quarta-feira, 3 de agosto de 2016

O mal-estar da globalização

Nos anos 80 do século 20 foi desencadeado um complexo e diversificado processo transformador que culminou com o ingresso do capitalismo numa nova fase, a globalização, expressa em mudanças como a reestruturação produtiva, a financeirização da economia, a revolução técnico-científica, as políticas socioeconômicas neoliberais, a internacionalização extensiva e impetuosa de todas as relações, a debilitação da soberania e da autonomia deliberativa dos Estados nacionais, etc.

O processo de globalização implicou alterações múltiplas e substanciais: 1) o movimento do capital ganhou velocidade excepcional e sua capacidade de reprodução foi potencializada; 2) o mercado financeiro foi tornado global e virtual e o fluxo de moedas e capitais alcançou agilidade exponencial; 3) a circulação de mercadorias e capitais, o deslocamento de pessoas e grupos, em todas as direções e regiões, criaram condições para a desterritorialização econômica e o desenraizamento cultural e identitário, desalinhando ou dissipando fronteiras, reais ou imaginárias; 4) as relações de trabalho, a sociabilidade e a representação, os meios de informação e comunicação viram-se drasticamente alterados e transtornados; 5) a redefinição das atribuições e soberania dos Estados nacionais levou à corrosão da autoridade e da jurisdição, à efemeridade das instituições e esferas de representação e deliberação, fragilizando a sociedade civil e política (Parlamento e Judiciário, partidos e sindicatos, etc.) – o alcance e o significado da democracia foram obstados ou mesmo constrangidos.

Arte sobre consumismo e globalização 8
Brusk
Nessas circunstâncias, houve o deslocamento abrangente da indústria e dos serviços para a periferia do capitalismo, transferindo-se empregos e capital, com diminutos custos tributários, poucas exigências de reposição ambiental e alta rentabilidade. No sentido inverso, os contínuos fluxos migratórios da Ásia, África e América Latina para a Europa e os Estados Unidos, permitiram a constituição de um exército de trabalhadores disponíveis, constituído de mão de obra barata. Concomitantemente, a introdução de novas tecnologias (informática, robótica, etc.) e métodos de gestão promoveu a reestruturação da produção e da circulação de mercadorias, eliminando, em larga escala, antigos postos de trabalho – a extinção de profissões tradicionais gerou uma população de trabalhadores excluídos por não se adequarem às exigências do mercado de trabalho, altamente competitivo. Podem-se juntar a esses fatos as sucessivas crises econômicas, como a de 2008, causada em grande medida pela financeirização da economia e pelas políticas de austeridade para combatê-la.

Em congruência com a globalização, desencadeou-se uma forte ofensiva contra o Estado de bem-estar social e a favor da desregulamentação das relações sociais e da supressão de quaisquer obstáculos à liberdade das mercadorias (inclusive a mão de obra) e à sua livre circulação. Movido pela lógica da economia política neoliberal, o processo de globalização, implementado nas últimas três ou quatro décadas, cobra agora seu preço. Mesmo nos países protagonistas na sua indução, parcela considerável da sociedade foi acometida por suas vicissitudes: crises econômicas, decréscimo da estatura e abrangência do Estado, subtração de direitos, aviltamento das condições de existência e aumento das desigualdades, contenção das políticas públicas, deslocamento de empregos e precarização das relações de trabalho, mercantilização brutal das relações sociais e humanas, esgarçamento de identidades coletivas, perturbação de sociabilidades, disseminação da insegurança e da instabilidade.

Ademais, se a globalização tem corroído e reordenado os poderes dos e nos Estados-nação, promovendo e intensificando o movimento de mercadorias e capitais, indivíduos e mão de obra em todos os países e continentes, não resolveu a contento o problema do exercício dos direitos de cidadania do adventício, que continuam sendo privilégio dos nacionais – ao mesmo tempo que criou um mercado mundial de produtos, capitais e mão de obra, não criou o cidadão do mundo.

