quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Não falta opinião, mas o que mais interessa é a defesa dos privilégios

Ausentei-me de Belo Horizonte por seis dias. Guiando meu próprio automóvel, enfrentei 350 km para visitar meu irmão Luís Lara Resende, também jornalista. Depois que deixou a faina diária na TV Globo, ao longo de mais de 30 anos, Luís divide o tempo entre Rio e Pedro do Rio. Nem por isso admite refugiar-se por lá da mais grave crise por que já passou o Estado do Rio de Janeiro. Os terríveis destroços dessa crise se mostram, com maior ênfase, em seu interior, e seu reflexo maior está nas olheiras do governador Luiz Fernando Pezão, que ainda passou maus bocados no tratamento de um câncer insidioso.

Cercado pelos diversos matizes do verde, foi de Pedro do Rio, onde também nasce a mais bonita das luas, em manhã de sol e céu estonteantemente azul, sob temperatura extremamente amena, que me detive outra vez a pensar sobre nosso país. Lembrei-me, então, de que, há seis décadas, pelo menos, me preocupo com seu destino, com o que vai nos acontecer, mas, em especial, com o que vai acontecer aos desvalidos, que constituem a imensa maioria de nosso povo. São os deserdados de tudo. Que não têm vez nem voz. “São intrinsecamente bons, mas se tornam violentos diante da injustiça”, como disse certa vez o escritor italiano Domenico De Masi, um eterno apaixonado pelo Brasil.

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O que não nos falta é opinião sobre o que se deve fazer para que o país saia o mais rápido possível dessa desafiante crise, agravada, diga-se a bem da verdade, tanto na política quanto na economia, pelos governos da ex-presidente Dilma. O ex-presidente Lula deve estar arrependido de tê-la indicado como sua sucessora e, depois, de não a ter demovido, em 2014, de ser novamente candidata. Nenhum país, muito menos o nosso, poderia ser entregue a mãos tão inábeis. Talvez seja esse, entre os cometidos pelo petista, seu erro mais grave.

As opiniões, que não nos faltam, sobretudo agora, com a sagrada liberdade de imprensa e com o advento das redes sociais, que aceitam tudo e mais alguma coisa, atendem todos os gostos. Vêm da esquerda ou da direita, de centro-esquerda ou centro-direita, ou dos radicais, tanto da direita quanto da esquerda. Todos opinam, mas nunca se esquecem de deixar claro que o que mais lhes interessa é a defesa de seus próprios privilégios. Nossos políticos, em maioria, ainda não perceberam o risco que correm quando defendem, criminosamente, “seu pirão primeiro”. Brincam com a paciência de um povo que já provou, em diversas oportunidades, como o fez agora no Espírito Santo (o Estado mais bem-governado do país), que a violência, que jamais poderá servir de exemplo, pode, num átimo, transformar-se em realidade.

O prefeito recém-eleito do Rio (pobre e sofrida cidade de são Sebastião!), Marcelo Crivella, esteve em Brasília para convencer ministros do Supremo Tribunal Federal de que, ao nomear o filho seu secretário da Casa Civil, não praticou ato de nepotismo. E, ao defender o guapo rebento, ainda afirmou: “Ele não é suscetível nem melindroso. Ele sabe que a vida pública não é concurso de beleza. Tem controvérsias. É o preço que se paga para conquistar um lugar no coração do povo”.

É bem provável que a melhor opinião esteja com o ex-ministro Carlos Ayres Brito: “Que ninguém se atreva, sozinho ou enturmadamente, a estancar o curso do amazônico rio da Justiça. Da justa e jurídica tomada penal de contas dos defraudadores da inegociável honra do país”. Vale dizer: que todos, enfim, sejam iguais perante a lei.

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