terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O Brasil tem saída: a de sempre

Tem sido um linchamento. Cada vez que estremece e esboça uma reação cai com mais fúria a chuva de pauladas sobre o corpo moído da nação.

No país sem voz é a guerra; 60 mil mortos por ano; 12 milhões de famílias não sabem se comem amanhã. Daí para cima, ou é prostração, ou um mal contido pânico travestido de “fervor cívico” sem propósito definido nem pontaria certa. Nesse segmento “mobilizado” a ordem cronológica está subvertida. Posto diante das entranhas daquilo a que sempre esteve acomodado, esse Brasil não se admite mais como o que é. Projeta como realidade vivida aquilo que deveria ter sido. Todos cobram “dos outros” o que cada um se recusa a entregar de seu. Ninguém se assume como parte constitutiva de um organismo doente e isso tira de cena a idéia de buscarmos juntos uma cura. A conflagração ocupa todos os espaços. O passado transformou-se em arma de destruição do futuro.

Quem “ganha”, quem “perde” com cada golpe desferido? O dano infligido ao país nunca entra em consideração. O interessado em reformas “é o governo”, não o país. A imprensa não cobre o Brasil; a imprensa cobre a disputa de Brasília pela carniça do Brasil. Lá, sim, são “impopulares” as medidas de salvação nacional. Não ha desempregados discutindo a crise na televisão. Tudo é filtrado pela ótica do poder e é isso que alimenta esse pandemônio.

Não tem nada a ver com jornalismo trombetear aquilo a que facções em luta “lhe dão acesso” na hora e no lugar que elas escolherem. Isso não é informar, é tornar-se parte. A garantia de sigilo para alardear “furos” que não são “furos” contrata os próximos atentados contra a nação. De prático ela só fica com a retaliação da retaliação da retaliação. O Judiciário ataca Renan porque Renan desafiou os privilégios do Judiciário. E Renan só desafia os privilégios do Judiciário porque o Judiciário atacou Renan. Não tem nada a ver com justiça nem com zelo pela austeridade.

Essa briga só acaba se for “narrada” como o que é. Nesse filme a sequência é que é o fato, não cada factóide tomado isoladamente. A quebra da impunidade dos corruptos arrombou a porta mas a luta pelo poder montou nas costas dela. Doze milhões de empregos morreram quase ignorados. Mas então a gangrena da arrecadação cessante tomou o Rio Grande do Sul e subiu para o Rio de Janeiro. Agora é em Minas Gerais que o sangue deixou de circular. Não vai parar por aí. Com o naufrágio do Estado seguindo o da nação com três anos de atraso e a súbita virada dos ventos do sacrificio, a luta tornou-se, de repente, feroz. Exumam-se velhos cadáveres e cobram-se dívidas ha muito acochambradas numa sequência frenética mas não ha rigorosamente nada que já não se soubesse ou que não tivesse sido extensamente publicado. É impossível ignorar em boa fé a relação de causa e efeito entre esses requentamentos e cada tentativa esboçada de impor limites ou recuos aos privilégios de corporações poderosas. Prender e soltar pessoas de forma seletiva e arbitrária sob o pretexto de crimes de todos conhecidos mas sempre relevados não são vitórias da justiça, são só expedientes para impedir que o ajuste das contas publicas avance pelo único caminho pelo qual ele pode de fato se dar.

Nesse lado do problema os dados são claríssimos. Não ha preço, na arena global, que comporte os privilégios das corporações que se nutrem de quem produz no Brasil. Essa referência é inamovível. Não ha liminar, falcatrua regimental, “acordão”, “movimento social” ou estelionato inflacionário suicida que consiga tira-la de onde está. As coisas terão obrigatoriamente de ser arrumadas desse marco para trás ou permaneceremos expulsos do mundo.

A PEC do teto de gastos (que está na constituição mas ninguém cumpre), a reforma da Previdência e os ajustes microeconômicos, todos imprescindíveis, só põem dinheiro no caixa lá adiante mas o país está falido aqui e agora. Não ha como escapar. Vai ser preciso mexer no “imexível”. Carros, frotas de jatos, mordomias e “auxílios” obscenos, isenções, acumulações, viagens, super-salários, super-aposentadorias, tudo isso vai ter de sair da conta para que possam voltar a caber nela os salários e aposentadorias sem mais adjetivos dos funcionários que não entraram no serviço público pela janela e mais a saúde e a segurança pública que se requer. O mínimo fora do qual é o caos.

