quinta-feira, 15 de junho de 2017

O impacto psicológico de anos de notícias negativas em nossa vida

A instigante pergunta que está implícita no título acima foi feita pelo jornalista Fernando Gabeira, logo no início de sua coluna, no último domingo, no jornal “O Globo”. Ao lê-la, imaginei logo esta outra, personalizada, que diz respeito a cada um dos brasileiros: qual seria o impacto psicológico de anos de notícias negativas na vida de quem, como eu, por exemplo, já dobrou faz algum tempo o cabo da Boa Esperança?

Uma pergunta, sem dúvida, para psiquiatra, mas a resposta não é nem um pouco difícil. Por ora, quero dizer que dobrar o cabo da Boa Esperança não é para qualquer um nem é fruto de decisão pessoal. A medicina põe a nossa disposição alguns truques, que podem tornar essa viagem desafiante – que é a vida – mais fácil. A receita para quem não deseja vencê-la é simples, mas sofrível: basta morrer jovem...

Imagino, também, o elevadíssimo nível de ansiedade no qual devem estar os que, sobretudo por dever de ofício, tratam desse inenarrável “psicodrama político-policial”. É um sofrimento terrível e diário. Padecem desse mesmo sofrimento os leitores que o acompanham em cada cena, em cada lance, em cada busca do equilíbrio. São eles, além de incentivadores, grandes patriotas. Nunca perdem a fé no país.

Outro dia, um amigo, que já dobrou o cabo da Boa Esperança antes de mim, dono de saúde física, mental e intelectual invejável, me revelou que, ultimamente, anda fazendo algumas difíceis avaliações sobre nosso país. Elas soam, disse ele, pessimistas na maior parte das pessoas, sobretudo da família. E continuou, me perguntando, depois de muitas outras considerações, em espontâneo desabafo: “Será que vale a pena viver muito, mesmo sendo consumido aos poucos pela preocupação com o que poderá acontecer de péssimo a nossos descendentes? Talvez o melhor seja ficar por aqui, encerrar de vez a caminhada e jamais insistir para esticá-la mais um pouco”, afirmou ele.

“Ouvi do meu pai, quando menino”, finalizou meu amigo, “a afirmação de que o Brasil, um dia, seria grandioso. Confesso que já fiz a mesma afirmação aos meus filhos. E hoje constato, tristemente, que meus filhos têm dito aos meus netos o que eu disse a eles, embora talvez menos convencidos de que isso um dia de fato ocorrerá. De lá até aqui já se passaram mais de cem anos! E esse dia não chega!”

Claro que não é bem assim, e ele sabe muito bem disso. O otimista considera que um processo civilizatório não dura menos do que cem anos, podendo, a partir dos 50 anos, vislumbrar-se a linha tênue do futuro. O pessimista acha que leva séculos. Para mim e meu amigo, que vivemos outros tempos, tão ou mais brabos do que o atual, o Brasil ainda comemorará esse dia. E a educação será sua mola mestra.

E não adianta jogar a culpa na política, pois sem ela não haverá salvação nem futuro. As estúpidas agressões sofridas pela jornalista Míriam Leitão, que cumpre sua missão com admirável competência e dedicação, em voo entre Brasília e Rio de Janeiro, perpetradas por um grupo de delegados e militantes do PT, são provas insofismáveis de que o mal está incrustado na sociedade brasileira como um todo. Os políticos são apenas reflexos dessa sociedade. Não será por meio da divisão dos brasileiros que melhoraremos o país. Nossa salvação está no respeito que cada um de nós deve a seu semelhante.

Só o consenso nos levará a bom termo. Chegou a hora de pensarmos, com despojamento, no futuro de nosso país. Nesse jogo, que é a política, ninguém é totalmente inocente nem totalmente culpado.

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