quinta-feira, 11 de maio de 2017

Aba-pe-endé? Mamõ-pe-reikobé?

Com exceção das ditaduras ou similares, dos países africanos mais institucionalmente esculhambados, onde, senão num país que não trata as más formações de nascença ou adquiridas, não encara os traumas de infância e repete os erros da vida adulta, um integrante da corte máxima e o Procurador-Geral da República (uma elite!) rebaixam, em público e nos bastidores, as instituições que integram a disputas pequenas de tal forma que fragilizam o país já vulnerabilizado no pós-Janete? A bandidagem deve estar agradecida.

Conta-se que era 22 de abril de 1500, na Bahia, claro; já fazia uns dias que os índios espreitavam as estranhíssimas formações no horizonte que cresciam e já ganhavam a praia e a aparição de uns bichos sem banho, brancos, doentes, esdrúxulos, com cabelo na cara e o corpo coberto com panos assombrou os nativos limpos, pelados, morenos, saudáveis: Aba-pe-endé? Mamõ-pe-reikobé? Cito de cabeça, das longíguas aulas de tupi antigo (pré-colonial) na universidade. “Aba” (som de oxítona) é homem/ser humano; “pe” (“e” fechado) é partícula interrogativa; “endé” equivale a “quem”; “mamõ” (o “a” bem aberto e o “õ” muito nasalado) é “onde/lugar”; reikobé (pronuncia-se o “r” como em “neurônio solitário”; em tupi o “r” nunca é pronunciado como em “corrupção”) denota origem com verbos como surgir, aparecer e vir. Então, “Aba-pe-endé? Mamõ-pe-reikobé?” pode ser traduzido como “Quem são vocês e de onde vêm?”. O choque, o espanto, a perplexidade foram mútuos. Dois universos se encarando nas praias de… Ó pá, não vá nos dizer que passamos de Porto Seguro e viemos dar no Ceará!

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Não. Exaustos, abatidos e estupefatos, depois de meses no mar, Cabral e sua turma sabiam onde estavam desembarcando. Em abril de 2013, numa solenidade para inaugurar uma obra de combate à seca em Fortaleza, Janete afirmou que fora nas areias cearenses que os portugueses aportaram há 513 anos então, mas era Janete quem não fazia ideia de onde se metera ao embarcar na presidência do Brasil, viagem que o morubixaba jeca lhe arranjou para garantir a dele só de ida em retorno ao poder.

Ridícula e absurda, mesmo para uma nação que naturalizou espantos, Dilma está em Curitiba figurando na farsa espantosa que os petistas produziram em torno do interrogatório do idolatrado chefe da organização criminosa, afinal um circo não ficaria completo sem uma mulher sapiens. De dentro de natural confusão que a ansiedade provoca quando é grande e não é outra coisa senão de grande ansiedade para o ansiado depoimento que a alma de Lula transborda segundo o próprio, o réu orientou os advogados a insistirem até o último minuto na chicana que o livre do juiz Sérgio Moro.

Janot concorda com Janot contra Mendes; Janot discorda de Janot contra Janot; Janot e Mendes acham que mulher advogada é diferente de filha advogada. Nem sei nem me interessa quem está mais errado, os dois estão fora da casinha faz tempo, representam o nepotismo judicial-processual brasileiro e um deveria se abster nos casos Guiomar-Bermudes e o outro renunciar. É pedir muito? No país dos espantos, sim: logo mais, o corporativismo patológico – outra das más formações brasileiras – vai agir para deixar tudo como está e o público pagante dos gordos salários segue na expectativa frustrada de algum decoro por parte das excelências que desonram os respectivos cargos. A toda essa gente estranha a uma nação menos primitiva e que insiste em farsas íntimas e coletivas, cabe perguntar: Aba-pe-endé? Mamõ-pe-reikobé?

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