terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Uma rede de cumplicidades

Por suspeita de corrupção, a Caixa Econômica Federal iniciou uma revisão dos atos de seus executivos responsáveis pela gestão do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço nos últimos cinco anos. Abriu uma dezena e meia de inquéritos internos para apurar “eventual prática de atos lesivos” em negócios do fundo FI-FGTS. Treze deles foram iniciados nas últimas duas semanas.

Trata-se de um fundo de investimentos de natureza privada, sob administração da Caixa — um banco público —, que na última década empenhou R$ 30 bilhões em projetos escolhidos como prioritários pelos governos Lula, Dilma e Temer. Essa montanha de dinheiro pertence aos 41 milhões de trabalhadores cotistas do Fundo de Garantia. Seu tamanho é suficiente, por exemplo, para cobrir duas vezes o buraco aberto nas finanças do Estado do Rio.


Investigações do Ministério Público e da Polícia Federal indicam perdas superiores a 10% do valor dos ativos do FI-FGTS. Na origem estão financiamentos suspeitos a empresas privadas, decididos em áreas da Caixa loteadas entre o PT e seus antigos aliados do PMDB, entre eles Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima.

Esses prejuízos tendem a ser multiplicados, porque é grande a vulnerabilidade dos sistemas de controle da Caixa, agora desnudada nas milhares de páginas das ações na Justiça Federal. Elas revelam padrões de caos administrativo em negócios bilionários de grupos como JBS, J&F Investimentos, Marfrig, Bertin/Contern, BR Vias, Oeste-Sul, OAS, Comporte, Big Frango, Inepar, Digibrás e Haztec, entre outros.

Nas confissões há relatos de contratos assinados em boates. O suborno variava entre 10% e 30% — quando da “comissão” de um terço do valor do contrato, o empresário levava “garantias” de que não seria importunado com a cobrança do empréstimo.

Os detalhes sobre tráfico de influência, improvisos e métodos incompatíveis com a racionalidade caracterizam a festa com dinheiro dos trabalhadores em negócios obscuros, sob ostensivo patrocínio do PT e do PMDB e encobertos por uma estrutura sindical-corporativista.

É inexplicável que a Caixa tenha demorado ano e meio para começar a investigar suspeitas em negócios com dinheiro do Fundo de Garantia. Ministério Público, Polícia Federal e Controladoria-Geral da União (CGU) estão no caso há 18 meses. A CGU tentou obter uma série de documentos. Às vésperas do Natal de 2015, recebeu alguns dos papéis solicitados. Quase todos censurados.

A Caixa impôs tarjas pretas sobre 90% das páginas dos relatórios sobre as suas decisões de investir recursos do Fundo de Garantia em negócios privados. Um deles, o baiano OAS, recebeu R$ 500 milhões quando já estava à beira da falência.

A decisão tardia sobre os inquéritos internos evidencia uma rede de cumplicidades entre políticos, empresários e burocratas nesse banco público.
José Casado

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