Parece impossível hoje mas as prerrogativas medievais dessa casta são biodegradáveis. Dissolvem-se no escândalo das proporções indecentes que tomaram assim que forem expostas ao sol. Eis aí um bom papel para a imprensa. Apressar o inevitável é um meio certo e seguro de evitar o desperdício de mais uma geração e salvar milhões de famílias das tragédias que vêm vindo a galope. Mas mesmo que ela persevere na omissão de fazer da denuncia desses privilégios a sua obsessão, a agonia do funcionalismo desadjetivado vai produzir o milagre. E logo. Só que aí o preço sairá dobrado…

O Brasil precisa estar vivo para chegar ao fim desta travessia. E é com os políticos que temos que teremos de fazê-la. Seguir olhando só para trás é mergulhar inevitavelmente na conflagração. O Brasil não tem conserto dentro do que é hoje. O remédio para a doença que nos aflige é conhecido desde 1776. Chama-se igualdade perante a lei. Não existe outro. Consiste em reestruturar o Estado e a nação segundo o princípio de que tudo que não vale para todo mundo tem de deixar de valer para quem quer que seja. E sendo os operadores da Republica no Judiciário e no Legislativo os principais beneficiários da situação que exige reforma, estender os direitos dos eleitores para depois das eleições com a instituição do “recall” dos representantes e do “referendo” das leis dos legislativos por inciativa popular tem sido, historicamente, o instrumento que, ao transferir o poder de decisão final das mãos dos “contribuídos” para as dos contribuintes, inicia esse tipo de revolução pacífica e a torna irreversível.

Meu último desejo

Sim, senhores, eu vou contar tudo que aconteceu e que me levou a estar aqui depondo no FBI. Sim, vou chegar ao meu crime, mas antes devo dizer a vocês, senhores policiais, que tudo começou quando surgiram dores insuportáveis nos meus ossos. Fiz todos os procedimentos clínicos e voltei para saber do resultado.

O médico conferia meus exames, e eu não gostei de sua cara. Ele visivelmente tentava um sorriso calmo e ganhava tempo para me dar o diagnóstico. Eu olhava seu consultório, esperando um elefante de prata na mesinha, órgãos embalsamados em vidros numa estante. Um rim, pedaços de músculos, ossos e, estranha coisa, num canto da sala pendurado do teto, um grande mamulengo, um boneco nordestino, pendurado como um cristo enforcado. Finalmente, o médico me olhou. Ele estava com medo ao me dizer que exames não eram bons e meu deu a sentença: “Creio que não vale a pena operar, pois... (surgiu a verdade como uma facada) houve metástase da coluna para as vértebras, indo até o fígado, de modo que...”

– O quê? – perguntei com uma gota de esperança.

– Ao senhor só resta esperar e... aproveitar com a família e amigos a vida que ainda tem.

– Não tenho mais família.

O medico sorriu amargamente.

– Realize seus desejos...

– Quanto tempo? – perguntei.

– Difícil dizer; três, quatro meses...

A janela estava roxa do crepúsculo.


Quando eu saí pela rua, pensava – que desejos? Eu ainda não sabia, Mr. Officer. Eu sofria como um cão, mas apossou-se de mim uma estranha calmaria, um sossego com a perda da esperança. Finalmente eu tinha um destino traçado. Eu carregava a tragédia pelas ruas como um segredo valioso – ninguém sabia de si, a não ser eu.

Entrei em casa e não olhei o espelho com medo de não ser refletido. Minha casa só tinha móveis, não tinha ninguém. Nem o cachorro que desisti de comprar, achando-me ridículo com um lulu-da-pomerânia assistindo ao meu declínio.

Ocorreu-me antes de tudo o sexo. Mergulhei em puteiros sofisticados, onde colhia flores num jardim de mulheres. Em pouco tempo, cansei de ver as meninas com medo de meus gritos no orgasmo, como uma dor lancinante. Drogas, sim, tomei, sim, Mr. Officer, elas matam aos poucos, mas e daí? Nada de pó vagabundo, eu tinha posses, graças a Deus, e podia comprar cocaína de Santa Cruz de La Sierra, pó cujo baque durava horas de euforia doida, seguida sempre de depressões devastadoras, lágrimas e vômitos.

“Meu desejo qual é?”, pensava, andando pelas ruas imundas do Rio falido: obesos se arrastando, meninos jogando bolinha nos sinais, travestis sem fregueses com a maquiagem escorrendo, uma puta leprosa dançando na rua. Finalmente, tive a certeza: vou embora desta merda de país. Vou curtir lá fora. Primeira classe. Graças a Deus, dinheiro eu tinha.

Nova York sempre me deu a sensação de felicidade vitoriosa. Mas, agora, pairava sobre a cidade uma névoa invisível, como uma grande depressão sobre os arranha-céus. Rostos baixos, discussões ríspidas sem motivo, o taxista paquistanês queria me dar porrada, os museus estavam vazios, e mesmo obras da grande arte me pareciam inúteis naquele momento: para quê?

Andava pelas avenidas, vendo rostos sofridos, pensando na minha morte cada vez mais próxima. Minhas dores amainaram, através de mil gotas de morfina, que, soube, já consolava sofrimentos desde o tempo dos faraós. Imaginei-me um faraó sem dor no alto do Empire State, de onde olhei a cidade triste. Quem sou eu, faraó inútil, que nunca fez nada pela pátria ou raça? Não era possível minha vida passar em brancas nuvens.

Mas, como encontrar felicidade nos parcos dias que me restavam? As Torres Gêmeas já não existiam. Osama deve ter morrido com orgulho pelo seu horrendo crime. Alguma coisa relevante eu tinha de fazer. Como ele.

Na loja de armas, vi o belíssimo rifle de assalto F2000, construído pela FN Herstal na Bélgica, municiado com calibre 5,56 mm x 45 mm. Como são belas as armas mortais! Depois de comprá-la, sob o olhar suspeitoso do vendedor, me senti poderoso e até com uma ponta de esperança. A esperança é a última que morre, diziam, mas no meu caso era a primeira. Ha-ha... Desculpe-me, Mr. Officer, mas esses detalhes são para que todos entendam a importância do meu gesto.

Alguma coisa tinha-se perdido em Nova York. Os negros passavam por mim e voltaram a ter aquela palidez antiga, quando humilhados nos anos 60. Jovens passavam sem rir. Mulheres nervosas apressavam-se com olhos temerosos. Imenso aumento de “sem-teto” no metrô. Era Natal, mas até a famosa árvore do Rockfeller Center estava quase apagada, com ramos descaídos.

O hotel Waldorf-Astoria, inaugurado em 1931, abrigava os participantes de uma “cúpula”, para tentar alguma solução para o trágico Ocidente agora desorientado. A humanidade vivia em suspense, sob delírios irracionais, totalitários. Grandes perigos rondavam depois das últimas eleições americanas. Até guerra nuclear voltou a ser possível.

Eu estava em frente ao hotel, bem-vestido, maquiado para esconder a doença, com uma aparência impecável mascarando minha lenta agonia.

Foi então que tudo começou a acontecer, Mr. Officer. Surgiu na porta art-déco do hotel a grande comitiva que eu esperava, imóvel na calçada.

Os líderes mundiais saíam, sorridentes, como se o mundo fosse uma primavera. Eu tinha parado com a morfina, pois queria sentir a dor do meu desejo. Trêmulo de sofrimento, meu rifle F2000 começou a atirar.

Minha dor era mesclada com certo triunfo, ao ver o monte de seguranças tentando salvar o corpo que caíra, trespassado por minhas balas calibre 5,56 mm. E vós, police officers, podeis me matar, cadeira elétrica, forca, o que quiserem. Dane-se; eu só tenho um mês de vida mesmo.

Mas, graças a Deus, usei esse tempo para ajudar a acabar com o pesadelo americano.
Antes de vocês me prenderem, a última imagem que vi foram cabelos alaranjados junto à sarjeta, cabelos de um corpo enorme, como um grande urso feroz ou um imenso periquito ensanguentado. Vou morrer, tudo bem, mas ajudei a salvar a humanidade.

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Pawel Kuczynski

O que os brasileiros pediram a Papai Noel?

Nos últimos anos, o melhor presente que Papai Noel deu aos brasileiros foi a Lava-Jato. No fim de 2013 estavam sendo investigadas quatro organizações criminosas que se relacionavam entre si e eram lideradas por doleiros. Entre eles, o proprietário de uma casa de câmbio em um posto de combustíveis localizado em Brasília — que lavava, até, automóveis.

Lembro-me de uma ocasião em que a máquina de lavagem automática arrancou o limpador de para-brisa do meu carro. Provavelmente, lavar veículos não era a maior especialidade do estabelecimento. Assim surgiu o nome “Lava-Jato”, que deu origem à maior investigação de corrupção já realizada no Brasil. As 118 condenações já somam, juntas, 1.256 anos, seis meses e um dia de penas aplicadas. O valor total do ressarcimento solicitado (incluindo multas) atinge R$ 38,1 bilhões.

Às vésperas do Natal e Ano Novo, tradicionalmente renovam-se os pedidos ao bom velhinho e são consultados os astros, os búzios, as cartas — e até os economistas — sobre as previsões para o próximo período. Números não faltam. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, a inflação em 2017 será de 5%, inferior, portanto, a deste ano, que deverá atingir 6,6%. A Selic, na esteira da redução inflacionária, chegará ao final de 2017 em 10,75%. A taxa de desemprego aumentará para 12,4%. Depois de dois anos em queda, o PIB, enfim, crescerá 0,5%. O déficit primário do governo central será de R$ 183,8 bilhões (2,72% do PIB), o maior da história. A relação dívida bruta/PIB chegará a 76,2%. As estimativas da CNI são factíveis e assemelham-se àquelas do mercado financeiro divulgadas periodicamente pelo Banco Central. Neste cenário, o presidente Temer iniciaria o ajuste fiscal e algumas reformas e entregaria um Brasil melhor ao seu sucessor.

Os desdobramentos da Lava-Jato, entretanto, podem propiciar conjuntura completamente diferente. Um cenário fictício desastroso para Temer seria, por exemplo, o seguinte: as delações dos 77 executivos da Odebrecht implodem o mundo político e envolvem Temer e seus principais auxiliares; com a maior perspectiva de poder, pois o cargo de presidente da Câmara dos Deputados é o primeiro na linha sucessória, as eleições para a presidência da Casa são acirradas e fracionam os aliados; o desgaste de Temer compromete a sua base política e a aprovação no Congresso de medidas impopulares; a reforma da Previdência não avança e torna inócua a PEC do teto dos gastos; surgem documentos comprobatórios oriundos do Departamento de Propina da Odebrecht; a popularidade de Temer, que já é baixa, despenca; fica comprovado que a chapa Dilma/Temer recebeu em 2014 dinheiro de caixa 2 da Odebrecht, o que agrava a investigação do TSE e precipita o julgamento; o presidente da Câmara assume temporariamente e ocorrem articulações para a escolha indireta do novo presidente da República.

