terça-feira, 27 de setembro de 2016

Novas tecnologia, velhos problemas

Estive segunda-feira, 19, em Belo Horizonte para o 7º Fórum Liberdade e Democracia do Instituto de Formação de Líderes. Bom ver empresários investindo tempo, dinheiro e competência não só para melhorar o Ebitda do próximo exercício mas para tornar o meio ambiente intelectual e institucional brasileiro tão acolhedor para o empreendedorismo, a inovação e a criação de empregos e riqueza quanto já foi quando crescíamos mais que o resto do mundo.

Reconfortante reencontrar um Brasil preocupado em “cultivar”, conceito que para além do de plantio embute o de educação para o melhoramento de “sementes” e o bom desenvolvimento delas, depois desses anos todos de usurpação da cena pelo “extrativismo selvagem” desses personagens sinistros da beira da economia privada que encosta na politicalha para assaltar o Estado e submeter a Nação pela corrupção.

Não há outro caminho senão um esforço metódico de reeducação promovido pelo Brasil que presta para reconstruir sua identidade perdida e retomar o protagonismo para reerguer o país do tsunami de amoralidade em que se afogou.


ilustrações de Steve Cutts:
Steve Cutts
Por todo o medo misturado a encantamento que despertam era inevitável que num evento sobre “Liberdade de Escolha na Era da Inovação” as novas tecnologias, neste limiar da conquista da autonomia do seu próprio desenvolvimento futuro com o advento da inteligência artificial predominassem nas apresentações. A “liberdade de escolha” ficou como de fato está no mundo do aqui e agora: no segundo plano a que a relegou a inexorabilidade dessa revolução para a geração “que testemunhará a morte da morte pelo desenvolvimento da medicina e da biogenética em menos de 30 anos” e passará a “viver para sempre” numa ainda indefinível conjuntura da qual estarão ausentes todas as estruturas conhecidas de produção e de trabalho…

…ausentes estas mas com certeza não, é bom não esquecer, a eterna força de corrupção que “O Poder” exerce sobre nossa espécie…
Ha muita confusão no ar. O fato da tecnologia estar provocando a “disrupção” dos poderes do Estado Nacional não é uma notícia tão boa como pode parecer à primeira vista para todos quantos têm bons motivos para festejar a queda dos seus antigos algozes. Esses poderes estão apenas sendo substituídos por outros ainda mais amplos. A tecnologia muda muita coisa mas não muda a natureza humana. E a única que não tem visto qualquer desenvolvimento desde a sua versão “ponto3” que data de 1776 (Atenas, Roma, Inglaterra/EUA) é a que trata de manipular essa natureza para permitir ao homem proteger o homem do homem, dita “democracia”. Nada melhor foi inventado ainda.

Acontece que a liberdade se materializa, dentro das sociedades economicamente orientadas em que nos congregamos, essencialmente nas nossas dimensões de produtores e consumidores. Nada da vasta coleção de “direitos” que se abrigam por baixo do grande chapéu da “cidadania” se transforma em realidade palpável se não houver um grau suficientemente amplo de opções de livre inserção e mobilidade nos universos do trabalho e do consumo.

Isso é ponto pacífico, conforme já ficou provado com rios de lágrimas e sangue, mas não é tudo.


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Tendo assumido a forma que lhe deu a elite intelectual do Iluminismo que emigrou para o “Novo Mundo” em função do “milagre” da disseminação da propriedade da terra em pleno feudalismo europeu que a “descoberta” da América ao norte da nossa proporcionou, a História permite afirmar com segurança que a “democracia.3” foi antes a resultante que a causadora daquele inédito processo de distribuição de riqueza. O processo de reconcentração da propriedade chegou, entretanto, ao auge nos Estados Unidos da virada do século 19 para o 20. Para salvar da morte o capitalismo que a democracia engendrou pela retirada do apoio popular que teve durante a fase de aumento da riqueza coletiva, a legislação antitruste foi adicionada à receita original. Essa reforma estabeleceu, agora formalmente, a preservação das liberdades essenciais de escolher um trabalho e negociar preços justos com uma multidão de fornecedores sem as quais nenhuma outra se estabelece como o “Valor nº 1” do sistema, acima até das conquistas do indivíduo pelo merecimento que definem a revolução americana.

