domingo, 9 de abril de 2017

Por que famílias pobres também desperdiçam comida no Brasil?

"Sua comida não é lixo." O alerta é do Waste and Resources Action Programme, mais conhecido como Wrap, criado na Grã-Bretanha há 17 anos para combater o desperdício de alimentos.

Mas vale também para o Brasil, onde uma carga equivalente a 625 mil caminhões cheios de verduras, frutas, e legumes bons para o consumo vai parar no lixo a cada ano. Este é o tamanho do desperdício de comida no país: 41 mil toneladas anuais.

Toda essa comida jogada fora seria suficiente para acabar com a insegurança alimentar no Brasil, de acordo com o Centre of Excellence Against Hunger (Centro de Excelência contra a Fome, em inglês) do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas.

Resultado de imagem para desperdício de comida charge

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013, o Brasil somava naquele ano 52 milhões de pessoas sem acesso diário à comida de qualidade e em quantidade satisfatória. Dos 65,3 milhões de domicílios registrados, 22,6% estavam em quadro de insegurança alimentar.

"É preciso combater o desperdício em todas as etapas da produção, comercialização e consumo", disse à BBC Daniel Balaban, diretor do centro. "Reduzir o desperdício na fase de consumo está ao alcance de todos."
Dinheiro no lixo

Uma estimativa do Instituto Akatu, que trabalha há 16 anos com ações de incentivo ao consumo consciente, indica que o brasileiro desperdiça, em média, 205 gramas de alimento por dia e que cada família - de três integrantes, de acordo com o padrão do IBGE - joga no lixo mensalmente R$ 171 em alimentos.

Na Grã-Bretanha, descartar comida em condições de consumo representa um prejuízo mensal equivalente a 60 libras (R$ 231) para uma família média.

"Um consumidor são vários: ele, a família e os amigos. Todos podem mobilizar outras pessoas. O consumo tem impacto e o consumidor, individualmente, causa impacto econômico", afirma Hélio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu.

O analista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Gustavo Porpino, que fez estudos sobre o comportamento do consumidor nos EUA e no Brasil, afirma que não são apenas os mais ricos que esbanjam alimentos no Brasil.

O desperdício, segundo ele, impressiona nas famílias de classe média baixa, que representam a maior fatia da população brasileira.

Segundo o analista da Embrapa, contribuem para o desperdício dois hábitos brasileiros - a fartura e a hospitalidade.

"Sempre pode chegar alguém" e "é melhor sobrar do que faltar" foram as frases que Porpino mais ouviu de donas de casa durante sua pesquisa, realizada em 2015.

As sobras são vistas com preconceito, e isso alimenta o desperdício. "Muitas mulheres me disseram que a família não gosta de 'comida dormida' e que o arroz tem que ser sempre fresquinho", conta.

Outra constatação feita pelo pesquisador diz respeito ao papel do sentimento de culpa na cadeia do desperdício de comida.

Essa culpa explicaria o fato de as sobras serem dadas também para cães e gatos, que podem ser dos vizinhos ou de rua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário