quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O velho e a política

‘É uma estupidez não ter esperança, pensou. Além disso, acho que é um pecado perder a esperança.”

Ernest Hemingway, no seu consagrado livro “O velho e o mar” ouve o velho Santiago — um pescador pobre e azarado, mas íntegro e inteiramente e orgulhoso do seu papel de caçador de peixes — refletir sobre a virtude apaziguadora chamada esperança.

Ao leitor que não passou pelo livro, lembro que Santiago estava “saloio” ou azarado. Na Amazônia brasileira, dir-se-ia “empanemado” porque abusou de pescar em demasia algum peixe ou porque exagerou na caça de algum animal, tirando do meio ambiente, do qual o predador faz parte, mais do que seria suficiente para a sua sobrevivência. Nos anos 60 (imagine!) publiquei um estudo desse princípio revelador de que, para além da oposição entre sociedade e natureza, há inúmeras e claras interdependências.

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Azarado há dezenas de dias, Santiago sai em seu barco de uma só e solitária vela e, por obra do que chamamos de acaso, pesca um colossal espadarte ou marlim. Uma peixe imenso, forte, poderoso e belo na sua integridade animal, com a qual ele dialoga. Realmente, a todo momento, o velho Santiago questiona-se a si mesmo se ele realmente mereceria esse presente tão imenso quanto a mudança de sua sorte.

Hemingway perpetuou no “Velho e o mar” a sua mais pungente parábola. Um crítico abalizado poderia dizer que tudo o que escreveu foi mitologia, mas eu não preciso ir tão fundo ou insinuar um peixe tão grande. Apenas sugiro que, como um velho ainda mais velho que o velho Santiago, eu reitero o que seria para mim, que não me entendo como azarado (mas teria muitos motivos para fazê-lo), o que seria encontrar nos oceanos deste mundo um extraordinário marlim?

Seria como ganhar sozinho uma loteria e, aparentemente, desfrutar de uma forma de liberdade que até hoje não me foi facultada? Que sonhos pode um velho sonhar? Aliás, será que os velhos sonham com grandes espadartes ou somente — como o velho Santiago — com os leões que ele, um dia, admirou nas areias de uma praia africana?

O que sucede com um velho que pega um enorme peixe, o qual lhe apascente o seu respeitável sentimento de finitude? No caso do velho Santiago, há um enorme regalo inesperado; há a luta para dominá-lo e — em seguida — o inevitável: a presença dos tubarões que começam a devorar a suculenta e nobre carne do peixe pescado...

Ganha-se sozinho uma fortuna. Mas eis que é preciso dividi-la. No momento da distinção, surgem os predadores, e eles chegam de todos os lados, pois são da casa e da rua, do porão e do sótão, do jardim e do quintal. Cada qual abre um sulco na carne do peixe pescado e come furiosamente o seu pedaço. O velho Santiago, como todo velho que por sorte pegou um peixão, luta para defender o símbolo de sua ressurreição. Nesta luta contra o roubo do seu trabalho, ele fere as mãos, usa uma faca sem fio e sente o imenso cansaço dos velhos. Mas Santiago não desiste nem mesmo quando vê o sonho desabar e verifica que não há vida sem tubarões ladravazes, safados e façanhudos — de dentes afiados e, acima de tudo, famintos ao seu redor.

Inveja, ressentimento, feiura, doença, má-fé, burrice, incompetência, hipocrisia, tristeza, preguiça, agressividade, ódio, medo, ignorância, radicalismo, desonestidade — essas doenças todas são (e estão) nos tubarões, mas também não podem ser ignoradas no pescador nem no marlim. A vida tem suas quotas de maldade e bondade, de amor e ódio, de intenção e de acaso.

Quem sabe os velhos não mereçam suas velhices viris, alegres, repletas de saudade e prazer? Quem sabe a fábula do velho Hemingway não é sobre essa capacidade de lutar contra predadores com virilidade? Ou sobre a transitoriedade das riquezas sendo devoradas pelos vermes, como dizia o velho Machado de Assis?

