quarta-feira, 8 de março de 2017

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A mãe de todas as batalhas

Costuma-se chamar de mãe de todas as batalhas aquela determinante para o desfecho da guerra. Na batalha de Waterloo, os deuses da vitória sorriram para o Duque de Wellington, enquanto Napoleão amargou o fel da derrota. O mesmo aconteceu com os alemães em Verdun, na Primeira Guerra Mundial, e nas ruas de Stalingrado se deu a inflexão da Segunda, com a ruína de Hitler.

Em certo sentido, a reforma da Previdência está para o presidente Michel Temer assim como Waterloo esteve para Wellington, Verdun para os franceses e Stalingrado para os aliados.

Se vencer a batalha, consolidará os sinais positivos da recuperação da economia e estabelecerá a ponte para um Brasil reorganizado, em condições de alcançar o crescimento sustentado.


Nessa hipótese, entraria para a história como o presidente que completou as reformas estruturantes e modernizadoras. A aprovação lhe dará ainda fôlego para enfrentar os bombardeios que estão por vir com a revelação das delações da Odebrecht e a nova lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

O inverso também é verdadeiro. Se for derrotado, a incipiente recuperação econômica estará comprometida, com as expectativas dos investidores voltando à estaca zero. Sua base de sustentação iria para o espaço, com cada um cuidando de si, e seu governo entraria em estado terminal. Seus flancos estariam absolutamente desguarnecidos para enfrentar a artilharia pesada da Lava-Jato.

Quando assumiu o governo, Temer estabeleceu sua estratégia para travar as batalhas das reformas tendo em mente que o Teatro de Operações seria o Congresso Nacional. Isso explica, em grande parte, sua opção por estabelecer um contrato de risco com partidos e políticos tradicionais, mesmo sabendo que, com a Lava-Jato, estaria sujeito a tempestades e trovoadas.

Não fez o governo de notáveis, ficou de costas para o sentimento da sociedade e perdeu outra batalha, a das ruas, com sua popularidade em plano inclinado. Mas montou uma base de sustentação mastodôntica no Parlamento e escolheu um estado-maior profundamente conhecedor do Teatro de Operações e de como as tropas se movimentam dentro dele.

A estratégia parecia correta, sobretudo porque a outra frente - a economia - fora blindada com a escalação de uma equipe preparada e um comandante altamente competente. Mesmo o fato de o PIB de 2016, divulgado nesta terça-feira, ter decrescido 3,6% tende a ser interpretado como um olhar pelo retrovisor, porque a equipe econômica começou a entregar a mercadoria encomendada.

Mas tudo começou a se complicar com o strike da Lava-jato. Um a um de seus generais da política foram caindo ou seriamente feridos. O próprio presidente também foi atingido, embora não fatalmente.

Com seu estado-maior em liquefação, Temer teve de se comportar como comandantes em chefe que, diante do perigo, vão para a linha de frente da batalha.

E ele foi. É do ramo, conhece bem o terreno e 80% do Congresso faz parte de sua base de sustentação. Se não conta mais com um estado-maior do mesmo quilate de antes, tem ao seu lado uma força-tarefa que não é composta por amadores.

As dificuldades se agudizam quando se leva em conta o fator tempo. Se não aprovar a reforma da Previdência no primeiro semestre, as condições serão ainda mais adversas no segundo, véspera do ano eleitoral, quando a sobrevivência fala mais alto e os parlamentares só têm olhos para a reeleição.

A dissintonia entre o tempo da crise política e o tempo da economia também joga contra. A crise se desenrola de forma célere, enquanto a economia real, aquela capaz de mudar o humor dos brasileiros, só dará sinais de reanimação nos meses finais do ano.

Em um Congresso refratário a medidas impopulares, não dá muito para confiar no ardor patriótico dos parlamentares. É previsível que o presidente terá de fazer novas concessões à sua base, para vencer a guerra.
Só não pode ceder no núcleo central da reforma – idade mínima de 65 anos e regras de transição para quem esta perto de se aposentar, segundo sua própria avaliação.