Só que a diluição da “democracia.3” no oceano sem fim da miséria dos egressos do socialismo que a internet derramou da Ásia para os mercados de trabalho e de consumo planetários a partir dos anos 80 do século 20, agora sem leis nem fronteiras, empurrou o que foi o capitalismo democrático de volta para a competição sem limites que tende aos monopólios e quase o matara um século antes.

A sinuca sintetizada na alternativa “crescer ou morrer» é de longe o maior desafio que a causa da liberdade já enfrentou. Se Estados Nacionais desenfreados como o brasileiro têm o poder de dar ou tirar a condição de sobrevivência econômica do indivíduo, as gigantescas entidades globais que as novas ferramentas engendraram e engolem tudo à sua volta em escala planetária e à força de bilhões terão amanhã, como demonstraram muito convincentemente os entusiastas das novas tecnologias no evento de Belo Horizonte, o poder de prover ou negar até a vida eterna a quem lhes interessar possa.

Foi sempre complicada essa história de homens que, por não serem anjos, requerem ser governados por outros homens que não são anjos de que falava James Madison. Agora que é de toda a humanidade que se trata não ficou mais fácil. Mas tanto a doença quanto o remédio continuam sendo os mesmos de sempre. O consolo para os últimos da fila, como nós, é poderem sempre copiar o que já está feito e deu certo como fizeram os japoneses, os coreanos e estão fazendo os chineses, e passar voando por cima dessa anacrônica miséria a que nos deixamos reduzir para nos juntarmos ao resto da humanidade no enfrentamento apenas dos problemas que ainda não se sabe como resolver. Basta quere-lo o bastante.

O exército do 'Fora, Temer'

Eu também quero ser feliz. Fico com inveja dos manifestantes que berram “Fora, Temer”, orgulhosos, iluminados pela certeza de que lutam pelo bem do Brasil. Tenho inveja deles. Nada é mais cobiçado do que a chamada “boa consciência”, a sensação de estar do lado certo da história ou da justiça. Tenho inveja de famosos artistas e intelectuais que aderiram à causa do “Fora, Temer” – se bem que ainda não consegui entender o labirinto ideológico dentro de suas cabeças que desemboca nesses protestos. Fico inquieto, mas logo me tranquilizo, porque eles, pessoas especiais, têm um fino saber e, se tivessem tempo (ou saco), me elucidariam sobre suas profundas razões.

Esforço-me, mas ainda não alcanço essa profundidade. Acho que tenho de me rever, fazer uma autocrítica. Talvez eu seja levado por minha cruel personalidade que, como eles dizem, não deseja o progresso do país. Eu sei que, ai de mim, talvez eu não passe mesmo de um fascista neoliberal, mas também sou um ser humano. Por isso – me entendam – eu quero ser salvo, doutrinado, catequizado pelo saber histórico dos manifestantes.

Peço, por favor, que me ajudem a entender suas teses, para que eu saia das trevas da ignorância. Eu sou um pobre homem alienado, mas quero me atualizar. Por isso, trago algumas perguntas para me livrar dessas dúvidas pequeno-burguesas.

Por exemplo: me expliquem porque a palavra de ordem é “ golpe, golpe”. Como assim? – pensei, na minha treva: se a Suprema Corte, o Congresso, o Ministério Público, a PGR, a Ordem dos Advogados e a Associação dos Magistrados do Brasil levaram nove meses para cumprir o ritual constitucional e legitimaram o impeachment, por quê é golpe? A turma do “Fora, Temer” deve saber. Talvez, alguém da direita tenha envenenado a mente desses juízes, congressistas, advogados e procuradores. Quem, na calada da noite, se reuniu com eles, e juntos planejaram um golpe contra a Dilma? Imagino a cena, tarde da noite num bar de hotel: ministros e juízes bebem e celebram, às gargalhadas, um plano para arrasar o PT. Me expliquem esse mistério, pelo amor de Deus.

Vejo, com assombro de inocente inútil, que ignorei a estratégia bolivariana quando Dilma declarou em campanha que na economia estávamos bem. Frívolo que sou, achei que Dilma estava mentindo; mas logo lembrei que era “mentira revolucionária” para ser eleita – hoje, entendo que Dilma fez bem em encobrir um rombo de R$ 170 bilhões com dinheiro dos bancos públicos.

