sábado, 13 de maio de 2017

Mobilização de cidadãos e a crise política brasileira

A divulgação de crimes de corrupção tem irritado bastante os brasileiros, mas não há mobilização efetiva para cobrar mudanças no quadro político. Apenas alguns setores da classe média vêm manifestando sua aversão aos desmandos. Isso inclui internautas que descobriram, poucos anos atrás, como as redes sociais são instrumento para circular informações e congregar seguidores da mesma cartilha ideológica, visando excluir os personagens nocivos aos interesses nacionais. Esse esforço jamais vai sensibilizar o grupo que não admite barreiras a seus contatos na administração pública, campo propício para obter privilégios ou soluções de qualquer problema na burocracia. Assim, embora reconheça que algumas figuras são nefastas à sociedade, opta pelo silêncio para não contrariar os poderosos.

Outro segmento tem escolaridade mínima; por isso, não decifra as artimanhas dos agentes políticos na publicidade e nas estratégias para captar eleitores, sem compromisso de promover alterações profundas na estrutura socioeconômica. Esse grupo é o maior, tornando-se o sustentáculo de políticos que se perpetuam no poder, cuidando apenas de seus interesses pessoais e das metas partidárias.

A terceira parcela espera que outros lutem pelo seu bem-estar, sem considerar as diferenças na postura de legisladores íntegros e gestores competentes. Isso ficou nítido na manifestação do dia 26 de março, quando houve adesão menor para expressar o repúdio às autoridades que ainda mantêm fraude, corrupção, gastos exorbitantes, atos secretos etc. A omissão foi lamentável, diante desses crimes praticados por políticos de diferentes partidos, que, ignorando suas atribuições para construir uma nação próspera, dilapidam o patrimônio público e corroem os alicerces morais da sociedade brasileira.

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Dante Alighieri (1265-1321) é reconhecido como “sumo poeta” da língua italiana, e “A Divina Comédia” encontra-se na lista das obras-prima da literatura mundial. Ele viveu no exílio para se livrar da perseguição política em Florença, sua terra natal. Tendo enfrentado decepções pelas atitudes de outros Guelfos Brancos, além do tratamento humilhante de adversários, escreveu: “Os lugares mais quentes do inferno estão reservados para aqueles que em tempos de crise moral optam por ficar na neutralidade”.

Tal afirmativa pode nortear nossa postura para exigir a indispensável correção das distorções na legislação e práxis dos políticos, pois uma considerável parcela da riqueza nacional é perdida nos desvãos da corrupção, de obras públicas equivocadas e de péssima administração, enquanto a população padece de carências inconcebíveis para o terceiro milênio. Seriam ações simples, como repudiar medidas demagógicas ou manifestar, diuturnamente, a insatisfação pelos frequentes desmandos no país. Esses gestos indicariam aos poderosos que eles não são intangíveis e precisam mudar sua conduta, reconhecendo seu status de mandatários da vontade popular.

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