Reli Hemingway obrigando-me a assistir aos capítulos finais desse bizarro impeachment de Dilma Rousseff. A pescaria do marlim, com sua quota de heroísmo e esperança, dá-me alento nesses tempos sombrios que eu jamais esperava viver na minha velhice.

Seria um despautério tentar forçar um drama no outro. Afora a minha identificação com a velhice do velho Santiago, eu, no drama do impeachment, apenas vi tubarões e tabaroas. Uma delas legitimando moralmente o seu clube. Vi igualmente tubarões esbravejantes, mas todos mordendo. Um tubarão graúdo perdeu o rumo, sugeriu maluquice. A ideologia, eis o que aprendo, substitui o instinto. De minha parte, eu faço como velho Santiago: não perco a esperança.

Roberto DaMatta

Brasil x Brasil

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De tempos em tempos, um Brasil enfrenta o outro – nas urnas, com armas ou nos meandros da lei. Às vezes, inclusive, com todas essas possibilidades juntas. Já tivemos, por exemplo, - e não faz tanto tempo assim – ditadura com eleições modelo indiretas, senadores formato biônico, laudos e julgamentos falseados, Justiça de faz de conta.

Foi um tempo em que um Brasil autoritário derrotou e matou muito o outro. Fora da lei, com mantra de combate à corrupção.

Demorou um pouco, mas o outro derrotou o um. Na lei, nas urnas.

Já nos finalmente do longo processo de impeachment da presidenta Dilma – o segundo da nossa história -, um Brasil vem ganhando de 7 a 1 do outro. No entender de uns, com gols de mão, acertos prévios entre cartolas, jabá, porrada em campo, juiz omisso, nada de cartão vermelho, esparsos amarelos. No entender de outros, com jogo limpo e ritos adequados e legais.

Onde quer que ande a verdade – e ela sempre aparece -, o processo triste arrasta um mundo de indignidades, onde cabe de tudo - das chantagens e traições às agressões físicas de um Brasil contra o outro, contaminando os dois, como nunca antes na história desse país.

O tempo real exibindo o surreal. On-line.

Sem ordem, em progressão rápida, um Brasil trocou de mal com outro. Ambos soltaram suas feras. Sabe-se lá quando voltarão para a gaiola. E se voltarão. Quem sabe até, para sempre, abandonamos o mito do país cordial.

A atriz Sonia Braga, simplificou: É um momento estranho.

Tão estranho que até um filme volta a padecer de censura política. Aquarius, estrelado por Sônia, que na apresentação em Cannes fez protesto contra o processo de impeachment, ganhou classificação rara da censura: 18 anos. O que reduz a plateia. Toma, rebelde!

Coisas das guerras que, frias ou quentes, não são limpas, mas sempre feias, lotadas de crueldades, de pequenezas.

Com a presidenta Dilma exposta em postas, estão de novo em campo um Brasil contra o outro. Dessa vez, sem armas. Na lei. Por três decretos. E as dores de sempre.

“A democracia é um processo pelo qual as pessoas são livres para escolher quem levará a culpa”. A frase é do irreverente escritor canadense, Laurence J. Peter, professor e administrador, também autor de tese, que virou livro, sobre a inoperância da hierarquização nas empresas privadas e públicas.

Hoje, livre e sem cerimônia, um Brasil escolhe uma do outro Brasil para levar a culpa por ser o outro.

Sempre estranho, mas cíclico e recorrente.

Imagem do Dia

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Patagônia

O que vem a ser o golpe de 2016

Como no de 1840, o impedimento de Dilma Rousseff irá para a história coberto pela névoa das paixões do momento

Na manhã de ontem o senador Aloysio Nunes Ferreira reagiu a uma provocação de um deputado que ofendia a advogada que acusava a presidente Dilma Rousseff e ameaçou chamar a Polícia Legislativa para retirá-lo do plenário. Na véspera, como Nunes Ferreira, o senador José Anibal, também da bancada tucana de São Paulo, lembrou seus 50 anos de amizade com a presidente e, em seguida, defendeu seu impedimento.

