domingo, 4 de junho de 2017

Chega!

“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando se comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando se perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em autossacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.

E fomos, assim, condenados ao atraso em que vivemos!

Exatamente pelos motivos que a escritora russa Ayn Rand descreveu em 1917 mergulhamos nesta vergonhosa situação nacional. Exatos cem anos se passaram, e o procurador geral da República, Rodrigo Janot, adotou essa frase em sua acusação contra políticos de Minas.


O sistema tenebroso em vigência leva diretamente a uma classe política tentacular, dinástica, que se interpõe ao progresso, priorizando interesses insaciáveis, adotando o pé de cabra da burocracia para arrombar a nação.

Distorceu-se a democracia, apropriando-se aceleradamente dos bens comuns, das receitas escassas destinadas aos carentes. De costas para o sofrimento, o atraso secular, a pobreza que assola milhões de pessoas.

“Enganam-se muitos por muito tempo, mas não todos o tempo todo”; as cortinas caíram. Estamos assistindo à justiça divina cobrando explicações aos culpados.

A maioria das leis aprovadas nos últimos anos é de péssima qualidade, perdera-se de vista o bem geral, o interesse comum. Expandiu-se uma colcha de retalhos legislativos e de regulamentações engendradas em detrimento da maioria que trabalha com suor.

A delação do maior açougueiro do planeta, Joesley Batista, demonstra o pendor sem escrúpulos de matador, distribuindo propinas de mãos cheias, desde o mais ínfimo político até o presidente da República, conseguindo chegar aos R$ 170 bilhões anuais em receitas. Não satisfeito de ter feito do Brasil um trampolim, abateu seus cúmplices, deixando a Janot a tarefa de processar as entranhas dos delatados.

Não perdoou ninguém. Confessou que pagava quase sempre para ter trânsito, simpatia, ter leis complacentes e tapetes estendidos até na residência dos presidentes. Pagava em grande escala para sobrevoar a burocracia e para ter a caneta dos poderosos a seu favor. Matou as cobras e se mandou.

Empresas que não conseguiam apoio e financiamentos caíam nas mãos deles por preços de banana, tendo o BNDES de aliado e cúmplice, depositando centenas de milhões de dólares em contas “à disposição” dos ministros e presidentes. O impossível para qualquer um era fácil para ele. O sistema adotado pelo BNDES e por bancos oficiais era o mesmo adotado com desenvoltura por Marcelo Odebrecht, Eike Batista e outros dispostos a pagar propinas de mãos cheias. Em comum têm agora o fracasso destruindo seus efêmeros sucessos.

Podemos ver agora com clareza que, se a burocracia gigantesca, que subverte valores, fosse eficiente no combate à corrupção e na tutela do interesse popular, o Brasil seria mais próspero que a Escandinávia, mas é exatamente o contrário, um país despedaçado que lidera o ranking de injustiça, atraso e corrupção. Somos também líderes no abate de animais e em homicídios, mais de 60 mil por ano.

De relance gerou-se o maior desemprego, desamparando 14 milhões de pessoas.

O Estado precisa parar de sequestrar o desenvolvimento e, ainda, parar de criar covardes entraves a quem trabalha.

Castigar a propina como atividade hedionda, dar segurança jurídica para quem quer empreender. Possibilitar um ambiente de atividades econômicas concedendo regras claras. Banir as elites políticas e empresariais corruptas.

Em Minas temos cerca de 20 mil empreendimentos retidos nas garras do sistema de licenciamento. Basta investir no licenciamento, simplificar, autorizar. Representa mais de 1 milhão de empregos e mais de uma dezena de bilhões em arrecadação a cada ano. Somos cegos? Desperdiçamos as soluções que estão no prato.

Espantamos as boas energias ofendendo o bom senso com a barbaridade burocrática. Agora, para plantar capim, precisa também de licenciamentos arqueológicos, não bastasse outro espeleológico. Boçalidades que permitem à parentada de políticos ganhar centenas de milhões por anos sem sair da cadeira. Impondo pedágios e dificuldades para vender caras facilidades.

Isso também é corrupção, e o Estado pode suprimir essas exigências dentro de suas atribuições, exatamente por ser um motivo que atrasa a geração de empregos e de receitas públicas. E nem dinheiro para pagar a folha dos servidores existe!

O Estado é o maior vagabundo do sistema, e os senhores políticos que enchem de cargos comissionados os governos e as estatais são coadjuvantes da tragédia.

O povo de Minas sofre da velhacaria que impõe e explora o atraso e a pobreza.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se comprometeu, numa recente palestra aqui, em Minas, a derrubar as 2.600 horas dedicadas à burocracia pelas empresas, para 450 horas, nível de país sustentável e competitivo. Mas ele, apesar da boa intenção, se escora num presidente agonizante e, ainda, num Congresso em decomposição, órfão, em parte, dos Marcelos, Joesleys, Eikes etc.

É preciso parar de sequestrar o imenso potencial desta nação. Chega!

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