Quebrou-se a Petrobras, mas já posso ouvir nossa “intelligentsia”: “Os fins justificam os meios, e, se a Petrobras era do povo, seu dinheiro podia ser expropriado para o bem do povo”. Na mosca. Espantei-me com a visão de mundo que justificou a compra da refinaria de Pasadena por um preço 30 vezes maior; pagamos por uma lata velha US$ 1,5 bilhão. Mas eu, um idiota da objetividade, tenho a convicção de que vocês me revelarão a límpida verdade: Dilma sabia da venda, mas fez vista grossa em nome de nossa salvação. Afinal, o que é US$ 1 bilhão diante do socialismo (ou brizolismo) triunfante que virá?
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Às vezes, em minha hesitante mediocridade, temi que os 50 mil petistas empregados no governo estivessem trabalhando para o PT e não para a sociedade, mas já ouço a voz de grandes artistas explicando-me, com doce benevolência, que a sociedade não é confiável e que os petistas não eram infiltrados, mas vigilantes de sua missão no futuro.

Houve um momento em que achei, ingenuamente, que a nova matriz econômica de Dilma e Mantega era o rumo certo para a catástrofe. Ou para o brejo. Mas sei que os sapientes comunistas dirão que esse será um brejo iluminista que acordará as mentes para a verdade. Assim, respiro aliviado. Entendi-os: “mesmo a ruína poderá ser didática”. Eles dirão, imagino, que um poder popular não podia se ater a normas econômicas neoliberais e tinha de estimular o consumo. Isso criou 12 milhões de desempregados? Sim, mas nossos teóricos rebaterão que, mesmo quebrando o país e provocando inflação, esses 12 milhões sentiram o gostinho das geladeiras e TVs e que isso é a criação de um desejo para o socialismo. Na mosca.

Confesso também que fiquei desanimado com o atraso de todas as obras prometidas, que o PAC não andou, que não devíamos financiar portos e pontes em Venezuela, Angola e Cuba, mas eles me ensinarão que a solidariedade internacional bolivariana é fundamental para a vitória de seu projeto. Quero me penitenciar também por ter me entusiasmado com a Lava Jato, que considerei uma mutação histórica. Depois, lendo os jornais e as explicações de gente lúcida, como a barbie-bolivariana Gleisi Hoffman e Lindenberg Farias, o homem que salvou Nova Iguaçú, voltei atrás e vejo que Moro e seus homens não passam de fascistas que querem impedir o avanço das forças do progresso. A Lava Jato, hoje o sei, é de direita.

Às vezes, reacionários criticam o governo Dilma por gastar muito em publicidade, porque desde o início do governo do PT foram gastos R$ 16 bilhões. Eu achava isso errado, mas sábias palavras me provarão que a população é uma grande “massa atrasada” e que há que lhe ensinar a verdade do capitalismo assassino.

Também achei pouco elegante a difusão pelo mundo da tese de que um golpe terrível tinha se passado no Brasil, achei que uma presidenta não podia espalhar uma difamação sobre o próprio país. Mas artistas e intelectuais vão sorrir com superioridade e me ensinar (já os vejo...) que a adesão internacional é mais importante que velhas fronteiras nacionais.

Por isso, creio que estou pronto para minha reforma mental. Estou pronto para renegar minhas dúvidas pequeno-burguesas. E logo poderei fazer parte daqueles que invejo por seus rostos iluminados de certeza, por sua sabedoria acima da história e do óbvio.

Assim, poderei participar desses protestos, me sentir um revolucionário e gritar, de punho erguido e fronte alta: “Fora, Temer!!”

Chorinho com um trio de ouro


Arthur Moreira Lima (piano), Paulo Moura (clarinete) e Heraldo do Monte (guitarra) se apresentam com "Pedacinhos de céu", de Waldir Azevedo, no Kaiser Bock Winter Festival, em São Paulo (1997)

Sua Excelência, o voto

Poucas vezes se viu uma campanha eleitoral como a que está acontecendo no país, em especial pelo expressivo desinteresse por parte do eleitorado brasileiro. Primeiramente, a partir da maioria dos candidatos aos cargos de vereador e prefeito, que se apresentaram sem propostas ou com propostas requentadas, impraticáveis, inviáveis e medíocres. Há exceções, claro, e candidatos por quem se alimenta desejo de êxito, tal a seriedade do postulante, de seu grupo e de suas iniciativas. Mas são raros.