Hoje, Dilma Rousseff perderá seu mandato. Assim, dos quatro brasileiros eleitos para a Presidência desde a redemocratização, dois terão sido defenestrados. Essa é uma taxa de mortalidade superior à do vírus ebola, um sinal de que algo vai mal em Pindorama. Afinal, Dilma será deposta, e o deputado Eduardo Cunha, espoleta do seu processo de impedimento, continua no exercício do mandato.

Pai filho tv sofa impeachment quem esta certo ninguem nem eu que elegi senadores e presidente

As sessões do julgamento de Dilma mostraram a beleza do ritual da Justiça. Ouvidos a ré, os advogados e os senadores, restarão uma sentença e a impressão de que houve muita corda para pouca forca. As pedaladas — o único elemento levado ao juízo — foram crime de responsabilidade, num caso de pouco crime para muita responsabilidade. Como não existe a figura de “pouco crime”, o resultado estará aí, irrecorrível, legal e legítimo.

Dilma será deposta pelo conjunto da obra, uma obra que foi dela, e não dos chineses. Seu longo depoimento, confirmou sua capacidade de viver numa realidade própria. Em 14 horas de depoimento e respostas aos senadores, a presidente, ao seu estilo, manteve-se numa atitude professoral, com um único momento que se poderia chamar de pessoal. Cansada, informou que estava prestes a perder a voz: “É inexorável”. Não era, aguentou até ao fim.

A palavra “golpe” tem uma essência pejorativa. O primeiro grande golpe da história nacional é costumeiramente conhecido como “Golpe da Maioridade” e entregou o trono do Brasil a Dom Pedro II, um garoto de 14 anos. Antecipando a conduta de Michel Temer, quando lhe perguntaram se ele queria a Coroa, teria respondido: “Quero já”. O tempo cobriu a violência do episódio. Argumente-se que quase dois séculos de distância fazem qualquer serviço.

Contudo, a posição dos senadores Aloysio Nunes Ferreira e José Anibal mostra como as paixões alteram condutas e que não são necessários 200 anos. Em 1965, o jovem José Anibal, como Dilma Rousseff, era um militante da organização Política Operária, a Polop. Do grupo de 20 estudantes mineiros, sete foram presos, seis foram banidos, um foi assassinado, outro matou-se para não ser preso e quatro exilaram-se, inclusive José Aníbal, que a polícia procurava como “Clemente” ou “Manuel”. Aloysio Nunes Ferreira, o “Mateus” da Ação Libertadora Nacional de Carlos Marighella, participou de um assalto a um trem pagador e exilou-se em Paris. Em 1975, de seis participantes, só ele estava vivo.

Numa trapaça da história, Dilma Rousseff, a “Estela”, teve dois companheiros de armas dos anos 60 na bancada do seu impedimento. Na defesa de seu mandato, ficou só o protoguerrilheiro amazônico João Capiberibe, senador pelo PSB do Amapá.

Esses cacos de memória parecem não querer dizer nada, mas daqui a 50 anos dirão tudo ou, no mínimo, dirão mais. Hoje começará a avaliação de Michel Temer.

Elio Gaspari

Santificação da cretinice

Resultado de imagem para lula o santoNada me fará renunciar a meu compromisso de vida com a construção de um mundo sem guerras, sem fome e com mais prosperidade e justiça para todos
Lula à ex-presidente Cristina Kirchner, denunciando uma "conspiração das elites" no Brasil

Cérebro, golpe e juiz natural


O cérebro é um órgão esquisito. Ele opera por contiguidade. Se eu o submeto a um estímulo negativo e, ao mesmo tempo, apresento-o a uma ideia ou objeto novos, ocorre uma espécie de contaminação e a nova representação fica marcada como algo ruim, ainda que nem saibamos explicar por quê.

