sexta-feira, 24 de março de 2017

Febre amarela volta por desatenção com lições da História

A febre amarela que reapareceu no Estado do Rio de Janeiro semana passada e voltou a espreitar áreas urbanas foi um dos principais desafios de saúde pública do Brasil do século 19 para 20. Eliminar a doença das cidades era condição essencial para abrir os portos ao comércio marítimo e a imigrantes estrangeiros e propagar a imagem de um país "moderno".

As lições deixadas por décadas de esforços para erradicar a doença e seu vetor, entretanto, foram ignoradas por governos recentes, dizem historiadores ouvidos pela BBC Brasil.

Serviço de Profilaxia da Febre Amarela
Ao longo do século 20, o combate à febre amarela impulsionou a pesquisa científica e o desenvolvimento de vacinas no Brasil e incluiu capítulos vitoriosos como a gradual eliminação da doença de áreas urbanas e a erradicação temporária do Aedes aegypti.

A última epidemia urbana no país foi registrada em 1942, no Acre. Na mesma década, uma grande campanha regional capitaneada pela Organização Pan-Americana de Saúde começou a mobilizar governos na América Latina para se unir na luta contra o vetor - e declarou, em 1958, ter conseguido livrar onze países do Aedes aegypti, inclusive o Brasil. Em 1967, o mosquito reapareceu no Pará e reconquistou, gradualmente, o território nacional.

"Naqueles tempos, todo mundo conhecia alguém que tinha morrido de febre amarela, não importava a classe social", conta o historiador.

A última epidemia de febre amarela no Rio foi entre 1928 e 1929, quando um surto inesperado na cidade e em 43 localidades do Estado deixou 436 mortes.

Foi um choque para a população e a comunidade científica. Acreditava-se que a cidade tinha se livrado da doença em 1907, após as campanhas bem-sucedidas de Oswaldo Cruz.

Na última semana, a notícia de três casos de febre amarela no Estado do Rio - no município de Casimiro de Abreu - levou a população da capital fluminense a correr para postos de saúde atrás da vacina, acendendo o alerta na cidade e o temor de reurbanização da doença.

Na segunda-feira, a Organização Mundial da Saúde passou a recomendar que turistas que visitem os Estados do Rio e de São Paulo se vacinem contra a doença. A nova recomendação exclui as principais áreas urbanas, não se estendendo ainda a Rio, Niterói, São Paulo e Campinas.

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