Quem presta atenção em cartazes e adesivos fixados nos veículos que servem às campanhas não precisa ir muito longe para ver o que se pode esperar de vários eleitos. Candidatos a prefeito que nunca geriram um boteco se apresentam para tomar conta de receitas públicas milionárias e quase sempre insuficientes para atender às reais necessidades das cidades.

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O município brasileiro foi a primeira instância da administração pública a ser alcançada por sucessivos golpes de morte, gestados por um ordenamento tributário que reclama reformas urgentes. Impostos brasileiros viajam e voltam para chegar aonde foram recolhidos; nessa trajetória, dormem e engordam os cofres de bancos até serem destinados ao muitas vezes tardio custeio das responsabilidades públicas. É irônico, para não dizermos lastimável.

E, se a expectativa é sofrível em relação aos prefeitos, o que dizermos de vereadores? A começar pelos nomes que adotam para conquistarem a preferência de seus potenciais eleitores. Da fauna, da flora, dos costumes, há exemplares para todo (mau) gosto e de imponderável ridículo. Sapão, Perereca, Vovô do Funk, Jegue, Pinico, Cebola, Burro Veio, Jumento, Caraka-Meu, Fofão e mais uma infinidade de despropósitos.

“Concedo a palavra ao vereador Perereca, que ocupará a tribuna por cinco minutos”, dirá o presidente da Câmara; “a tribuna está à disposição do senhor vereador Jegue e, logo após, do senhor vereador Jumento, para suas considerações”. E todos, isso, sim, sem exceção, com a autoridade para indicar dezenas de assessores, religiosamente mantidos com os recursos dos impostos que eu, tu, ele, nós todos recolhemos.

Para termos autoridade na cobrança de compromissos e atitudes, as eleições são a única trincheira disponível para lutarmos pelo reencontro com o respeito, com a dignidade, com os verdadeiros propósitos de um vereador: legislar com inteligência, fiscalizar com isenção, propor em favor do interesse coletivo. É do voto que dispomos. Vamos valorizá-lo.

Fora do mundo real

Há 10 dias, procuradores da Lava-Jato acusaram Lula de ter recebido propinas da construtora OAS no valor de R$ 3,7 milhões.

Parte do dinheiro foi gasta na reforma de um triplex na praia do Guarujá, em São Paulo.

A outra parte no armazenamento de pertences de Lula destinados ao triplex e ao sítio de Atibaia, também em São Paulo.

Como o PT reagiu à denúncia, depois aceita pelo juiz Sérgio Moro, que alçou Lula à condição de réu por corrupção e lavagem de dinheiro?

O PT preferiu atacar um gráfico exibido pelos procuradores onde o nome de Lula aparecia no centro ligado a fatos e personagens do maior escândalo de corrupção da história do país.

E para rebater a menção a Lula como “o comandante máximo” de uma organização criminosa, repetiu como se fosse dos procuradores uma frase que eles jamais disseram: que não tinham provas, mas convicção.

Há cinco dias, por ordem do juiz Moro, o ex-ministro da Fazenda dos governos Lula e Dilma, o economista Guido Mantega, foi preso sob a acusação de ter intermediado dinheiro suspeito para o PT.

Como o partido reagiu? Atacou a Polícia Federal por ter prendido Mantega dentro do centro cirúrgico de um hospital de São Paulo, onde a mulher dele, vítima de um câncer, estava sendo operada.

A mulher não estava sendo operada. Iria submeter-se a uma endoscopia. Mantega não foi preso dentro do centro cirúrgico, nem mesmo dentro do hospital, mas fora dele. E liberado cinco horas depois.

Ontem, Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda do governo Lula, ex-chefe da Casa Civil do governo Dilma, foi preso e levado para Curitiba. É acusado de suceder Mantega na arrecadação de propinas para o PT.


Como o partido reagiu? Nada disse sobre a acusação. Preferiu bater no Ministro da Justiça Alexandre Moraes que na última sexta-feira, no interior de São Paulo, vazou a informação de que haveria nesta semana mais uma operação da Lava-Jato.

Desde que chegou ao poder com a eleição de Lula em 2002, o PT foi incapaz de admitir seus erros, de penitenciar-se por eles, muito menos de aprender alguma coisa com eles.

O mensalão quase custou o primeiro mandato de Lula. E o que ele e o PT fizeram em seguida? Trocaram o pagamento de propinas a deputados pelo loteamento de cargos na Petrobras e no governo.

