segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Reinventar a cidade

Fala David Harvey, em “Rebel Cities”:

“A cidade, escreveu certa vez o destacado sociólogo urbano Robert Park, é ‘a mais consistente e, de modo geral, a mais bem-sucedida tentativa do homem de refazer o mundo em que vive conforme os desejos do seu coração. Mas, se a cidade é o mundo que o homem criou, ela é o mundo no qual ele está doravante condenado a viver. Assim, indiretamente, sem nenhuma noção clara do sentido de sua tarefa, ao fazer a cidade o homem refez a si mesmo’. Se Park está certo, a questão sobre o tipo de cidade que nós queremos não pode ser dissociada da questão sobre o tipo de gente que queremos ser, o tipo de relações sociais que buscamos, as relações com a natureza que valorizamos, o estilo de vida que desejamos, os valores estéticos que defendemos. O direito à cidade é, por isso, muito mais que o direito de acesso de um indivíduo ou grupo aos recursos que a cidade incorpora: é o direito de reinventar a cidade mais conforme os desejos do nosso coração. É, além disso, direito antes coletivo que individual, já que a reinvenção da cidade depende inevitavelmente do exercício de um poder coletivo sobre os processos de urbanização. A liberdade de fazer e refazer nossas cidades é, quero sugerir, um dos mais preciosos porém negligenciados dos nossos direitos humanos. Como, então, melhor exercer esse direito?”.


É uma pergunta fundamental, que pede uma resposta coletiva. Trata-se de transformar em profundidade a vida citadina. De reinventar a vida urbana. De reimaginar e recriar o cotidiano das cidades – a vida diária de todos nós.

E sabemos do que necessitamos, em termos gerais. É preciso fortalecer os movimentos urbanos, recuperar o poder de modelar a existência citadina, ter como fazer planos e estabelecer metas de longo prazo, diminuir distâncias e desequilíbrios sociais, qualificar de fato os serviços públicos, reduzir o acúmulo de privilégios, frear a febre consumista, investir pesado em capital humano, reconfigurar a classe média tradicional, incentivar o funcionamento de focos múltiplos de cultura, aprofundar a heterogeneidade e a aceitação das diferenças, incrementar práticas e condutas ecologicamente saudáveis, reestruturar nossas relações com as águas urbanas, incentivar a dimensão comunitária da organização e da vida citadinas, reconstruir a base ética da sociedade – como reclamam, com ênfases variáveis, movimentos sociais espalhados por todo o planeta.

E aqui, sem dúvida, tudo aponta para a auto-organização do social.

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