sábado, 3 de setembro de 2016

Charge (Foto: Miguel)

'Apesar de você, amanhã há de ser outro dia'

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Ninguém é capaz de expressar sentimentos como os poetas. Sejam os nossos sentimentos ou os do conjunto de uma sociedade. E a poesia fala várias línguas ao mesmo tempo.

No Brasil, existiram poucos poetas como Chico Buarque, o genial letrista e músico que, nos duros anos da ditadura militar, expressou o sentimento da sociedade naquele momento de trevas e dramático.

A letra de uma de suas músicas mais famosas, Apesar de Você, foi à época, e continua sendo hoje, um exemplo da força da poesia, essa que sempre intrigou e irritou os poderes autoritários.

Esse poema de Chico chamou a atenção dos militares que o interrogaram para saber quem era aquele você.

Hoje o Brasil não vive uma ditadura. É uma democracia das mais firmes do continente, mas que começa a mostrar rachaduras.

Hoje o você da canção pode ser muitas coisas, até nós mesmos, que vivemos no Brasil e mostramos pessimismo diante do futuro incerto desse país.

Podem ser os políticos corruptos, que resistem à mudança, os saudosos da autoridade, os cínicos que resistem a aceitar que o Brasil, sua economia, sua democracia, sua esperança no futuro têm que crescer. Os que continuam mais firmes em defender seus direitos e privilégios do que em pensar com generosidade no futuro da sociedade que representam.

Apesar deles, Chico poderia escrever novamente, “amanhã há de ser outro dia”.

E será, porque a sociedade brasileira irá sair mais madura do drama que está vivendo. Apesar das polêmicas e divisões, é uma sociedade que cresceu democraticamente, mais exigente com os políticos e com a democracia.

Uma sociedade que, por exemplo, já não admitiria uma guerra contra a Lava Jato que, pela primeira vez nesse país, está julgando e prendendo essa parcela do poder político e econômico que sempre se sentiu imune às punições.

Hoje, o Brasil sabe melhor do que ontem o que quer e o que não quer.
"Você vai ter que verA manhã renascere esbanjar poesia".
Espero que o genial poeta volte hoje a ter razão como teve quando escreveu essa música, que como toda a verdadeira arte, não morre porque é atemporal.

A bagunça política

O PT, nos seus treze anos de reinado, bagunçou não apenas o coreto da economia, mas sobretudo o da política.

Se colocar os números no lugar leva tempo, mais ainda levará a política, que depende de fatores bem mais complexos, ligados a questões de natureza psicossocial, como confiança e credibilidade, que não se improvisam, nem se resolvem com emendas constitucionais, decretos ou projetos de lei.

Se é possível – e necessário – impor um teto aos gastos públicos, não há teto à vista para os estragos da política.

O dano causado pelo golpe de fatiar a Constituição em plenário, numa votação que era única, e que só poderia ser única, piorou o que já não prestava. O poço parece já não ter fundo.

Mas o truque saiu pela culatra: se o objetivo era – e foi – livrar Dilma de Sérgio Moro, nomeando-a secretária de Estado de algum governador amigo, a reação havida foi – está sendo - de tal porte que é improvável que alguém, por mais fiel a ela, tenha a coragem de lhe encaminhar tal convite. A menos, claro, que queira ir para o inferno com ela. Em política, até cumplicidade tem limite.

Não obstante o tamanho da lambança, os políticos só começaram a percebê-la depois da reação indignada da sociedade. E se assustaram. De algum modo, a maioria chancelou o crime (pois é disso que se trata: crime contra a Constituição).

As declarações das principais lideranças – gente como Aloysio Nunes, Aécio Neves, Cássio Cunha Lima, Cristovam Buarque (que apoiou o fatiamento) – eram no sentido de contemporizar.

Ninguém se dispunha a recorrer ao STF. Michel Temer mesmo, embora registrasse sua contrariedade, manteve sua viagem à China no dia mesmo em que recebia em caráter efetivo a Presidência da República e via sua base parlamentar cindida em meio ao caos moral daquela votação. Mais uma vez, os políticos assustaram-se com a reação da sociedade, como se esta pudesse reagir de outra forma.

Assim como não previram as manifestações de rua do ano passado e deste ano – e só as levaram em consideração quando já não era possível ignorá-las -, subestimaram a capacidade reativa diante do estupro à Constituição. E aí, só aí, passaram a considerar a hipótese de ir ao STF, que já recebera recursos de entidades da sociedade civil, que, mais uma vez, se antecipou aos políticos.

Por aí se vê o quanto a política oficial está dissociada do sentimento da sociedade que deveria representar. Não fosse a voz das ruas, o tema do impeachment nem teria entrado na agenda. As instituições só funcionam quando movidas pelo combustível do medo.

A Era PT, pontuada por Mensalão, Petrolão e coisas do gênero, fez com que o absurdo parecesse natural. E fez com que a classe política mergulhasse num autismo do qual parece emergir com grande lentidão e contrariedade.

Algo está mudando – e é de fora para dentro. “A agenda política está nas ruas, não nos gabinetes”, proclama o senador Ronaldo Caiado. O recado é para Temer e os que o cercam.

