domingo, 4 de junho de 2017

No planeta dinheiro, reformas são mais importantes que crise moral do governo

O clima de forte incerteza política que toma conta do país desde a delação premiada dos irmãos Batista, donos da JBS, parece estar longe de tirar o sono de investidores estrangeiros interessados em fazer negócios no Brasil. Na visão de alguns, a crise instalada em Brasília é uma tormenta passageira sem força para alterar os rumos da retomada do crescimento da economia brasileira, que começa a ensaiar alguns pequenos sinais de melhora. “O Brasil não perdeu a década e os fundamentos econômicos também não se perderam”, avalia Hélio Magalhães, presidente do Citibank no Brasil, que participou do Fórum de Investimentos 2017, em São Paulo. Como ele, os executivos ouvidos pelo EL PAÍS durante o evento aponta a crise política como um empecilho no curto prazo, mas as reformas em andamento são garantia de uma mudança bem-vinda. “Há uma solidez econômica e institucional no Brasil, uma certeza de que o país é capaz de lidar com a crise política”, disse a este jornal o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Moreno. O BID está ampliando investimentos no Brasil e abriu um segundo escritório no país, de olho em novos projetos.

O resultado do PIB divulgado nesta semana, que apresentou crescimento de 1% no primeiro trimestre, após dois anos de queda, era a prova cabal que o Governo precisava para convencer o mercado de que o futuro será melhor que o passado. Não é o fim da recessão ainda, como o presidente Michel Temer anunciou no Twitter nesta quinta, mas ajuda a fortalecer a narrativa da equipe econômica para convencer as empresas a mudar de postura. Apesar do entusiasmo com as reformas, a taxa de investimentos ainda está em baixa: 15,6% em relação ao PIB no primeiro trimestre deste ano, a mais baixa desde os anos 90.

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Poucos dias após a delação da JBS, o sentimento entre os interessados em investir no Brasil era de tensão, como constatou Andoni Hernández, consultor em direito estrangeiro, do escritório Demarest, que recebe demandas de interessados do exterior, em conhecer as potencialidades do país. “Não vou negar que o clima político causa reticência e que investidores estrangeiros ficam com pé atrás. Mas essa é uma visão generalista”, diz Hernández, que cuida dos clientes ibero-americanos, e tem o pulso de como o Brasil este sendo visto lá fora. Se em 2015 e 2016 a posição era de cautela, diz ele, este ano o interesse voltou com a agenda de infraestruturas do Governo.

David Fleischer, cientista político americano naturalizado brasileiro, diz não ter dúvidas que os investidores estrangeiros estão mais de olho na economia e menos interessados nos problemas domésticos do país. "A crise política afeta menos as decisões deles. Tanto é assim que o investimento estrangeiro direto continua crescendo desde janeiro", argumentou. No acumulado de 2017 até abril, o ingresso de investimentos estrangeiros destinados ao setor produtivo somou 45,44 bilhões de dólares. No mesmo período, em 2016, o investimento estrangeiro alcançou 33,3 bilhões.

Um dos endereços desses recursos são as obras de infraestrutura. As concessões de quatro aeroportos, em março, por exemplo, trouxeram capital da Alemanha, Suíça e França, que vieram pelos grupos Fraport, Zurich e Vinci, respectivamente.

A crise política que colabora com a letargia na economia parece também ter um efeito colateral para os estrangeiros, uma vez que os ‘ativos’ do Brasil estariam a preços convidativos, como sugeriu o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante palestra a investidores. “Este é o momento certo de investir, antes que o país esteja mais valorizado. Quem está presente desde o começo do ciclo [de recuperação da economia], serão a se beneficiar”, afirmou.

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