quarta-feira, 26 de abril de 2017

O Brasil se atola cada vez mais

O caro leitor deve perguntar-se por que, volta e meia, as opiniões que aqui expresso são marcadas pelo selo do espanto. Reservarei para outro momento minhas reflexões sobre o famoso sítio de Atibaia, não sem antes deixar aqui uma questão que me assalta: como poderiam as duas maiores empreiteiras operar naquele limitado canteiro de obras, sem que uma não soubesse o que a outra fazia? Ou será que trabalhavam consorciadas? Teria alguém pactuado algo com Léo Pinheiro e outro alguém, à revelia daquele pacto, ajustado outra coisa com Emílio Odebrecht? Espero que a Justiça tenha condições de fazer com que a verdade prevaleça.

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Estarrecedora, no entanto, para quem, como eu, vivenciou, por um semestre, a mão de ferro com que Palocci dirigia – não se esqueça, caro leitor, em parceria com Henrique Meirelles – os destinos econômico-financeiros do país, é a candura de seu depoimento ao juiz Sergio Moro. Agora, dispõe-se a fazer revelações “de alta sensibilidade”, a qualquer momento, assim que o juiz quiser, ou a quem Moro designar para ouvir suas revelações. Estas viriam acompanhadas de documentos com nomes, endereços e operações, que, segundo Palocci, seriam, uma vez reveladas, um bem para o Brasil, mas ainda dariam à Lava Jato mais um ano de duro trabalho.

Cairia sentada, ouvindo isso, caso já não estivesse no sofá, de olhos pregados no aparelho de televisão. Afinal, se já foram ou ameaçam ir de roldão as empreiteiras do país, o que poderá acontecer ao sistema financeiro, leia-se “bancos”, caso Palocci abra o bico? Há muito venho dizendo neste espaço que a total subjugação do Brasil a eles se deu justamente no dia 30 de maio de 2003, época em que, com perdão do trocadilho, Palocci era o grande delfim da economia. Naquela ocasião, foi promulgada a Emenda Constitucional 40, que subtraiu ao Estado brasileiro o controle sobre o sistema financeiro, limitando-o à fiscalização dos agentes financeiros da administração pública direta e indireta (art. 163, inciso V da Constituição Federal, tal como promulgada na reforma em pleno governo Lula). A queda do véu desses segredos seria para atolar o país de vez? Pirou todo mundo, até o calado e todo-poderoso Antonio Palocci?

A propósito, como bem noticiou a colunista Raquel Faria neste O TEMPO, o país pagou de dívida pública, apenas neste ano, o equivalente à metade do propalado débito da Previdência. Teria isso a ver com as informações de alta sensibilidade? Palocci se teria arrependido e resolveu entregar o jogo de quem afinal nos colocou a todos no atoleiro em que nos encontramos? Haveria na delação um sinal de esperança para os 13 milhões de desempregados? Um aceno para os que morrem nas filas do SUS? Ou para os que já tiveram de parar de estudar? Ou para os que, aos trancos e barrancos, lutam para fechar as contas no fim do mês?

A intuição me faz temer e tremer em relação ao que possa acontecer. Pior se ainda não tivermos chegado ao fundo do poço da hipocrisia e da desfaçatez.

Sandra Starling

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