Tomados em conjunto, esses fatores têm suscitado mal-estar e ressentimentos incomuns, particularmente nos países da Europa e nos Estados Unidos. Têm também despertado patriotismos, promovido o reavivamento de ideologias políticas e religiosas fundamentalistas e conservadoras, intolerantes e anti-humanistas, potencializando extremos: direita tradicionalista – Frente Nacional (França), Ukip (Inglaterra), Pegida e AfD (Alemanha), Liga do Norte (Itália), etc.; e esquerda negativa – Podemos (Espanha), Movimento Cinco Estrelas (Itália) e outras organizações.

Emblemáticos desse fenômeno são o plebiscito, recém-realizado, que determinou a saída da Grã-Bretanha da União Europeia (Brexit) e a ascensão do candidato à presidência dos Estados Unidos Donald Trump. Não por acaso, as plataformas de ambos são quase análogas: defesa da soberania e resgate de valores e identidade nacional, fortalecimento das fronteiras contra a imigração, pregação do chauvinismo e da xenofobia, proteção da moeda, repatriamento de empresas, capitais e empregos perdidos, prerrogativa de direitos para os nativos. Trump promete que, com sua eleição, “o povo americano vai declarar novamente a independência dos Estados Unidos”.

Tais movimentos e organizações têm procurado reativar velhas concepções e práticas fundadas na recessão política e no déficit democrático, que, embora de triste memória, ainda vagam erráticas e continuam assombrando – com a barbárie e o apocalipse – os que prezam a liberdade e a igualdade, a fraternidade e a justiça. Isto posto, cremos que não é demasiado lembrar a advertência feita pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht numa de suas peças, no pós-guerra, ao se referir ao nazi-fascismo: “Ainda está fecundo e procriando o ventre de onde isso veio engatinhando”.

José Antonio Segatto

Tempestade perfeita

Por conspiração dos astros, ou não, o Partido dos Trabalhadores enfrentará as eleições municipais deste ano em meio a uma tempestade perfeita. Não bastassem a proximidade entre a votação do impeachment de Dilma Rousseff no Senado, coisa já resolvida, e o envolvimento cada vez mais cabeludo de Lula na Lava-jato, não há sinais de que daqui até outubro o governo de Michel Temer cometa grandes deslizes.

Para infortúnio do PT, dificilmente as eleições municipais serão “paroquializadas”. Ao contrário, elas deverão assumir um caráter plebiscitário antipetista, particularmente nos grandes centros urbanos.

Arma-se um dilúvio à frente dos petistas e não há arca de Noé alguma à vista. A opção por fazer chapas próprias ou com “frentes de esquerda” minúsculas e de retorno ao enfrentamento aberto, quase que numa reedição da política de “classe contra classe”, são produtos mais do desespero do que de uma estratégia articulada para fazer frente à conjuntura extremamente adversa.

O Partido dos Trabalhadores ensaia um giro à “esquerda”, uma radicalização, exatamente em momento de refluxo, um contrassenso com potencial de ampliar mais ainda seu isolamento.

É como se o PT mergulhasse em busca do passado perdido. Só que a história não gira para trás.

Nestas eleições o partido vai enfrentar algo inimaginável até bem pouco tempo: a concorrência pela esquerda; segmento do eleitorado que foi durante bom par de décadas sua reserva de mercado.

A ameaça vem principalmente do PSOL, mas não exclusivamente dele. Em Porto Alegre, os petistas têm pela frente Luciana Genro (PSOL), em Belém, Edmilson Rodrigues (PSOL), no Rio abriga-se na candidatura de Jandira Feghali (PC do B), e deve comer poeira atrás das candidaturas de Marcelo Freixo (PSOL) e Alexandre Molon (Rede). Em Salvador, não tendo como fazer frente à avalanche de ACM Neto (DEM), sequer lançará candidato. Vai de Alice Portugal, também do PC do B.

Vamos a São Paulo. Há um ano, onze entre dez analistas diziam que o segundo turno da eleição paulistana seria entre Fernando Haddad e mais outro nome.

Hoje, Haddad corre sérios riscos de ficar de fora do segundo turno. O eleitorado historicamente petista vem sendo comido a montante e a jusante, nas universidades e na periferia, por Luiza Erundina (PSOL) e por Marta Suplicy (PMDB). E Celso Russomano (PRB) – que lidera as pesquisas, mas está enrolado com a Justiça - e João Dória (PSDB).

