos vizinhos

O Brasil continua sendo um retardatário na marcha da economia latino-americana. A região voltou a crescer em 2017, depois de anos com resultados negativos, fortemente prejudicados, na média, pelo desempenho de uns poucos países. A produção brasileira deve crescer menos de 0,4%, segundo a nova estimativa da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Sem precisar o novo número, a secretária executiva da instituição, Alicia Bárcena, adiantou a novidade ao Estado, na reunião do Fórum Econômico Mundial em Buenos Aires. A expansão de 0,4% havia aparecido na projeção concluída em dezembro de 2016. Os cálculos atualizados devem sair em breve. Esperava-se uma reação do consumo, explicou Bárcena, mas os dados efetivos ficaram abaixo da previsão, enquanto o desemprego continuou em alta.


As estimativas do crescimento brasileiro podem variar, mas diversas coincidem ao rever suas contas para menos. A expectativa do governo era de expansão de 1,6% neste ano, quando o projeto de Orçamento para 2017 foi elaborado, no segundo semestre de 2016. A projeção foi reduzida para 0,5%. Menor expansão da atividade significa menor arrecadação e isso levou o governo federal a cortar cerca de R$ 42 bilhões dos gastos previstos para 2017. O dado positivo, nesse quadro, foi a preservação da meta fiscal: será mantido o esforço para manter o déficit primário – sem contar os juros da dívida pública – dentro do limite de R$ 139 bilhões.

Na reunião do Fórum, a secretária executiva da Cepal apresentou as projeções divulgadas na virada do ano, sem antecipar as prováveis alterações. Aparentemente o quadro geral pouco deve mudar. A economia regional deve crescer em média 1,3%, resultado afetado pelo fraco desempenho previsto para alguns países, com destaque para o Brasil e, de modo especial, para o desastre venezuelano.

O cenário é basicamente positivo para a maior parte da região, apesar de incertezas quanto ao mercado financeiro internacional e às condições do comércio. Essas incertezas estão em boa parte relacionadas com o novo governo americano e com a ascensão dos movimentos nacionalistas e protecionistas em vários países. Entre as novidades positivas há o repique de preços de produtos básicos de exportação. Mas o mais importante, pelos efeitos de longo prazo, é um movimento amplo de reformas, algumas conduzidas em ambiente de resistência e de pressões.

A greve na Argentina, contra a política reformista do presidente Mauricio Macri, é um exemplo claro. Enquanto ele participava da reunião do Fórum Econômico Mundial, milhares de manifestantes bloqueavam passagens importantes, voos permaneciam suspensos e o centro de Buenos Aires estava sem transporte coletivo e com lojas fechadas.

No Brasil, as dificuldades do governo para conseguir apoio à reforma previdenciária também comprovam a resistência à racionalização das finanças públicas e da administração oficial. Nenhum ajuste será completo sem uma revisão das normas de aposentadoria e de pensões. Pode haver divergência quanto a detalhes, mas o governo, mesmo disposto a negociações, terá de evitar mudanças que desfigurem o projeto. Qualquer solução de alcance limitado tornará inevitável uma nova tentativa de reforma dentro de alguns anos, com dificuldades políticas talvez maiores.

Acima de tudo, a pauta de ajustes e de reformas é condição para uma nova etapa de crescimento econômico mais intenso e duradouro, com real aproveitamento do potencial brasileiro. Sem fundamentos sólidos – contas públicas em ordem, preços estáveis e equilíbrio externo de longo prazo –, qualquer impulso de crescimento terá efeitos limitados e o País logo voltará à estagnação e ao desemprego.

A importância de bons fundamentos é visível em boa parte da América Latina. Países com desempenho melhor que o brasileiro, na média dos últimos dez anos, têm sido beneficiados por inflação controlada e por finanças públicas basicamente em ordem. Pode haver lições muito úteis na experiência de outros países da região.

Os normais

O Partido dos Trabalhadores (PT) soltou uma nota oficial esclarecendo que está tudo normal na Venezuela. Essas notícias horríveis que você recebe são a versão conspiratória da grande imprensa, que junto ao governo brasileiro golpista quer atacar a esquerda no continente (não é licença poética, procure a íntegra). Quase ao mesmo tempo, engrossando a ofensiva fascista da direita, Sérgio Moro condenou o companheiro André Vargas a mais quatro anos de prisão em regime fechado.