Um terceiro cenário hipotético seria a renúncia de Temer e a antecipação das eleições de 2018, em nome da pacificação do país. A hipótese foi aventada por políticos experientes como Pedro Simon e Ronaldo Caiado. Sem dúvida, o presidente Temer está na corda bamba, tal como um novato praticante de slackline.

Apesar das previsíveis turbulências econômicas e políticas, estamos perto de grandes avanços ou de enormes retrocessos. O pão cairá com a manteiga para baixo se os parlamentares investigados conseguirem produzir leis que os protejam, tal como o texto que intimida promotores, procuradores e juízes. Desta forma sairia impune a centena de velhacos que tornaram tão promíscuas as relações entre gestores públicos, políticos e empresários. Também será péssimo se o Supremo Tribunal Federal (STF) — que não tem estrutura, vocação e gosto por processos do tipo, conforme afirmou o ministro Barroso — não conferir celeridade às investigações e aos julgamentos das excelências de foro privilegiado, gerando prescrições e impunidade.

No entanto, o pão cairá com a manteiga para cima se os culpados forem punidos e execrados da vida pública, abrindo espaço para o surgimento de novas lideranças e métodos políticos calcados no interesse público e na decência.

Neste Natal, o pedido a Papai Noel da maioria dos brasileiros é a continuidade da Lava-Jato. O Ministério Público e o STF, ao cumprirem as suas atribuições constitucionais, poderão refundar a política brasileira.

Depois de tanta luta, nada de morrer na praia. Nas conjunturas dos astros sempre há espaço para acreditarmos nos homens de boa vontade. Mesmo que seja Papai Noel. Feliz Natal e um ótimo 2017!

Gil Castello Branco

$anta Claus

Jesus escolheu, para nascer, um deserto subtropical onde jamais nevou, mas a neve se converteu num símbolo universal do Natal desde que a Europa decidiu europeizar Jesus.

O nascimento de Jesus é, hoje em dia, o negócio que mais dinheiro dá aos mercadores que Jesus tinha expulsado do templo
Eduardo Galeano

Fraude amazônica

É um colosso plantado na Amazônia, no leito do rio Xingu, na altura de Altamira (Pará). Vai começar este verão com a quarta turbina instalada, depois de 41 anos de um conturbado processo de planejamento e execução de obras.

Ganhará outros quatorze motores até o Natal de 2019, transformando-se numa das maiores usinas hidrelétricas em operação no planeta. A energia vai ser extraída de um lago artificial de tamanho equivalente a 64 áreas como Copacabana. Quando estiver operando à plena força, Belo Monte terá capacidade suficiente (11.233,1 MW) para abastecer 40% das residências brasileiras.

Erguida em concreto suficiente para a construção de 48 Maracanãs, a usina de Belo Monte se tornou um majestoso monumento à fraude em negócios do setor público, a um custo que já supera R$ 30 bilhões.

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A primeira análise dos gastos com construção, realizada por auditores por encomenda do Ministério Público, revelou sobrepreço de R$ 3,3 bilhões. É o produto da soma de R$ 2,9 bilhões na cobrança de preços acima do mercado e de R$ 400 milhões em despesas sem fundamento, inconsistentes ou simplesmente injustificadas.

Isso foi apurado durante o exame de apenas 53% dos contratos de obras civis, nos quais foram gastos R$ 7,7 bilhões. Os auditores não conseguiram ir além. Porque o grupo estatal Eletrobrás (dono de 49,9% do do empreendimento) e a Norte Energia (concessionária que funciona com 95% de capital público), "impuseram toda espécie de dificuldades" à fiscalização — da entrega de arquivos eletrônicos bloqueados à sonegação de informações, segundo o Tribunal de Contas da União.

Ainda assim, somente com a perícia em pouco mais da metade dos contratos de obras de Belo Monte, já se chegou a um volume de desvios de dinheiro equivalente à metade dos prejuízos com corrupção declaradas pela Petrobras no balanço contábil de 2014, divulgado em abril do ano passado.

O caso da hidrelétrica de Belo Monte sugere a probabilidade do setor elétrico estatal vir a superar os limites já conhecidos da criatividade em trapaças com dinheiro público, sob cegueira deliberada — ou consentida — de líderes políticos, beneficiários diretos ou indiretos nas planilhas empresariais de financiamento eleitoral.

Depoimentos de executivos das empreiteiras que integram o consórcio construtor (Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia e OAS) indicam que em Belo Monte foi aplicada cobrança de propina numa base percentual de 1% a 1,5% sobre contratos de obras e de equipamentos. Metade foi coletada para o Partido dos Trabalhadores e outra metade recolhida para o PMDB.