Se conseguir aprovar apenas uma reforma pífia, Temer sairá de sua batalha mãe não como Wellington saiu de Waterloo, mas como Pirro.

Com a guerra em curso, ele redefiniu sua estratégia: dobrou as apostas na economia como caminho para superar a crise política. Se conseguir convencer a tropa de que essa é a rota da salvação, pode até ser favorecido pelos deuses da guerra.

Canalhice constitucional

É preciso mudar, é urgente que se mude. Isso tudo é para preservar os mais pobres
Michel Temer 

Hino do Deputado

Chora, meu filho, chora.
Ai, quem não chora não mama,

Quem não mama fica fraco,
Fica sem força pra vida,
A vida é luta renhida,
Não é sopa, é um buraco.

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Se eu não tivesse chorado
Nunca teria mamado,
Não estava agora cantando,
Não teria um automóvel,
Estaria caceteado,
Assinando promissória,
Quem sabe vendendo imóvel
A prestação ou sem ela,
Ou esperando algum tigre
Que talvez desse amanhã,
Ou dando um tiro no ouvido,
Ou sem albo, sem ouvido,
Sem pema, braço, nariz.

Chora, meu filho, chora,
Anteontem, ontem, hoje,
Depois de amanhã, amanhã.
Não dorme, filho, não dorme,
Se você toca a dormir
Outro passa na tua frente,
Carrega com a mamadeira.
Abre o olho bem aberto,
Abre a boca bem aberta,
Chore até não poder mais.

Murilo Mendes

Era uma vez no Oeste do PT: Ladrões amadores e máfia organizada


Os dados que vazaram das delações de diretores da Odebrecht ao TSE são assombrosos. O ex-diretor Humberto Mascarenhas, que respondia pelo tal “Departamento de Operações Estruturadas”, que fazia os pagamentos ilícitos, afirmou que o grupo movimentou, entre 2006 e 2014, a estratosférica quantia de US$ 3,39 bilhões — mais ou menos R$ 10,5 bilhões, querido leitor. Desse total, de US$ 500 milhões (R$ 1,548 bilhão) a US$ 600 milhões (R$ 1,858 bilhão) eram caixa dois de campanha. O setor pagava também propinas e atendia a urgências de funcionários no exterior, submetidos, muitas vezes, a ameaças.

Por que o título deste post é “Era uma vez no Oeste do PT”? Faço uma alusão ao magnífico filme “Era Uma Vez do Oeste”, de Sergio Leone, de 1968, que tem de ser visto por quem não conhece. Quatro medalhões do cinema contracenam com brilho invulgar: Jill McBain (Claudia Cardinale), o bandido Cheyenne (Jason Robards), o pistoleiro de aluguel Frank (Henry Fonda) e um homem apelidado apenas de “Harmônica” (Charles Bronson).

O filme trata da chegada da ferrovia ao Oeste dos Estados Unidos, a terra ocupada por aventureiros, pistoleiros e justiceiros. O empreendedor é um milionário sem escrúpulos chamado Morton (Gabrielle Ferzetti). Cheyenne é um bandido, um ladrão, um assassino. Mas faz o gênero bonachão e romântico. Seu antípoda, no mundo da pistolagem, é Frank — este, sim, despido de qualquer limite ou escrúpulo. Todos eles se cruzam naquelas vastas solidões de areia. O magnata dos trilhos decide, então, contratar Frank para forçar um homem a vender suas terras, que seriam brutalmente valorizadas pela chegada da estrada de ferro. Bem, meus caros, assistam ao filme. É uma dica cultural imperdível. Só a espetacular música de Ennio Morricone já vale o seu tempo.



O que há de essencial nesse filme? Assiste-se ali à passagem da bandidagem amadora, seja bonachona ou brutal, para o crime organizado, para a organização mafiosa. Eis Morton: ele é o pistoleiro que não anda armado. Ele é o pistoleiro profissionalizado. Onde antes havia improviso e até certa audácia criminosa individual, passa a haver um método.