Você já se esqueceu de quem é André Vargas — mas não se preocupe, isso é normal. Ninguém é obrigado a decorar James Joyce, nem a literatura completa da Lava-Jato. André Vargas foi um meteoro petista, desses que viravam personalidades proeminentes da República da noite para o dia — na época em que os companheiros mandavam nisso aqui.

Um dia André Vargas não era ninguém, no outro era vice-presidente da Câmara dos Deputados, desafiando publicamente Joaquim Barbosa com o famoso punho cerrado de José Dirceu, o Simón Bolívar do Paraná. Joaquim Barbosa era um ministro do Supremo, que condenou a turma de Dirceu pelo mensalão. Mensalão era um escândalo sem precedentes até surgir a Lava-Jato. E a Lava-Jato começou revelando ao Brasil o segredo da ascensão meteórica de André Vargas no partido governante: dinheiro roubado.

Você pode não se lembrar do meliante, mas o dinheiro era seu.


Está tudo normal na Venezuela, e os companheiros quase iam conseguindo instaurar essa normalidade no Brasil — quando pegaram André Vargas e os doleiros da revolução. Foi ali que a direita começou a matar o sonho de um Brasil bolivariano e igualitário, com todos unidos na fila do papel higiênico.

É preciso muita coragem para apoiar o regime de Nicolás Maduro nas circunstâncias atuais, de cara lavada e à luz do dia. Parabéns ao PT. Do partido estrelado por André Vargas, Vaccari, Delúbio, Paulo Bernardo, Gleisi, Delcídio, João Santana, Pizzolato, Dirceu, Dilma, Lula e cia — enfim, a turma do sol quadrado (os que já viram e os que ainda verão) — pode-se dizer tudo, menos que não seja um partido coerente. O PSOL está morrendo de inveja.

O massacre progressista nas ruas da Venezuela foi aplaudido pelos pacifistas do PSOL até anteontem, quando a ditadura libertária do companheiro Maduro perpetrou seu doce AI-5 sem perder a ternura. A imagem das botinas da guarda bolivariana empoderando uma jornalista caída no chão, entre outras cenas do excesso de democracia aclamado por Lula, confundiu a militância do bem. Enquanto durar o silêncio dos chavistas de butique em Hollywood, na MPB e nas salas de aula (sic), ninguém tem nada com isso. A Venezuela deles é mais embaixo.

Estão todos devidamente abençoados pelo Papa Francisco, o sacerdote da narrativa. No impeachment de Dilma Rousseff, que ceifou a busca da normalidade venezuelana no Brasil, o Pontífice declarou-se “muito triste” e cancelou sua viagem ao país. Agora que a ditadura transformista de Maduro rasgou a fantasia, jogando a força bruta sobre o povo e as instituições, Francisco foi lacônico: convidou os venezuelanos a “perseverar”. É um fofo.

Diante da nova canetada fascista de Moro contra um guerreiro do povo, o menestrel do Vaticano bem que poderia deflagrar a campanha “somos todos André Vargas”. E são mesmo. Estão irmanados pela fé na retórica coitada sobre todas as coisas — inclusive sobre a realidade onde o pau está comendo. Francisco, André e todos os cúmplices intelectuais da barbárie venezuelana são sócios de uma lenda — sublime e grandiosa como um panfleto de João Santana. Vivem disso. São os cafetões da bondade.

Um deputado que se apresenta como representante dos gays cuspiu em plenário, durante o impeachment, num deputado que se apresenta como representante dos militares. Uma guerra de mentirinha, que interessa essencialmente aos balaios eleitorais de ambos. Bate mais, meu amor. Mas a lenda é soberana, e o julgamento do deputado cuspidor terminou com uma advertência (ai, ai, ai) — que lhe permitiu inclusive tripudiar geral, declarando que sua cusparada foi o ato mais digno do Congresso durante o golpe. Filho mimado cospe na cara dos pais.

O que dizer a todos esses simpáticos mercenários da lenda? Saiam do armário, companheiros!