Renan Calheiros e Ricardo Lewandowski não o perceberam. O presidente do STF, em dissonância com alguns de seus mais experientes pares, como Celso de Melo e Gilmar Mendes, já declarou que cabe recurso ao impeachment, embora isso não conste da Constituição, que diz que o Senado é instância definitiva e incontrastável para decidir a matéria.

Mas o advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo, confiante nos padrões até aqui vigentes, já ingressou no STF com pedido de anulação do impeachment. Lá, ele está convencido, tudo é possível.

Tem razão: até aqui, as teses mais absurdas encontraram eco no STF. Lula, por exemplo, ainda não se encontrou com Sérgio Moro graças ao STF, que segurou o quanto pôde o seu processo, mesmo não tendo ele direito a foro privilegiado. Tem amigos privilegiados, é o que lhe basta – ou bastava.

Os tempos estão mudando, não obstante a resistência dos políticos (e de alguns juízes e procuradores) a que isso aconteça. Mais de 35 milhões de brasileiros assistiram ao impeachment de Dilma peyla televisão aberta, mais gente do que a média de espectadores durante a Olimpíada, que registrou pouco mais de 33 milhões.

As pesquisas eleitorais mostram que o petismo está minguando, com reflexos sobre seus satélites – PSOL, PSTU, Rede. Não há espaço para truques como os de Marina Silva, da Rede, que, depois de meses condenando o impeachment, decide apoiá-lo na última hora, cuidando, porém, de orientar o único senador do partido, Randolfe Rodrigues, a que votasse em favor de Dilma.

A plateia está atenta. Pode até não entender direito o que é pedalada fiscal, mas sabe que quem as cometeu foi a mesma quadrilha que saqueou a Petrobras. E de roubo todo mundo entende.

Transparência e encenação

Há alguns anos, Fernando Gabeira revelou que, sendo candidato petista, amadureceu a decisão de sair do partido quando, ao gravar um programa eleitoral, foi surpreendido por uma encenação coletiva em que políticos de ar sério e pastas na mão fingiam se consultar ou exibir papéis e projetos em gestos teatrais, como se estivessem trabalhando. Chocado com a farsa preparada para enganar os eleitores, pura casca sem substância, concluiu que não queria continuar participando daquilo.

Há menos de um mês, dia 19 de agosto, em entrevista à BBC, Lula afirmou que em seu governo o Brasil era um país mais rico do que a Inglaterra. A fanfarronice pode ter sido recebida com sorrisos zombeteiros de alguns ou gargalhadas francamente debochadas de outros, racionalmente incapazes de aceitar que agora sumiu de repente, como carruagem de Cinderela nas 12 badaladas, esse país tão rico que não chegou a ser visto, com a pobreza resolvida em nível britânico — em saneamento básico, saúde gratuita para todos, habitação popular, escola de qualidade, transporte de massa adequado e segurança pública que permita a qualquer cidadão andar tranquilamente em sua cidade a qualquer hora. Mas muita gente não estranhou e engoliu a balela numa boa. Outros nem ligam, relevam a bazófia, gabolice que não prejudica ninguém e se repete há tanto tempo que já anestesiou os ouvintes. Tudo bem, a crença é livre. Acredite quem quiser. Com fé religiosa não se discute — é um fervor poderoso que opera em outra esfera, capaz de aceitar todos os milagres e promessas, inocências e santidades.

A dificuldade começa quando o fiel religioso é chamado a ser eleitor. A distinguir transparência de jogo de cena. Ainda mais em dias dramáticos como estes, em que uma presidente eleita por 54 milhões de votos é impedida por um congresso eleito por 140 milhões. Essa legitimidade de parte a parte só aumenta a exacerbação dos ânimos, já esgotados por processo tão longo. Sucedem-se momentos exaltados — de xingamentos de canalha e golpista a uma estarrecedora confissão do presidente de um Poder cobrando de senadora por favores oriundos de gestões indevidas junto a outro Poder. Câmeras guardam as imagens que para elas exibem os participantes, cada um buscando seu melhor ângulo e maior protagonismo na construção do personagem que deseja impingir à história ou à campanha eleitoral futura — não apenas diante de jornalistas, mas também de ficcionistas, mais uma vez desprezando fronteiras entre documento e circo, transparência e encenação. Mais que o fato, importa é “a disputa pela versão dos fatos”, como explicitou o líder petista no Senado. Sair bem na foto, no filme, no livro. As imagens mostram quase tudo, mas em falsa transparência. Ocultam, por exemplo, as manobras de bastidores pelo fatiamento da decisão, de modo a garantir que congressistas (como Cunha ou Renan, para só citar as estrelas) sejam também beneficiados no futuro. Ou que daqui a pouco a presidente defenestrada possa driblar a Justiça e pular para dentro de casa outra vez, pela janela do foro privilegiado.

