terça-feira, 16 de maio de 2017

Transição incompleta

O país amadurece.

Lula fez um contido manifesto político, enquanto Moro colheu seu depoimento. Manifestações sem violência em Curitiba. O enredo foi compreendido.

As colaborações premiadas desnudam a engrenagem da corrupção a cada dia. Definem também os papéis principais.

É um triste espetáculo constatar a perda de dignidade dos mais eminentes atores.

A simples admissão de que nossas práticas políticas se degeneraram pouparia importantes biografias do patético e do trágico.

Mas não há grandeza, apenas a busca da sobrevivência onde antes havia a disputa pelo poder.

A cumplicidade e a mentira no topo aumentaram o prêmio das delações embaixo. E agora o fogo das investigações está subindo morro acima.

A marqueteira Monica Moura exibiu com descontração a banalidade dos malfeitos e desmascarou a proclamada inocência de Dilma. Atribuiu a Palocci a denúncia do “chefe” Lula como responsável pela aprovação do preço e garantidor do pagamento do serviço. Confirmou a parceria da Odebrecht nos malfeitos.

A colaboração premiada do ex-ministro Palocci seria a pá de cal na morte da Velha Política.
Imagem relacionada

Argumentava Tocqueville que, sob a aparência de ruptura, a Revolução Francesa teria de ser compreendida como continuidade histórica do Antigo Regime.

A concentração do poder político e financeiro no governo central da monarquia absoluta esvaziou as funções da aristocracia, que desfrutava ainda seus privilégios.

Uma nobreza privilegiada e inútil provocou o desprezo e a fúria de um povo fustigado pelo excesso de impostos e humilhado pelo luxo da corte.

Prisioneiros da turbulência política e da crise econômica causadas por disfuncional engrenagem de poder centralizado, os franceses sofreram a degeneração dos nobres ideais iluministas no Terror jacobino e nas guerras napoleônicas.

No Brasil, também o regime militar de 1964 a 1985 centralizou poderes políticos e recursos financeiros, desidratando as atribuições da classe política no uso dos recursos públicos.

A redemocratização ocorreu há mais de três décadas. Já era tempo de percebermos a associação entre o dirigismo na economia e a corrupção na política. Mas o despreparo de políticos e economistas inebriados pelo poder segue responsável pela turbulenta transição rumo à Grande Sociedade Aberta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário