quinta-feira, 15 de junho de 2017

Freud, Rousseau ou Darwin?

O que desanima no Brasil é que a unica discussão que interessa nunca chega a começar. Dos promotores de Curitiba ao ultimo dos indignados das ruas todo mundo age como se pensasse que o estado é uma instituição naturalmente benfazeja, o que o torna mau é apenas o fato dele não estar nas “minhas” mãos.

Podem roubar a Petrobras e todas as brases até o ultimo tostão, entra partido, sai partido, e ninguém pronuncia, jamais, a palavra privatização. Querem que você acredite que o fim ultimo de toda essa roubalheira por meio de interpostas pessoas (Odecrechts e ésleys) criadas pelo pai de todos os ladrões que levou a coisa às proporções de hoje, ou mesmo só a dos modestos “indicados” de cada polítiquinho de bairro de sempre a partir das quais ele projetou os seus delírios de grandeza, é só a acumulação de dinheiro; a “ganância dos capitalistas”.

O estado, portanto, não precisa de reforma, precisa apenas de “limpeza”. É assim que a Lava Jato, de meio vira fim, e nós continuamos fora da discussão que, ha 241 anos, abriu as portas da modernidade.


Teve um discurso de Julio Mesquita Flho quando voltou do exílio e recebeu o jornal O Estado de S. Paulo, que tinha sido ocupado militarmente por Getulio Vargas de volta, em que, na ressaca da 1a e da 2a Guerra Mundiais e para reafirmar o “repudio a toda afirmação categórica … ao apriorismo político e às concepções tendentes a deformar as sociedades segundo modelos pré-concebidos”, ele partia da negação de Rousseau, para quem o homem é naturalmente bom e a sociedade (ou a propriedade) é que o corrompe para chegar a Freud, para quem a verdade é o contrário, o homem é fera e a civilização é que o domestica.

Pois eu vou logo para Darwin.

O que faz o poder político valer tão ilimitadamente tanto no Brasil? A resposta está implícita na pergunta: o fato de, para quem, como nós, continua se pondo fora da modernidade, ele ser absolutamente ilimitado. Existe o poderzinho de receber um privilégio, zinho ou zão, que apenas corrompe. E existe o poder ilimitado de outorgar esses privilégios, zinhos ou zões, que corrompe absolutamente.

É experimentar e morrer.

Enquanto existir dentro do território nacional uma área onde pondo um pé uma vez o sujeito não precisa nunca mais entregar resultados, nem temer perder o emprego, nem mesmo ter medo da lei, o Brasil não terá salvação. Será apenas e tão somente o país dos concurseiros, de um lado, e de quem faz o concursismo continuar tendo sentido, do outro.

E o resto seguirá sendo pasto para ser pastado.

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