sábado, 20 de agosto de 2016

Escada e alavanca

O atleta olímpico recebe a medalha para si, mas leva a bandeira do seu país. O reconhecimento ao seu esforço e talento permite-lhe futuros benef cios pessoais, mas na vitória é também uma reverência a todos os seus compatriotas. O pódio é uma escada ao sucesso pessoal do medalhista e também uma alavanca ao prestígio de seu país. O ensino superior deveria seguir regras parecidas: ser escada social para os jovens e alavanca para o progresso.

Graças ao curso, o aluno formado receberá prestígio e remuneração por toda a vida e, com seu conhecimento, ajudará a for- mar uma sociedade desenvolvida e justa. A universidade deve ser gratuita para aqueles que tiverem talento para a profissão e escolherem um curso que sirva ao progresso econômico e social.

O aspirante na academia militar estuda gratuitamente porque aprende a defender a nação; o aluno da carreira diplomática estuda para estreitar nossas relações internacionais; da mesma forma, o jovem que deseja ser professor do ensino médio estuda para formar cidadãos e construir o Brasil. São cursos e carreiras de interesse nacional e, por isso, devem ser financiados pelos governos.


O critério para a gratuidade ou o pagamento deve ser o interesse nacional, não a renda pessoal ou familiar do estudante. Não há razão para uma família rica ter de pagar os estudos de um filho se ele quer ser cientista, para ajudar a conhecer o mundo e até encontrar o mistério da cura para doenças; ou se quer ser mé- dico para atender à saúde pública; ser filósofo, historiador, matemático ou artista, para enriquecer o mundo culturalmente.

Da mesma forma, quando há limites de recursos públicos, a sociedade não precisa pagar cursos que servem apenas como escada social, sem a característica de ser alavanca do progresso. Mesmo que a carreira seja apenas do interesse privado, o Estado não tem o direito de impedir uma pessoa de seguir o curso para o qual tem vocação, mas não deve ter obrigação de financiar este curso com recursos públicos que devem atender a outras prioridades, como a educação de base.

O atleta que não carrega a bandeira do seu país deve ter direito de se preparar, mas não há razão para exigir investimento público no seu treinamento. Para atender o gosto apenas do atleta que não carrega a bandeira ou do aluno que não tem compromisso com o desenvolvimento e bem-estar da nação, o país e seu povo não precisam pagar. Para ser gratuito, o curso universitário deve ser ao mesmo tempo escada pessoal e alavanca social ao progresso socioeconômico.

O governo deve bancar o estudo de todas as crianças, porque cada uma delas representa em si um potencial, também deve dar-lhe, na escola, a chance de ser um atleta. A partir de um certo momento, deve concentrar os recursos nos mais talentosos e nos cursos que levem o país e seu povo a um futuro eficiente e justo e carregue nossa bandeira.

A medalha dourada do vexame

Sempre tive uma certeza: a medalha de ouro na categoria vexame internacional por equipes seria nossa. Seguíamos liderando também nas modalidades individuais mazela política, incompetência administrativa, corrupção despudorada e obras não concluídas. A imprensa mundial já trombeteava aos quatro ventos nossa vitória, apontando lixo e cadáveres boiando na baía de Guanabara, a violência onipresente e a precariedade da Vila Olímpica.

Tanta certeza tive de que o campeonato era nosso que não titubeei: adquiri uma sacolinha de papel para usar sobre a cabeça. Para completar o quadro, surgiram novas chances de medalhas na categoria péssimo anfitrião, quando oferecemos cangurus, vaiamos atletas e delegações adversários, incluindo os vizinhos que aprendemos a odiar.


Foi quando surgiu o nadador americano Ryan Lochte. Ah, esses americanos, sempre tentando arrebatar as medalhas alheias! Lochte relatou um assalto, incrementou a performance com a história de uma arma na cabeça e bateu em retirada. Estava certo de que nada aconteceria, afinal estava numa terra de ninguém, famosa pela incapacidade do Estado, por um aterrorizante número de crimes e por um povo acostumado a assistir passivamente a seus dirigentes mentirem com a mesma naturalidade com que se respira.

Desmascarado, o nadador seguiu agindo com arrogância e sem dar mostras de arrependimento. Foi a essa altura que, sozinho, Lotche quase nos arrebatou a medalha dourada e eu ensaiei tirar a sacola de papel que me cobria a cabeça. Como bem sabe quem acompanhou a saga, inicialmente os americanos deram suporte aos seus atletas, mas, diante das evidências, fizeram algo cada vez mais raro no Brasil: reconheceram a gravidade da conduta dos seus compatriotas e o Comitê pediu desculpas formalmente.

