quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

O incrível mundo da pós-verdade

Uma prosaica nota revela, hoje, quanta tolice e insensatez pode esconder o território da internet.

Um especialista alerta: você não deve nunca assoar o nariz. Fiquei tentado a conhecer as razões, mas resisti ao clique, temendo que o assunto me deixasse exposto ao vírus.

Soube que há um link para os sítios mais inúteis da internet que se apresentam, sem ilusões de marketing, como um declarado desserviço à vida e à produtividade de qualquer pessoa, em qualquer ramo de atividade, o que não deixa de ser uma opção diferente nesse mundo que parece não nos levar a lugar algum.

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Eleita a expressão do ano pelo tradicional dicionário Oxford, a pós-verdade decreta a prevalência da opinião sobre o fato, dos irreality shows sobre a realidade, das celebridades instantâneas sobre os heróis do penoso dia-a-dia.

Assim, a internet pode ser também o mundo dos dramas mentirosos e dos pseudoeventos. Dois gigantes da web resolveram, num acordo de cavalheiros, unir-se agora a produtores de conteúdo jornalístico supostamente sérios para combater a onda de inverdades, boatos, falsas mentiras e meias verdades que prolifera no território digital. Entenderam as notícias falsas como perigosas para a cultura do debate.

Um estudioso da comunicação digital apontou recentemente a web como o lugar onde cada idiota pode ser idiota à sua maneira e todos os imbecis podem ser imbecis impunemente. É o local onde todos têm voz embora não gostem de ouvir e todos têm opinião já formada sobre tudo, embora poucos elucubrem sobre o enigma do nada e o sentido do silêncio.

Outro especialista observou que os grupos dos meios sociais digitais, naturalmente excluem ou expelem aqueles de opiniões divergentes, de modo que os algoritmos que os guiam como estrelas de luz, na verdade, fecham-lhes os caminhos novos e acabam por prendê-los na escura sombra dos gestos repetidos num território que, embora livre, já não liberta.

Um dia nos imaginaram robôs sem vida própria, a repetir sempre os mesmos padrões estéticos e comportamentais, com preguiça para o debate. Conheci um doido, o Bernardino, no tempo em que se usava paletó escuro – que trajava sempre o mesmo paletó surrado e sujo. Não se faz pergunta a doido, mas, ainda assim, quis saber por quê. Ele confessou: nunca tirara o paletó desde o enterro do pai, que padeceu de um vírus depois de assoar o nariz.

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