Foi mais do mesmo: a corrupção amadora deu lugar à corrupção aparentemente sofisticada. A primeira não resistiu à delação de um deputado. A segunda está sendo dizimada por Moro e seus procuradores.

Ou por Moro e “esses meninos”, como Lula insiste em chamá-los.
Ricardo Noblat

Anos de sangria

O grande foco da defesa do PT é sempre denunciar uma perseguição política contra a candidatura de Lula em 2018. Seria um golpe aos mais necessitados, à inclusão social e outras quimeras que os governos petistas fizeram em bem menor escala do que apregoam.

Nem uma nem outro. A Lava Jato faz o trabalho que lhe cabe de investigação e prisão de meliantes. Se em maior número e na cabeça da organização criminosa estão petistas e companheiros, vão prende e investigar quem? Não podem direcionar os trabalhos contra quem não teve tanta importância na máfia partidária.


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Fica cada vez mais claro que a Polícia Federal e o Ministério Público estão visando os comandantes, o que não se fazia antes. Era facilmente preso até caseiro, mas o poderoso chefão era até inocentado nas cortes superiores dos crimes contra o empregado. Como sempre, a justiça dos ricos contra os pobres, tão "defendidos" pelos petistas, quando não interferem em suas maracutaias.

A História, no Brasil, vai certamente identificar no futuro os anos petistas na Presidência como os de imensa sangria dos cofres públicos em favor de um projeto de governo e de favorecimento ditatorial a um grupelho marginal.

É o que revelam as fases da Lava Jato uma atrás da outra, pegando os sem foro privilegiado. Se o PT quer mesmo uma limpeza geral e os gatunos de outros partidos que pressione as cortes celestes no Planalto, onde estão empoeirando os processos contra aqueles da base aliada de outrora. Será um grande serviço prestado ao país para compensar o desserviço que fizeram instalando a organização criminosa para roubar do povo.
Luiz Gadelha

Receita cobra bilhões dos pequenos e poupa grandes devedores

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A Receita Federal notificou ontem 668.440 microempresas e pequenas empresas a pagarem quase R$ 23,8 bilhões em débitos com impostos, previdência etc, que têm prazo apertado de 30 dias para isso ou serão excluídas do regime tributário Simples. A Receita não informou se vai adotar providências contra dívidas semelhantes, no valor astronômico de R$ 392 bilhões, de apenas 500 grandes empresas brasileiras.

Só a fraude detectada pela Operação Acrônimo no Carf, o Conselho de Administração de Recursos Fiscais, é de mais de R$ 20 bilhões.

O rombo estimado pela Lava Jato na Petrobras é de R$ 23 bilhões, mesmo valor das dívidas das 668.440 empresas que serão esfoladas.

Após os desacertos do governo Dilma, que permanecerão impunes, o rombo no orçamento previsto do governo federal é de R$ 170 bilhões.

Só um diretor da Fiesp deve à Receita, na pessoa física, um terço da dívida das 668 mil empresas no paredão da Receita: R$ 6,9 bilhões.

Imagem do Dia

Entardecer no vale Nubra , na Índia 

O último pescoço

Charge (Foto: Miguel)
A pergunta mais ouvida no país é sobre quando chegará a vez do Lula, agora que até Antônio Palocci acaba de ser preso. Todo o alto comando do PT foi e continua indo para o brejo, feito a vaca. De José Dirceu em diante, todos tomam o rumo da cadeia. Com pequenas variações, a acusação é a mesma: roubalheira no exercício de funções públicas.

Faz tempo que se desencadeou a operação Lava Jato, visando identificar e punir quantos praticaram crimes de tráfico de influência, formação de quadrilha, doação e recebimento de propinas, desvio de recursos públicos, superfaturamento e outros.

O círculo se fecha em torno do Lula e de Dilma, pois são seus ex-ministros e antigos auxiliares que vêm sendo flagrados em associações criminosas com empreiteiros e grupos empresários de toda espécie. Estes também são condenados e até se valem das benesses concedidas para facilitar-lhes delações premiadas que aumentam a ciranda de acusações e punições.
Conseguirá o Lula escapar das tenazes que obviamente se aproximam dele? Impedir sua candidatura à presidência da Republica em 2018 parece objetivo maior de seus adversários, ainda que, em paralelo, combater a corrupção.

Aguardam-se os próximos lances da ação da Polícia Federal, do Ministério Público e da Receita Federal, cumprindo integralmente suas missões. Daqui a pouco não sobrarão pescoços para ser degolados, ficando a guilhotina à espera do último.