Essa partilha de subornos foi negociada por Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda de Lula e ex-chefe da Casa Civil de Dilma, segundo executivos responsáveis pelos pagamentos das empreiteiras. O objetivo era financiar campanhas eleitorais de 2010 e de 2014.

Há quatro décadas o Brasil flertava com o projeto de uma super-hidrelétrica na Amazônia. Não havia nada além de uma velha ideia. Construiu-se Belo Monte, para benefícios ao PT e ao PMDB.

Começa a festa

Barbra Streisand com Michael Buble em programa natalino de 2014

Que feio é viver!

No princípio, a Igreja cristã fazia pouco caso dos aniversários. A única data que importava era a da Segunda Vinda de Cristo, e essa estava além do entendimento humano. Mas a partir do século II o nascimento milagroso começou a ser celebrado pelos cristãos do mundo inteiro, inspirando em um de seus mais célebres opositores o que talvez tenha sido o primeiro conto de Natal. O neoplatônico Celso, fazendo pouco caso do que chamava de “fábulas fabricadas”, escreveu uma versão do evento sagrado na qual Cristo nasce em uma aldeia da Judeia fruto de uma camponesa adúltera e um soldado romano chamado Pantero. Essa variação racionalista é a remota antepassada de outras mais recentes: A Última Tentação de Cristo, de Nikos Kazantzakis; O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago; O Testamento de Maria, de Colm Tóibín. Mas é Dickens quem define para nós o que é (ou precisa ser) um conto de Natal com uma árvore faustosamente decorada, doces, ponche e peru assado, e acima de tudo, a mágica transformação de sentimentos mesquinhos em generosos e altruístas.


Talvez porque todo escritor, como Celso, encarne o espírito artístico da contradição, em lugar de continuar com o tom exultante de Dickens, os contos de Natal de nossa época são em geral lúgubres e pessimistas, como se quisessem lembrar-nos que nessa data, a mais feliz de todas no calendário cristão, novas Marias continuam sendo despejadas pelo dono da hospedaria, e que novos Cristos sofrem a traição, o escárnio e a cruz.

John Cheever em O Natal é Triste para os Pobres, Alice Munro em A Estação do Pavão, Vladimir Nabokov em Natais, Sergio Ramírez em San Nikolaus ou Michel Tournier em Mamãe Noel descrevem o Natal como uma festa de angústia e solidão, como para nos advertir de que, em meio a ceias opulentas e montanhas de presentes, nossa condição humana aguarda ainda a redenção prometida.

Alberto Manguel

Jornalismo, produto essencial

Antes da era digital, em quase todas as famílias existia um álbum de fotos. Lá estavam as nossas lembranças, os nossos registros afetivos, a nossa saudade. Muitas vezes abríamos o álbum e a imaginação voava. Era bem legal.

Agora fotografamos tudo e arquivamos compulsivamente. Nosso antigo álbum foi substituído pelas galerias de fotos de nossos dispositivos móveis. Temos overdose de fotos, mas falta o mais importante: a memória afetiva, a curtição daqueles momentos. Fica para depois. E continuamos fotografando e arquivando. Pensamos, equivocadamente, que o registro do momento reforça sua lembrança, mas não é assim. Milhares de fotos são incapazes de superar a vivência de um instante. É importante guardar imagens. Mas é muito mais importante viver cada momento com intensidade. As relações afetivas estão sucumbindo à coletiva solidão digital.

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Algo análogo, muito parecido mesmo, se dá com o consumo da informação. Navegamos freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersa a inteligência. Ficamos reféns da superficialidade. Perdemos contexto e sensibilidade crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário personalizado. Será? Não creio, sinceramente. Penso que há uma crescente nostalgia de conteúdos editados com rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma demanda reprimida de reportagem. É preciso reinventar o jornalismo e recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e a magia do jornalismo de sempre. É preciso olhar para trás para dar saltos consistentes.

“Hoje”, dizia Nelson Rodrigues, “ninguém imagina o que eram as velhas gerações românticas da imprensa. Mudaram o jornal e o leitor. No ano passado, houve uma chuva inédita, uma chuva bíblica, flagelando a cidade. Desde Estácio de Sá, não víamos nada parecido. E todo mundo morreu e desabou, e se afogou, menos o repórter. Não houve uma única baixa na reportagem. Fez-se toda a cobertura do dilúvio e ninguém ficou resfriado, ninguém espirrou, ninguém apanhou uma reles coriza. Por aí se vê que há, entre a nossa imprensa moderna e o fato, uma distância fatal. O repórter age e reage como um marginal do acontecimento. Antigamente, não. Antigamente, o profissional sofria o fato na carne e na alma.”

Jornalismo sem alma e sem rigor. É o diagnóstico de uma perigosa doença que contamina redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm cheiro do asfalto. As empresas precisam repensar os seus modelos e investir poderosamente no coração. É preciso dar novo brilho à reportagem e ao conteúdo bem editado, sério, preciso, isento. O prestígio de uma publicação não é fruto do acaso. É uma conquista diária. A credibilidade não se edifica com descargas de adrenalina.