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O estupor, o terror e o pesadelo tomam conta dos petistas só em pensar nessa hipótese, cada dia mais real. O futuro do PT está na razão direta do desempenho de Haddad. Uma derrota do atual prefeito de São Paulo levará seu partido a adiar, por anos a fio, qualquer veleidade de voltar ao poder em escala nacional.

Na hipótese bastante provável de Lula não ter condições políticas e jurídicas, ou as duas, para disputar 2018, Fernando Haddad seria o nome disponível na prateleira, seria a “cara nova” do PT.

O problema é combinar com os russos, com os paulistanos. A administração Haddad não criou marca e é uma das mais rejeitadas da história da capital. Ciclovias, limite de velocidade dos carros, utilização da Avenida Paulista para lazer, podem sensibilizar segmentos das camadas médias, mas são temas absolutamente distantes do cotidiano de quem vive fora do centro expandido.

A expressão concentrada da tragédia petista é exatamente essa: em 2012 Lula carregou Fernando Haddad a tiracolo, foi seu grande eleitor. Agora, o prefeito vai ter de esconder o morubixaba em seu programa de TV para não ser escorraçado pelos eleitores.

E quem disse que a tempestade passará em outubro? Para o PT, ela irá, no mínimo, até 2018.

Imagem do Dia

Dunas de laguna, Ilha da Magia, SC - Brasil:
Ilha da Magia, Santa Catarina

Maior parte dos benefícios olímpico vai para comitê e empreiteiras

De todas as cidades que sediaram Olimpíadas nas últimas décadas, só Los Angeles não teve prejuízos, diz à BBC Brasil o pesquisador americano Stanley Engerman.

Professor de economia e história da Universidade de Rochester (Nova York), Engerman estudou o impacto dos Jogos nas contas das cidades que abrigaram as últimas edições do evento. Segundo ele, os ganhos das sedes costumam ficar bem abaixo dos seus gastos com a construção dos estádios e o cumprimento de exigências dos organizadores.

Os comitês que organizam as Olimpíadas e a Copa do Mundo agem como monopólios. Eles impõem condições muito duras. O discurso é: "Se você quiser sediar a Olimpíada, precisará desses novos estádios; se quiser a Copa do Mundo, terá que ter jogos em diferentes cidades e prover transporte para essas cidades". Enquanto houver vários competidores buscando sediar os eventos, eles tirarão vantagem
Los Angeles só escapou da tendência, diz o professor, porque já tinha quase todos os estádios prontos e conseguiu atrair vários investidores privados quando abrigou os Jogos de 1984.

Em entrevista à BBC Brasil, ele afirma que a Olimpíada de 2016 deverá dar prejuízo ao Rio e que, conscientes dos altos custos, cada vez mais cidades se recusam a participar das disputas para receber o evento.

Engerman, de 80 anos, leciona sobre a economia do esporte e do entretenimento e é reconhecido como um dos maiores especialistas nos EUA sobre os aspectos econômicos da escravidão.

Uma grave omissão dos governos do PT

Em religião, peca-se por comissão ou omissão (por fazer ou deixar de fazer). Em minha longa lista de decepções com os dois governos Lula e o governo e pouco de Dilma Rousseff, sem dúvida se inscreve a omissão de ambos em relação ao inciso I do art. 7º da Constituição Federal de 1988.

Já relatei isto: na Constituinte, o deputado federal pelo PT de Minas, João Paulo Pires Vasconcelos, antigo líder sindical em João Monlevade, elaborou a mais importante emenda do ponto de vista trabalhista: a garantia contra dispensa imotivada ou demissão sem justa causa. Trocada em miúdos: a proibição de os empregadores mandarem o trabalhador para a rua sem razão alguma. Esse “turn over”, que se agravou desde o fim da estabilidade (ainda que precária, da antiga CLT, pois só adquirida depois de dez anos de serviço), é o pesadelo de quem fica de uma hora para a outra sem emprego. Ser desempregado, escrevi mil vezes, é perder a dignidade, é não ser ninguém, é nada ter. Tinha razão, não me canso de repetir, o saudoso Gonzaguinha com seu “Menino Guerreiro”, que retrata esse desastre. João Paulo fez a emenda na Constituinte e, num gesto de humildade, entregou sua defesa ao líder do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