 Igor Morski
Dilma Rousseff e os petistas buscam valer-se desse mecanismo ao descrever reiteradamente o impeachment como golpe. Dilma teve a cautela de distinguir o que ela chama de golpe parlamentar do golpe militar clássico. No primeiro, ela mesma admitiu, não ocorre a violências física e institucional associada ao segundo.
De fato, mesmo entre os que consideram o impeachment golpe, poucos hão de julgar crível um cenário em que o governo Temer revogue garantias fundamentais, censure a imprensa ou suspenda eleições. Assim, pelo próprio raciocínio dilmista, o golpe que estaria em curso não teria nenhuma das principais características negativas que atribuímos aos golpes. Acho importante destacar essa diferença, que tende a ser escamoteada pelos mecanismos de contaminação semântica com que o cérebro opera, para que nenhum neurônio desavisado pense que Temer está em vias de torturar pessoas.

Mas Dilma e os petistas estão certos ao chamar o impeachment de golpe? Eu diria que eles têm todo o direito de considerar o processo forçado, até o limite da farsa, mas me parece formalmente errado tachá-lo de golpe. É que, para fazê-lo, é preciso formar um juízo de valor sobre o mérito das acusações —o que é perfeitamente legítimo— e, simultaneamente, tirar do juiz natural a possibilidade de emitir um veredicto diferente deste –o que já não funciona tão bem.

O que caracteriza a democracia é justamente a utilização de processos formais para a solução de conflitos, e a regra do impeachment estabeleceu, já desde 1891, que cabe exclusivamente ao Senado julgar o presidente nesse tipo e acusação.

Hélio Scchwartsman

O fim do torpor

O impeachment da presidente Dilma Rousseff será visto como o ponto final de um período iniciado com a chegada ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, em que a consciência crítica da Nação ficou anestesiada. A partir de agora, será preciso entender como foi possível que tantos tenham se deixado enganar por um político que jamais se preocupou senão consigo mesmo, com sua imagem e com seu projeto de poder; por um demagogo que explorou de forma inescrupulosa a imensa pobreza nacional para se colocar moralmente acima das instituições republicanas; por um líder cuja aversão à democracia implodiu seu próprio partido, transformando-o em sinônimo de corrupção e de inépcia. De alguém, enfim, cuja arrogância chegou a ponto de humilhar os brasileiros honestos, elegendo o que ele mesmo chamava de “postes” – nulidades políticas e administrativas que ele alçava aos mais altos cargos eletivos apenas para demonstrar o tamanho, e a estupidez, de seu carisma.



Muito antes de Dilma ser apeada da Presidência já estava claro o mal que o lulopetismo causou ao País. Com exceção dos que ou perderam a capacidade de pensar ou tinham alguma boquinha estatal, os cidadãos reservaram ao PT e a Lula o mais profundo desprezo e indignação. Mas o fato é que a maioria dos brasileiros passou uma década a acreditar nas lorotas que o ex-metalúrgico contou para os eleitores daqui. Fomos acompanhados por incautos no exterior.

Raros foram os que se deram conta de seus planos para sequestrar a democracia e desmoralizar o debate político, bem ao estilo do gangsterismo sindical que ele tão bem representa. Lula construiu meticulosamente a fraude segundo a qual seu partido tinha vindo à luz para moralizar os costumes políticos e liderar uma revolução social contra a miséria no País.

Quando o ex-retirante nordestino chegou ao poder, criou-se uma atmosfera de otimismo no País. Lá estava um autêntico representante da classe trabalhadora, um político capaz de falar e entender a linguagem popular e, portanto, de interpretar as verdadeiras aspirações da gente simples. Lula alimentava a fábula de que era a encarnação do próprio povo, e sua vontade seria a vontade das massas.

