terça-feira, 18 de abril de 2017

O que caiu em 17 de abril?

Além de Dilma, muita coisa começou a cair há um ano, no 17 de abril da sessão-espetáculo comandada pelo hoje presidiário Eduardo Cunha. Cair no domínio público, entenda-se, e não desaparecer da degenerada cena política nacional.

A hipocrisia, por exemplo. Muitos dos que bradaram “contra a corrupção” estão aí, investigados a partir das delações da Odebrecht – que é apenas uma entre tantas empreiteiras e outras corporações que compraram mandatos. Cassadores agora estão na condição de caça. Vários desses moralistas de ocasião, já à época, eram alvo de inquéritos no STF.

You And Me (Eu e Você): As máscaras caem:
A pequena política, fundada na vingança, emoldurou a decisão do impeachment. Michel Temer entregou o jogo, em entrevista na noite de sábado passado: “Numa ocasião, Cunha foi me procurar dizendo: ‘olha, vou arquivar todos os pedidos de impeachment porque me prometeram os três votos do PT’. ‘Ah, que bom’, eu disse. No dia seguinte, vi que membros do PT tinham se insurgido. Ele me ligou: ‘tudo aquilo não vale!’. Se o PT tivesse votado com ele no Conselho de Ética, é muito provável que a presidente continuasse”. Temer devia ter denunciado essa barganha, mas foi usufrutuário dela...

A exacerbada polarização dos contra e a favor do impeachment favoreceu o recorrente maniqueísmo entre ‘bem’ e ‘mal’ absolutos, agora abalado para quem examina a conjuntura sem passionalismo. Os dois lados da disputa foram atingidos pelos relatos de suas relações “não republicanas” (para dizer o mínimo) com a Odebrecht, descritas em quase 24 horas de gravações acompanhadas de farta documentação. 70% das denúncias estão concentradas em cinco partidos: PT, PMDB, PSDB, PP, DEM e PSD. Fundamentalistas incorrigíveis dizem que o apontado no adversário é verdade, mas no seu correligionário é calúnia...

Um tsunami atingiu toda a estrutura de poder, evidenciando a promiscuidade corrosiva entre negócios privados e ações públicas, de licitações para grandes obras pelos Executivos a emendas parlamentares. Dos escombros da Ré Pública precisa nascer um novo país.

É urgente banir o fisiologismo, a apropriação privada da instância pública, as indicações partidárias para feudos políticos, como superintendências estaduais de órgãos de controle, as somas milionárias para campanhas, o capitalismo de compadrio, de laços, que vigora no Brasil.

Os investigados deviam se afastar de suas funções de mando, nos ministérios, na presidência das casas legislativas, nas relatorias de projetos. É o que aconteceria em qualquer República digna desse nome.

Analistas políticos acostumados a conviver com a (des)ordem estabelecida, ao reconhecer o apodrecimento do modelo e dos seus sustentáculos, dizem que não há alternativas. Desconhecem o movimento vivo da sociedade, que é sementeira de uma nova consciência, de lideranças, de uma energia cidadã que produz, desde já, ricas experiências em educação, moradia, produção de alimentos, controle social do setor público. Só os partidos com vocação de universalizar projetos específicos, e antenados com essas forças novidadeiras, sobreviverão.

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