segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Planalto e bancada da corrupção não têm condições de abafar a Lava Jato

No Congresso Nacional, está tudo quase dominado, como se diz na gíria das facções criminosas. Amplamente majoritária, a bancada da corrupção se prepara para colocar em prática a operação destinada a abafar a Lava Jato. A ideia é seguir o exemplo do esvaziamento da operação Mãos Limpas na Itália, que curiosamente foi iniciada no Brasil, com a prisão do chefe mafioso Tommaso Buscetta na cidade de Itapema (SC) pelo delegado federal Pedro Berwanger. Após ser extraditado, Buscetta fez a fabulosa delação premiada que nos anos 90 devassou a corrupção na Itália, envolvendo 438 políticos, e entre eles havia quatro ex-primeiros-ministros. Mas a operação Mãos Limpas acabou inviabilizada por uma série de projetos legislativos e a trama até possibilitou que chegasse ao poder o empresário Silvio Berlusconi. Portanto, deu tudo errado, a corrupção voltou a reinar na política italiana.


No Brasil, a situação é semelhante. A campanha contra a Lava Jato está sendo desfechada pelo próprio governo, com apoio da esmagadora maioria do Congresso, e a estratégia traçada é uma cópia do esquema que deu resultado contra a Mãos Limpas. Aparentemente, tem tudo para conseguir êxito, mas há controvérsias, diria o genial ator Francisco Milani, que foi vereador pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1992.

No caso da Itália, o esvaziamento da Mãos Limpas teve sucesso porque naquela época houve um acerto para amaciar a grande mídia e não existia internet. Além disso, as ações contra a corrupção tinham se tornado tão repetitivas (houve 2.993 mandados de prisão) que ninguém mais dava importância. E o crime organizado – que na Itália é uma espécie de instituição nacional – acabou saindo vitorioso.

Mas no Brasil essa situação não tem como se repetir, porque a internet mudou inteiramente o panorama. A grande mídia perde importância a cada dia e o país já está dominado pelas redes sociais. As notícias mais importantes dos blogs e sites independentes viralizam e são transmitidas por e-mails e celulares, não há quem possa evitar. A reação das redes sociais tornou-se irrepresável, irrefreável, irreparável, é ilusão desconhecer essa realidade.
A morte de Teori Zavascki encheu de esperanças o Planalto e o Congresso, mas a bancada da corrupção não contava com a astúcia da ministra Cármen Lúcia, que convenceu o ministro Edson Fachin a passar para a Segunda Turma e se submeter ao sorteio do novo relator, e as regras do Supremo indicavam que seria ele o escolhido, por ser o mais novo e ter menos processos em estoque.

E logo na primeira semana o relator Fachin mostrou a que veio. Sua primeira decisão de importância foi aceitar a explosiva denúncia da Procuradoria da República contra Renan Calheiros, Romeró Jucá, José Sarney e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. O novo relator mandou abrir inquérito contra eles. Uma decepção enorme para o Planalto e o Congresso, pois julgava-se que Fachin fosse mais “compreensivo” em relação à classe política.

Em tradução simultânea, poder-se-ia dizer que não será nada fácil repetir o que aconteceu na Itália e inviabilizar a Lava Jato. Portanto, Karl Marx estava certo ao afirmar que a História somente se repete como farsa, conforme escreveu em seu ensaio “O 18 de Brumário de Luís Bonaparte”. E aqui no Brasil já estamos cansados de farsas.

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