O mundo estendeu um tapete vermelho para Lula. Era o homem que garantia ter encontrado a fórmula mágica para acabar com a fome no Brasil e, por que não?, no mundo: bastava, como ele mesmo dizia, ter “vontade política”. Simples assim. Nem o fracasso de seu programa Fome Zero nem as óbvias limitações do Bolsa Família arranharam o mito. Em cada viagem ao exterior, o chefão petista foi recebido como grande líder do mundo emergente, mesmo que seus grandiosos projetos fossem apenas expressão de megalomania, mesmo que os sintomas da corrupção endêmica de seu governo já estivessem suficientemente claros, mesmo diante da retórica debochada que menosprezava qualquer manifestação de oposição. Embalados pela onda de simpatia internacional, seus acólitos chegaram a lançar seu nome para o Nobel da Paz e para a Secretaria-Geral da ONU.

Nunca antes na história deste país um charlatão foi tão longe. Quando tinha influência real e podia liderar a tão desejada mudança de paradigma na política e na administração pública, preferiu os truques populistas. Enquanto isso, seus comparsas tentavam reduzir o Congresso a um mero puxadinho do gabinete presidencial, por meio da cooptação de parlamentares, convidados a participar do assalto aos cofres de estatais. A intenção era óbvia: deixar o caminho livre para a perpetuação do PT no poder.

O processo de destruição da democracia foi interrompido por um erro de Lula: julgando-se umkingmaker, escolheu a desconhecida Dilma Rousseff para suceder-lhe na Presidência e esquentar o lugar para sua volta triunfal quatro anos depois. Pois Dilma não apenas contrariou seu criador, ao insistir em concorrer à reeleição, como o enterrou de vez, ao provar-se a maior incompetente que já passou pelo Palácio do Planalto.

Assim, embora a história já tenha reservado a Dilma um lugar de destaque por ser a responsável pela mais profunda crise econômica que este país já enfrentou, será justo lembrar dela no futuro porque, com seu fracasso retumbante, ajudou a desmascarar Lula e o PT. Eis seu grande legado, pelo qual todo brasileiro de bem será eternamente grato.

A Arte do Otimismo

Principal inimigo que detonou Dilma foi o pecado da soberba

paixao
Dilma diz que foi derrubada por um golpe do Congresso. Se tivesse o bom hábito de ler os doutores da Igreja saberia que o pecado foi dela: a soberba. Sem ouvir ninguém, sem ler ninguém, sem conversar com ninguém, ela empurrou a economia do país para o abismo. E ainda queria ficar mais dois anos brincando de casinha de boneca no Palácio do Planalto.

Encontro aqui em Salvador um mestre guardião da pátria: o doutor em economia, baiano, três vezes deputado federal pelo MDB e PMDB do Paraná, Hélio Duque, que com sua sabedoria, me mostra que Dilma não foi empurrada. Ela pulou.
1 – A pobreza do debate público no Brasil não fica limitada à sociedade. Penetra na política. A proposta do Governo de emenda constitucional para limitar o crescimento do gasto público vem sendo combatida pelos que não entendem a importância de uma gestão fiscal responsável. Sem forte ajuste nas contas públicas, impedindo que as despesas cresçam mais do que as receitas, torna-se impossível retomar o crescimento econômico. A brutal recessão que mergulhou a vida nacional na crise tem no descontrole das despesas sua origem.
2 – O Estado não é gerador de riqueza, mas arrecadador de tributos para devolver em benefício da sociedade, com investimentos em áreas essenciais para o desenvolvimento humano e econômico. Responsabilidade fiscal é um valor que deve ser cultivado pela sociedade, acima de preferências pessoais ou ideológicas. O governante deve em primeiro lugar estruturar uma boa administração econômica. Sem ela o fracasso é garantido. Governos populistas e corporativistas geram a disfuncionalidade do Estado.
3 – Grupos organizados no Congresso ensaiam, através de emendas incabíveis, torpedear o programa de ajuste e limitação das contas públicas. Desejam a perpetuação da tragédia econômica e social que pode ser vista na recessão econômica dos últimos anos: desemprego de 11 milhões de trabalhadores e um déficit fiscal de mais de 10% do PIB (Produto Interno Bruto), aumento da relação dívida bruta/PIB de 53% para 70% e déficit acumulado de mais de 400 bilhões de dólares. E uma taxa de inflação atingindo o poder aquisitivo dos assalariados, com imensa redução na inclusão social e distribuição de renda.
4 – A situação real da economia brasileira foi escondida da população por largo tempo, com a conivência dos partidos políticos que apoiavam o governo. Lamentavelmente, para muitos homens públicos política econômica e política social são coisas diferentes. Os populistas e os seus agregados infantilizados acreditam que a primeira é defensora dos ricos, poderosos e privilegiados, enquanto a segunda é uma conquista dos pobres e deve integrar o seu universo existencial. Nada mais falso. Elas estão integradas. São ligadas umbilicalmente. Os recursos gerados pela política econômica é que garantem o dinheiro para o investimento em educação, saúde, segurança, nos programas assistenciais e nos programas sociais. Não existe política social sem dinheiro, desde tempos imemoriais. Quando faltam recursos, a desigualdade social aumenta.
5 – Até 2014, a melhoria do padrão de vida de milhões de brasileiros permitiu que muitos ascendessem à baixa classe média, comprovando que sem crescimento da economia que gera emprego e salários melhores, é impossível garantir a ascensão social. A perversa e cruel realidade foi responsabilidade de um governo que acreditava que os recursos públicos são infinitos, não aceitando disciplina e responsabilidade na administração do dinheiro público.
6 – Os parlamentares brasileiros deveriam meditar sobre essa realidade, empenhando-se na aprovação das reformas sem as quais a crise econômica se agravará.
O economista Mansueto Almeida, do Ministério da Fazenda sintetizou: “Se o Congresso não quiser aprovar a PEC contra o crescimento do gasto nem reforma da Previdência, não haverá ajuste fiscal.”