E o que dizer ao Brasil, semidestruído pela lenda? Pare de mimar esses canastrões, companheiro! Se não quiser ser escalpelado de vez pela normalidade deles.

Déficit fiscal é gerido a golpes de magia negra

Alguns economistas chamam a economia de “ciência negra”. Eles talvez façam isso porque a única maneira de chamar a economia de ciência é aproximando-a da ideia de magia negra. O governo, você sabe, está quebrado. Previa-se que, em 2018, o Tesouro Nacional gastaria R$ 79 bilhões acima do que será arrecadado em impostos. Informa-se agora que o rombo será maior: R$ 129 bilhões. Por quê? Na expressão do ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, “são efeitos defasados” da crise econômica de 2015 e 2016. Ora, mas o governo dizia que esses efeitos da crise já estavam contabilizados. Ou seja: o que Meirelles está dizendo, com outras palavras, é que sua equipe não sabe fazer contas.

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No ano passado, o governo foi muito criticado porque concedeu reajustes salariais a servidores públicos que tiveram impacto bilionário sobre o Orçamento. E todas as autoridades, incluindo Michel Temer e Henrique Meirelles, diziam que não havia problema porque esses reajustes, negociados ainda no governo Dilma, já estavam lançados nas projeções de déficit. Era magia negra. Os economistas do governo atravessaram agulhas nos bonecos de 2016 e os efeitos estão sendo sentidos agora, na pessoa errada: você.

Na semana passada, o governo já tinha informado que, para manter o buraco deste ano de 2017 em R$ 139 bilhões, como havia prometido, terá de arranjar R$ 58 bilhões com cortes de despesas ou algum aumento de receita. Mas fique tranquilo, o governo jura que o equilíbrio fiscal será alcançado em 2020, quando teremos um superávit nas contas públicas de R$ 10 bilhões. Esse número provavelmente está errado. Mas até 2020 Henrique Meirelles estará fora do governo. E uma das mágicas da economia é que os economistas sempre encontram soluções para os problemas do país quando saem do governo e se transformam em consultores e articulistas de jornal. Quer dizer: quando Henrique Meirelles deixar o governo saberemos o que fazer.

Gente fora do mapa

Arte - Fotografia Da série delicadezas www.mesquita.blog.br xi www.facebook.com/mesquitafanpage:

Lá...

Lá na China corruto é fuzilado
e a família inda paga a munição!

Vou-me embora morar na velha China

que tem lá seus defeitos, tudo bem,
mas o nosso defeito ela não tem:
dar guarida a quem vive da rapina.
Deputado que lá ganha propina
pagará com a vida a corrução!
Lá na China político ladrão
bem depressa vai preso e condenado…
Lá na China corruto é fuzilado
e a família inda paga a munição!
Desde o tempo das velhas dinastias
toda vez que um político roubava
na melhor das hipóteses ficava
na prisão pelo resto dos seus dias.
Liminares, renúncias, anistias…
nada disso na China é solução!
O remédio é fuzil e pelotão
e um apito na boca dum soldado…
Lá na China corruto é fuzilado
e a família inda paga a munição!
Se um ministro chinês é desonesto
e é pilhado fazendo trambicagem,
a Justiça deslancha a engrenagem
que liquida a questão sem deixar resto.
Doze balas é um preço bem modesto
e o país nunca perde um só tostão
debita na conta do finado…
Lá na China corruto é fuzilado
e a família inda paga a munição!

Espécie meio esquisita

 A insustentável Síria
A guerra na Síria já consumiu cerca de 500 mil vidas, mas os poucos milhares de mortes provocadas por agentes químicos é que geraram maior reação. Por quê? Por algum motivo associamos o envenenamento deliberado à traição e o julgamos moralmente mais reprovável do que outras formas de matar
Hélio Schwartsman 

Uma inesquecível vassourada

Além do senador Renan Calheiros e do deputado Aníbal Gomes, estão sendo investigados pelo Supremo Tribunal Federal os senadores Valdir Raupp, Garibaldi Alves Filho, Agripino Maia e os deputados Walter Alves, Felipe Maia, Luiz Sérgio e Jandira Feghali, acusados de receber propina com recursos desviados da Transpetro. Também serão incluídos os ex-deputados Henrique Eduardo Alves, Cândido Vaccarezza, Jorge Bittar e Edson Santos, além da ex-senadora Ideli Salvatti.