Não é a primeira vez que os holofotes midiáticos atuam nesse jogo. Um dos momentos mais emblemáticos a que a nação assistiu, no impeachment do Collor, foi propiciado pelo então presidente do SFT, Sidney Sanchez: tendo recebido um envelope lacrado do presidente da República, em pleno exercício de suas funções, deixou para abri-lo ao vivo durante o “Jornal Nacional” e leu , para microfones e câmeras, o texto em que Collor destituía seu advogado. Não se sabe se sob comando de um diretor de cena quanto ao ângulo ideal ou à melhor luz.

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A diluição desses limites entre realidade e espetáculo também está presente nas sucessivas discussões sobre vazamentos e não apenas aqui e agora. Lá fora, basta lembrar os questionamentos envolvendo Julian Assange ou Edward Snowden (logo transformados em heróis de filmes ) e suas explosivas revelações, do tipo “doa a quem doer”. No Brasil, temos um exemplo didático: o do agora sumido procurador Luiz Francisco de Souza, que no governo FH consagrou o obsessivo processo chamado de “escandalização do nada” e falsos vazamentos, ao fazer denúncias semanais que logo ecoavam na mídia, provocando investigações que eram arquivadas em seguida por falta de base, mas enlameavam nomes e davam origem a acusações de “engavetamento geral”.

Para evitar manipulações ocultas, a cada vazamento cabe desconfiar e perguntar a quem serve a divulgação daquele rumor ainda sem provas. Analisar quem se beneficia com aquela “informação” assim plantada e coberta pela impunidade garantida pelo sigilo da fonte. Lembrar que a cada plantação anônima corresponde uma futura colheita. E a safra anunciada pode apenas ser a mentira de uma erva daninha trazendo riscos para a tenra planta da democracia, regime ideal ainda que imperfeito. Sempre ameaçado por aqueles que, dos bastidores, confundem iluminação ou transparência com sombras e jogo de cena. Olho neles.

Ana Maria Machado

Alegria e seriedade

Após a Olimpíada e o impeachment, temos do que nos orgulhar. O pior legado do lulopetismo foi a legitimação de ser “bagaceiro”, elevando-se a esperteza a valor nacional ao se qualificar como positivo o jeitinho para prosperar na sinecura, no descaso com as finanças públicas e, o mais grave, no desvio de dinheiro das estatais.

Glorificava-se no lulopetismo a mera improvisação, tecendo louvação ao fato de nada se ler e, em contrapartida, desprezar o mérito, o trabalho cotidiano, o cuidado no aprendizado. A Olimpíada, todavia, mostrou um outro lado, o Brasil que deu certo: pessoas humildes saíram de situações de conflito e de dificuldades para o pódio graças à superação dos obstáculos pela dedicação contínua em busca de objetivo que dependia primacialmente apenas delas mesmas.

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O Brasil multicultural, do samba e do chorinho, do carnaval e do frevo deve conviver com o Brasil do esforço e da persistência, do certo e do justo, com vista ao sucesso como fruto do mérito, e não da malandragem. É exatamente isso que revelou a Olimpíada, com colorido das festas de abertura e de encerramento, com a vibração de uma torcida que toma partido, com a acolhida simpática do povo carioca e a emoção dos nossos medalhistas.

Para ser sério e ético não é preciso ser sisudo. Conjugam-se alegria, espontaneidade, samba no pé, gingado no corpo e sorriso no rosto com seriedade na labuta diária, seja no esporte, no estudo, na fábrica ou na prestação dos mais variados serviços.

O esporte, individual ou coletivo, não permite ser esperto para vencer. O exame antidoping denuncia. Não basta ter dom, ou propensão para determinada modalidade esportiva, é preciso treino todos os dias, apuro na técnica transmitida pelos experts. Esse é um território próprio do merecimento, no qual o estelionato da invenção milagrosa inexiste.

Atletas, administradores e voluntários dos Jogos Olímpicos demonstraram que o nosso povo, ao lado da espontaneidade e da simpatia, também tem a capacidade de superar percalços, vencendo pela dedicação competições e desafios da organização de um evento imenso. Podemos ter orgulho do nosso país tropical, cheio de método e eficiência.

O processo de impeachment é outro ponto do qual o Brasil se pode orgulhar. Esse processo contra uma presidente que tinha base congressual tramitou com dificuldades, foi submetido a rito determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e não causou a menor atribulação às instituições da República.

A acusação – malgrado cortada pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, no que respeitava aos fatos de responsabilidade da presidente na proteção dos corruptos diretores da Petrobrás – continha imputações relevantes de lesão às finanças públicas em 2015.

Durante o processo, prestigiou-se até com exagero a defesa, para não se alegar o mínimo constrangimento. Foram ouvidas 40 testemunhas, foi realizada perícia. Razões de quase 600 páginas foram apresentadas pela defesa e novas testemunhas foram indagadas, além da própria presidente, que prestou declarações destoantes da realidade, próprias de um universo paralelo, para um futuro que não terá. Houve paciência na condução do processo, cuidado na elaboração dos relatórios e na tipificação precisa dos crimes de afronta grave às finanças públicas.