E isso marca, sim, a diferença entre a corrupção havida no passado, desde tempos imemoriais, e aquela praticada pelos companheiros. Ora, qual é o erro que têm cometido esses que chamo “direita xucra”, sob os auspícios da Lava Jato? Considerar que todos são igualmente criminosos; que todos têm a mesma culpa no cartório; que todos são bandidos da mesma cepa. Em um dos vazamentos, informou-se que Marcelo Odebrecht afirmou ter repassado, entre 2008 e 2014, nada menos de R$ 300 milhões ao PT. Segundo Humberto, no ano de 2014, o da reeleição de Dilma, foram repassados US$ 14 milhões ao marqueteiro João Santana.

Sim, resta evidente, e já se sabe, em razão de múltiplos vazamentos, que o PT não foi o monopolista dos recursos ilícitos. É claro que não. Que se apure tudo, sem restrições. Mas comete um crime contra a história quem ignora a centralidade que teve o partido na profissionalização da corrupção. Os companheiros a transformaram num método de gestão. Mais um pouco, viraria uma categoria de pensamento. É mesmo uma pena que Marilena Chaui não tenha tido tempo de refletir sobre o tema à luz das nervuras do real de Espinosa.

Alexandrino Alencar, o ex-diretor do grupo mais próximo a Lula, afirmou, por sua vez, que Edinho Silva, hoje prefeito de Araraquara e tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, pediu R$ 30 milhões pelo caixa dois. O dinheiro teria sido empregado para pagar o apoio dos partidos da coligação “Com a Força do Povo”.

Infelizmente para a história e para a verdade, o país está perdendo de vista o que significou o petismo na centralização e na estruturação do assalto aos cofres. Não, senhores! Cheyenne, o bom bandido, era diferente de Frank, o bandido mau. E os dois eram obsolescências perto de Morton, o mafioso profissional.

No filme, quase tudo acaba bem, com uma perda ou outra. Nada indica, até agora, que será assim na vida real.

PS: Ah, sim. O título da obra em italiano é “C’era una volta il West”. Ou: “Era uma vez o Oeste”. Foi erroneamente traduzido para o inglês por “Once Upon a Time in the West”, e a tradução literal virou o título em português: “Era uma vez NO Oeste”.

O título em italiano retrata melhor a obra. O que o filme mostra é o fim do Oeste até então conhecido. O PT também mudou o Brasil, se é que me entendem. A depender do que venha pela frente, o nome do filme será “Era uma vez o Brasil”.

Paisagem brasileira

Vista do Rio a partir de Niterói (1949), Gastão Formenti

Contra crise política, Temer vende uma recuperação hipotética da economia

Com o mandato sub judice no Tribunal Superior Eleitoral e com as delações da Odebrecht voando sobre sua cabeça, Michel Temer fará nas próximas semanas um esforço para mudar de assunto. Ele tentará injetar ânimo econômico dentro da crise política.

Para começo de conversa, o governo trata como coisa do passado a recessão histórica que vive o país, com dois anos consecutivos de queda no PIB. Temer agora diz que está recolocando o país nos trilhos e entregará ao sucessor uma locomotiva em movimento.


Nesta terça-feira, dia em que o IBGE informou que o PIB do país levou um tombo de 3,6% em 2016, depois de já ter mergulhado 3,8% em 2015, Temer atirou para todos os lados. Disse que fará uma reforma tributária em fatias, anunciou um pacote de concessões à iniciativa privada e distribuiu afagos ao congresso ao empossar um deputado do PMDB no Ministério da Justiça e um senador do PSDB no Itamaraty. Temer sabe que seu otimismo econômico depende da boa vontade do Congresso.

Há na praça tímidos sinais de recuperação da economia. Mas Temer, acossado pela crise política, tenta colher resultados econômicos antes do amadurecimento dos frutos. Basta que o Congresso rejeite a reforma da Previdência ou aprove uma reforma pífia para que o otimismo do governo vire fumaça.

Temer faz o que lhe resta. Vende à plateia um futuro de prosperidade. É fácil fazer isso, pois o futuro não pode ser cobrado nem conferido. O futuro, como se sabe, a Deus pertence. Enquanto espera, você pode pernguntar: mas e quanto ao passado, quem responderá por ele?

Encaixotar os EUA?

