domingo, 31 de julho de 2016

Lula acuado no canto parede vira reu lava jato juiz prisao cadeia cela grade

Um breve exercício de cidadania

Embora timidamente, a reforma política parece estar retornando à agenda nacional. A questão de fundo permanece: não é a sociedade que diz aos congressistas como quer ser representada, eles é que dizem a ela como pretendem seguir se autorrepresentando. Ainda assim – ou exatamente por isso –, penso que seria útil a cidadania saudar o reaparecimento da questão enviando um breve exercício aos excelentíssimos senhores deputados e senadores.

Dou por inegável que a atual classe política rebaixou a vida partidária brasileira a um nível sem precedentes, mesmo pelos sabidamente frouxos padrões da nossa República.

Considere-se, por exemplo, a proliferação de siglas, que se acelerou na última eleição e parece fadada a fugir ao controle nas próximas. No momento, salvo melhor juízo, há 26 partidos representados na Câmara dos Deputados, 32 registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e outros 30, segundo consta, na fila, esperando por registro. Numa primeira aproximação, o número de siglas pode ser examinado sob duas diferentes perspectivas.


A teoria da representação proporcional recomenda um amplo pluralismo, pois se baseia no pressuposto de que as agremiações existem para dar voz a ideologias ou a interesses consistentes e preexistentes na sociedade. Além de antidemocrático, restringir-lhes o número seria disfuncional para o sistema político, pois implicaria alijar do Parlamento correntes de ideias e grupos importantes, dificultando, em vez de facilitar, o manejo dos conflitos que lavram continuamente na sociedade.

A segunda perspectiva não é necessariamente oposta à que venho de expor. Afirma que cada caso é um caso, podendo existir algum país onde as coisas se passem como foi mencionado, devendo-se, pois, aceitar a proliferação como um mal menor que a exclusão de interesses relevantes. Mas, como disse, cada caso é um caso.

No Brasil, decorridas três décadas do restabelecimento do regime civil, é forçoso reconhecer que o pluralismo partidário se transformou de fato na pilhéria prevista já ao tempo da Comissão Afonso Arinos, em 1985-1986, à qual coube a tarefa de elaborar um anteprojeto de Constituição. Neste ano da graça de 2016, todas ou quase todas as 32 siglas registradas se declaram de centro-esquerda; duas dúzias, pelo menos, são rechaçadas com o cabível sarcasmo pela maioria do eleitorado, que nelas não discerne um vestígio sequer de seriedade. Não foi por acaso que, desde 2013, a opinião pública optou por se manifestar na avenida; declarou que a praça é do povo como o céu é do condor. Engajando-se numa memorável onda de protestos, manteve todos os partidos a uma asséptica distância.

Esta é, pois, a situação: o Brasil chegou ao século 21 com um sistema político institucionalmente razoável, extremamente generoso, direi mesmo permissivo, no tocante à abrangência do sufrágio e às facilidades para a criação de partidos, mas deficiente, para não dizer fraudado e fraudulento, noutros aspectos cruciais do regime político que denominamos democracia representativa.

Acontece – e aqui retomo a segunda perspectiva – que nenhum regime político ou sistema de governo existe para lidar com apenas uma ou com umas poucas necessidades. Todos são multipurpose, ou seja, existem para e são de fato forçados a lidar ao mesmo tempo com numerosos objetivos e valores. Objetivos e valores nem sempre compatíveis entre si, diga-se de passagem. Eis por que, se me permitem invocar brevemente o conselheiro Acácio, governo tem de governar escolhendo os objetivos que esteja de fato disposto a implementar e ignorando ou rechaçando os que não esteja.

Pelo menos em dois momentos, portanto, a importância dos partidos políticos deve ser ressaltada. Primeiro, cumpre-lhes refletir a diferenciação subjacente de interesses e ideologias, caso ela exista, ou estabelecer balizas para que ela se constitua – obviamente, dentro de limites, em se tratando de um regime democrático. Nessa função, se não querem ser cúmplices no fraudar a vontade popular, os partidos têm de ser estáveis no que toca a suas formas de organização e liderança, e doutrinariamente inteligíveis – o que nem de longe significa rigidez ou fanatismo ideológico. O segundo momento, ou função, é o que pedantemente se costuma chamar de governabilidade. Assim como devem ajudar a organizar a opinião pública, os partidos devem também organizar as correntes parlamentares, incutindo nelas a altivez necessária para defender a instituição legislativa, mas também flexibilidade para colaborar com o Executivo no que este tiver de sério a propor.