Enquanto o processo de afastamento da presidente corria no Senado Federal, em parte sob a direção do presidente do nosso Judiciário, as demais instituições da República exerceram plenamente suas funções em busca de um caminho para retirar o País do desastre econômico no qual foi jogado pela ânsia de poder e absoluta irresponsabilidade da ora ex-presidente.

As instituições democráticas vêm garantindo plenamente o exercício dos direitos individuais e políticos. Houve a mais absoluta ordem institucional durante o processo de destituição de uma presidente dotada de apoio parlamentar e de base social. Desenrola-se livre propaganda eleitoral no rádio e na televisão em meio ao final do julgamento da presidente. Podemos, portanto, confiar na solidez de nossas instituições políticas, agora revestidas de maturidade.

Temos razão, portanto, de nos orgulharmos do nosso país. Sabemos enfrentar os obstáculos com persistência para alcançar objetivos como retribuição ao mérito, sem perder a leveza do bom humor e a espontaneidade, que não se confundem com a esperteza safada. Bom humor e eticidade combinam-se e devem ser vivenciados juntos.

Agora, passado o impeachment, devemos aperfeiçoar nossas instituições, sem medo da incitação à convulsão pregada por Dilma Rousseff e alguns sequazes que dizem amar o Brasil, mas antes amam a si mesmos e ao poder. Cumpre demonstrar firmeza diante da sandice de Dilma, visivelmente descontrolada, que de modo irresponsável prega a revolta para retornar ao Alvorada. Pretender pôr em risco a integridade física dos brasileiros em defesa de sua sede de poder apenas confirma o acerto do afastamento da ex-presidente.

Maturidade será demonstrada também com a tomada corajosa de medidas no campo econômico sem o temor de descontentar A ou B, já desfeita a exigência de uma votação qualificada de dois terços no Senado Federal. Maturidade caberá ao enfrentar ao menos duas questões da reforma política importantes para vigorar na eleição de 2018: a cláusula de barreira e o fim das coligações partidárias para deputado.

Não vamos estragar a vitória por conta da baderna de alguns mascarados instigados pela inconformada gerentona Dilma. Vamos viver com alegria e seriedade o novo tempo.

Miguel Reale Júnior

Agenda livre

A ex-presidente Dilma Rousseff saiu atirando em seu discurso de despedida. Nem se lembrou de agradecer aos senadores golpistas que votaram pela manutenção dos seus direitos políticos e a salvaram da pena de morte. Este é um velho problema de Dilma: excesso de cabelinho nas ventas. Se foi ingrata até para com seu criador, o ex-presidente Lula, não lhe devolvendo o trono que ele esperava ter de volta em 2014, por que seria simpática com os que lhe garantiram uma sobrevida?


O fato é que, agora, com agenda livre e todas as opções, Dilma deveria aproveitar para algo que nunca teve tempo de fazer: estudar. Os que a conhecem sabem que isso — permitir que alguma informação nova penetre em sua carapaça de certezas — poderá ser uma revolução em sua vida. Mesmo porque é disso que dependerá sua sobrevivência política.

Dilma tem zero experiência legislativa, por exemplo. Poderia candidatar-se a vereadora em Porto Alegre, para se familiarizar com o beabá do jogo político e aprender que a democracia não vive de decisões monárquicas, mas de acordos e desacordos — ou não será democracia. A vereança, por municipal, terá também a vantagem de impedi-la de propor medidas que afetem a economia nacional. Se for bem sucedida, Dilma poderia, aos poucos, aspirar às legislaturas mais altas. Em apenas oito anos, estaria de volta a Brasília.

Se quiser tirar férias da política, Dilma poderá aceitar os convites para se tornar professora das universidades de Bolívia, Equador e Venezuela — espera-se que não de administração. Ou efetivamente cumprir o mestrado e/ou doutorado (nunca se soube qual) em ciências econômicas que dizia ter feito na Unicamp.

Talvez estas sejam as suas melhores opções. Mesmo porque Lula e o PT só esperam a poeira assentar para dizer-lhe — de vez — tchau, querida.

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Mikko Eerola

O fim de uma Era

Um céu enevoado pairava sobre Brasília nas primeiras horas do dia 31 de agosto de 2016. Nada daqueles dias ensolarados que douram o cerrado: apenas a atmosfera sufocante e seca que traduzia as horas. Debaixo daquele céu, uma Esplanada deserta, melancólica, de ressaca antecipada. Sim, um dia histórico e de reflexão – exceto para o ativismo das redes sociais, onde o clima de terceira guerra mundial continuava de vento em popa.

Pouco depois das 11 horas, o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, iniciou a sessão do julgamento de Dilma Rousseff. Às 13h35, tudo estava consumado. Não era apenas o fim do governo Dilma. Chegava ao fim uma era que expôs com toda crueza nossa infantilidade brasileira, nosso despreparo perante os embates da vida, nossa dificuldade em debater com maturidade as questões essenciais da nação.