E sem ajuste fiscal, o governo terá de se financiar com juros crescentes, levando à explosão da dívida pública. Seria o descontrole da inflação e um tiro fatal na retomada do crescimento econômico.

O país está de olho no Congresso.

Não sabia de nada?

Dilma Rousseff está vivenciando provavelmente suas últimas horas como presidente do Brasil: tudo indica que ela será destituída do cargo. É o culminar de uma luta pelo poder sem precedentes.
 
Oficialmente, Dilma deve ser destituída da presidência por causa de manobras orçamentárias. Presidentes antes dela fizeram o mesmo, embora não em tão grande escala. O paradoxo é que muitos que impelem o impeachment de Dilma Rousseff estão afundados em escândalos. Dilma não enriqueceu no escândalo da Petrobras – provavelmente uma das poucas pessoas. Mas pode alguém que foi presidente do Conselho Administrativo da Petrobras realmente não ter sabido de nada?
Der Spiegel, A última luta de Dilma

Comunistas e a implosão do 'Estado Burguês'

O comunista Antonio Gramsci, “Il Gobbo”, ao perceber que a revolução bolchevique não passava de um inútil banho de sangue, levantou as principais coordenadas: “Primeiro” – disse ele – “você destrói a economia, depois destrói o Estado e, em seguida, acaba com a oposição. Aí, toma conta da sociedade. E a melhor maneira de destruir a sociedade capitalista é depravar sua economia”.

Mas como chegar a isso? Bem, o caminho prático para se chegar ao paraíso comunista seria o de “sobrecarregar” o Estado burguês capitalista. A ideia diabólica seria levar todo mundo a depender, dentro do sistema, das benesses do Estado e passar a mamar nas tetas do governo. Com o tempo, o peso do amparo à pobreza se tornaria insuportável e a sociedade capitalista ruiria, pois, como se sabe, a humanidade sempre viveu em regime de escassez.

Não há prática sem teoria. Assim, inspirado nas teses (doentias) de Gramsci e nas “regras radicais” de Saul Alinsky, agente da KGB infiltrado nas organizações sindicais da Chicago dos anos 30, especialista em fomentar “conquistas sociais”, Richard Cloword e Frances Fox Piven, um casal de fabianos, prescreveu a bula para destruir a democracia capitalista. Nas páginas da “Estratégia Cloword-Piven”, a dupla pontifica: “A economia burguesa será levada ao colapso por meio da crescente implementação da conquista de direitos patrocinados pelo Estado do bem-estar social”. E mais:

- Ao lado da distribuição das benesses sociais, será necessário ainda expandir o poder de atuação da burocracia visando a criação de leis e pacotes assistenciais e, fundamentado nelas, na expansão do eleitorado dependente do amparo do governo. “Com o aumento da lista de assistidos e a sobrecarga dos direitos sociais será inevitável a deflagração do caos na economia burguesa”.

