sexta-feira, 3 de março de 2017

Velhos carnavais

Foi um escândalo! O cruzamento de dados do TCU com o TSE e a Receita Federal mostrou que mais da metade das doações para as campanhas eleitorais de 2016 foram irregulares, que o R$ 1,41 bilhão arrecadado — e declarado — é suspeito.

Não há crime mais nefasto contra a democracia do que fraudar eleições. Mas eles nem ligam, dizem que é a “luta política”, que todos fazem. Mesmo sabendo que seriam alvo de fiscalização cerrada, é tal a certeza da impunidade, que mais de 250 mil doações foram irregulares, uma parte por erros formais e outra, maior, por fraudes escancaradas. E daí?

O que lhes deu tanta certeza de que não daria em nada? Eles não têm medo de processo, de cadeia, de cassação? Que confiança se pode ter em um politico eleito com essas práticas? Que legitimidade tem uma vitória nas urnas desse jeito? Por que eles gastam tanto para ganhar as eleições? Não é despesa, é investimento.


Com o fim das doações de empresas e a fiscalização das individuais, o cerco fechou. Mesmo com a provável redução drástica do número de partidos, e o consequente aumento da partilha do já bilionário Fundo Partidário, eles querem mais R$ 3 bilhões por ano de dinheiro público para sustentar as máquinas partidárias e as campanhas, “em nome da democracia”...

Volta-se a falar de voto em listas partidárias, que até pode ser representativo se os candidatos forem escolhidos em prévias internas dos partidos e não pelos caciques. Mas fá-las-ão?

Com o caixa dois criminalizado, as doações de empresas poderiam voltar, mas com limites e controles, e proibição de contratos com o governo. Mas, nessas condições, quem doaria?

Esperava-se que uma enxurrada de processos na Justiça Eleitoral acabasse levando à cassação de muitos mandatos conquistados com doações fraudadas. Seria uma boa limpeza na área e um sinal de que o jogo tem novas regras e que elas serão cumpridas. Um avanço para a inevitável reforma política, que podem reformar para pior, ou para que nada mude.

As eleições de outubro parecem um passado remoto e esquecido. Nada aconteceu até agora. Parece que foi ontem ou parece que é sempre?

Nelson Motta

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