Quais os motivos para ser demitido?:
A emenda foi aprovada. Mas o assunto ficou pendente de regulamentação. Aquilo que tanto se repete na Lei Maior com a velha fórmula para boi dormir: “lei complementar disporá...” Quando você, leitor, ler isso na Constituição, assente-se e espere. Se for coisa do interesse dos donos do país, logo, logo sai a lei complementar (mais difícil de ser aprovada, pois depende do voto da maioria absoluta de deputados e senadores). Pois até hoje, passados dois governos de Lula e um inteiro mais um pedaço do de Dilma, nenhum dos dois se lembrou, nas horas de mais prestígio, de propor a tal lei complementar. Para avaliarem bem, com todo interesse de Lula, o Congresso tratou de eliminar a exigência de lei complementar para o tabelamento de juros, não para tabelá-los de imediato, mas para, no embalo, eliminar qualquer controle do poder público sobre os bancos, como queriam os banqueiros.

Sem a proibição da dispensa imotivada, o trabalhador brasileiro fica mais vulnerável, entregue à vontade dos patrões. Seu direito de greve já é cheio de amarras, cheio de exigências para vigorar, e agora... Agora Michel Temer quer precarizar ainda mais a relação de emprego! Pessoa que vira empregado de uma empresa, e essa empresa faz do empregado uma mercadoria para outro usar. Bem ao gosto de muita gente que hoje ocupa cadeira de deputado, senador ou ministro de Estado.

Para concluir, a Constituição Cidadã, tão festejada por Ulysses Guimarães e tão amada por muitos, registrou a existência de muitos direitos para crianças, jovens, negros e mulheres. Mas e o direito essencial ao emprego? E a dignidade de vida para todos?

Lula e Dilma ficaram nos devendo muito. O pior de tudo, porém, foi terem se omitido em relação ao fim da dispensa imotivada.

A esperteza de muitos

Pawel Kuczynski 
O segredo do demagogo é de se fazer passar por tão estúpido quanto a sua plateia, para que esta imagine ser tão esperta quanto ele
Karl Kraus

O país das hienas

Dada como certa a aprovação do impeachment de Dilma Rousseff, no final do mês ou no começo de setembro, mais as eleições municipais de outubro, o ano de 2016 estará nos estertores, pronto para inscrever-se nos anais do século como o ano do desperdício. Poderá não ser bem assim, pois terá de ser chamado, também, de ano da hiena, dada a situação em que o país continua rindo sem saber por quê. Duvida-se de que desta vez o Congresso aprove a tão prometida reforma política. Pelo menos da forma como todos esperam, ou seja, profunda e verdadeira. As instituições continuarão as mesmas, isto é, acomodadas aos interesses das elites, favorecendo os mesmos de sempre.

Sobre a crise econômica, prevalece a impressão de que poderá declinar, se declinar, mas sem passes de mágica nem sacrifícios. Será lenta a recuperação, em especial com relação ao desemprego.

Sendo assim, é preciso prospectar atrás de uma fórmula para não deixar que o ano em curso transcorra entre dificuldades e lamentos. Melhor solução não haverá do que a tentativa de integração da sociedade na discussão de seus próprios problemas. Por que não uma reunião de todos os setores com voz em nosso futuro? Não se trata de requisitar o Maracanã com um microfone para cada participante. Mas de sensibilizar grupos representativos do conjunto para que opinem sobre como tirar o Brasil do sufoco e abrir perspectivas gerais de normalização.

Nas atuais condições, como obter contribuições de vulto e desinteressadas do egoísmo de cada segmento? Nada de recolher exigências deste ou daquele setor, mas de receber a contribuição das partes para o aprimoramento do todo. Bem que novembro e dezembro serviriam como um tempo nacional para a transformação do país das hienas.