Com a maturidade desse gesto, os Estados Unidos deixaram a disputa pela medalha da vergonha. Continuamos soberanos na incapacidade de reconhecer erros, admitir equívocos, curvar a cabeça diante de provas cabais e demonstrar pudor em apoiar mentiras e crimes. Não há estatística da tragédia socioeconômica, testemunho de antigos comparsas, prova documental ou gravação de conversas obscenas que consiga arrancar de nossos homens públicos e seus apoiadores uma singela admissão de culpa ou o reconhecimento da gravidade de suas condutas.

Da nota do Comitê Olímpico americano destaquei esta frase: “O comportamento desses atletas não é aceitável, muito menos representa os valores do Time Americano ou a conduta da vasta maioria de seus membros”. Pensei aqui comigo no quanto seria prazeroso ouvir algo assim de dirigentes de partidos cujos membros foram flagrados em casos de corrupção. Ou como seria confortador ouvir de alguns eleitores que não é aceitável que seus políticos de estimação mintam, manipulem, cometam crimes e permaneçam impunes.

“Em nome do Comitê Olímpico dos Estados Unidos, pedimos desculpas aos nossos anfitriões no Rio e aos brasileiros pelo problema causado durante o que deveria ser apenas a celebração da excelência”, declarou o comitê americano. E já que nossos políticos são apenas hóspedes temporários em Brasília, seria de bom tom copiar o modelo acima em várias situações:
º Em nome do meu partido/coligação, peço desculpas aos brasileiros pelos crimes causados durante o que deveria ser apenas um mandato. O comportamento desses políticos não é aceitável, muito menos representa os valores do partido ou da vasta maioria de seus membros.
º O comportamento causado pelo político que elegi causou graves prejuízos ao nosso país. Isso é inaceitável. Peço desculpas aos brasileiros pelos crimes causados por minha escolha equivocada.

º Reconheço e peço desculpas ao povo brasileiro pelos crimes que cometi, pelas mentiras que espalhei para convencer incautos e por ter me locupletado com dinheiro público durante o que deveria ser apenas um mandato. Meu comportamento não é aceitável, muito menos representa os valores da Nação brasileira.

Achou excessivo? Pois lembre-se que Ryan Lochte é considerado um dos maiores atletas olímpicos de todos os tempos e os americanos não hesitaram em expor o membro doente que pode corromper toda uma sociedade. Obviamente os Estados Unidos não são exemplos de perfeição ética ─ não é isso que estou afirmando. Mas demonstraram, neste episódio específico, que prezam pela imagem de seu país e que não aceitam ser associados a condutas abjetas. O recado foi claro: mentiras são prova de péssimo caráter e não há passado glorioso que possa justificar atos vergonhosos.

É exatamente o que nos falta: um movimento vigoroso de todo o organismo social para expurgar de vez os personagens sem ética que nos fazem campeões da vergonha. Mas, antes disso, temos uma outra tarefa ainda mais árdua: tornar verdadeira a parte das desculpas que diz que os comportamentos indecorosos não representam os valores de partidos políticos, da maioria de seus membros e do conjunto da pátria brasileira.

Com a medalha dourada do vexame reluzindo na Praça dos Três Poderes, decidi manter a sacolinha de papel na cabeça.

A diferença

Diz-se que o que diferencia o estadista do político é que, enquanto aquele pensa nas próximas gerações, este pensa nas próximas eleições. 
Não há estadistas no Congresso, que hoje divide suas preocupações entre as urnas e o banco dos réus. Não é ambiente propício à envergadura das necessidades do país
Ruy Fabiano, A crise, segunda temporada

Corrupção nas obras públicas

Longo período decorreu desde que, no Programa Roda Viva, da TV Cultura, de 15 de dezembro de 2014, foi apresentado e debatido um instrumento efetivo de combate à corrupção nas obras públicas. Trata-se do comprovado sistema conhecido como performance bonds, adotado nos EUA há exatos 120 anos e que tem o mérito de quebrar a interlocução direta das empreiteiras, geneticamente corruptas, com os agentes públicos prazerosamente encarregados de fraudar as concorrências e permitir o superfaturamento das obras públicas.