Isto posto, volto à ideia de enviar aos nossos representantes um breve exercício de cidadania. Não incluiria nele os cidadãos sinceramente satisfeitos com a situação atual: os que se sentem bem servidos com o funcionamento atual da representação proporcional e do pluripartidarismo. Aos insatisfeitos e aos que se encontram em dúvida, eu proporia algumas indagações. Dada a complexidade do tema, limitaria minha enquete a detentores de diplomas universitários em nível de pós-graduação.

Primeira indagação: indique os nomes de metade (16) das 32 siglas registradas. Segunda: descreva (genericamente...) as ideologias ou os interesses que as referidas 16 se propõem a representar. Terceira: as principais lideranças de cada uma.

Meu teste nada tem de malicioso. Se a razão de termos 32 siglas registradas e outras tantas na linha de montagem é a necessidade de dar voz a ideologias, interesses ou projetos consistentes, parece-me razoável indagar se pelo menos a faixa mais escolarizada do País as conhece. Caso contrário, não estará na hora de adotarmos cláusulas legais fortemente redutoras, que nos ajudem a construir um sistema político mais sério?

Bolívar Lamounier

Lula culpa o Brasil

Fingir que não é com ele, mentir para livrar a sua cara e a sua pele são traços impressos na personalidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sempre foi assim. Desde os palanques de São Bernardo do Campo -- quando recitava palavras de ordem óbvias diante da massa e de uma ditadura que lhe era dócil --, até à quase inacreditável petição contra o Estado brasileiro que impetrou, na quinta-feira, junto à Comissão de Direitos Humanos da ONU. Uma alma narcisa que só pensa em si. Que xinga e elogia, soca e abraça por conveniência e só age na primeira pessoa.

O mesmo Lula que em 1993 escorraçou a Câmara dos Deputados afirmando que ela abrigava “300 picaretas” dedicou loas à Casa, 10 anos depois, ao receber a Suprema Distinção Legislativa: “não existe nada mais nobre que um mandato parlamentar”.

Pouco despois de se eleger em 2002, desfilou de braços dados com José Sarney, a quem já acusara de ser “grileiro”. Adulou Renan Calheiros para ficar em pé durante o processo do mensalão; bajulou Paulo Maluf – que já fora o mal em si – para eleger Fernando Haddad, o prefeito mais impopular que São Paulo já teve.


Algumas lembranças do Lula de ocasião fazem arrepiar até a esquerda cativa que ainda hoje o aplaude. Collor de Mello que o diga. A entrevista ao Bom Dia Brasil, na TV Globo, pouco antes de ser eleito presidente da República pela primeira vez, é simbólica. Ali, elogiou, em alto e bom som, os governos de Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, que “pensavam o Brasil estrategicamente”. E discordou de bate-pronto da afirmativa do entrevistador sobre as altas taxas de inflação que os generais deixaram como herança. “Não é verdade”, assegurou.

Depois de vencer a eleição, Lula soltou ainda mais a verve. Fez do hoje condenado e preso José Dirceu o “capitão do time”, para depois puxar-lhe o tapete. Foi a público, em cadeia de rádio e TV, pedir desculpas pela traição dos seus no escândalo do mensalão, ocorrência que, meses depois, passou a negar peremptoriamente.

Quando se vê sem alternativas, escolhe a categoria de vítima, posando como perseguido da mídia e da elite. A mesma elite que lhe prestou favores pessoais e garantiu os bilhões para custear o sonho da hegemonia petista. Tudo à custa de generosas propinas nos negócios públicos.

Ainda que um pouco chamuscado, livrou-se do mensalão. E, se já podia tudo, Lula acreditou no infinito. Inventou Dilma Rousseff, enfiou-a goela abaixo do PT e dos aliados, provocando uma indigestão que nem todos os bilhões desviados de obras públicas, dos fundos de pensão e do sabe-se lá mais onde, foram suficientes para curar.

Vieram a Lava-Jato, o processo de impeachment de Dilma, a incerteza, o medo da cadeia.

O Lula que agora recorre à ONU não é mais o mesmo. Está fragilíssimo.

Por ironia da história, virou réu em Brasília – não em Curitiba -- quase que simultaneamente à sua tentativa de estender ao mundo a sua versão de mártir.

