sábado, 27 de maio de 2017

Temer, o presidente que uniu o Brasil

Quando assumiu o cargo da presidente afastada Dilma Rousseff, no começo de maio de 2016, Temer prometeu unir o país. Mas nem ele mesmo deveria saber o quão sério falava e quanto estava disposto a mobilizar nesse esforço. Certo é que ele não tinha em mente um inquérito contra si por suspeita de corrupção.

E foi justamente isso que uniu nada menos que 95% dos brasileiros contra ele. Os 5% restantes provavelmente devem se manter ao seu lado por razões de Estado, pelo desejo de continuidade política ou por outros motivos menos ideológicos – e não por alguma lealdade genuína.

Vale lembrar que o presidente do Brasil já era recordista de impopularidade quando, na segunda quinzena de maio, um jornal o acusou de corrupção. Segundo a reportagem, ele concordou com os donos do maior conglomerado de carne do mundo, Joesley e Wesley Batista, sobre o pagamento de um valor de seis dígitos para comprar o silêncio do seu colega de partido Eduardo Cunha, condenado por corrupção.

A denúncia partiu dos próprios empresários, que entregaram à Procuradoria-Geral da República uma gravação do diálogo em questão. O fato de que o presidente precisou de vários dias para afirmar que a gravação da conversa era falsa não ajudou a tornar seu discurso de defesa mais crível. E os brasileiros passaram a ver a questão assim: o presidente precisa deixar o cargo – e, mais especificamente, ir direto para a cadeia.


Isso seria uma bênção para o Brasil. Isso porque provaria mais uma vez o que tem se tornado mais e mais evidente nos últimos tempos: nem influentes criminosos conseguem mais escapar da Justiça. Atualmente, parece que todo mundo está tentando salvar a própria pele. Isso é evidenciado pelo próprio caso do presidente: por que os barões da carne teriam entregado Temer para a Justiça?

Temer acusa os irmãos Batista de terem embolsado alguns milhões com as turbulências cambiais que vieram na esteira da denúncia – algo que eles podiam antecipar. Mas essa não foi a principal motivação deles. Afinal, o testemunho deles também provocou desgaste para eles próprios. É mais provável que em meio a essa grande faxina da Justiça e devido ao passado deles, eles tenham decidido que era melhor fazer um bom negócio antes de ir para o banco dos réus. Tudo seguindo lema: quem dedurar primeiro, se sai melhor. É o que no Brasil se chama de delação premiada.

Um requisito para que Temer se torne o primeiro ex-presidente a ir parar na cadeia deve ser, é claro, um processo íntegro. Sua culpa deve ser impecavelmente determinada – correndo o risco de que, no final, Temer saia impune.

Isso porque mais um caso em que a Constituição é violada para derrubar um chefe de Estado indesejado – como aconteceu na deposição de Dilma –, na melhor das hipóteses só faria com que o Estado brasileiro se tornasse mais popular entre a população no curto prazo.

No entanto, se se quiser que, pela primeira vez em muito tempo, a maioria dos brasileiros tenha confiança nas instituições, é preciso um limpo e, talvez ainda mais importante, transparente processo.

Porque, independentemente do veredito, não se pode deixar espaço para ideólogos que se aproveitem do caso para seus objetivos políticos e que poderiam fazer com que os brasileiros voltem à estaca zero. Se a Justiça brasileira for bem-sucedida nisso, o caso de Temer pode unir os brasileiros para valer.

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