Por enquanto liberada a conta-gotas, a lista de parlamentares e ex-parlamentares envolvidos com a corrupção chegará a 200, se não for um pouco mais. Deverão ser declarados inelegíveis, se condenados.


Nossos avós repetiam que “Deus escreve certo por linhas tortas”, tornando-se necessário dar-lhes razão. Porque renovação igual dificilmente acontecerá no Congresso. Para melhor ou para pior?

Fica difícil prever. Nunca será demais lembrar o Dr. Ulysses, para quem “pior do que o atual Congresso, só o próximo”.

Em termos de gente nova, até agora a safra é restrita, nos partidos. Aliás, não é obrigatória a conclusão de que candidatos mais jovens venham a candidatar-se, ano que vem. Podem muito bem sair atrás dos votos que não tiveram em 2014 os candidatos de 2018. Se não conseguiram eleger-se antes, suas chances aumentarão, em boa parte, depois? Começarão deficitários.

Imaginá-los cheios de planos e programas, além de prematuro, é um risco. No passado, antes da apresentação dos times titulares, jogavam os reservas. Uma maldade, porque entravam em campo com o sol a pino, por volta das 13 horas, já que as partidas do elenco principal começavam às 15 ou 16 horas. Seria oportunidade para a promoção dos reservas?

Com as novas regras limitando e cerceando as campanhas, proibidas as doações de pessoas jurídicas, levarão vantagem os candidatos mais ricos. Outro descompasso.

Em suma, a renovação constitui uma dúvida, mesmo significando inesquecível vassourada nas representações.

Conta mentirosa

Dia desses li que a Comissão Europeia multou a Áustria por falsificar estatísticas financeiras. Segundo consta, dada investigação revelou uma manobra contábil que permitiu esconder perdas de milhões de Euros, ajudando o país a enganar os demais membros da União Europeia, reportando um valor de dívida nacional muito abaixo da realidade. 

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Trata-se de uma realidade deplorável, esta das estatísticas oficiais fraudadas - ao fim do cabo, fazendo-se de besta, digo, iludindo-se a população, responsabilidades deixam de ser atribuídas e problemas sérios que deveriam ser discutidos e resolvidos permanecem ocultos e intocados.

Decidi fazer uma rápida pesquisa em meu banco de dados, buscando mais informações sobre esta praga. Em poucos segundos descobri uma denúncia segundo a qual a Polícia de Osaka, no sério Japão, deixou de registrar nada menos que 81.000 crimes entre 2008 e 2012 - uma fraude de incríveis 10% nos índices de criminalidade!

No Reino Unido, um recente relatório demonstrou que 25% dos crimes sexuais e 30% dos que importam em violência contra a pessoa não são registrados pela polícia para fins estatísticos. Constatou-se que, entre 2012 e 2013, aconteceram naquele país 4,5 milhões de crimes, e não 3,7 milhões, conforme divulgado pelas autoridades.

Na Irlanda, um inquérito divulgado nos idos de 2011 demonstrou que os índices de criminalidade eram 38% mais altos que aqueles trombeteados pelas autoridades governamentais. Nos EUA, um jornal revelou uma incrível lista de 14.000 crimes violentos que haviam sido registrados pela polícia como singelas "ofensas menores".

Busquei colher exemplos de como se faz o povo de idiota, digo, se maqueiam os números. Descobri até casos nos quais vítimas de homicídio foram registradas como tendo tido "morte decorrente de causas indeterminadas" por conta de a investigação não ter sido encerrada. E o de servidores que acionaram centenas de vezes os próprios serviços nos quais trabalhavam, inflando os índices de atendimento e eficiência!

Mudar esta triste realidade é possível. Eis aí um objetivo ao alcance da sociedade civil organizada - de todos nós, enfim. Há, claro, a alternativa da omissão. Neste caso, tome cuidado para não morrer vítima de algum problema "varrido para debaixo do tapete" e virar estatística - ou nem isso!

Pedro Valls Rosa

O Brasil no golpe venezuelano

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A crise da Venezuela tem raízes brasileiras. Quando o Foro de São Paulo fez 15 anos, em 2005, Lula, então na presidência da República, gabou-se de estar na origem do advento de Hugo Chavez.