A resposta da opinião pública foi muito positiva à proposta, tendo havido, desde então, efetivas contribuições de especialistas e de entidades no sentido de formular um projeto de lei que implementasse essa solução estrutural de combate à corrupção. Um anteprojeto de lei foi efetivamente elaborado, a pedido do senador Cássio Cunha Lima, que em julho deste ano logrou ingressar como o PL n.º 274 no Senado, com rito terminativo na Comissão de Constituição e Justiça.

Convém lembrar, a título de curiosidade, que no mesmo dia do lançamento da proposta de performance bond no Roda Viva a presidente, ora afastada, declarava, em seu discurso de diplomação no Tribunal Superior Eleitoral, que não deveriam ser punidas as empreiteiras corruptas, pois geravam empregos... E essa política de prevaricação, em face das empreiteiras do cartel da Petrobrás, foi efetivamente seguida, mediante a leniência escancarada da CGU, que jamais promoveu qualquer processo administrativo contra elas durante todo o governo dilmista. Ao contrário, continuaram elas a contratar livremente com o poder público e dele obter os financiamentos necessários a novas obras, no Dnit e em outros antros de corrupção do governo petista e suas aparelhadas estatais.

Mas esse quadro parece ter mudado. Já na segunda semana do novo governo o Ministério do Planejamento, por determinação do presidente em exercício, encampou o projeto do senador Cunha Lima, a fim de, efetivamente, implementar num prazo razoável a obrigatoriedade do regime de performance bond nas obras públicas contratadas.

A matéria está no Congresso não somente pelo projeto referido, como também por meio de emendas que o Ministério do Planejamento procura introduzir em outro projeto, n.º 559, do senador Fernando Bezerra, que deverá ser votado nas próximas semanas.

Há, com efeito, todo um movimento do atual Poder Executivo e de suas lideranças parlamentares visando à adoção do performance bond nas obras públicas. E esse sistema será um novo marco estrutural nas relações público-privadas no Brasil, em matéria de obras públicas.

Como é notório, prevalece entre nós o arcaico capitalismo de laços (crony capitalism), que se caracteriza como uma economia em que o sucesso nos negócios depende, necessariamente, das relações entre os empresários e os agentes públicos, tanto administrativos como políticos. No nosso caso, esse capitalismo de laços se caracteriza, portanto, como o regime da relação direta entre as empreiteiras e os agentes do Estado.

Essas construtoras de obras públicas, na sua totalidade, são controladas por grupos familiares, o que permite uma manipulação corruptiva continuada e cultivada dos agentes políticos e administrativos. Nessas empresas familiares quem manda são os controladores, muitas vezes fora do alcance da Operação Lava Jato.

Em alguns casos, esses familiares que operam o esquema da corrupção não são nem diretamente acionistas, refugiados que estão numa cadeia internacional de holdings. Essa verdadeira casta de empreiteiras de família, difusamente entrosadas com as autoridades, permite, que se formem os cartéis de obras, dos quais também participam multinacionais sediadas no exterior.

O remédio fundamental, portanto, para o combate estrutural à corrupção no setor público é o rompimento desse capitalismo de laços, ou seja, a quebra da interlocução, direta e promíscua, das empreiteiras e dos fornecedoras com os agentes políticos e administrativos. E esse rompimento se dá pela presença, no contrato de obras públicas, de uma seguradora que, obrigando-se a ressarcir o Estado, no caso de descumprimento, passa a fiscalizar permanentemente a respectiva obra, quanto aos prazos, à manutenção do preço ajustado e à qualidade dos materiais empregados.

O regime de performance bonds ampara-se em três elementos fundamentais: a obrigatoriedade da contratação da apólice em todos os contratos de obras públicas de valor relevante, a importância segurada em 100% do valor do contrato e a atribuição do poder de permanente fiscalização da obra e dos recebimentos/pagamentos pela seguradora. Esta passa a ser a principal interessada no cumprimento do contrato entre o poder público e a empreiteira.

Esse poder-dever de fiscalização permanente que tem a seguradora contratada pela empreiteira, a favor do ente público, acaba por eliminar as fraudes na execução da obra, sobretudo, nas mediações, nos aditivos e seus superfaturamentos, no cumprimento de prazos e na efetiva qualidade dos materiais utilizados.

