quinta-feira, 27 de abril de 2017

O cansaço que nos ronda é uma ameaça que não pode prosperar

Acompanho a política desde menino. Não sei se isso foi bom ou ruim. A lembrança mais longínqua que guardo é a de uma cédula, salvo engano, de cor azul, que funcionava como prova (ou recibo) de uma colaboração, em dinheiro, doada à candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes (herói dos 18 do Forte de Copacabana e patrono da Força Aérea Brasileira). Sob o slogan “Vote no brigadeiro, que ele é bonito e solteiro”, sua vitória era dada como certa. Isso ocorreu em 1945, durante a República Velha, na 12ª eleição direta. Data da eleição: 2.12.1945. Em 1950, o censo dizia que tínhamos 51.944.397 habitantes.

Já houve, leitor, esse tipo de contribuição, sem prejuízo do então (módico) caixa 2, que, em nosso “jeitoso” país, remonta, com certeza, ao tempo de Pero Vaz de Caminha. Guardei a cédula durante anos, como se fosse um troféu. Serviu para marcar páginas de algum livro do colégio. O tempo era brabo, de pós-ditadura, e Virgílio de Mello Franco adotou a frase “o preço da liberdade é sua eterna vigilância”, que virou mantra da União Democrática Nacional (UDN), adversária ferrenha do Partido Social Democrático (PSD). Ambos de saudosa memória.

O brigadeiro, autêntico “varão de Plutarco” (a expressão já saiu de moda), não conseguiu eleger-se presidente nas duas vezes que tentou. Em 1945, quando disputou pela UDN, Getúlio o derrotou com o general Eurico Gaspar Dutra, lançado pelo PSD. Dutra foi eleito com 3.351.507 votos. O brigadeiro obteve 2.039.341 votos, e o candidato do insistente Partido Comunista Brasileiro (PCB), Iedo Fiúza, 519.818 votos.

Em 1950, também candidato pela UDN, Eduardo Gomes foi novamente derrotado, agora pelo próprio ex-ditador. Depois de alguns anos, o “pai dos pobres” voltou ao poder pelo voto direto. Caiu pouco tempo depois, durante crise política, cujo oposicionista obstinado era o então jornalista Carlos Lacerda. Não esperou sua derrubada. Preferiu o suicídio, 19 dias depois do atentado da rua Toneleros, em Copacabana – uma trama comandada por Gregório Fortunato, que chamou Climério Eurides de Almeida (da guarda pessoal de Getúlio e amigo de Gregório) e Alcino João do Nascimento. Morreu Rubens Florentino Vaz, major da Aeronáutica, que assumira a segurança pessoal de Lacerda. Lutero Vargas, filho dileto de Getúlio, segundo Alcino, teria sido o mandante.

Inicia-se assim a suposta carta-testamento deixada pelo ditador Getúlio Vargas: “Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar minha voz e impedir minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e, principalmente, os humildes”. E, finalmente, conclui Getúlio: “Eu vos dei minha vida. Agora ofereço minha morte. Nada receio. Serenamente, dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.

De 1945 para cá, por quantas crises graves passou o país? À exceção do enorme aumento da população e do PIB (tornou-se, então, hábito roubar ou gastar sem critério o dinheiro público), que mudanças tivemos em nossa prática política? A resposta é sua, leitor.

A transformação do país depende somente de nós. Exclusivamente. Podemos iniciar agora a construção de um novo Brasil.

A capitulação não é o melhor caminho.

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