E estava. Ali o conheceu, no início das reuniões do Foro e engajou-se no processo político que o levou à presidência em 1998, com reeleições em 2000 e 2006. Só a deixou morto. Nicolas Maduro, seu sucessor, foi – e continua sendo - apoiado por Lula, Dilma e PT.

Hoje, esse apoio, é apenas simbólico, já que o PT está fora do poder. Mas, quando estava, foi bem mais amplo - ideológico, logístico e financeiro. Dinheiro público brasileiro bancou o projeto bolivariano chavista, um socialismo cucaracha, que serviria de substrato doutrinário à Pátria Grande, a união socialista do continente.

O BNDES financiou obras de infraestrutura e bancou campanhas eleitorais (e não só lá, mas nos demais países ideologicamente alinhados), com dinheiro roubado da Petrobras, intermediado por propinas veiculadas, entre outras, pela Odebrecht.

Quando a caixa preta do BNDES for, enfim, aberta, mais detalhes virão à tona. Presentemente, o TCU examina contratos irregulares daquele banco, para obras de infraestrutura a países bolivarianos, que montam a mais de R$ 1 trilhão.

Até os serviços de marketing político, que por aqui vendiam ilusões populistas, foram cedidos aos aliados. A Venezuela era uma espécie de laboratório do que se preparava para o Brasil, num segundo estágio do projeto petista, interrompido pelo impeachment.

As urnas eleitorais, aqui utilizadas, cuja vulnerabilidade a manipulações os especialistas atestam – e que põem sob suspeita a reeleição de Dilma -, vieram da Venezuela. Foram rejeitadas em países como os Estados Unidos e Alemanha, mas por aqui foram – e continuam sendo – elogiadas pela Justiça Eleitoral.

Não se pode imaginar a longevidade do regime chavista, de que Maduro é mero continuador, sem o apoio logístico e financeiro do governo brasileiro, nos treze anos de reinado petista.

Nesses termos, não se pode negar coerência à recente nota do PT, apoiando Maduro e os atos arbitrários em que acaba de reincidir.
Lula, nos momentos em que Chavez mais truculências cometia, não hesitava em defendê-lo, sustentando, para espanto geral, que na Venezuela tinha democracia até demais.

Participou pessoalmente das campanhas eleitorais de Chavez e Maduro, gravando vídeos e comparecendo a comícios. O fato de haver presos políticos, repressão violenta às manifestações públicas, desprezo pelos resultados eleitorais, com ações intimidadoras sobre o Congresso, é explicado como decorrente de reação a ações imperialistas de inimigos externos. Mas o inimigo está lá.

A tragédia venezuelana, um país produtor de petróleo, integrante da Opep, hoje reduzido à ruína econômica e à devastação social, sinaliza o que aqui ocorreria, na continuidade do projeto petista, que os correligionários de Lula almejam retomar com o delírio de sua candidatura. Não é um projeto político.

Por aqui, está sendo desvendado pela Lava Jato e mereceu do Ministério Público e de um ministro do STF, Celso de Mello, o epíteto de projeto criminoso de poder, que se apossou do Estado.

A reação débil do governo Temer ao novo golpe de Maduro, com a supressão dos poderes do Congresso pela Corte Suprema e a cassação por 15 anos do mandato do principal líder oposicionista, o governador Henrique Capriles, entre outras truculências, mostra a escassa autoridade moral que tem para expressar a liderança do Brasil no continente. Afinal, foi parceiro conivente ao longo de todo esse processo.