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Não vou atribuir todos os males desta terra ao PT, já que nossa história e ethos nos mostram que malandragem, jeitinho, corrupção e populismo têm lugar garantido desde priscas eras. Entretanto, é inegável que a era petista ampliou o ódio e estimulou algumas práticas que hoje estão plenamente incorporadas ao modo de agir brasileiro. Somadas ao caráter natural de parte da população e ao advento das redes sociais, constituíram um pacote explosivo que resulta na atual face da nossa sociedade.

Nos últimos anos, fomos envenenados. Não foi abrupto, com a boca sendo aberta à força e o cálice tóxico derramado goela abaixo. Não, nada disso. Foi um envenenamento gradual – a cada dia uma gota amarga e cumulativa sendo oferecida com um sorriso nos lábios. Aos poucos o organismo desta pobre Nação recebeu, sem resistência, as gotículas que se converteram no oceano de raiva mal contida que agora nos ameaça. E quando nos demos conta, lá estávamos nós, ventre inchado de ódios, vomitando a mágoa que nos encharcava as vísceras e saía boca afora, violenta e feia.

Atordoados pelo veneno, feridos pelas marcas de um passado ditatorial recente que nos apavorava, muitos acreditaram nas ilusões que viam. E reverenciaram salvadores da pátria que tinham como único objeto de adoração o seu próprio projeto de poder. Nossa gente tão crédula abraçou os discursos demagógicos, os corruptos em pele de cordeiro, os exploradores da pobreza e os que, espertamente, os insuflavam a se odiarem mutuamente.

O modo de agir era sempre o mesmo: pegava-se um problema social pré-existente e, em vez de concentrar esforços apenas em mecanismos positivos para eliminá-lo, açulava-se os brasileiros uns contra os outros. Em vez da educação que liberta, de ações positivas, do incentivo ao respeito mútuo, o país mergulhou na era da vingança induzida pelo debate superficial e por sofisticadas técnicas de marketing. Curiosamente, a prática contraria uma das mais famosas frases de um ídolo das esquerdas, o pedagogo Paulo Freire: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”. Não deu outra: os oprimidos adoraram inverter os lugares.

E foi assim que causas nobres e dignas de atenção – como combate ao racismo, à pobreza, ao preconceito contra homossexuais e a violência contra as mulheres – tornou-se propriedade exclusiva de um grupo instalado no poder. Aos petistas e seus mais próximos aliados cabia o monopólio da indignação com qualquer problema de natureza social. Souberam manipular muito bem as mentes mais imaturas, dando a elas a sensação de que agora tinham voz e armas para lutar contra a opressão. Não é muito diferente das estratégias de colonização de cérebros utilizada pelo Estado Islâmico. Só mudam os resultados práticos. Quer transformar alguém num homem/mulher bomba real ou virtual? Convença-o que ele é vítima de um sistema, dê-lhe inimigos, faça-o concentrar seu ódio em um alvo específico, assegure a ele que está do lado certo e que suas estratégias – mesmo as mais estapafúrdias – são a maneira adequada de “lutar”.


O envenenamento de almas converteu os incautos em uma espécie de Peter Pan malcriado que adora expressar, de forma teatral, sua raiva e frustração. Simultaneamente desaprendemos os fundamentos da vida adulta, como o fato de que o sucesso é fruto de esforço, tempo e dedicação; que não há almoço grátis e que o Estado não é uma vaca de miraculosas tetas de onde brotam cédulas e moedas. Para essas mentes infantis, caiu perfeitamente bem um governo que se apresentava como o grande dizimador das desigualdades mediante atos mágicos, escorados em slogans criativos. Seduzidos por memes e frases de efeito repetidos à exaustão, provocações pueris e gestos afetados, tornaram-se instrumentos dóceis de seus manipuladores. Sem jamais se dar conta de que são meros peões de um jogo muito complexo, milionário e perigoso.

Pensar tornou-se dispensável: as opiniões surgiam, prontinhas, no feed de notícias. Bastava curtir e reproduzir. Atos midiáticos tornaram-se um clássico instantâneo. A luta feminista agora tem como símbolos máximos um rastro de menstruação escorrendo pelas pernas, mamas desnudas e sovacos cabeludos exibidos como troféus – sem falar nos relatos rocambolescos que tomam as redes sociais e protestos simplistas contra cartazes de filmes de super herói. Sinceramente, só consigo ver isso como demonstração de rebeldia adolescente. Educar pela reflexão e exemplo ou trabalhar voluntariamente em instituições voltadas para dar suporte a mulheres vítimas de violência talvez não seja algo tão espetacular para colocar no Facebook. Além de que tudo isso consome muitas horas que se pode passar tentando arrumar curtidas e viralização nas redes sociais, não?

E o racismo? Reduziu-se a mantras do tipo “a casa grande surta quando a senzala aprende a ler”, que soa fortemente provocativa e atinge, indiscriminadamente, aos preconceituosos e aos que apoiam a causa embora não sejam diretamente afetados. Suspeito que Martin Luther King discordaria dessa abordagem tosca. Sem a tal educação libertadora, o que temos para hoje é um pessoal que adora se tornar opressor, repito. Foi o caso daqueles que ofenderam um rapaz branco (ó crime!) por haver cometido o pecado de “apropriação cultural” ao usar dreadlocks.