Mas suas bravatas já não ecoam. O processo que tenta impor em Genebra é um amontoado de mentiras. O cerne da peça -- o juiz Sérgio Moro age arbitrariamente para forçar delações de prisioneiros e não há tribunais para rever as sentenças – desintegrou-se em uma simples nota da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe): “O sistema processual brasileiro garante três instâncias recursais e, até o momento, menos de 4% das decisões do juiz Sérgio Moro foram reformadas”. E a tentativa de dizer que as acusações que pairam sobre si não passam de uma ação articulada de forças conservadoras para impedir a sua candidatura em 2018 beira o ridículo.

O Lula que agora recorre à ONU, seja para criar um fato novo em pré-impeachment ou facilitar uma eventual solicitação de asilo político no futuro, se mostra miúdo, debilitado, anêmico.

Ao acusar a Polícia Federal, a mesma que ele tanto elogiava durante o seu governo, e a Justiça, para a qual ele e sua sucessora indicaram 13 ministros, oito dos onze em atividade na Suprema Corte, Lula enterra-se, definitivamente, na lama.

Sua defesa age como se todas as instituições brasileiras – incluindo a imprensa, é claro -- fossem criminosas. E ele, só ele, inocente. O Lula que agora recorre à ONU é patético.

O peso das imagens de Dilma e Lula

O desespero cresce à medida que se aproxima o impeachment e, com isso, Dilma Rousseff vai perdendo a noção do ridículo. A mulher dita honesta, acuada pela sanha golpista dos inimigos do povo e confinada na solidão de um palácio de mentirinha, volta-se, explicitamente, contra seu próprio partido, a quem atribui a responsabilidade por qualquer malfeito que tenha sido cometido nas duas bem-sucedidas campanhas eleitorais de que participou. Mas o sentimento de rejeição é recíproco: está aberta nas hostes lulopetistas a discussão sobre a conveniência de manter Dilma Rousseff afastada da campanha municipal. O PT já se deu conta de que mal poderá arcar com o peso negativo da própria imagem. Dispensa o abraço de afogado.

Para a presidente afastada, a confissão de seu ex-marqueteiro oficial de que recebeu via caixa 2 pelos serviços prestados na campanha presidencial de 2010 não a atinge: “Ele diz que recebeu isso em 2013. Ora, a campanha começa em 2010 e até o final do ano, antes da diplomação, ela é encerrada. A partir do momento em que ela é encerrada, tudo o que ficou pendente de pagamento da campanha passa a ser responsabilidade do partido”.


Equivoca-se a mulher honesta. Mesmo que o cipoal legislativo que regula a matéria dê margem a eventuais interpretações pontuais discrepantes, o bom senso impõe a observância do princípio da responsabilidade solidária de candidatos e partidos sobre os gastos eleitorais, principalmente quando se trata de pleito majoritário. No caso, o marqueteiro João Santana, responsável pelo marketing eleitoral de Dilma em 2010, só conseguiu receber US$ 5 milhões que lhe eram devidos – na verdade, US$ 500 mil a menos – em 2013, depositados em conta no exterior.

Ninguém imagina que um candidato à Presidência da República seja obrigado a cobrir gastos de campanha. Mas é óbvio que ele é responsável, solidário com o partido, por esses gastos, inclusive do ponto de vista da legislação eleitoral. É, aliás, exatamente por essa razão que está sendo julgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma ação movida pelo PSDB contra a chapa Dilma-Temer, relativa aos gastos de campanha de 2014. É simplesmente ridícula, portanto, a alegação da presidente afastada de que, como a campanha de 2010 foi encerrada antes de o pagamento ser feito ao marqueteiro, a responsabilidade exclusiva por esse pagamento é do PT.

De resto, essa atitude revela, no mínimo, o desapreço que Dilma tem pelo partido pelo qual se elegeu duas vezes presidente da República. O que suscitaria a questão – se é que ela acredita realmente que possa voltar ao Palácio do Planalto – de saber com o apoio de quem ela contaria para recompor seu governo.

Ao tentar transferir para o PT toda a responsabilidade pelos golpes eleitorais que alavancaram suas eleições, Dilma nada mais fez do que imitar o comportamento de seu criador e mestre, Lula da Silva. Mentor e maior beneficiário do mensalão e do petrolão, peças do mesmo esquema de corrupção com os quais procurou em vão consolidar seu projeto pessoal de poder, o hóspede contumaz do famoso sítio de Atibaia passou oito anos na Presidência da República comportando-se como se qualquer suspeita de seu envolvimento em trambiques fosse crime de lesa-majestade. A diferença entre Dilma e Lula é que este, muito mais esperto, não perdia oportunidade de passar a mão na cabeça de quem operava o jogo sujo para ele.