É preciso contar boas histórias. Com transparência e sem filtros ideológicos. O bom jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história. Na verdade, a batalha da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, da preguiça profissional e da incompetência arrogante. Todos os manuais de redação consagram a necessidade de ouvir os dois lados de um mesmo assunto. Mas alguns procedimentos, próprios de opções ideológicas invencíveis, transformam um princípio irretocável num jogo de aparência.

A apuração de mentira representa uma das mais graves agressões à ética e à qualidade informativa. Matérias previamente decididas em guetos sectários buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é honesta, não se apoia na busca da verdade, mas num artifício que transmite um simulacro de isenção, uma ficção de imparcialidade. O assalto à verdade culmina com uma estratégia exemplar: repercussão seletiva. O pluralismo de fachada, hermético e dogmático, convoca pretensos especialistas para declarar o que o repórter quer ouvir. Mata-se a notícia. Cria-se a versão.

Sucumbe-se, frequentemente, ao politicamente correto. Certas matérias, algemadas por chavões inconsistentes que há muito deveriam ter sido banidos das redações, mostram o flagrante descompasso entre essas interpretações e a força eloquente dos números e dos fatos. Resultado: a credibilidade, verdadeiro capital de um veículo, se esvai pelo ralo dos preconceitos.

A precipitação e a falta de rigor são outros vírus que ameaçam a qualidade. A incompetência foge dos bancos de dados. Na falta de pergunta inteligente, a ditadura das aspas ocupa o lugar da informação. O jornalismo de registro, burocrático e insosso, é o resultado acabado de uma perversa patologia: o despreparo de repórteres e a obsessão de editores com o fechamento. Quando editores não formam os seus repórteres, quando a qualidade é expulsa pela ditadura do deadline, quando as pautas não nascem da vida real, mas de pauteiros anestesiados pelo clima rarefeito das redações, é preciso ter a coragem de repensar todos os processos.

A crise do jornalismo está intimamente relacionada com a perda de qualidade do conteúdo, com o perigoso abandono de sua vocação pública e com sua equivocada transformação em produto mais próprio para consumo privado. É preciso recuperar o entusiasmo do “velho ofício”. É urgente investir fortemente na formação e qualificação dos profissionais. O jornalismo não é máquina, tecnologia, embora se trate de suporte importantíssimo. O valor dele se chama informação de alta qualidade, talento, critério, ética, inovação.

Sem jornalismo público, independente e qualificado, o futuro da democracia é incerto e preocupante. O jornalismo precisa recuperar a vibração da vida, o cara a cara, o coração e a alma.

A todos, feliz Natal!

Carlos Alberto Di Franco

Depois conta pra gente, deputado

Nenhum país suporta ser esfolado de tantas formas, por meios que vão da mais fingida generosidade à mais sofisticada engenharia criminosa. Entre esses dois extremos cabem muitos outros drenos de recursos: expropriação corporativa; esbanjamento nouveau riche; encargos da solidariedade ideológica nacional e internacional; descalabro administrativo; keynesianismo de prodigalidade; loucuras dos Programas de Aceleração do Crescimento, Brasil Maior, empresas campeãs nacionais; delírios do pré-sal, Jogos Olímpicos, Copa, e por aí vai.

A partir de 2005, começou a ficar evidente a extensão da crise que sobreviria como consequência de uma política que surtava ante a ideia da responsabilidade fiscal. O desastre se tornou inevitável pela teimosa repetição dos erros pois bastam alguns anos com a despesa crescendo acima da receita para que esse desajuste comece a derrubar o Produto Interno Bruto. E quando isso acontece, a despesa pública sacode os ombros e vai em frente como se não lhe dissessem respeito as dificuldades do caixa. Consequentemente, o déficit não para de aumentar e o PIB não para de diminuir. Tal realidade deveria suscitar preocupações nas duas extremidades da relação público-privado. Mas isso não acontece fora de alguns círculos técnicos.

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No primeiro lado dessa relação estão todos aqueles cujo ganha-pão vem das folhas de pagamento rodadas no setor público e dos negócios que com ele são mantidos. Nesse numeroso grupo é quase consensual a necessidade de reduzir o gasto e equilibrar as contas, contanto que tais providências se apliquem bem longe de onde cada um opera. No segundo lado dessa relação estão todos os demais cidadãos, aqueles cujo trabalho no setor privado gera a riqueza da qual saem os tributos que irão pagar as despesas dos entes estatais. No Brasil, esse grupo de cidadãos, imensa maioria da população nacional, está culturalmente submisso à ideia de um setor público mais bem protegido e aquinhoado nas relações de trabalho. Entre as consequências de tais distorções se inclui o fato de que poucos jovens brasileiros estudam com tanto afinco quanto aqueles que decidem se preparar para um concurso público. Que eu saiba ninguém se dedicou, ainda, a calcular o custo financeiro dessa negligência, tão comum entre nossos jovens, com a própria formação para a vida na esfera das atividades privadas.