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(Hoje, no Brasil, a partir dos governos socialistas de FHC, Lula da Selva e Dilma Terrorista, ninguém duvida mais que prevalece no pedaço a rigorosa adoção da “estratégia” miserável).

De fato, em vinte anos, para implodir o “sistema burguês” e se manter no poder fáustico, a canalha esquerdista criou cerca de 84 estatais e 39 ministérios prodigalizando regalias tipo “auxílio exclusão”, “seguro-defeso” e “bolsa família”, institucionalizando, assim, a malandragem pátria. Por exemplo: visando manter ativo um inusitado “Beneficio de Prestação Continuada” (BPC), para remunerar dependentes que nunca contribuíram com INSS, e que muitas vezes nem existem, o governo babá queima anualmente R$ 45 bilhões.

Outro exemplo claro da ação preconcebida para implodir a economia burguesa identifica-se na criação da Empresa de Planejamento e Logística destinada à construção do trem-bala, cujo projeto, abandonado, redunda no desperdício anual de milhões no custeio da folha de pagamento de funcionários ociosos.

Neste banquete de horror socialista, 300 mil ativistas terceirizados e 100 mil “boquinhas” comissionadas em ministérios e estatais se refestelam na grana pública.

Some-se a tudo isto, as despesas colossais com os salários nababescos das burocracias do executivo, legislativo e judiciário, incorporando aumentos crescentes e isonomias em cascata, bem como mordomias, viagens oficiais aos borbotões, para não falar nos bilhões dos fundos de pensões, nas fortunas para produções de filmes pornográficos e políticos, em shows permissivos de artistas engajados e mais o desperdício sem controle de verbas das universidades e de obras públicas fraudulentas que oficializam o sumidouro de propinas e roubos partidários e então... e então teremos a justificativa do porquê a economia burguesa dançou e o socialismo dos neomarxistas se impôs à nação perplexa, humilhada e ofendida.

PS – A julgar pelo que vocifera o sinuoso ministro Meirelles, mão de ferro do governo social-democrata da era Temer, caberá ao contribuinte (a descarnada classe média, por assim dizer) pagar o ônus da ruinosa “estratégia”. Ele sustenta, com dose de cinismo, que se não houver aumento da arrecadação pelo crescimento da produção, só restará ao governo o aumento da carga tributária, “pontual e temporário”, para se chegar ao inatingível “ajuste fiscal”. Como diria o carniceiro Lenin - o que fazer?

A estrela some

A ser coerente com a narrativa do seu discurso de defesa no Senado, Dilma Rousseff deveria percorrer o país de ponta a ponta, logo após a consumação do impeachment, e usar o palanque eleitoral do seu partido como trincheira de denúncia e resistência ao que ela e sua trupe chamam de golpe.

Isto tem possibilidade zero de acontecer.

Predomina no Partido dos Trabalhadores um clima de salve-se quem puder, ou de, em tempos de Murici, cada um cuida de si. Diferentemente de 2012, quando Lula e Dilma foram os carros-chefes da propaganda petista, a atual leva de candidatos a prefeito não quer os dois nos seus palanques, principalmente uma soberana escorraçada do trono, com imagem tão ou mais desgastada do que a da própria legenda.

Daqui para a frente a relação Dilma-PT tende a ser como aquele verso de uma música imortalizada por Caetano e Maysa: “podemos ser amigos simplesmente, coisas de amor nunca mais”.