Bolsa Atleta completa dez anos mas não consegue levar Brasil ao pódio

Em julho de 2005, 300 atletas olímpicos e paralímpicos brasileiros que viviam longe dos holofotes de patrocinadores, recebiam pela primeira vez um cartão magnético do Ministério dos Esportes para sacar um auxílio mensal do Governo, pelo período de 12 meses. A Bolsa Atleta, que variava de 300 reais a 2.500, tinha como objetivo incentivar potenciais campeões a se dedicarem só aos treinos e se aproximarem do pódio de competições nacionais e internacionais. Dez anos e meio se passaram, novas categorias de bolsas foram criadas, com valores que podem chegar a 15.000 para medalhistas, mas os frutos dessa iniciativa ainda não foram colhidos, na visão de Jorge Steinhilber, presidente do Conselho Federal de Educação Física (Confef) e da Academia Olímpica Brasileira (AOB).

Para Steinhilber, os investimentos que o país vem desembolsando para se tornar destaque em competições mundiais não foram acompanhados de uma política nacional de incentivo ao esporte, o que inutiliza muitos dos milhões gastos na construção de parques poliesportivos desde que o país passou a sediar jogos mundiais, como o Pan-americano, em 2007. "E daí se o Brasil chegar aos top 10 no quadro de medalhas olímpicas este ano? O que isso significa ou o que deixa de legado para o país? Virar potência olímpica não significa virar potência esportiva", afirma.

O especialista cita o ginasta Arthur Zanetti, campeão olímpico nos Jogos de Londres, como um exemplo de que é preciso fazer mais do que conceder auxílio financeiro aos atletas brasileiros para que o país evolua nos esportes em escala global. "Zanetti, que ganha uma bolsa do Governo para se dedicar à carreira, treina em um galpão em São Caetano, sem a menor infraestrutura. É inacreditável como nem ele pode dispor de um centro esportivo decente para treinamento".

Mas não é apenas no topo da pirâmide esportiva que o problema reside. É principalmente nos estágios iniciais de vida que muitos potenciais atletas nunca chegam a se desenvolver no esporte. "Em 40% das escolas não existe nem quadra para as crianças praticarem modalidades esportivas e serem descobertas por seus talentos. Também faltam professores de educação física. Hoje, são pedagogos que ocupam esses espaços vagos, e as horas destinadas à disciplina, que é obrigatória, acabam virando atividades meramente recreativas".

A forma como o programa Bolsa Atleta foi concebido também justifica, em partes, o insucesso da empreitada brasileira de angariar posições de destaque nas competições mundiais. "O foco do programa tem sido apenas o de aumentar o número de medalhas para subirmos no ranking olímpico. Para isso, são priorizadas modalidades de esporte individual. E o Brasil é um país cuja tradição está no esporte coletivo", analisa. Ainda assim, o especialista não descarta a importância do auxílio financeiro para os atletas, que muitas vezes é a única fonte de renda desses profissionais. "A bolsa dá oportunidades para o atleta se projetar no esporte, mas é uma medida meramente paliativa", complementa.

Ainda que desanimadora, principalmente para um país que tem como meta chegar ao 10º lugar no ranking de medalhas nas Olimpíadas de 2016, a análise de Steinhilber tem respaldo em dados históricos. Antes do Bolsa Atleta, nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, o Brasil ocupava o 16º lugar no ranking de medalhas, com 10 no total, das quais 5 eram de ouro. Nos primeiros jogos que já contavam com o auxílio, em Pequim (2008), o país caiu para a 23ª colocação, ainda que tivesse mais medalhas, pois somente 3 eram de ouro. Já em Londres, quatro anos depois, o país subiu apenas um degrau, passando para o 22º lugar, repetindo o número de medalhas de ouro.

Neste ano, foram contemplados com o Bolsa Atleta 358 dos 465 esportistas que disputam as Olimpíadas do Rio de Janeiro, o que representa 77% do total. Os investimentos, contudo, não se limitam a atletas olímpicos e paralímpicos. O programa, cujo edital foi divulgado com um mês e meio de atraso no Diário Oficial, beneficia 6.152 atletas de todo país, incluindo modalidades não-olímpicas, e custará 80 milhões de reais aos cofres públicos nos próximos doze meses. De acordo com um balanço divulgado pelo Ministério dos Esportes em julho, o Bolsa Atleta, durante seus dez anos de atuação, já concedeu 43.000 benefícios, no valor de 600 milhões de reais para 17.000 atletas.