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Meteora (Grécia)

As fanfarrices de Lula

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O ex-presidente Lula agora faz proselitismo em horário nobre de TV. Diz que a economia piorou depois que o PT saiu do poder e que tudo pode voltar às mil maravilhas – se o Partido (claro!) recuperar o controle do Planalto. Quem ainda pode acreditar nas lorotas desse senhor, réu em cinco processos, metido num emaranhado inominável de esquemas, que não cansa de cometer atentados aos fatos em prol de uma ambição desmedida? Com a cara mais lavada do mundo, mirada solene, tal qual um restaurador da ordem, cabelos meticulosamente para trás, cada fio em seu lugar, vestindo terno de fino corte, Lula aparece na telinha para exercer o conhecido apego a falácias no intuito de convencer incautos. Alardeia um mundo de fantasias, de programas de educação e saúde que redundaram em rotundos fracassos, com estouros de verbas e pífios resultados, aqui e ali resvalando na corrupção. Vangloria-se da criação de mais de 22 milhões de empregos na era petista (de onde ele tirou esse número?) quando, na prática, o rastro de destruição deixado pela agremiação gerou um saldo de quase 13 milhões de desempregados. Vende exuberância e prosperidade. Abusa de demagogias populistas. Escora-se na propaganda e marketing pessoal, mesmo para tapear, como a alma do negócio. Ele nem toca no assunto dos erros que levaram à pior e mais longa temporada de recessão de nossa história. No conjunto, Lula e Dilma, durante mais de 13 anos, erigiram uma máquina de desperdício, inépcia e ineficiência. Como dar lições de moral com esse currículo? É bom revisitar sistematicamente as chagas abertas nas gestões do PT, para nunca esquecer. De sua lava saíram o “Mensalão”, o “Petrolão”, o aparelhamento sindical do Estado com apaniguados e inexperientes compadres a consumir recursos e saúde das empresas estatais. Quebraram quase tudo. Inviabilizaram as contas da União. Saquearam a riqueza dos brasileiros. Ninguém quer o retorno a esses tempos de tragédia. Qualquer pessoa minimamente informada sente a virada de expectativas desde a recente troca de comando em Brasília. Mas Lula não se cansa de pintar com imagens mais sutis, mais benevolentes e menos reais, os feitos petistas. Se esquece, ou desconsidera propositalmente, que a inflação só começou a cair após a deposição da pupila Dilma. Que os investimentos estão, aos poucos, retornando. Bem como a produção industrial, o financiamento em conta, os juros civilizados, os gastos públicos disciplinados no limite do orçamento. Não precisa ir longe para recordar a marcha da insensatez na qual nos metemos. Em apenas dez meses de lá para cá, mudaram os indicadores, as decisões e planos monetários, os objetivos de governo que hoje luta por reformas estruturais para consertar os estragos deixados e os vícios de origem. Lula ataca as reformas – especialmente a da Previdência – no intuito de sabotar o Brasil. Não pensa no que é melhor para o País. Apenas nele mesmo e em suas costuras eleitorais. Atalho para (quem sabe!) livrá-lo das punições da Justiça. O ex-presidente posa de paladino, de “salvador da pátria”, em um figurino surrado e de baixo crédito. Fala o que lhe dá na telha. Como, aliás, sempre fez, sem medir consequências. E articula as peças do seu tabuleiro em proveito próprio. Repetiu a tática mais uma vez há poucos dias na escolha do candidato a presidir o Partido. O cacique estava mais propenso pela senadora paranaense Gleisi Hoffmann e tentou dissuadir o ex-líder estudantil carioca, Lindbergh Farias, a desistir da pretensão. Sem sucesso. Abriu um racha nas bases. Nada que o lulopetismo não seja capaz de contornar. Tarefa, com certeza, menos inglória do que a de convencer milhões de brasileiros de suas boas intenções numa eventual volta ao governo.

Conta que não fecha

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Ninguém sabia e continua sem saber quantos presos há no país. Se não há dados, não há como fazer planos. O que temos hoje ainda é um conjunto de achismos
Paulo Rabello, presidente do IBGE

Brasil tem 19 entre as 50 cidades mais violentas do mundo

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O Brasil foi o país com o maior número de cidades entre as 50 mais violentas do mundo em 2016, segundo a lista divulgada nesta quinta-feira (07/04) pela ONG mexicana Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal. O país possui 19 municípios no ranking.

"Das 50 cidades da lista, 19 estão no Brasil, oito no México, sete na Venezuela, quatro nos Estados Unidos, quatro na Colômbia, três na África do Sul, duas em Honduras, uma em El Salvador, uma na Guatemala e uma na Jamaica", afirmou a ONG.

Na décima posição no ranking, Natal é a cidade mais violenta do país, com 69,56 homicídios por 100 mil habitantes. O município é seguido por Belém e Aracaju.