Tem, ademais, a seguradora da obra pública três opções no lugar do puro e simples pagamento do sinistro, por inadimplemento da empreiteira: poderá ela própria assumir a obra, por sua conta e risco; ou poderá contratar, sob sua responsabilidade, outra empreiteira para concluir os trabalhos; ou, ainda, financiar a empreiteira inadimplente para que prossiga na sua execução. Essas alternativas ao pagamento puro e simples do sinistro dão maior viabilidade ao prosseguimento das obras, atendendo ao interesse público na sua efetiva conclusão.

A cidadania espera que esse movimento em torno da adoção do performance bond nas obras públicas seja levado avante pelo Congresso Nacional, o que permitirá uma mudança estrutural indispensável no combate à corrupção no setor público.

Modesto Carvalhosa

Legado de Lula, de Dilma e do PT foi a desmoralização das esquerdas

Em entrevista à jornalista Júlia Dias Carneiro, da BBC Brasil, o ex-presidente Lula da Silva assumiu o papel de vítima de um complô movido por dois poderes da República, o Judiciário e o Legislativo, com apoio irrestrito da grande imprensa e das elites do empresariado, que teriam se unido para destruir a reputação dele, retirar do poder a presidente Dilma Rousseff, destruir a obra do PT e suspender os programas sociais desenvolvidos nos últimos anos.

Lula alegou que não existe nenhuma prova de qualquer irregularidade cometida por ele, acrescentando que a presidente afastada enfrenta a mesma situação. “É tão grave o que está acontecendo no Brasil que mesmo os 81 senadores, sabendo que a presidente Dilma não cometeu nenhum crime contra a Constituição, eles resolveram cassá-la politicamente por interesse”, disse ele, assinalando:
“Então, nós entramos com um processo no escritório da ONU em Genebra para que a gente mostre que há, no mínimo, uma certa suspeição no comportamento, ou seja, as pessoas querem transformar uma mentira, que eles inventaram, num processo”.

Lula disse que a imprensa brasileira mentiu muito e não vai ter caráter para pedir desculpas. “É por isso que eu recorri a uma instância das Nações Unidas para ver se existe pelo menos um comportamento exemplar de uma Justiça a serviço da justiça”.

Sobre a denúncia à ONU, o ex-presidente disse que pretende revelar ao mundo inteiro o que está acontecendo no Brasil: “E esse debate já começou por advogados, sindicalistas e políticos de outros países. E pela imprensa. Se não fosse a imprensa estrangeira cobrir com uma certa isenção e autonomia o impeachment da presidente Dilma, a versão da imprensa brasileira é um horror”.

Lula elogiou muito o legado do PT. “Nenhum presidente na história desse país fez o que a presidenta Dilma e eu fizemos para dotar o Estado de instrumentos de combate à corrupção”, afirmou, citando a autonomia do Ministério Público, os investimentos na Polícia Federal e a lei da delação premiada. Disse também que em 12 anos o PT fez mais do que os outros governos nos últimos 200 anos, em benefícios nas áreas de educação, saúde, trabalho e política agrícola, vejam a que ponto chegou o egocentrismo dele.
A longa entrevista à BBC foi uma aula de empulhação e contorcionismo político. Com muita habilidade, a repórter Júlia Dias Carneiro deu corda ao entrevistado e permitiu que o próprio Lula fizesse uma espécie de “striptease” de sua desfaçatez.

Na verdade, o grande legado dele foi a completa desmoralização das esquerdas no Brasil. Hoje, a política brasileira tem caminho aberto para o total neoliberalismo. Não há a menor esperança de que possamos avançar rumo ao moderno capitalismo, praticado há décadas pelos países escandinavos, que se tornaram exemplos de justiça social. Pelo contrário, o Brasil está hoje dominado pelo pior tipo de regime democrático – o capitalismo financeiro. Em nenhum país civilizado do mundo os bancos conseguem tamanha lucratividade, praticando juros recordes em operações de cartões de crédito e cheque especial, sem que o poder público demonstre a menor preocupação a respeito.

Com toda certeza, o legado de Lula é que nunca antes, na História deste país, os banqueiros lucraram tanto, às custas do empobrecimento do trabalhador brasileiro, que se viu obrigado a sustentar até mesmo a família da amante do então presidente da República, que deu a ela um belíssimo emprego público, com direito a cartão corporativo para comprar o que bem entendesse, no Brasil e no mundo.