Babel brasileira

As palavras, ah, as palavras, as palavras. Elas vêm e vão igual à moda e às ondas do mar. Algumas vivem só por estações ou temporadas, depois ficam esquecidas num canto até que alguém lembre de ir buscá-las para convencer um outro alguém de seus significados

Espero que a palavra gestão, por exemplo, se salve desse destino triste após as eleições. Nunca tinha sido tão usada, e é na verdade tão necessária em seu sentido pleno. Vou torcer para que – depois de ser entendida – encontre outras, como organização, e em causa própria citarei mais uma que anda toda ralada por aí, se prostituindo por pouco: comunicação. A imprensa nacional em crise de identidade, cambaleante, bebendo muito, e em fontes estranhas, perdida atrás de seus leitores e telespectadores.

Penso se as redes sociais não são essa enorme centrífuga de pensamento que domina neste momento, tinhoso, ranheta e rabugento, mas que deu voz a todos, e como em Babel, vozes que não se entendem entre si.
Tower of Babel [by Jeff Konigsberg and Adam Toht]
Jeff Konigsberg e Adam Toht
O problema é que elas já ecoam na Torre completamente embaralhadas, porque nunca vi tanta incompetência em gerir a comunicação como a que está demonstrando esse governo. Eles,primeiramente, fora…, como já de brincadeira se diz e a coisa pegou, nem combinam nada entre si, e saem por aí atirando medidas fortes para o alto, e logo elas caem e se despedaçam sem qualquer sentido.

12 horas de trabalho /dia. Desobrigação de aulas de Educação Física e Artes no ensino médio, e obrigatoriedade apenas de Inglês (!), Português e Matemática. Cortes em programas sociais. Tesouradas agressivas na Previdência, na aposentadoria. Mordidas nos orçamentos de Saúde e Educação. Cada dia um solavanco e uma correria para explicar o inexplicável, negar, dizer que não é bem assim, que tudo ainda está em estudos. E a melhor: que a sociedade ainda vai ser consultada a respeito desses vários temas.

Acho linda essa parte. Quando falam na “sociedade civil”, então, até me arrepio e eriçam-se os pelinhos. Lembra imediatamente a outra horripilante palavra, empoderamento. Há novas rodando alta quilometragem, como coletivo, situação de… (rua, etc.), vai lembrando de outras e me manda – vou começar uma coleção.

Mas voltando à vaca fria, o governo, um diz uma coisa, o outro faz outra. Um explica de um lado, o outro confunde de outro. E, como tudo que é assim, nada acontece, fica parado. E se anda, dançam melhor o bate-cabeça do que muitos metaleiros, os do rock pesado.

Escrevam: nessa toada não vai dar certo. Continuamos em suspensão mesmo depois de meses desse doloroso processo de impedimento e troca de comando. Como se uma espada pairasse todos os dias sobre a cabeça dos escolhidos, alguns muito mal escolhidos, aliás, observe-se, os amigos de num sei quem que vêm sendo apresentados ou se apresentam como salvadores da pátria com planos mirabolantes. Inclusive a promessa de agora, a de resolver a babel brasileira.

Essa espada é que ainda tem muita gente por aí dando com a língua nos dentes.

Prova de fogo

Os políticos estão penando com o fim do financiamento empresarial à brasileira, e dos estragos que ele provoca na democracia, como ficou amplamente provado nas últimas décadas, culminando com o mensalão e o petrolão, estruturas criminosas organizadas para fraudar eleições com propinas e extorsões de empresas.

Mãe de todas as corrupções e pretexto para roubos e falcatruas em nome da luta pelo poder, a doação eleitoral de empresas aqui não representava uma vontade de contribuir para a democracia e para o futuro do país, mas um investimento no mercado futuro. Em países civilizados, esse tipo de doação funciona com limites rígidos e ultracontrolados. Não é o nosso caso.

Na verdade, o financiamento público já existe com os generosos fundos partidários e o valiosíssimo horário gratuito de rádio e TV, além dos inúmeros debates públicos, de ampla cobertura da mídia e da internet. Nenhum candidato pode se queixar de falta de meios para alcançar os eleitores de sua cidade, mas acabou a era das campanhas milionárias, de gênios do marketing decidirem eleições em favor de quem lhes paga, seja quem for.