Os exageros da militância infantilizada causaram sérios danos a todas essas causas que merecem atenção. Despertaram antipatia e empurraram muita gente boa direto para os braços de políticos rudes e gurus falastrões, vaidosos e sem o menor bom senso, cuja única vantagem é ter uma suposta coragem de combater os excessos do politicamente correto. Sim, estou dizendo a todos esses guerreiros da justiça social que eles mesmos ajudaram a turbinar os seguidores fanáticos de seus adversários. É o preço que se paga por optar pelo caminho da superficialidade.

No Brasil de hoje já quase não há espaço para o caminho do meio, para os que pensam com calma. É a era dos extremos, na qual se cola na testa alheia, com facilidade e quase displicência, rótulos de todo tipo: reacionário, progressista, retrógrado, opressor, macho indócil, feminazi, coxinhas, petralhas, etc. A criatividade é imensa; a maturidade, não.

Simultaneamente, perdemos nesta terra a delicadeza do gesto, a elegância da expressão, o respeito à opinião diferente e a arte de argumentar. Nas redes sociais, tornou-se cada vez mais natural cuspir na face alheia os mais cabeludos palavrões e as mais duras agressões. Aos poucos, a Nação trouxe para a vida real as escarradas virtuais, a impaciência generalizada e esse ódio cada vez mais onipresente.

Hoje somos um país de crianças mimadas e mal-educadas, que reagem com histeria à menor contrariedade. Infantes desacostumados ao que dá estofo às civilizações: estudo, trabalho e altos valores.

Desaparece dentre nós o hábito da leitura mais longa. Qualquer texto de mais de cinco linhas torna-se “textão” e gera a inevitável e quase elogiada preguiça. Preguiça que, aliás, também se tem diante do exame da argumentação alheia. Tudo é cansativo. Sem o hábito da leitura, do estudo sério e da reflexão, torna-se compreensível a adesão ávida às armadilhas da falsa retórica.

Ah, pátria minha, que compaixão me toma ao pensar em ti. Uma terra tão rica, cuja fertilidade Pero Vaz atestou logo na chegada: em se plantando, tudo dá… Aqui está a maior jazida mineral do planeta, opulentos mananciais de água doce, biomas extraordinários, clima ameno, cenários de sonho. O que nos falta para ser grandes? Maturidade. Apenas maturidade em vários aspectos.

Maturidade para entender que não é o rótulo de “direita” ou “esquerda” que dá salvo conduto moral e atestado de bons sentimentos.

Maturidade para escolher governantes sem paixão cega.

Maturidade para retirá-los do poder quando violarem a ética ou malbaratarem os bens públicos. Sem traumas, sem guerras civis, sem a morte das amizades.

Maturidade para aceitar as regras do jogo democrático quando elas se voltarem contra interesses e desejos pessoais.

Maturidade para compreender que, no grande jogo político, há profundas manipulações mas cabe a cada um de nós, votantes, a decisão de não ser marionetes de interesses inconfessáveis. E este é um poder imenso.

Maturidade para aprender a respeitar regras e leis.

Maturidade para entender que são valores essenciais de uma nação o trabalho árduo, a boa educação e a honestidade.

Maturidade para compreender que a excelência deve ser buscada em grandes obras e pequenos detalhes. Sempre.

Maturidade para tirar os olhos exclusivamente do umbigo e saber colaborar para o bem comum, evitando sobrecarregar o organismo social. E isso vai de lixo jogado na rua à corrupção nas altas esferas.

Maturidade para entender o mais que óbvio: no Brasil tudo está por fazer e cada um tem um papel decisivo nessa tarefa.

Sei que tudo isso soa como utopia e até platitude, mas ainda cultivo na alma uma grande esperança: a de que essa época de ódios acabe por cansar a nossa gente. Que seja como aqueles relacionamentos tumultuados, que se consomem de intensa paixão por alguns meses e depois se deixam aquietar, vencidos pela intensidade dos sentimentos que ninguém é capaz de suportar por longo tempo.

Que venha esse tempo de calmaria, onde se reaprenderá a viver de verdade.

A crise política às vésperas do Dia da Pátria

Circula, entre nós, há muitos anos, a afirmação sobre o Brasil como o país do futuro. Isso era um sopro de esperança, em meados do século XX, quando outras nações reerguiam-se, após a destruição provocada pela Segunda Grande Guerra. Enquanto a maioria atingiu, nas décadas seguintes, elevado bem-estar social, sucessivas crises políticas constituíram severo obstáculo para que não entrássemos em rota perene de prosperidade para todos. Isso aconteceu por desmandos das lideranças que travaram o desenvolvimento econômico, a modernização das instituições e a formação de cidadãos independentes, instruídos e críticos, sem viés partidário.

O impeachment de Dilma Rousseff deveria ser o fim de um período turbulento e o início de consenso para construir a governabilidade fundada nos preceitos constitucionais. Eles seriam defendidos, diuturnamente, por aliados do presidente no Congresso Nacional fiscalizados por oposição incisiva, mas serena e responsável em relação ao destino de 206 milhões de brasileiros. Parece que isso não acontecerá, porque facções da base governista solaparam a Constituição, e os ânimos do grupo destituído do poder estão acirrados. Fica para a população todo o ônus de mais uma turbulência política que repercutirá no desenvolvimento econômico e nas ações governamentais indispensáveis a todos.