Hoje, a agenda dos restos do PT concentra-se na sua sobrevivência política, o que passa necessariamente por um desempenho se possível um pouco mais do que medíocre no pleito municipal de outubro. A estratégia eleitoral a ser adotada divide suas lideranças. Por um lado, os que preferem a uma abordagem mais “ideológica” insistem que o mais adequado é a “nacionalização” da campanha, levando para os palanques municipais o tema do “golpe” de que o PT estaria sendo vítima com o impeachment de Dilma. De outra parte, os mais pragmáticos entendem que, numa eleição de prefeitos e vereadores, o que garante voto são as questões locais.

Seja qual for a estratégia, predomina entre as lideranças petistas, nos âmbitos federal, regional e municipal, a convicção de que, com a exceção talvez do Nordeste, as presenças nos palanques de Lula e, principalmente, de Dilma, não são desejáveis. São as voltas que a política dá.

Cuidado nosso de cada dia

Ela (a linguagem) nos permite ingressar no mundo luminoso e arejado dos conceitos. Mas isso tem igualmente seu preço. Este mundo de luz e de ar é também um mundo em que os ventos doutrinários se desencadeiam, destruidores. Em que, ilusórios sóis artificiais surgem do horizonte; em que venenos de toda espécie brotam das fábricas de propaganda, das usinas de tolices.
 15 dibujos discordantes que muestran lo absurdo de la vida de todos
Vivendo como anfíbios, metade nos fatos e metade nas palavras, metade na experiência imediata e metade em noções abstratas, empregamos a maior parte do tempo em conseguir o que há de pior nesses dois mundos. Usamos tão mal a linguagem que nos tornamos escravos de nossos chavões e nos transformamos quer em Babbits conformados, que em fanáticos e doutrinários. E utilizamos tão mal a experiência imediata que ficamos cegos às realidades de nossa própria natureza e insensíveis ao mundo que nos rodeia.
Aldous Huxley, "Adonis e o alfabeto"

O voto e a cabeça do eleitor

Qual é o roteiro para se conquistar o voto? Quando um eleitor opta por um candidato, que fatores balizam sua decisão? Esta é a instigante questão que os competidores tentarão descobrir na mais renhida disputa eleitoral desses turbulentos tempos que agitam o país. A resposta abriga componentes relacionados à identidade do candidato e ao ambiente social e econômico que cerca os eleitores.

No primeiro caso, o eleitor leva em consideração valores como honestidade/seriedade; simplicidade; competência/preparo; capacidade de comunicação; identificação com o novo contra o velho; o entendimento dos problemas da cidade; arrogância/prepotência; simpatia; cordialidade. Sob outra abordagem, o voto quer significar protesto, um castigo aos atuais governantes e a candidatos identificados com os velhos costumes, vontade de mudar ou mesmo aprovação aos perfis que darão continuidade à administração. Neste caso, os pesos da balança assumem o significado de satisfação e insatisfação; ou confiança e desconfiança.

A questão seguinte é saber qual a ordem em que o eleitor coloca essas posições na cabeça e por onde ele começa a decidir seu voto. Não há uma ordem natural. O eleitor tanto pode começar a decidir por um valor representado pelo candidato – empatia, carga conceitual, novidade, capacidade de comunicação - como pelo cinturão social e econômico que o aperta: carestia, violência, desemprego, insatisfação com os serviços públicos precários etc. Os dois blocos de fatores tendem a formar massas conceituais - boas e ruins - na cabeça das pessoas.

A exposição dos candidatos na mídia forma um conjunto de impressões na audiência. Serge Tchakhotine, em seu denso livro Mistificação das Massas pela Propaganda Política, refere-se a essas impressões como engramas. São responsáveis pelas associações mentais que as pessoas estabelecem, relacionadas aos nossos desejos e necessidades, convergindo para situações e valores como fome, conforto, esperança, ambição, progresso, sexualidade, fraternidade, vaidade, mudança, melhoria de vida. Esse escopo, por sua vez, opera sob a forma de reflexos condicionados, que atuam sobre a maquinaria psíquica.

Essas impressões serão mais positivas ou mais negativas, de acordo com a capacidade de o candidato formular idéias e apresentar respostas aprovadas ou desaprovadas pelo sistema de cognição dos eleitores. E daí, qual a lógica para a priorização que o eleitor confere às idéias dos candidatos? Nesse ponto, cabe uma pontuação de natureza psicológica. As pessoas tendem a selecionar coisas (fatos, ideias, eventos, perfis) de acordo com os instintos natos de conservação do indivíduo e preservação da espécie.