Outro legado de Lula será a destruição dos direitos trabalhistas e previdenciários do povo brasileiro, justamente num momento em que deveríamos estar discutindo o gigantismo da máquina estatal e a absoluta necessidade de sua adequação à realidade brasileira. E assim o Brasil seguirá praticando o mais perverso modelo de capitalismo existente em regime democrático, sem que as esquerdas sequer possam se manifestar.

Parodiando o sucesso internacional da grande cantora argentina Mercedes Sosa, podemos dizer: “Gracias a Lula, gracias a la vida”.

Imagem do Dia

Canyon Gorge, Estados Unidos

Haddad e a farsa da TV municipal: É grotesco!

O prefeito Fernando Haddad é mesmo das figuras mais grotescas surgidas na política brasileira, tomada a palavra como sinônimo de estapafúrdio, de bizarro, de caricato.

Tendo descumprido de forma quase religiosa todas as promessas que fez em 2012, ele se lança agora à reeleição com uma ideia-força: criar uma TV pública municipal, que, segundo os seus cálculos, custará R$ 10 milhões… por ano!

Respondendo a críticos da proposta, o petista fez o que mais sabe: falseou a questão. Disse: “Não entendo como alguém possa ser contra a periferia se expressar num canal específico. É muita crueldade não querer, tendo a tecnologia disponível, que as pessoas se expressem. Deixar a comunidade se expressar virou pecado”.

Entenderam? Em vez de ele debater a viabilidade de uma TV pública municipal, passa a falar em nome da expressão da periferia, como se alguém fosse contrário a isso.

É impressionante! A TV Brasil surgiu com ambições relativamente modestas e hoje consome metade dos recursos destinos a EBC: devem chegar a R$ 535 milhões neste ano. E seu apelido, nem é preciso dizer por quê, é TV traço. Vocês acham mesmo que uma eventual TV municipal custaria menos de R$ 1 milhão por mês?

Mais: a queda da presidente Dilma permitiu que se abrissem os arquivos da TV Brasil: lá estavam pendurados, em contratos milionários, os subjornalistas notórios por puxar o saco do PT. Vale dizer: nem eram sabujos por convicção, mas por dinheiro mesmo. Trata-se de gente que cobra caro para atacar reputações e ainda mais caro para elogiar. É um caso notável de prostituição ideológica.

A TV Brasil é um caso exemplar de desperdício de dinheiro público. Foi criada sob o pretexto de que era preciso manter a diversidade e a pluralidade de vozes na comunicação — como se isso não existisse hoje em dia, especialmente depois da Internet. Farsantes que são, os petistas transformaram a emissora num reduto de esquerdistas. E de esquerdistas irrelevantes, já que ninguém sintoniza o canal.

O que importa? A patota não está preocupada com o público, mas em manter as próprias benesses. Haddad promete, se eleito, reproduzir a farsa em escala municipal.

Entendo o prefeito. Ele não pode falar de corredores de ônibus porque, afinal, ele os prometeu e não os entregou. Ele não pode falar em creches: ele as prometeu e não as entregou. Ele não pode falar em postos de saúde: ele os prometeu e não os entregou.

Então ele promete criar uma TV municipal.

Haddad é plenamente capaz de prometer uma farsa e de cumprir essa promessa.

Lula vai acabar exigindo uma medalha olímpica

Todo o dinheiro roubado da Petrobras não seria suficiente para vestir 3% das desculpas esfarrapadas que Lula utiliza para fugir das evidências. Ao entrevistar o pajé do PT, a repórter Júlia Dias Carneiro, da BBC, fez uma constatação óbvia: a corrupção minou a credibilidade do PT. Perguntou a Lula se não seria o caso de um pedido de desculpas. E ele, categórico: “Não.”

“Quem tem que pedir desculpas é quem está inventando acusações”, respondeu Lula. Para ele, o PT não é senão vítima de “um massacre”. E continua sendo o partido de maior credibilidade eleitoral. No Brasil, a credibilidade de uma agremiação partidária é inversamente proporcional à quantidade de filiados que passou pela cadeia, continua no xilindró ou roça as grades.


Depois que o STF mandou a cúpula do PT para a Papuda, no julgamento do mensalão, Lula declarou: 1) o processo foi político; 2) o mensalão não existira; e 3) a história se incumbirá de esclarecer a verdade. Antes que a posteridade pudesse se pronunciar, sobreveio o petrolão. E Lula agora sustenta que tudo o que está na cara não passa de invencionice.