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O resultado dúbio do julgamento pelo Senado do impeachment de Dilma Rousseff aconteceu às vésperas do Dia da Pátria, quando o país celebrará 194 anos de independência. Descobrimos, entretanto, que autoridades manipularam a Constituição para garantir autoproteção e blindagem de amigos, comprometendo a segurança jurídica da sociedade. Percebemos, então, que perdemos tempo demais, em relação a outras nações, enterrando o sonho de “país do futuro”, porque, além da vergonhosa interpretação da Carta Magna, ainda não atingimos patamares fundamentais do mundo moderno, como escolaridade, assistência médica, saneamento, moradia sólida, proteção plena aos vulneráveis, segurança pública e preservação ambiental.

Teremos, então, mais uma vez, apenas uma festa do Estado, em que militares desfilam diante de autoridades protegidas por forte esquema de segurança, enquanto o povo fica atrás do cordão de isolamento. Isso sempre esmaeceu a identidade do cidadão comum diante dos governantes, registrando a distância entre eles e comprometendo a percepção de cidadania, com separação entre o mundo oficial e o social.

Assistiremos, então, mais uma vez, passivamente, àquele espetáculo, sem celebrar nossa nacionalidade. Isso não nos favorece, porque as fronteiras nacionais sustentam a soberania de um povo e vão além da demarcação de território, uma vez que se referem à dimensão humana que se sobrepõe à infraestrutura material. São delineadas pelo reconhecimento de cada indivíduo como membro de um grupo que almeja convivência pacífica, autonomia política e desenvolvimento integrado, esperando bastante do futuro.

Gilda de Castro

Volta às origens

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O PT agora é vítima de novo. Das elites, da mídia, da CIA, dos tucanos e, claro, do PMDB. Com quem está, mais uma vez, urdindo acordos nos municípios — mas isso, com certeza, não vai entrar no documentário
Cora Rònai

É ele mesmo: o PT não tem ninguém, apenas Lula,

A candidatura do Lula em 2018 está posta, ancorada na tentativa de ressurreição do PT. A leitura que fica da decisão dos companheiros seria cômica se não fosse trágica: não há mais ninguém. Em tantos anos de experiência, o partido não criou sucedâneos para seu fundador. Quem achou que era Dilma quebrou a cara, bem antes, até, de seu afastamento. Nem nos governos estaduais nem no Congresso apareceu um substituto. Sequer nos meios sindicais.

Indaga-se a razão desse engessamento e a resposta só pode ser uma: porque o Lula não deixou. De tal maneira ocupou espaços e reivindicou todos os comandos que agora ficou sozinho.

Quando escolheu Dilma para sucedê-lo, todo mundo aceitou. Não havia alternativa. Bem que ele tentou voltar em 2014, mas Madame não deixou. Imaginou-se Rainha da Cocada Preta e exigiu disputar o segundo mandato. Parece que fez até pressão para constranger o antecessor, ameaçando divulgar episódios da vida privada dele. Deu no que deu, com o esfacelamento do PT.

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Hoje, para tentar recuperar o tempo perdido, voltam-se mais uma vez os companheiros para o Lula, pelo mesmo motivo de sempre: não há outro. Condições, ele possui, mesmo submetido a virulenta campanha de descrédito, em boa parte liderada pelos que tremem de medo de sua volta. Vão tentar desmoralizá-lo e até mobilizar o Judiciário, pelo simples motivo de não haver adversário.

Se chamado a escolher um candidato no PT, mesmo disposto a encontrá-lo, não conseguirá. Terminará olhando-se no espelho e concluindo ser ele mesmo, caso o PT se disponha a lutar pelo poder. Ainda que a contragosto, a maioria das forças populares ficará com ele, apesar dos desmandos e do caos deixado por Dilma.

Resta saber se, entrado nos setenta anos, terá saúde e disposição para enfrentar uma campanha. E se terá apoio parlamentar suficiente para evitar a arapuca onde caiu sua malograda criação.

Um conto chinês

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Se Chico - o Anísio - fosse vivo poderia repetir o bordão de "Pantaleão", um dos seus mais famosos personagens: "É mentira, Terta?!".

Este é o bordão que perturba o pensamento de milhões de pessoas, não só no Brasil, mas, também, no exterior, que acompanharam o longo e tumultuado processo de impedimento e cassação dos direitos políticos da ex-presidente Dilma Rousseff.

O presidente Michel Temer, constitucionalista com larga experiência no estudo das nossas muitas constituições e político com conceito de ilibada conduta no uso do dinheiro público, partiu para a China demonstrando que o país vive em democracia plena e seu presidente pode deixar o comando do governo sob a responsabilidade do jovem presidente da Câmara Federal, deputado Rodrigo Maia.