Além do Bolsa Atleta, em 2013 o Governo lançou o Bolsa Pódio, destinado a competidores medalhistas. Nessa categoria, que faz parte do Plano Brasil Medalhas, e conta com patrocínio de estatais, foram investidos 287,3 milhões de reais em 399 atletas, a maioria pertencente a modalidades individuais.

Precisamos enaltecer a internet por ter democratizado comunicação

E se não fosse pela internet, que deu voz aos pequenos e democratizou a comunicação, jamais teríamos todos esses debates nos sites e blogs alternativos, já que a imprensa sempre foi conivente e participante de toda essa corrupção. Basta cessar a verba da publicidade oficial (União, Estados, Municípios e estatais) e fecharão jornais, revistas, rádios e emissoras de televisão, já que boa parte desses recursos está nas mãos dos mesmos ladrões…

Sempre foi assim. Sempre fomos roubados por uma aristocracia que loteia entre seus filhos, de forma vitalícia, os cargos mais importantes do Estado, dos quais se apossaram, enquanto mantêm o povo analfabeto, ignorante e alienado. São mercenários que, do alto de seus palácios e gabinetes, olham com desprezo aqueles que realmente trabalham…

O resultado é que, aqui no Brasil, discutimos no Século XXI questões que nos países sérios já foram definidas no Século XV.

Armandinho e a opinião pronta:

Bendita seja a Internet! Pelo menos nela podemos publicar opinião, coisa impensável de ser feita na imprensa de décadas atrás, quando até as cartas dos leitores eram “selecionadas”.

Infelizmente, a maioria dos eleitores brasileiros ainda usa o jornal para embrulhar peixe ou outros fins, assim como entram na internet apenas para ver mulher pelada e saber as notícias do futebol, entre uma garrafa de cerveja e/ou uma dose de pinga e outra!!!

A realidade e o conhecimento dos brasileiros não são estes que vemos, diariamente, neste espaço da Tribuna da Internet, onde todos são instruídos e bem alimentados (mesmo que apresentem pontos de vista diferentes).

A maior parte da população não passa de cega, surda e muda, são bois de arado arrastados pelo nariz, em relação à situação política atual do país. E não existe nada que nos diga que isso irá mudar, já que nos últimos trinta anos trataram de destruir a educação.
Só mesmo em um país governado por quadrilhas podemos nos defrontar com esta realidade:
  • Criminoso ameaça magistrado e fica impune…
  • Governo tira o revólver do cidadão, mas mantém os bandidos armados com fuzis…
  • Bandido faz manifestação para usar celular em presídio…
  • Cidadão é preso por reagir a assalto…
  • Quadrilhas perseguem viatura policial…
  • Presidiário protesta pelo direito de aceitar ou não o diretor do presídio…
  • Traficante com 720 quilos de drogas é solto por ser considerado usuário…
Em nenhum outro lugar do planeta existe uma “nação” tão importante e esculhambada quanto a nossa – quinto maior país em extensão territorial e número de habitantes, e nona economia do mundo. Eu, pelo menos, não conheço!

Rio 2016 expõe crise do modelo de Jogos Olímpicos

Uma tempestade era tudo de que o Rio de Janeiro não estava precisando. Na noite deste sábado (30/07), a ventania que passou pela cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016 destruiu a rampa de acesso dos velejadores na Marina da Glória. O Comitê Organizador local só tem cinco dias para reparar os danos.

"São coisas que acontecem. Ninguém consegue evitar a natureza", disse Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Rio 2016, sobre a mais recente pane nos preparativos para os Jogos. Afinal de contas, "se esquece que as competições de vela às vezes não acontecem porque não tem vento. Então, é uma obra da natureza", concluiu.

Mas, quem paga o reparo dos danos? Às vésperas do torneio mundial, está de volta a briga em torno dos custos para sua realização, de 5 a 21 de agosto.