A Lava Jato derreteu a presidência petista de Dilma Rousseff, converteu Lula em denunciado, botou José Dirceu novamente na cadeia, encrencou três ex-tesoureiros do PT. E Lula fala em acusações inventadas. O morubixaba petista afirmou à BBC que não tem medo de ser preso. Acha que querem tirá-lo da vida política porque ele fez muito bem ao país. Nesse ritmo, antes do final dos Jogos Olímpicos Lula ainda exigirá uma medalha de ouro por ter feito aos brasileiros o favor de presidir o país.

Lixo e esgoto na construção da imagem do Brasil

As Olimpíadas 2016 estão superando as expectativas de brasileiros irritados com as despesas do evento e de estrangeiros preocupados com a segurança das delegações: ações terroristas, violência no Rio de Janeiro, endemias e poluição da baía de Guanabara. A mídia explorou essas falhas, apostando no fracasso. As medidas adotadas têm sido, entretanto, eficazes, como a instalação de redes para que o lixo no mar não prejudicasse o iatismo. A abertura do dia 5, com o encantamento gerado por Gisele Bündchen e a mensagem política para o mundo, sinalizou que o país não daria vexame. Foi louvável também que tenha indicado como os brasileiros devem rever sua postura, reconhecendo que podem construir uma nação mais próspera em condições de salubridade. Isso deve começar com as propostas de candidatos a prefeito quanto à urgência do saneamento.

meio ambiente:
O BNDES está sugerindo o financiamento de programas para que esse serviço seja estendido a todos os brasileiros, mas acontecerá apenas se a população exigir que ele se torne preponderante na administração pública. Para isso, cada pessoa deve acatar também os princípios mínimos de preservação ambiental, especialmente dos corpos d’água, pois apenas com a parceria estreita entre Estado e cidadãos será estancado o processo de degradação de lagos, rios e córregos. O momento é, portanto, agora, pois os visitantes estão deslumbrados com as belezas sem fim do Rio de Janeiro, embora tenham sentido mal-estar com o lixo, o odor e as pichações em muitos pontos da cidade.

Isso aconteceu, certamente, com turistas que vieram a Belo Horizonte para assistir aos jogos de futebol e visitar o Conjunto Moderno da Pampulha que se tornou, recentemente, Patrimônio Cultural da Humanidade, diante da lagoa poluída e malcuidada. Sabemos que parte desse problema nasce do escoamento de esgoto doméstico para os córregos que formam a represa e do descarte de lixo por cidadãos sem compromisso com o ambiente. Tentativas oficiais para recuperar esse belo patrimônio público não terão sucesso sem a colaboração de todos.

Há cidades limpas em diferentes países que incorporaram a reciclagem dos detritos e o tratamento do esgoto para impedir seu despejo nos cursos d’água. Isso pode acontecer aqui se os brasileiros mudarem sua postura. Enquanto eles deixam um rastro de sujeira nos estádios, japoneses recolhem o lixo ao redor de seus assentos, mostrando como se responsabilizam por seu entorno, e não apenas pelo que vão descartar.

Recebemos, nos últimos dias, visitantes de mais de 200 países. Eles apreciaram os dias ensolarados, a alegria contagiante e as belas paisagens, além das competições de alto nível, sem maiores atropelos. Levariam impressão muito melhor se não tivessem visto tanta sujeira e depredação por onde passaram. Constataram, então, que os brasileiros são capazes de produzir um grande espetáculo, mas não sabem cuidar de seu cotidiano com a mesma eficiência.

O jeca e a respectiva criatura quebram cotidianamente o próprio recorde de delinquência

O que torna o cotidiano possível? O Brasil sempre me deu a impressão de que padecia da deformação resultante da inversão “o importante é ganhar, não competir”, mas isso parece a forma branda da patologia verdadeira: “importante não é ganhar, mas ganhar sempre”. O texto primoroso de Augusto Nunes, da gratidão citando a excelente Dorrit Harazim, passando pela homenagem ao grande Ricardo Prado, até a comemoração do que espero ser uma melhora definitiva na alma enferma de um país infantiloide e brutalizado na rejeição a qualquer resultado que não o pódio – e, neste, o topo –, ensina um olhar de generosidade sobre grandes homens e mulheres que inspiram uma nação e colonizam a alma dela com a beleza de fazer flutuantes os limites ou da poesia no desafio aos limites imóveis.