Num mundo tocado pelo mercado (que, por sinal, inventou este mundo!), abandonar os preceitos do custo-benefício equivale a remar contra a corrente que, com ajuda da má-fé, conduz - sabemos bem demais - à bancarrota.

Por isso é que um patriótico Trump fala dos altos custos de uma nova ameaça: os imigrantes. Fossem marcianos ou comunistas, ficaríamos surpresos, mas, quando se trata de gente que ainda acredita no sonho que os próprios americanos estão perdendo, não temos dúvida de que Trump deseja encaixotar os Estados Unidos.

E, se os Estados Unidos forem encaixotados, mata-se o espírito glorioso da América. Essa dimensão fabricada por milhões de imigrantes, estrangeiros, foragidos, perseguidos, aventureiros, sonhadores, injustiçados e descontentes. Esse sumo humano marginalizado que encontrou um lar nos Estados Unidos desencaixotados.


Mas Mr. Trump não quer assim e a prova do encaixotamento jaz no muro que Trump vai construir. Com ele, a nação receptora torna-se um país fechado. Os Estados Unidos liberalizados pela paz e pela guerra - o farol que tudo fez para derrubar o cinzento Muro de Berlim - vão hoje - what a shame! - construir o seu muro. Justo na terra dos livres e no lar dos bravos...

O impedimento ao direito de ter uma terra é exemplo de castigo, inferioridade e subordinação. Escravos eram absolutamente individualizados e tidos como mortos sociais. Perdiam - como revela o sociólogo Orlando Patterson - sua terra natal. Sem ter o pertencimento, que J.G. Herder dizia ser mais importante do que comer ou dormir, eram despidos de suas humanidades.

Todo estrangeiro ou expatriado tem um vasto potencial de ser explorado, simplesmente porque ele não sabe das coisas no mundo onde está voluntária ou involuntariamente enfiado. Eu fui expatriado nos Estados Unidos e sei o preço que se paga por ter sotaque e, eventualmente, ser mais inteligente do que os nativos. Sobretudo quando eles têm uma fé cega no seu monoglotismo e se pensam como povo escolhido.

Nada pode ser mais chocante do que estigmatizar imigrantes num mundo globalizado. Um mundo que proclamou os tais Direitos Humanos inalienáveis, mas que, se pudesse, criminalizaria foragidos. Agora, eu entendo por que Erving Goffman dizia que pensar numa natureza humana universal não era uma coisa muito humana!

Vista de um satélite, a Terra não tem fronteiras. Mas, para um Trump que quer encaixotar o país menos encaixotado do mundo, somos obrigados a perguntar quanto custa um filho, um neto, uma mulher amada, um amigo ou um hóspede...

Esquecido de que os deuses e os heróis civilizadores são imigrantes que desceram dos céus ou vieram de algum país exótico para viver entre nós, Trump - trocando a parte ruim pelo todo - ensaia amaldiçoar o contato entre os povos.

Quanto custa o altruísmo é a questão.

No caso dos imigrantes, há o custo marginal do suposto terrorismo ou banditismo; no caso das alianças político-militares, é o justo oposto: o todo deve pagar pela sua associação com o povo escolhido, os Estados Unidos. Antigamente, a “raça” justificava o etnocentrismo; hoje, a economia financeira tem esse papel.

Nesse discurso ao Congresso, que ouvi e li com uma tonelada de dor no meu coração, o qual tanto deve aos ideais americanos, não posso esquecer de que a América foi feita por estrangeiros. Por puritanos e por levas de imigrantes que emprestaram aos seus hospedeiros novas artes civilizatórias, dando-lhes cosmopolitismo, polidez e sabedoria que só são alcançadas quando se descobre a alteridade em estado bruto. Pois, para cada nativo desiludido ou cínico, havia um estrangeiro crente na liberdade, na igualdade e na solidariedade como um valor. O horror é descobrir que são esses imigrantes o foco do discurso exclusivista de Trump.

Quando Trump diz que a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos revela que os imigrantes custam - como diz o New York Times do dia 1.º do corrente - US$ 5,4 bilhões ao país, ele omite que os filhos desses imigrantes repõem um benefício de US$ 30,5 bilhões e que a terceira geração acrescenta US$ 223 bilhões!

