domingo, 25 de junho de 2017

Vem da Noruega

O presidente da República, Michel Temer, realizou um teste de credibilidade internacional ao desembarcar em Oslo, capital da Noruega. Uma monarquia constitucional e parlamentar, com 5 milhões de habitantes e com território do tamanho do Estado de São Paulo. Considerada universalmente nação detentora de um sistema entre os mais éticos do planeta.

Nesse distante reino, dos fiordes encantadores e dos trenós de Papai Noel, o presidente ouviu que o Brasil precisa mudar de práticas e moralizar sua gestão pública. Nas dobras da visita sentiu a fragilidade de seu mandato, esgarçado pelas denúncias e escândalos que lhe foram jogados “na cara”.

Ao grupo de Temer, evidentemente, a conquista da Presidência não fez bem, a ascensão ao mais alto patamar da República descortinou facetas desconhecidas.

Com as entranhas e as mazelas expostas pela operação Lava Jato, a visita de seu chefe de Estado não serviu para o Brasil aumentar ou recuperar investimentos e atenções.

Confirmaram-se a falta de moral do atual governo e o atrofiamento de seus representantes.

O Brasil se insere, assim, no painel internacional como nanico da seriedade, sem regras claras, e, ainda, patrimonialista, burocrático, crivado pela corrupção mais descomunal do planeta. Infelizmente não deu margem para qualquer avaliação positiva.

O próprio presidente, mesmo em viagem, continuou no centro de uma investigação que flagrou seu assessor com uma mala de R$ 500 mil, que em qualquer país do Velho Continente teria rendido seu afastamento. Foi ainda denunciado pelo delator com pagamento semanal de um acerto com prazo de 25 anos, totalizando R$ 650 milhões, em retribuição a um desconto no fornecimento de combustível da Petrobras.

Agrava esse flagrante ser um desvio da própria estatal, cenário há três anos da Lava Jato, mostrando que as irregularidades continuam por arte de quem controla os botões de comando da empresa. Confirma também que a prisão se configura como inevitável para sustar a continuação dos assaltos.

Não é que a Noruega seja um pais de santos e de ilibados; encontrou-se uma companhia norueguesa envolvida num pagamento de R$ 140 milhões a título de propina na Petrobras. Contudo e com todos os pesares, a ética nesse país nórdico determina o afastamento do governante por muito menos de quanto o procurador Janot denunciou. Lá, ao menos depois de descoberto o mal, as medidas são instantâneas, e as punições, gravíssimas. No Brasil não têm término e se arrastam por anos, apequenando o país como um todo.

Ao fim da visita a Oslo, com vista nos investidores e no resgate da moral pessoal, Temer colheu humilhações e a perda de uma centena de milhões de reais destinados à preservação da Amazônia. E, se lá chegou para ganhar, perdeu feio.

O resultado colhido por Temer era o esperado e reafirmou que a prática da ética, no mundo socialmente mais evoluído, é imprescindível para fechar acordo. Tem que se livrar da corrupção para conquistar parcerias sérias.

Se de um lado o Brasil vem se esforçando pelas vias judiciais para se livrar de figuras incrustadas nas veias da República, verdadeira esclerose do sistema democrático, do outro se dá um esforço para alongarem a agonia.

Modernizar-se não é só ter tecnologia, significa também livrar-se da corrupção, um mal antigo. O Brasil não demonstra essa preocupação. Seus principais partidos não erguem a bandeira, não existe um partido qualquer que se firme decididamente contra a corrupção e a burocracia, esta última instrumento auxiliar e preferido para arrombar cofres.

Os principais partidos continuam a idolatrar seus líderes, que não conseguem sequer formular uma defesa plausível contra as acusações. Não conseguem respirar com seus pulmões, têm batimentos forçados, não metabolizam. A morte é adiada usando-se prerrogativas e transfusões.

As atitudes norueguesas deixaram claro que se considera a renúncia à Presidência um gesto digno e inevitável, um ponto de partida para reconquistar a confiabilidade perdida.

Neste momento há duas vias: um mandato-tampão com uma figura notável e conciliadora até que se prepare uma nova eleição em 2018; ou diretas já.

Entre uma e outra fazem barulho os interesses paroquias sem qualquer postura isenta. Bem por isso a decisão a ser seguida deveria passar pela maioria do Congresso e pelo STF.

O país está sangrando. Algo precisa ser feito. Já.

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