quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Nem direita nem esquerda, mas...

Todo mundo com quem falo não tem a menor ideia em quem votar no ano que vem. Esquerda? Direita? Houve um tempo em que as palavras direita e esquerda significavam de fato alguma coisa. Seja você contra ou a favor, sabe que Che Guevara era de esquerda. O general Emílio Garrastazu Médici, de direita. Pertencer a um ou a outro lado implicava uma série de atitudes, posturas perante o mundo e crenças de como governá-lo. A esquerda mais extrema era a favor da socialização dos bens, da revolução agrária. A mais branda, de medidas de distribuição de renda, por exemplo. A direita acreditava que o consumo regula o mercado. Mesmo a seita mais tradicional jamais será tão rígida a respeito do comportamento humano quanto uma autêntica pessoa de esquerda ou de direita. Por incrível que pareça, as duas se uniram sempre na fúria contra a sexualidade alheia. Eu até hoje não entendo por que tanta raiva de como as pessoas agem ou deixam de agir na cama. Já que o assunto é entre quatro paredes ou, eventualmente, atrás das árvores de um jardim. Mas o fato é que governos comunistas, como o de Cuba após a revolução, criaram até campos de concentração para o povo LGBT. Na crença de que o trabalho duro mudaria a orientação sexual. Mudou. No caso dos gays, a orientação dos guardinhas que tratavam da segurança dos campos. Longe da família e das mulheres, eles buscaram novas perspectivas... Da mesma forma, regimes totalitários como o nazismo, na Alemanha, perseguiram homossexuais. Eram obrigados a usar uma estrela rosa. E iam para campos de concentração. Todo regime, esquerda ou direita, quando cai no radicalismo, sente-se tentado a intervir na vida pessoal.

Mas no Brasil a palavra esquerda perdeu todo o sentido quando o PT se rendeu à “governabilidade”. As alianças mais absurdas foram criadas. Políticos notadamente de extrema-direita aliaram-se a outros da esquerda. Alianças móveis que dependiam da votação de projetos, cargos e, segundo tantas delações, muita grana. A política de alianças já existia havia muito tempo. Partidos de esquerda muitas vezes se ligaram a políticos de direita, na esperança de um vislumbre de poder. Mas nunca antes neste país isso se tornou o pilar da governabilidade como foi no PT. Políticos de todos os matizes se ligaram. Com uma digna exceção: o PSOL. Gostem ou não, manteve sua integridade. A ponto de o deputado Jean Wyllys cuspir em Bolsonaro quando este elogiou um torturador no impeachment de Dilma.

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Os partidos não têm projetos claros. Não sabemos se de fato são de esquerda, direita ou centro. Em minha opinião, a maioria segue o modelo do eu sozinho. O político faz tudo para se eleger. Acaricia com promessas. Eleito, não pensa mais nisso. Pensa, sim, no que é melhor para ele. Um cargo para o amigo? Uma obra feita por uma grande empreiteira etc.? Fato: o eleitor foi só um meio de chegar até lá. Chegou, vamos tratar da vida, botar uma grana lá fora. Nem esquerda nem direita gostam de fazer esgoto. Por quê? Não se veem os canos. Que propaganda pode-se fazer de uma obra subterrânea? Agora, gritar contra exposições, pretensamente defender a infância, censurar o sexo alheio. Isso, sim, dá votos.

Só que ninguém fala numa coisa. Enquanto os políticos fazem alianças, jogando aos ares os projetos de gestão do país, outra força toma conta. Vamos encarar a realidade. Em quantas áreas do país a polícia não consegue entrar? Na Rocinha, no Rio de Janeiro, até com intervenção militar, continua o tiroteio. Quero ver a polícia se impor, quem sabe, em Paraisópolis, em São Paulo. Há campos de plantação de maconha mais ao Nordeste, segundo soube. Áreas imensas que na prática não pertencem ao Estado brasileiro. Seus habitantes obedecem a outras leis, rígidas. Pagam outros impostos na forma de preços maiores para o gás, por exemplo. Mas têm a proteção que o Estado não dá. Alguém se portou errado? Tiro. Alguém agrediu quem não devia? Morte. Há uma lei a ser seguida.

Áreas inteiras do país, até em lugares nobres, pertencem a organizações como o PCC, Comando Vermelho. E todo mundo diz:

– É bandido.

Não é não. Seria impossível que eles se estabelecessem com tal segurança sem o apoio de políticos. Inclusive porque há, sim, os que são eleitos com o dinheiro do tráfico. Olhe para a frente. Que futuro se desenha para o país? Quando partes, mesmo pequenas daqui, não são dominadas pelo Estado, o que vem pela frente? Juro. Prefiro nem pensar.

Walcyr Carrasco

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