A antropóloga Margaret Mead, uma das mães fundadoras da antropologia cultural americana, conhecia bem essa história. O filho do imigrante italiano, dizia, se recusava a falar o idioma dos seus pais e tinha vergonha de suas origens. Virava americano, escondendo costumes e cultura. Seus filhos, porém, plenamente integrados, redescobriam as tradições impossíveis de serem mensuradas em dólares ou preconceitos da velha Itália. Então, voltavam aos locais de origem e reinventavam um modo de anunciar o seu reconhecimento, construindo museus ou misturando “love” com “amore”.

A mistura é o centro da experiência humana. Aventura que só ocorre quando queremos ser iguais ou mais do que os outros.

Shell avisou sobre aquecimento em 1991

As mudanças climáticas globais estão acontecendo “a uma velocidade mais rápida do que em qualquer momento desde a Era do Gelo”, aumentarão “a frequência de padrões de tempo anormal” e tornarão ilhas tropicais “inabitáveis”. As conclusões não são de cientistas, mas de uma empresa de petróleo – a anglo-holandesa Shell. E não são de hoje: elas datam de 1991, quando a multinacional produziu um minidocumentário sobre o assunto. Título: Clima de Preocupação.

O filme foi redescoberto pelo site jornalístico holandês The Correspondent e compartilhado com o jornal britânico The Guardian, que publicou reportagem a respeito na última terça-feira.

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O documentário mostra que a Shell não tinha dúvidas sobre a ameaça da mudança do clima 25 anos atrás. Ele fala, inclusive, que embora houvesse incertezas sobre a dimensão dos impactos, os cenários de aquecimento que descrevia estavam embasados “por um amplo consenso de cientistas” – referência ao primeiro relatório do IPCC, o painel do clima da ONU, publicado em 1990.

Mesmo com o conhecimento do problema, a Shell foi uma das empresas que mais se esforçaram para minar a meta de evitar as mudanças climáticas perigosas neste quarto de século: até 1998, participou de uma organização de empresas que fez lobby para disseminar o negacionismo climático; é uma das principais investidoras no petróleo ultrapesado (e ultrasujo) das areias betuminosas canadenses; e, até 2016, liderava os investimentos em busca de petróleo no Ártico.

“Vejo como até hoje eles defendem teimosamente o uso de gás natural durante as próximas várias décadas, apesar de evidências claras de que os combustíveis fósseis precisam ser eliminados completamente”, disse ao Guardian Jeremy Leggett, o geólogo que cunhou a expressão “bolha de carbono” para se referir aos combustíveis fósseis que terão de ser deixados no subsolo se a humanidade quiser cumprir as metas do Acordo de Paris. “Eu sinceramente acho que essa empresa é culpada de uma forma moderna de crime contra a humanidade.”

A Shell não é a primeira companhia a concluir uma coisa sobre as mudanças do clima e agir no sentido oposto. Muito mais grave foi o caso da americana Exxon, que desde a década de 1970 sabia dos riscos representados pelas mudanças do clima – segundo conclusões dos próprios cientistas da empresa. Mesmo assim, a petroleira foi a maior financiadora de ataques espúrios à ciência e aos cientistas do clima durante décadas. Hoje ela é alvo de inquérito na Justiça dos EUA por ter enganado o público.

O ex-presidente da Exxon, Rex Tillerson, é hoje secretário de Estado dos EUA, responsável pelas posições do país nas negociações internacionais de clima.

Imagem do Dia

Burano (Itália)

A hedionda anistia ao caixa 2 dos políticos

A quem interessar possa e imagina que são prioritárias as reformas previdenciária, tributária e trabalhista, necessárias para repor os gastos públicos nos trilhos e, em consequência, a economia toda, para recuperar boa parte dos 13 milhões de empregos perdidos, um aviso de amigo: no País oficial só se fala na política. E que ninguém se engane: a prioridade não é a cláusula de barreira nem a proibição das coligações nas eleições proporcionais. Mas, sim, a anistia ao caixa 2 só para políticos em campanha e a criação de um fundo público de R$ 4 bilhões, prestes a instituir o “me engana que eu pago”.