Essa generosidade nada tem de condescendente e contempla não somente o desempenho quase inumano dos competidores numa olimpíada, mas também a risonha oportunidade de que o possam testemunhar homens e mulheres normais, heróis anônimos de si mesmos que, além de envolvidos em embates íntimos ou privados normais da vida, tentam sobreviver moral e fisicamente num Brasil cujas melhores potencialidades o lulopetismo sabotou enquanto se servia das piores.

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Agora mesmo, enquanto há brasileiros competindo para serem os melhores, o jeca e a respectiva criatura quebram cotidianamente o próprio recorde de delinquência numa disputa sem limites ao pódio mais alto do pior que a terra tão garrida produziu para ser tão esbulhada. Enquanto ele, sempre afastando os limites da sordidez, para escapar da merecida e tardia cadeia, mente numa cartilha em quatro idiomas distribuída no exterior, difamando o Brasil, as instituições brasileiras, Sergio Moro e Rodrigo Janot; ela, para escapar do merecido e tardio impeachment, faz do Alvorada a locação para um documentário ficcional a respeito do processo lendo uma carta em que encena promessas tão plausíveis quanto válidas de uma mulherzinha de caráter miúdo que demitiu a verdade de todas as promessas inventadas, com exceção de uma: fazer o diabo para ganhar a eleição.

Maquiando o vazio, Dilma repetiu a tríade formada por uma verdade desnecessária e duas mentiras inúteis: foi torturada pela ditadura militar, o que não a inocenta do crime de responsabilidade fiscal; é honrada, OK, Fernando Henrique Cardoso acreditar nisso não a inocenta do crime de responsabilidade fiscal; ela não tem conta no exterior, nem eu, só que não cometi crime de responsabilidade fiscal, ela sim, crime pelo qual será condenada.

Os bravos Sergio Moro ou Hélio Bicudo não são heróis e há coisas que o impeachment e a Lava Jato não poderão fazer, mas acho que eles são figuras inspiradoras e triste do país que, desgraçado por Lula e Dilma, não pudesse contar com eles. Do mesmo modo, ainda que a excepcionalidade de Ricardo Prado ou Thiago Braz não baste para curar nossa impotência olímpica, eles integram, para sempre e mesmo sem repetir o que já fizeram, uma coleção heterogênea de genialidades humanas que deslumbram o presente, como Usain Bolt, e inspiram o futuro.

Me lembro que em agosto de 2012, quando esta coluna ergueu o justo brinde a Usain Bolt por ter sobrevoado no chão da pista olímpica de Londres 100 metros em menos de 10 segundos, eu quis comentar, mas não sabia o que dizer. Na ocasião, minha filha me perguntou para que serve correr 100 metros em menos de 10 segundos. Também não soube o que dizer. Mas falei qualquer coisa sobre como isso não acontece da noite para o dia, que exige treino absurdo, disciplina espartana, que a marca genial era inédita, que o feito ajuda a entender melhor a fisiologia do corpo humano e… vi que era melhor ter ficado calada. Aquilo não estava alcançando a pequena.

Fiquei olhando para os olhos grandes dela, atentos, lindos na sua apressada curiosidade pelo mundo. Lembrei-me de um dia de agosto de 1977, quando, só um pouco maior do que ela, o cabelo preso num alto rabo-de-cavalo, cheguei da escola vestindo o uniforme de sainha xadrez plissada e camisa branca. Não quis almoçar, brincar, nem fazer a lição de casa. Por quê? Minha mãe deixando as costuras quis saber e eu não sabia como explicar que meu primeiro namorado acabara de morrer sem que eu pudesse contar a ele da minha paixão.

Passei o dia inteiro ouvindo as músicas dele numa vitrolinha ordinária do Mickey, como se cada uma fosse um beijo: It’s now or never, Kiss me quick, Burning love, Blue moon, Suspicious mind, Love me tender, Blue suede shoes, tantas outras e a eterna You’re always on my mind. Por algum tempo, o cotidiano só era possível se eu ouvisse Elvis Presley.

Então, soube o que dizer à minha filha: como qualquer realização genial, alguém correr 100 metros em menos de 10 segundos, fazer mil gols e ter os mais lindos gols não feitos ou saltar mais de 6 metros é um sonho que torna possível o cotidiano e, com outras palavras, confidenciei que isso faz aquilo que é pó e transitório em nós experimentar por instantes, como num beijo, o eterno.