quinta-feira, 25 de maio de 2017

Não será agora que me entregarei ao desânimo e à desesperança

Um de meus netos, de 22 anos, que receberá, no fim deste ano, o diploma de bacharel em direito, ao ser questionado, minutos antes de iniciar estas linhas, sobre o que pensa acerca da grave crise por que passa hoje o país, desabafou assim: “Estou desanimado. No instante em que vislumbrava um fio de esperança em dias melhores, um balde de água fria me bateu na cara e insiste em me levar ao desânimo e à desesperança. Luto para não me deixar vencer, mas está muito difícil”.

Em meu caso, porém, leitor, e disse isso a meu neto, apesar das muitas décadas de luta e sofrimento, ou, talvez, por causa delas, não perco nem perderei a esperança no país (e o mesmo, tenho certeza, também acontecerá com ele). O Brasil não se consumirá nem nesta, nem em qualquer outra crise que, sem dúvida, ocorrerá no futuro. Só que, depois da atual, outro país haverá de nascer, se assim o quisermos todos, sobretudo os jovens como o Bruno. A sorte está, pois, em nossas mãos, mas não podemos perdê-la optando por outro caminho que não esteja na Constituição de 1988. É a ela que devemos respeito.

As causas ou motivos que desencadearam verdadeira tempestade sobre o país, e que o expuseram interna e externamente, principalmente depois das providências tomadas pela Procuradoria Geral da República e pelo ministro Edson Fachin, ficarão um dia muito claras, e a história haverá de dizer se, por detrás de tudo, houve ou não, politicamente, segundas intenções. Hoje, pelo menos por enquanto, está tudo muito nebuloso. Liberar um criminoso confesso e deixá-lo livre, leve e rico nos Estados Unidos talvez não tenha sido a melhor das decisões.

Nenhum país, leitor, conseguiria chegar ao estágio de decadência moral a que chegou o nosso da noite para o dia. Isso vem de longe. De muitos e muitos anos. De séculos, talvez. A prática criminosa para se ganharem eleições, mesmo nesses últimos 32 anos de redemocratização, atingiu sua culminância. E ficou provado que os métodos escusos nunca foram privativos de um só partido, embora se possa dizer que, de 2002 até 2015, foram transformados em política de Estado pelo partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – um partido cuja proposta era a de implantar, no país, o império da ética.

Aos trancos e barrancos, o presidente Temer conduzia o país com os olhos nas eleições de 2018. Depois dessa hecatombe que lhe caiu sobre os ombros, restam-lhe, talvez, os versos do poeta: “E agora, José?/ A festa acabou,/ a luz apagou,/ o povo sumiu,/ a noite esfriou,/ e agora, José?”. Agora, é o país que está em jogo, presidente.

Escrevo estas linhas (um suplício!) dois dias antes de serem publicadas. Tudo pode mudar em 24 horas. Mas, se o presidente renunciar (a menos traumática das soluções), a Constituição estabelece, em seu artigo 81, parágrafo 1º, que, “ocorrendo vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita pelo Congresso Nacional, na forma da lei, 30 dias depois da última vaga”. Nada, pois, de eleições diretas. Isso é casuísmo!

Caberá ao Congresso Nacional a responsabilidade de conduzir o país até 2018, quando, então, novas eleições acontecerão. O argumento de que não tem legitimidade porque parte dele está envolvida na operação Lava Jato não procede. Serve como desculpa aos que querem travar o processo de consolidação de nosso regime democrático.

Mas, e se o presidente Temer continuar?

Rezemos, então, leitor...

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