Andrea Jubé, da sucursal do Valor Econômico em Brasília, fez um relato aterrador sobre o trabalho pertinaz dos líderes das maiores bancadas do Congresso – PMDB, PSDB, PT, PP, PR e PSD – para que essas duas novidades devolvam aos chefões partidários e parlamentares do governo, da oposição ou da neutralidade, de quaisquer credos ideológicos, o sono perdido com as delações premiadas dos 77 da Odebrecht. A pressa aumentou mais com os vazamentos dos depoimentos dos executivos e ex da maior empreiteira do Brasil, principalmente o do dono, Marcelo Odebrecht, ao ministro Herman Benjamin, relator no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da ação do PSDB, hoje domesticado no governo, contra a chapa Dilma-Temer.


A avalanche foi prenunciada na escolha do ex-ministro de Minas e Energia de Dilma Rousseff, e ex-enfant gaté do ex-presidente José Sarney, Edison Lobão, para presidir a todo-poderosa Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Jornalista medíocre, esse senador do PMDB pelo Maranhão inspirou o slogan da cruzada: não há inconstitucionalidade na anistia anunciada à fraude eleitoral. E proferiu a epígrafe para esclarecer o lema cínico: “Eu quero dizer que é constitucional a figura da anistia, qualquer que ela seja”. Na ocasião, Lobão esclareceu que defende mudanças na legislação que trata das colaborações premiadas. “Delação só deve ser admitida com o delator solto.”

O Palácio do Planalto apoiou o movimento no estilo de apostos, mesóclises e paráfrases do chefe Temer ao anunciar a volta à liderança do PMDB no Senado de Romero Jucá, que caiu do Ministério do Planejamento por ter sido citado em delações premiadas na Lava Jato. Pilhado em gravação feita pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado como autor do mais sucinto e completo resumo da tarefa – “é preciso estancar a sangria” –, ele foi sucedido na liderança do dito governo no Congresso, na qual esperou a tempestade passar, pelo deputado André Moura. Convenientemente, este não é mais chamado de André Cunha, como no tempo em que era vassalo de Eduardo, hoje preso em Curitiba.

E se faltava o apoio do PSDB, que de maior partido de oposição passou a ter hoje a condição de um dos dois principais pilares da manutenção do vice que virou titular por obra e graça do impeachment, cujo processo foi aberto pelo “Caranguejo” acima citado, ele acaba de chegar. O ex-presidente Fernando Henrique, a pretexto de defender o presidente nacional de seu partido, soltou nota oficial na semana passada chamando de “notícias alternativas” – o mesmo que mentiras em linguagem posta a circular por uma assessora de Donald Trump – revelações sobre o financiamento “alternativo” da Odebrecht incriminando o “ínclito” senador Aécio Neves.

Segundo a nota, no importante debate travado no País é preciso fazer distinções. “Há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa 2 para financiamento de atividades político-eleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção”, avaliou. O conceito seria trágico, mas é desonesto. Caixa 2 chega a ser pior do que propina paga para enriquecimento pessoal, pois corrompe a democracia e é um crime de lesa-pátria.

O principal responsável pela maior revolução social da História do Brasil, o Plano Real, empesteia seu prestígio aliando-se a Jucá, Lobão e Maia. Pois contabilidade ilícita em financiamento eleitoral age como doping no esporte: desequilibra a disputa e leva quem não ganharia à vitória, mudando, negando e subvertendo a escolha do representante ou do governante pelo cidadão. Essa fraude eleva gatuninhos à gestão pública, quebrando o País, desempregando milhões de trabalhadores, furtando os recursos da saúde e da educação, matando e destruindo o futuro de gerações. Criminalizar a sonegação por empresários evita a concorrência desleal, que altera um dos princípios basilares do livre mercado. Permitir que só os políticos usem a fraude para galgar ao poder seria o pior dos privilégios. Et pour cause, anistiá-los é hediondo.