Resultado da cultura estatista: o gasto excessivo gera mais reclamações pela má qualidade dos serviços, do que pelo tamanho e peso tributário que o Estado assume e expande sem cessar.
***

O parlamentar petista ocupava a tribuna da Câmara dos Deputados. Da alienação por onde divagava (Freud explica), era fácil depreender que recém retornara de um voo em 1ª classe à constelação de Andrômeda. Na viagem, por essas coisas do tempo e do espaço (Einstein explica), sumiram os catastróficos governos petistas. E ele lançava maldições à PEC do teto, que denunciava como produto de mentes perversas, ignorantes de rudimentos da ciência econômica: "Com o que vocês estão fazendo vai faltar dinheiro para tudo! Já deveriam saber que em tempo de recessão cabe ao governo gastar para ativar a economia. Certo?".

Errado, deputado. Como o senhor está chegando de viagem intergaláctica, esquece que a recessão foi causada pelo aumento desmesurado do gasto e do déficit primário. Não é que vá faltar dinheiro para tudo no futuro. O dinheiro já acabou, deputado. Mas eu tenho uma excelente utilidade para sua sugestão: aplique-a em casa. Em vez de conter despesas, resolva os problemas financeiros da família obrigando mulher e filhos a aumentarem seus gastos. Depois conte pra gente, deputado.

Percival Puggina

Paisagem brasileira

Rego dos Carrapatos, Jésus Ramos

Corrupção travou o crescimento, concentrou a renda e empobreceu a população

Esta é a constatação a que inevitavelmente se chega ao dar um balanço sobre o desempenho da economia brasileira atingida fortemente pela corrupção. Não se trata apenas do que foi superfaturado, mas o deixou de ser feito por falta de muitos recursos públicos que foram canalizados para o bolso de poucos. Este é o lado pouco visível da onda de assaltos que concentrou a renda, fomentou o desemprego e empobreceu o país. Ao lado de tudo isso, um vendaval de descrédito desanimou o povo brasileiro.

Reportagem de Fernando Canzian, Folha de São Paulo de segunda-feira, analisa esse efeito focalizando principalmente o Nordeste. A matéria é muito boa, porém os efeitos tóxicos da corrupção abrangeram todo o país. O desemprego é uma consequência, a queda do consumo é outro fator, o temor de ter que enfrentar atrasos nos salários representa mais uma face do processo crítico brasileiro.

Os atrasos de pagamento atingem mais o funcionalismo público e o funcionalismo público é um mercado consumidor essencial à recuperação econômica.

A corrupção colocou o governo dentro de um círculo de giz, do qual não consegue se livrar. Fala-se sempre em cortar despesas, mas é preciso levar-se em conta a necessidade de elevar as receitas. E elevar as receitas é meta que só a retomada do desenvolvimento poderá proporcionar. O impasse, assim, é muito grande e permanece desafiador.

Aliás, os desafios vão se somando uns aos outros. Veja-se agora, por exemplo, as 77 delações apresentadas pela Odebrecht encaminhadas pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal.

O relator no STF Teori Zavascki terá uma árdua tarefa pela frente ao analisar os conteúdos enviados a Corte Suprema. Porém, constata-se de plano que tais delações não podem conter dados falsos. Afinal de contas, os textos dificilmente pertenceriam a uma ficção literária coletiva, sobretudo porque é muito mais fácil relatar-se a verdade do que se recorrer à imaginação para criar situações convincentes.

Como se observa, será mais uma tormenta com que o país vai se defrontar, na esteira sequente do mensalão de 2005 e do petrolão de 2014.

O governo Michel Temer, além da articulação política que desenvolve, terá pela frente mais um enorme obstáculo: assegurar essa coordenação partidária diante das denúncias que vão surgir contra os personagens que ocupam cargos no poder.

E tudo isso sem esquecer o compromisso de ter de recuperar a economia e retomar os níveis de emprego, porque, sem emprego e salário, nenhum país pode avançar. A retração do Produto Interno Bruto é a prova mais concreta.

Ano de 2017 está trancado na sala-cofre do STF

Charge (Foto: Chico Caruso)
O futuro da política brasileira no ano de 2017 está aprisionado numa sala-cofre no terceiro andar do prédio do Supremo Tribunal Federal. Ali estão trancados desde a manhã desta segunda-feira os cerca de 800 depoimentos prestados por 77 delatores da Odebrecht.

A julgar pelo pouco que vazou até aqui, sabe-se que 2017 não será um Ano Novo. Tampouco será um ano feliz. Será um ano de mais turbulência política, com inevitáveis reflexos na economia. Com sorte, o ano será de estagnação econômica. Com azar, haverá recessão pelo quarto exercício consecutivo.

A expectativa geral é de que o ministro Teori Zavaschi, relator da Lava Jato no Supremo, homologue os acordos de delação da turma da Odebrecht. Teori informou que seu gabinete manterá as fornalhas acesas durante o recesso. Assim, o trabalho estará avançado no início de fevereiro, quando terminam as férias do Judiciário.