A lista inclui ainda Feira de Santana (15º), Vitória da Conquista (16º), Campos dos Goytacazes (19º), Salvador (20º), Maceió (25º), Recife (28º), João Pessoa (29º), São Luís (33º), Fortaleza (35º), Teresina (38º), Cuiabá (39º), Goiânia (42º), Macapá (45º), Manaus (46º), Vitória (47º) e Curitiba (49º).

Com 130,35 homicídios por 100 mil habitantes, Caracas, na Venezuela, aparece no topo do ranking das mais violentas do mundo, seguida por Acapulco, no México, e San Pedro Sula, em Honduras. Segundo a ONG, a repetição da posição da capital venezuelana por dois anos seguidos confirma a crise criminal no país.

Em relação a 2015, duas cidades brasileiras deixaram o ranking no ano passado: Porto Alegre e Campina Grande.

Segundo a ONG, os níveis de violência na América Latina não são uma surpresa e refletem a impunidade. No Brasil, ela atinge 92% dos homicídios, na Venezuela, El Salvador e em Honduras, chega a 95%.

A lista da ONG é baseada no número de homicídios por 100 mil habitantes e analisa municípios com mais de 300 mil habitantes.

Ganância e obscurantismo dos políticos brasileiros

A Lava Jato tem exposto o submundo da República, causando perplexidade pela conduta criminosa de autoridades, em todos os setores do Estado. São tantos desmandos que poucos políticos têm merecido a confiança de cidadãos honestos para permanecer no cargo. Assim, temendo as eleições de 2018, os parlamentares atuais estão inventando mecanismos de autoproteção, como o voto em lista fechada, a anistia do caixa 2, a censura às redes sociais e o projeto de abuso de autoridade.

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Este é o mais nefasto porque agentes públicos querem cercear a atuação de outros agentes públicos do mesmo Estado, ameaçando-os até com cadeia, simplesmente porque esses servidores têm apresentado resultados efetivos ao prender criminosos, dar ciência aos cidadãos dos conchavos nocivos e recuperar o dinheiro desviado. Essa situação torna-se surreal porque a repressão aos crimes não tem inibido a rapinagem; surgem, frequentemente, novas denúncias de pilhagem da riqueza nacional, enquanto os serviços essenciais para a população ficam mais deteriorados, diante do empobrecimento do país.
Torna-se indispensável, portanto, questionar por que muitos mandatários premiados pelo voto popular optaram pela corrupção, ignorando seus eleitores e descartando suas promessas durante a campanha. Tendo recebido a nobre incumbência de promover o desenvolvimento de uma nação com excelente potencial, seriam louvados através dos tempos, mas preferiram aumentar ilicitamente seu patrimônio, enquanto demonstram empáfia para tratar os cidadãos comuns, como se tivessem poderes imperiais para saquear o patrimônio público, arduamente formado nos últimos 200 anos. Sua ganância é insaciável, embora saibam que receberão em troca ressentimento e desprezo da comunidade.

Por que preferem esse caminho? Não se acanham de usufruir uma vida nababesca, enquanto veem, da varanda de suas mansões, mendigos que reviram o lixo à procura de algo para comer? Não se constrangem de saber que milhares de doentes estão estendidos no chão de hospitais públicos sem atendimento digno? Não se angustiam ao ver imagens pela televisão de jovens com politraumatismo, crianças esquálidas com diarreia, gestantes em trabalho de parto, idosos caquéticos e homens devastados pelo câncer?

Essa opção é mais inexplicável porque são os políticos desonestos que estão fomentando o atraso, a ignorância, o desconforto e a insegurança em torno de si mesmo e de suas famílias. Eles vão continuar vivendo em meio a cenas deprimentes de miséria, o que comprometerá seu bem-estar e inviabilizará o futuro de seu país. Está aí seu obscurantismo, porque, tendo as melhores oportunidades para escrever suas biografias em benefício de todos, eles fomentaram sua ambição.

Quando menos esperarem, sofrerão as consequências de uma sociedade ignorante, mal qualificada para o trabalho, fragilizada por inúmeras doenças e ressentida pelo engano de votar em gente tão mesquinha, individualista e desonesta.