Se é que houve amor entre os dois alguns dia; se é que não ficaram profundos ressentimentos, como revelou o ex-marido de Dilma, Carlos Araújo, normalmente uma pessoa discreta e reservada, ao blog Socialista morena:

“O PT está tentando fugir de sua responsabilidade, é vergonhoso isso. Quer atribuir a Dilma todos os problemas dele. Tudo que houve com ele, parece que não houve, é só por causa da Dilma que está mal. Quando a questão é inversa: o PT está mal pelos atos que cometeu, não puniu ninguém, não tomou atitudes, providências em relação aos bandidos que tinha dentro do partido, na direção do partido. Uma bandidagem. Tem que fazer um mea culpa e levar às últimas consequências, explicar para a sociedade, deve explicações para a sociedade. E, diante disso, trataram a Dilma muito mal, desde que começou esse rolo aí, sempre trataram mal”.

O desamor é mútuo. Em seu discurso no Senado, Dilma não citou o Partido dos Trabalhadores. Fez autoelogio, endeusou Lula, mas ao PT, nada. Quando fez referência, foi para dizer que “meu partido errou ao não apoiar a Lei da Responsabilidade Fiscal”. No mais, o Partido dos Trabalhadores foi o grande ausente na sua peça de oratória.

A estrela, símbolo do partido, sumiu nos programas televisivos dos principais candidatos petistas. Ou apareceu de forma tão minúscula, tão acanhada, como na propaganda do candidato a reeleição em São Paulo, Fernando Haddad, que para enxergá-la é necessária uma lupa. Aquela estrela vermelha imensa da logomarca de Haddad de 2012 escafedeu-se em 2016, virou um pontinho na tela de TV. Na logomarca de Raul Pont, candidato a prefeito de Porto Alegre e da ala esquerda do PT, a estrelinha também tomou chá de sumiço

O vermelho desbotou, sumiu do mapa. Em alguns casos “azulou”, como nas peças publicitárias do ex-deputado e atual prefeito de São José dos Campos, Carlinhos Almeida, que aderiu ao azul e amarelo, mais parecendo um tucano. Aquele mar vermelho não aparece nas bandeiras, deu lugar a uma proliferação de cores nas campanhas petistas.

Quem entrou na clandestinidade mesmo foi a sigla PT, banida da TV e das peças publicitárias. Qual é o partido de Haddad, de Raul Pont, de Reginaldo Lopes, candidato em BH, dos candidatos Carlinhos, Donizete Braga, de Mauá, e de Edinho Silva, candidato em Araraquara? Ninguém sabe!

Suas propagandas só informam que o número deles é 13. Um dos homens forte do governo Dilma, Edinho Silva omitiu até que foi seu ministro, na descrição de sua trajetória política.

É vexatório e emblemático do oceano de dificuldades no qual está submerso o Partido dos Trabalhadores. Vai disputar as eleições municipais com menor número de candidatos a prefeito, praticamente sem alianças ao centro, e tendo como grande parceiro o PC do B, seu seguidista desde sempre. Mais grave: sem um discurso efetivo, capaz de calar fundo no coração dos eleitores e de resgatar o brilho de uma estrela opaca.

A direção do PT gostaria imensamente de virar a página, marchar no rumo da refundação de um partido que perdeu o seu charme e está envolvido em suas próprias contradições, ou no mar de lama que criou. Nem mesmo Lula é mais unanimidade. Sua presença só é bem-vinda em palanques dos grotões do país. Em São Paulo e em outros grandes centros eleitorais virou uma mala sem alça, um andor difícil de carregar.

Imaginem então a Dilma. O discurso do “contra o golpe” não dá votos, razão pela qual só foi assumido por Jandira Feghali, do PC do B do Rio de Janeiro, ou por Raul Pont, que enfrenta em Porto Alegre uma dura concorrência pela esquerda, a da candidatura de Luciana Genro, do PSOL.

Nesse emaranhado de dificuldades, os candidatos petistas apelam para o mandraquismo, como se os eleitores fossem bobos e caíssem em truques de mágica.

Somem com a estrela. Correm o risco de sumirem das urnas.