Apesar das manifestações violentas de seguidores de Lula, real líder da massa ainda sustentada pelo governo, a realidade é que a maioria do povo está calma e ordeira desejando trabalhar para reparar os graves danos provocados pela política irresponsável praticada por 13 anos pelo Partido dos Trabalhadores.

Lá, do outro lado do mundo, o presidente Michel Temer, em momento de descanso na viagem de volta, poderá rever o filme "Um conto chinês" do cineasta argentino Sebástian Borensztein que retrata um fato bizarro, para utilizar a palavra do ministro do STF, Gilmar Mendes, sobre o fatiamento da fase final do processo de impedimento.

O fato deu-se quando uma vaca despencou de um avião militar russo que transportava algumas cabeças de gado afanadas de fazendas. A vaca soltou-se das amarras colocando em perigo a vida dos tripulantes que decidiram jogar o animal ao mar. O inusitado é que a vaca caiu sobre um barco pesqueiro japonês e o afundou, deixando os pescadores a boiar sobre as águas até serem salvos por um barco patrulha russo. Durante algum tempo a história foi contada como piada até que as autoridades russas confirmaram o relato dos japoneses.

A inusitada decisão do Senado Federal em eliminar texto constitucional para garantir direitos políticos à Dilma Rousseff é um desses fatos que nos remete a muitas decisões formuladas não para serem atos juridicamente perfeitos, mas atos políticos que desconsideram a letra fria da lei para acomodar os interesses de dirigentes políticos.

O presidente Michel Temer, lá da China, decidiu não analisar a decisão do Senado Federal , afirmando que a questão é jurídica e caberá aos juristas decifrar o julgamento. Para ele, o importante é que a interinidade acabou e ele deve se dedicar à estabilidade política e à recuperação econômica. É razoável supor que os chineses estejam ansiosas para investir no Brasil, incentivando outros investidores a fazer o mesmo.

No encontro com o presidente, Xi Jinping, se instado a responder à pergunta do dirigente chinês sobre o "impeachment": ­- 真正的总统, após a devida tradução, (é verdade, presidente?) poderá dizer: Agora não trato mais de assuntos jurídicos, sou só o presidente constitucional do Brasil; é a última referência que farei à nossa flexível Constituição Federal nos próximos dois anos, se não, a vaca, em vez de cair do céu e parar no mar, irá para o brejo!

Cuba, Bolívia, Venezuela e Equador: A fonte secou

Assim como o Renascimento deve muito à atividade dos mecenas, membros abastados da elite daqueles tempos, assim também existe, há anos, um mecenato político vermelho. Nesse sentido, está a merecer estudo a atividade da Secretaria de Relações Internacionais do PT. Foi dali que saiu o senhor Marco Aurélio (top top) Garcia para determinar, até bem pouco, tudo que realmente importava no Itamaraty. Graças a essa interferência de um partido nas relações externas do Brasil, nosso governo, desde 2003, esteve para os articulados no Foro de São Paulo mais ou menos (não é uma analogia perfeita) como a Rússia para seus países satélites.

Havia uma coincidência ideológica, de estratégia e de interesses. Unidos por objetivos de conquista e preservação do poder, esses grupos políticos, no início do século 21, descobriram que era mais fácil e menos perigoso fazer a revolução pelo voto, valendo-se da democracia para destruí-la, do que pela insurgência. Seguiram todos pelo mesmo caminho e vinham se dando bem. Unia-os a veneração às barbas de Fidel, o desejo de reproduzir nos respectivos cercados a longevidade da dinastia Castro, a antipatia pelos Estados Unidos, o discurso de ódio aos machos de pele branca da classe média para cima e, claro, desastrosas políticas econômicas de intervencionismo estatal.

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Lula, e depois Dilma, se tornaram os mecenas do clube. Passaram a financiar obras públicas a juros que nós subsidiávamos, a contratar presumidos médicos cubanos, a permitir que tomassem instalações da Petrobrás na Bolívia, a pagar acima do contratado por energia paraguaia de Itaipu, a doar (como se vê em vídeo que recentemente postei em (www.puggina.org/videos) milhares de toneladas de cereais. Por essas e muitas outras, os membros do clube bolivariano reuniam-se frequentemente para ouvir os dois mecenas. Recebiam-nos com brilho nos olhos, como se o tamanho da nossa economia fosse sinônimo de riqueza disponível e socializável e os escutavam como estagiários diante de Bill Gates.

Se você, leitor, crê que aqueles atos de generosidade petista tinham alguma relação com solidariedade internacional, está muito enganado. Nosso governo lixava-se para uruguaios, paraguaios, argentinos, bolivianos, equatorianos, venezuelanos, nicaraguenses e cubanos. Sua solidariedade se dirigia aos governantes desses países. Tanto era assim que se desinteressava imediatamente tão logo o poder local trocasse de mãos.

Agora que a casa caiu, a fonte secou e a boca livre acabou, os governos de Cuba, Bolívia, Equador e Venezuela fazem beicinho e reclamam porque o Brasil retirará o apoio que prestava àqueles tiranos explícitos ou disfarçados.

Percival Puggina