Cabe registrar aqui o desabafo indignado da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, ao votar pela condenação de José Dirceu, José Genoino e outros maiorais do PT na Ação Penal 470. A presidente da Suprema Corte disse, à época: “Alguém afirmar que houve ilícito com a tranquilidade que se fez aqui é algo inédito em minha vida profissional. É como se o ilícito fosse uma coisa normal e pudesse ser assumido com tranquilidade. É como dizer ‘ora, brasileiro, o ilícito é normal’. A ilegalidade não é normal. Num Estado de Direito o ilícito há de ser processado e punido. Isso me causou profundo desconforto.”

Registro ainda o estupor do relator no TSE da ação do PSDB contra a chapa do PT com o PMDB. Luiz Maklouf de Carvalho contou no Estado que o depoimento de Marcelo Odebrecht deixou Herman Benjamin impressionado “pelo grau de acesso e de domínio que o empresário contou ter ao topo da cadeia de poder”. Na prática, leis foram compradas e as empreiteiras não doaram nada, apenas repassaram recursos públicos para bolsos privados de políticos e agentes públicos. Anistiar caixa 2 só para políticos é a mais indefensável desfaçatez da História.
José Nêumanne

Maldição dos costumes

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É costume no Brasil um homem público encontrar emprego para todos os seus amigos e parentes
John dos Passos. ecritor americano, em O Brasil em movimento, reeditado depois de 50 anos, que mistura crônica de viagem, reportagem e ensaio sobre as visitas de 1958 e 1962 feitas ao país

Recessão cobra sua fatura na cidade símbolo do petróleo no Nordeste

Todos os finais de tarde, o município de Carmópolis, a 50 quilômetros de Aracaju, se tinge de um tom alaranjado, que nada tem a ver com o pôr do sol. A pequena cidade de Sergipe fica com as ruazinhas movimentadas no horário da saída das centenas de funcionários da Petrobras vestidos com o tradicional uniforme macacão laranja da estatal. Cerca de 15.000 habitantes vivem na cidade conhecida por seus poços de exploração de petróleo. Centenas de cavalos – como são chamadas as bombas que sugam o óleo do fundo da terra – se misturam à bucólica paisagem de uma cidade pequena do interior de Sergipe.
Carmópolis é um símbolo da história do petróleo no Nordeste e no Brasil. Foi o segundo poço em terra descoberto, em 1963, e ainda hoje é um campo de enorme produção, sendo responsável por quase 44% do total produzido em Sergipe. “Emprego aqui significa Petrobras”, disse Moisés dos Santos, 55, dono de uma pequena lanchonete na cidade. Agora, no entanto, a estatal começar a virar fantasma de desemprego. Dos três filhos de Santos, um ainda trabalha para a estatal e outro acaba de ser demitido dela. “As pessoas estão indo embora da cidade porque não acham outro emprego. Só fica aqui quem é aposentado, porque não dá nem para plantar alguma coisa já que todo lugar aqui é um poço de petróleo”.

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O cenário de Carmópolis é a parte visível da recessão brasileira, confirmada nesta terça pela divulgação da queda do PIB de 3,6% no ano passado, a segunda queda anual seguida. O consumo que cai a oito trimestres, segundo os dados oficiais, se explica pelo desemprego crescente. E nesse tópico, o Nordeste lidera a redução de postos de trabalho. No final do ano passado, os estados nordestinos tinham uma taxa de 14,4% de desocupação, a maior do país, contra 10,5% no final do ano anterior. A taxa nacional era de 12% em 2016.

A crise específica da Petrobras é a outra face cruel que vai mudando a vida dos moradores de Carmópolis. A queda no preço do petróleo, a desvalorização do real, a profunda investigação sobre a corrupção na petroleira e a postergação de projetos estratégicos golpearam a Petrobras, levando a um prejuízo recorde de 34,8 bilhões de reais em 2015. A crise e os números fizeram com que a companhia anunciasse um plano de desinvestimento no Brasil e no exterior, o que significa, por tabela, enxugar quadro de funcionários. Constitui-se de um pacote de medidas a serem tomadas no período de 2017 a 2020 para reduzir o endividamento da estatal. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Montagem e Manutenção Industrial do estado de Sergipe, nos últimos dois anos cerca de quatro mil demissões ocorreram no estado.