Maquete do Parque Olímpico mostra que praça 
central seria do  público e não dos estúdios Globo
O economista esportivo Wolfgang Maennig propõe uma flexibilização das exigências do Comitê Olímpico Internacional (COI), adaptando-as às circunstâncias no país anfitrião. "O COI vai ter que pensar num jeito de futuramente mudar sua concepção, de forma que em pelo menos três ou quatro cidades do mundo a maioria da população seja a favor das Olimpíadas."

A biografia de Maennig, hoje professor da Universidade de Hamburgo, está intimamente ligada aos Jogos. Em 1988, ele foi campeão olímpico de remo em Seul. Depois, apoiou as candidaturas a sede dos Jogos Olímpicos das cidades alemãs Munique, Leipzig e Berlim. No Rio, ele participará de diversos debates sobre o financiamento futuro do evento.

"A grande tarefa do COI será tornar-se muito mais flexível nos pré-requisitos para os locais esportivos", prossegue. Isso diz respeito tanto ao número de espectadores quanto aos padrões de segurança. "Tudo o que o COI exige segue as normas suíças ou alemãs, e não é assim que o resto do mundo quer construir."

A organização dos Jogos Olímpicos na metrópole brasileira custou cerca de 10 bilhões de euros. A discussão sobre os custos não se refere a essa soma total, mas sim à proporção entre verbas privadas e públicas. Segundo dados oficiais, 57% dos custos serão arcados por investidores privados.

Os críticos do movimento brasileiro Comitê Popular Copa e Olimpíadas, contudo, fazem uma conta diferente: os cofres públicos estariam participando com 63%, cabendo aos investidores privados apenas 37%. Tal discrepância se deveria ao fato de o Comitê Organizador Rio 2016 não ter levado em consideração nem os benefícios fiscais nem as vantagens recíprocas nas parcerias público-privadas.

Custos imprevisíveis, como o reparo de locais de competição ou o combate ao vírus zika, também não são levados em consideração nos orçamentos normais. Por isso, após desembarcar no Rio, o presidente do COI, Thomas Bach, invocou a coesão da família olímpica.

"Vamos ajudar o Comitê Organizador local nos problemas de liquidez", assegurou à imprensa reunida na metrópole. "Vamos fazer de tudo para garantir o êxito dos Jogos."
Segundo os termos do contrato, o COI financia um pouco mais da metade dos gastos do Comitê Organizador local. Como apoio financeiro ao presidente Nuzman, Bach anunciou agora que poderão ser adiados os depósitos, equivalentes a 500 milhões de euros, previstos para os dias da abertura e da cerimônia de encerramento.

Descartada fica a hipótese de os Jogos chegarem ao fim em déficit. Pois, exatamente como a Federação Internacional de Futebol (Fifa), também o COI recebe do governo em questão a garantia de que este arcará com todos os eventuais prejuízos.

Justamente aí algo precisa mudar, na opinião de Maennig. A fim de reativar o interesse das cidades em hospedar as Olimpíadas, o COI tem que não só reduzir suas exigências, mas também elevar as subvenções para o comitê local e a cidade-sede.

"Chegamos a um ponto em que poderíamos nos perguntar se não faria sentido o COI dizer: 'Esse estádio olímpico com 20 mil lugares, de que vocês precisam, financiamos nós. Esse é o nosso presente à cidade-sede.' A meu ver, isso deveria ser possível", considera o economista.

Pelo menos um pequeno presente os cariocas já receberam dos Jogos Olímpicos: um estudo da Fundação Getúlio Vargas mostrou que a renda per capita da metrópole cresceu 30% entre 2008 e 2016, enquanto no resto do país a percentagem média foi de 19,6%.

"Os Jogos Olímpicos mantêm a economia do Rio em funcionamento", explica Marcelo Neri, economista docente na Fundação Getúlio Vargas. Enquanto nos 18 municípios vizinhos do Rio de Janeiro a renda ficou estagnada, devido à crise econômica brasileira, na metrópole o crescimento se mantém.

Seria esta uma motivação para Roma, Paris, Budapeste ou Los Angeles se candidatarem a sede dos Jogos de 2024? Para Hamburgo, cuja população rejeitou o evento em referendo, certamente não foi.