O Minitério Público Federal se equipa para colocar os inquéritos em marcha até o mês de março. Aí começa a temporada de batidas policiais, depoimentos coercitivos, prisões temporárias e preventivas.

Quando tudo o que foi delatado vier à luz, o brasileiro se dará conta de que o Brasil não era dirigido a partir do Palácio do Planalto. As grandes decisões do país eram tomadas numa salinha do edifício-sede da Odebrecht, em São Paulo. Nessa sala, funcionava o Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht —departamento de propinas, para os íntimos.

A partir desse departamento, a Odebrecht realizou o melhor programa de governo que seu dinheiro foi capaz de comprar. E ainda se divertiu colocando apelidos nos políticos enquanto colava neles o código de barras. Os dirigentes ocultos do Brasil se divertiam muito no departamento de corrupção da Odebrecht.

Temer mantém a imoralidade de gastos do governo Dilma

Pelas atitudes anárquicas com o dinheiro público, tudo indica que o Brasil trocou seis por meia dúzia, quando se constata que as práticas perversas desse governo de torrar o dinheiro do contribuinte são as mesmas da Dilma. Em um país com a economia aleijada, com os municípios e estados falidos, sem perspectiva de curar a ferida a curto prazo, é inconcebível que alguns privilegiados do Planalto tenham gastado em cinco meses R$ 2,1 milhões com cartão corporativo, como informa a coluna do Cláudio Humberto. E mais: R$ 665 milhões em diárias. Isso mesmo, 665 milhões! Sinceramente, um país como esse não pode dar certo com o Lula, com a Dilma, com o Temer nem com ninguém com esses métodos. É tudo farinha do mesmo saco.

Esse tal de cartão corporativo é uma excrescência do serviço público. Foi criado para pilhar o dinheiro do brasileiro amparado por uma lei absurda, draconiana, que esconde da população os gastos de um seletivo grupo do governo. A farra é tão desmensurada que até tapioca o cartão já financiou. Lembra? Orlando Silva, então ministro do Esporte do governo do PT, deu uma cartãozada na vendedora que, para não ser humilhada pelo gesto arrogante e prepotente do ex-ministro, passou o cartão dele na maquininha dando-lhe um lugar cativo no folclore político brasileiro: o de idiota.

Esse cartão não deveria estar protegido por segredo de estado. Só em um país como o nosso, um grupo de pessoas é escalado para gastar o dinheiro do contribuinte e ele, o coitado, não pode saber o destino da grana porque algum malandreco lembrou-se em boa hora de manter a farra em sigilo amparado em lei. A orgia já chegou até a motéis. O cartão já patrocinou também outras esbórnias pelo Brasil afora. Lembra do Palocci, que transformou em puteiro uma casa do Ministério da Fazenda em Brasília? Pois é, ele foi denunciado pelo caseiro de quem quebrou o sigilo bancário como vingança para saber a quem ele servia.

A casa de luz vermelha do Palocci servia para conferências nas madrugadas de Brasília, normalmente regadas a uísque e garotas de programa fornecidas pela sua cafetina para as bacanais. Descoberto, o bordel oficial foi fechado e ele demitido do ministério da Fazenda. Hoje está na cadeia pelos crimes da Lava Jato. No governo do PT o cartão corporativo serviu para isso e outras coisitas. Era um tempo de bonança, tempo em que as empreiteiras bancavam os políticos, distribuía dinheiro aqui e lá fora. Mesmo assim, o cartão corporativo rolava solto nas madrugadas da capital federal.
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O grupo petista caiu, muitos estão na cadeia e a organização criminosa, chefiada por Lula, segundo o Ministério Público, esfacelou-se. O povo nas ruas pediu a cabeça da Dilma, cuja popularidade já beirava os 100%. Parecia que o Brasil ia dar uma arrancada com a petezada fora do governo. Mas o que se viu, na verdade, foi uma repetição dilmista no governo Temer a começar pela nomeação dos seus três porquinhos: Geddel, Moreira e Padilha, envolvidos até a medula com a Lava Jato. Estava na cara que isso não ia dar certo.

Agora, o Brasil assiste o Temer cometer as mesmas práticas nocivas ao país com a gastança indiscriminada com o cartão corporativo, no momento em que o Brasil atravessa sua maior crise econômica com os preços nos supermercados que desmentem a inflação oficial.

Ainda tem conserto? Claro, mas para isso precisa soltar as amarras que mantém seu governo refém de Moreira e Padilha e outros asseclas. Oxigenar seu staff político. Dar exemplos de austeridade ao país reduzindo drasticamente essas diárias imorais e o cartão corporativo, dando transparência aos gastos do governo e acabando – como prometeu – com os milhares de cargos comissionadas que só servem para empregar os apaniguados do poder.

Se não tomar medidas para melhorar os índices de popularidades que caíram pela inércia do governo, Temer pode levar um grande susto quando começar a ver os “velhinhos” nas ruas pedindo a sua cabeça, insatisfeitos com a reforma da Previdência. Aí, doutor Temer, não há governo que aguente os bisnetos, os netos, os avós e os pais pedindo a sua cabeça.