Crescimento da dívida pública fez os governantes se curvarem à criminalidade

Não dá para mensurar a crueldade e o desprezo com que os nossos governantes tratam a população, principalmente aquela parcela mais carente. Josef Mengele morreu, mas deixou os seus discípulos espalhados pela Praça dos Três Poderes, emanando e espalhando miasmas de crueldade de cima do Planalto Central para todos os grotões deste sofrido país. Acho até piada a tortura ser proibida nesta terra, quando podemos vê-la em cada rua, em cada praça das grandes cidades e em cada presídio.

Por exemplo, desde a década de 80 que as quadrilhas agem livremente no trecho da Rodovia BR 428, no Pernambuco, próximo das cidades de Orocó e Cabrobó. Qualquer cidadão, qualquer caminhoneiro, qualquer bêbado da esquina sabe disso, menos as polícias estaduais e os secretários de segurança que se sucederam nos governos daquele Estado.

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 A inoperância policial é tão grande que os atuais “Guia Quatro Rodas”, depois de mais de trinta anos de assaltos acontecidos no mesmíssimo trecho e diante da inexistência de providências tomadas por partes das autoridades – todas postadas em gabinetes caros e mamando salários e gratificações -, resolveu alertar os seus leitores/motoristas, publicando nos mapas o seguinte texto: “ATENÇÃO: trecho entre Petrolina e Salgueiro não deve ser percorrido à noite.”

Para se ter uma ideia da convivência das autoridades com os criminosos, a região tem um polo produtor e exportador de maconha para todo o país. Faz-se a plantação e a colheita da erva sempre nos mesmos municípios. Mas o curioso é que os vários hectares plantados são invisíveis para as investigações das autoridades locais e apenas a Polícia Federal, quando consegue fazer as esporádicas investigações, consegue enxergá-las, localizá-las e destruí-las!

Tempos atrás vi uma entrevista onde um “doutor” afirmava que sempre que aconteciam operações contra o tráfico de drogas, aumentava o número de assaltos naquela região, dando a entender que era melhor deixar o tráfico correr solto, mesmo com a destruição de famílias miseráveis e a morte provocada pelos acertos de contas, do que o Estado tomar qualquer providência; sairia mais barato.
No caso em questão, na impossibilidade do Brasil extirpar esses “países”, tirar-lhes a independência ou mudar-lhes as leis, a própria população passou a afixar placas avisando perigo de assaltos. Essa práticas está se tornando comum, para alertar que nesses locais não existem leis, a tal “Constituição Cidadã” e o “direito e ir e vir” não passam de letra morta, como um ardil criado pelos bandidos para garantir-lhes a impunidade e iludir e oprimir os verdadeiros cidadãos deste país.

Afinal, sai mais barato tolerar o tráfico do que prender os assaltantes, não é? Sai mais barato colocar bandido para cuidar de presídio do que contratar funcionários, certo? Sai mais barato jogar um preso em um curral de alvenaria do que colocá-los em celas individuais, decentemente, ok? Sai mais barato colocar a PM para multar o cidadão do que colocá-la para cumprir os mandados de prisão e gerar despesas carcerárias, correto? E sai mais barato deixar os bandidos na rua, vivendo, comendo e vestindo o patrimônio e a vida dos pagadores de impostos, do que separá-los das pessoas de bem e ter que pagar o café, o almoço e o jantar deles, não é mesmo?

O governo não pode gastar, porque tem de pagar os juros da crescente dívida pública. Por isso, o mais importante é diminuir qualquer despesa e economizar para conseguir fazer mais um superávit primário, mesmo que para isso tenha que matar, por ação e por omissão, milhões de homens, mulheres e crianças.

Os nazistas também julgavam ter um bom e nobre motivo para justificar os assassinatos e as barbaridades que cometiam contra os judeus. No que se refere aos brasileiros, o governo também acha que tem… E nos últimos trinta anos o número de assassinatos aqui certamente já ultrapassou os seis milhões de judeus mortos na Segunda Guerra Mundial.