terça-feira, 16 de maio de 2017

Relativismo moral

Não há como repor o país no rumo do processo civilizatório e do crescimento econômico sem expor a podridão política em que submergiu com o império da demagogia e da corrupção desabrida. Além disso, a falta de caráter de nossos políticos, seguramente, não representa o que há de melhor, se não o pior de nosso povo.

A série de vídeos do depoente Sr. ex-presidente é um indigesto repasto servido nos lares do cidadão brasileiro. Sobretudo o último da série, em que o réu desanda a desancar a mídia em suas alegações finais, se autovitimando de “o político mais massacrado da história”, na tentativa desesperada de alegar preconceito de classe pela perseguição ao “primeiro operário a ocupar a mais alta magistratura do país”. Pois é: ocupou e não dignificou o cargo.

Ao contrário, a mídia é a salvação da transparência exigida pela cidadania. Uma vez que a Justiça fica a dever pela sua lerdeza escamoteada de formalismo, garantismo, corporativismo e egolatria sem fim. Resultado: a violação moral de toda sorte resulta na violência social que banaliza a morte!

Sem a adiada reforma política, eterniza-se um sistema eleitoral que favorece o ingresso dos piores, e não dos melhores, cidadãos na vida pública. O cinismo exegético do Supremo Jeitinho premia a delinquência de políticos de alto coturno como a presidenta, o coronel das Alagoas, o capitão do time e outros. Além de reforçar a cultura barroco-contorcionista da lei dura, pero non tanto.

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E aí, Sr, ex-presidente, não torça os fatos, não distorça princípios, no seu enredo lunático, no seu angu de relativismo moral. Nobres de espírito público não são mais os nobres de berço e de sangue, como demonstrado desde a queda do direito divino dos reis. Desde Shakespeare até Hans Christian Andersen, foi um longo processo para mostrar ao povo que o rei estava nu. A partir da Bill of Rights, Sr. ex-presidente, sobretudo as verdadeiras elites é que têm de dar o exemplo de seus predicados morais, e não se colocar acima das leis. Não tente fazer de tolos os cidadãos de bem deste país. O Ministério Público não lhe acusa da propriedade formal de um imóvel, mas, através da tese do domínio do fato, de ser o chefe de uma quadrilha dilapidadora de recursos públicos e beneficiário final de vantagens indevidas, pecuniárias e eleitorais. Os cidadãos brasileiros estão fartos de seus sofismas, malabarismos verbais, alegorias populescas, imposturas morais e pobreza de espírito. Nascidos pobres e tornados nobres são uma plêiade em nossa história, como Machado de Assis, Lima Barreto, Carlos Gomes, Portinari e tantos outros.

Não tripudie da inteligência do cidadão brasileiro que está farto desta farsa patética da luta de classes.

Jorge Maranhão

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