É uma esperança para a minoria de candidatos com espirito público e uma limitação para a grande maioria que faz politica como profissão. Até agora o policiamento das doações parece eficiente. São muitos os desvios flagrados, os doadores “profissionais” estão mais receosos, mas no desespero da reta final é que vamos ver se as novas leis funcionam na prática ou não.

Em duas semanas vamos saber os seus efeitos na qualidade dos eleitos no primeiro turno, justo num momento em que, por todos os motivos, os políticos e os partidos nunca estiveram tão desacreditados. Por pior que seja o momento do país, ou justamente por isso, estamos vivendo esse cara a cara com a democracia real, uma prova de fogo para uma mudança de atitude dos candidatos e do eleitorado.

É triste votar no “menos pior”, que provoca tantas desgraças políticas, mas não participar favorece aos candidatos “profissionais”. Agora não vamos eleger só prefeitos e vereadores, vamos expressar uma vontade de mudança de padrão na escolha dos nossos representantes.

A esquerda vai às compras

Muitos jovens russos leem Trotski, Marx e Engels e veem Stalin como uma figura a ser imitada. Ainda são inaugurados museus em sua memória. Está na moda.
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Por trás disso se esconde o fato de que existe muita gente que se sente derrotada e idealiza o passado. Querem que se mantenha a liberdade de poder viajar pelo mundo e que as lojas estejam cheias de produtos, mas, ao mesmo tempo, desejam um socialismo igualitário
Svetlana Alexiévich, bielorrussa ganhadora do Nobel e cronista do declínio da União Soviética

O alarme do populismo

No ano passado, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, dedicou sua eloquência aos migrantes. Neste ano, na cúpula de Bratislava, onde os 27 países do bloco se reuniram na sexta-feira, foi sobre outro perigo que Juncker disparou o alarme: o populismo.

Populismo, claro, não é novidade. Já havia populistas na Roma republicana. Na Renascença eles também estiveram ativos, por exemplo, em Florença. Mas hoje não é só em alguns países que se encontram populistas. Eles estão nos 27 países-membros da União Europeia, sem falar nos Estados Unidos, que têm muito a se preocupar com Donald Trump.

Almir Quites: Populismo selvagem
A essência do populismo está em não conseguirmos defini-lo. Ele tem o dom da ubiquidade. Adora mudar de rosto. Tem todo tipo de roupa no armário. Geralmente o encontramos sob os trajes da direita (Marine Le Pen, Nigel Farage, o húngaro, Viktor Orbán, o movimento Pegida, da Alemanha, etc.). Mas o populismo também veste de bom grado os trapos da esquerda: na Grécia, o Syriza; na Espanha, o Podemos; na França, a Frente de Esquerda, o Mélenchon, o Partido Comunista.

Por que o populismo prospera mais em certas épocas? Pode-se citar razões imediatas, como a crise, os migrantes, etc. Mas, fundamentalmente, o populismo ilustra a eterna guerra entre “as elites” e “o povo”.

Em seus discursos, líricos e apocalípticos, os populistas exploram sejam os baixos instintos (Hitler), seja qualquer tipo de emoção. Não apelam muito à racionalidade, à teoria. Não falam em revolução, mas em revolta. Karl Marx não era populista. Na Revolução Francesa, os sans-culotte se contentavam em pilhar os aristocratas, enquanto os revolucionários – Robespierre, Danton –, que eram burgueses muito cultos, sonhavam com uma sociedade “racional”.

Essa característica – a emoção antes da razão – é muito forte nos populismos europeus. No drama dos migrantes há elementos objetivos que deveriam ser abordados racionalmente, mas na cabeça dos populistas esses elementos são cobertos por uma camada espessa, pegajosa, de emoção, de imaginação, de fantasmagoria: “O árabe vai invadir a Europa aos milhões e violentar todas as mulheres”.

A mesma emotividade se faz notar nos programas econômicos. Quando um partido populista chega ao poder, lança imediatamente um vasto plano de políticas públicas. A economia, então, logo ganha força, mas, após um ano, a mecânica emperra e vem uma hiperinflação. Hoje, nos países dominados pelo flagelo populista, a compra de ouro cresce rapidamente.

As alas populistas são chegadas a uma teoria da conspiração – por trás de todo grande acontecimento existem fatos subterrâneos, bastidores tenebrosos nos quais forças diabólicas agem em segredo, a favor das elites, dos poderosos, dos ricos. Putin é marionete de Obama, ou Obama seria marionete de Putin. Todos são cúmplices, todos são podres. Hillary Clinton tem uma sósia. Os aviões do 11 de Setembro eram uma farsa.

Essa sociedade quase imaginária na qual vivem os populistas é sempre sombria, pessimista: os velhos bons tempos não voltam mais; os filhos não valem o que valiam os pais e os pais não valem o que valiam os avós; o mundo está numa longa decadência, caminhando para o fim; todos os dirigentes e as elites só querem encher os bolsos – são corruptos, dormem com montes de garotas, mas são homossexuais. Depois deles, o dilúvio! São esses os fantasmas que pululam por trás da ideologia populista.

As causas imediatas do populismo variam conforme a época. Hoje, são duas as principais. A primeira é a crise de 2009, que ampliou vertiginosamente, vergonhosamente, a desigualdade entre “povo” e “elite”. A arrogância obscena dos ricos foi solo fértil para o populismo. A segunda causa, no que se refere à Europa, é a invasão de migrantes, esses milhões de infelizes expulsos da Síria, Afeganistão, Somália, Líbia, de todos os lugares em que os Estados Unidos tentaram impor sua ordem.

Não surpreende que, na Europa, o lugar favorito dos populistas seja o leste: Polônia, Hungria, República Checa, Eslováquia – países economicamente frágeis que, de quebra, se encontram na rota dos pobres migrantes. A reação de Budapeste, Varsóvia, Praga, Bratislava é típica do populismo: restabelecer as fronteiras e fechar-se atrás de muros e arame farpado para impedir a infiltração de “micróbios”.

Entende-se, neste ponto, que entre as causas que favoreceram a epidemia de populismo estão em primeiro plano as grandes realizações que as “elites” impuseram ao “povo”: a globalização americana e, no Velho Continente, essa Europa comunitária dos intelectuais e dos ricos, tudo longe das massas.

Uma última observação: nem é preciso dizer que os agricultores europeus, golpeados pela crise, afastados das elites e vivendo em seu ambiente arcaico, apesar da modernização do campo, continuam muito ligados à mitologia dos ancestrais e constituindo grandes batalhões para o populismo de extrema direita. Marine Le Pen, quando vai aos campos devastados do norte da França, faz a festa.

Uma reconstituição do clima dos dois últimos milhões de anos

A capacidade de prever a evolução do clima terrestre no futuro depende em boa medida da informação acumulada sobre o passado. Até agora, as reconstituições de temperaturas médias globais só haviam sido feitas para períodos isolados, como os últimos 20.000 anos, mas vinha sendo difícil realizar esse tipo de relatório para períodos ininterruptos, criando um mapa contínuo das temperaturas da Terra que fosse além das eras glaciais.

Esta semana, a pesquisadora da Universidade Stanford Carolyn Snyder publicou na revista Nature uma reconstituição de temperaturas médias globais dos últimos dois milhões de anos. Este trabalho é a maior reconstituição contínua de temperaturas até o momento, e dele se depreendem algumas conclusões preocupantes para o futuro do planeta.


Snyder acumulou milhares de reconstituições de temperatura dos últimos dois milhões de anos em intervalos de mil anos com base em 59 registros de sedimentos do oceano. Com essas informações, observou que as temperaturas do planeta foram decaindo até 12 milhões de anos atrás. A partir desse momento, essa tendência de esfriamento se deteve. Isso ajudaria a entender o que aconteceu nesse período conhecido como a transição do Pleistoceno Médio, quando, sem uma mudança na órbita terrestre que explique isso, o planeta passou de períodos glaciais de uns 41.000 anos a outros de 100.000. Embora a maior parte das hipóteses que tentam explicar essa mudança sugira que ocorreu como fruto de um período de esfriamento no longo prazo, possivelmente favorecido por uma queda na concentração de dióxido de carbono na atmosfera, os dados de Snyder indicam que essa pode não ser a única causa.

Como conclusão, a pesquisadora de Stanford avalia que a reconstituição climática dos dois últimos milhões de anos combinada com os registros de concentração de CO2 na atmosfera sugere que as temperaturas médias da superfície terrestre poderiam elevar-se entre 3 e 7 graus no próximo milênio, mesmo se os níveis de dióxido de carbono parassem de subir.
Fonte: El País (com vídeo)