Ou seja, o discurso mais impactante e atraente é o que dá garantias às pessoas de que elas estarão a salvo, tranquilas, alimentadas. O discurso voltado ao estômago do eleitor, ao bolso, à saúde é prioritário. Tudo que diz respeito à melhoria das condições de vida desperta a atenção. (Lembram-se da equação BO+BA+CO+CA – Bolso, Barriga, Coração, Cabeça - sempre recorrente nos textos deste consultor?). Depois, as pessoas são atraídas pelo discurso emotivo, relacionado à solidariedade, ao companheirismo, à vida familiar.

Esses apelos disparam os mecanismos de escolha. Se a insatisfação social for muito alta, os cidadãos tendem a se abrigar no guarda-chuva de candidatos da oposição. Se candidatos com forte tom mudancista provocarem medo, as pessoas recolhem-se na barreira da cautela, temendo que um candidato impetuoso vire a mesa abruptamente. Assim, mesmo rejeitando candidatos apoiados pela situação, os eleitores assumem a atitude dos três macaquinhos: tampam a boca, os ouvidos e olhos e acabam votando em candidatos situacionistas.

O maior desafio de um candidato de oposição, dentro dessa lógica, é o de convencer o eleitorado de que não só garantirá como aumentará as conquistas dos seus antecessores, promovendo mudanças que melhorarão a vida das pessoas. Mas o efeito demonstração se faz necessário. Simples promessa não adiantará: é preciso comprovar tim-tim por tim-tim como executará as propostas.

Por isso mesmo, quando o candidato agrega valores positivos, a capacidade de convencimento do eleitor será maior. Não se trata apenas de fazer marketing, mas de expressar caráter, personalidade, a história do candidato. Uma história amparada na coerência, na experiência, na lealdade, na coragem e determinação de cumprir compromissos. Proposta séria e factível transmitida por candidato desacreditado não colará. Cairá no vazio. A desconfiança anula a seriedade da mensagem positiva. Os dois tipos de componentes que determinam as decisões do eleitor - as características pessoais dos candidatos e o quadro de dificuldades da vida cotidiana – caminham, portanto, juntos, amalgamando o processo de decisões dos cidadãos.

Marketing bem feito é aquele que procura juntar essas duas bandas, costurando os aspectos pessoais com os fatores conjunturais, conciliando posições, arrumando os discursos, analisando as demandas das populações, criando ênfases e alinhando as prioridades. O que a comunicação faz, na verdade, é acentuar os estímulos para que o eleitor possa, a partir deles, tomar decisões. E os estímulos começam com a apresentação pessoal dos candidatos, a maneira de se expressar, de se vestir. Os cenários aguçam ou atenuam a atenção.

A fluidez de comunicação, a linguagem mais aberta, solta e coloquial, cria um clima de intimidade com o eleitor. Propostas precisam ganhar objetividade, clareza e consistência. As influências sociais e até as características espaciais e temporais despertam ou aquecem as vontades.

O eleitor é uma incógnita. Na eleição de outubro próximo, procurará se esconder mais que em campanhas anteriores. Está desconfiado e crítico. De costas para as velhas promessas. Não quer comprar gato por lebre. Decide com racionalidade, sem esquecer a indignação. Tentar desvendar o que se passa em sua mente – eis o maior desafio dos candidatos.

Aliança do escárnio

Um soco no olho, outro na boca, chutes e esganamento enquanto o oponente está no chão. Embora seja mais afeita aos ringues de MMA, e nesses casos incentivada por fãs ensandecidos, tal sequência de golpes aconteceu dentro de uma residência, foi desferida por um homem contra sua mulher e testemunhada pela filha do próprio casal, uma menina de 5 anos de idade. Fim de papo.

Fim de papo? Não quando se trata de Brasil, muito menos de Rio de Janeiro, tampouco quando envolve a avacalhada cena política carioca.

Digo, não bastasse a teimosia de Paes em apoiar Pedro Paulo, sujeito que deveria estar preso se este fosse um país digno, eis que, agora, no afã de encontrar uma figura feminina capaz de empanar os episódios de violência doméstica protagonizados pelo candidato, os grão-mestres do PMDB decidem reavivar uma tabelinha antiga, ao anunciarem a deputada estadual Cidinha Campos (PDT) como vice da chapa.

Decerto graças às mazelas que emanavam da Vila Olímpica, não atentamos como deveríamos para mais esta costura política deletéria, entretanto ela extrapola o acinte e assim precisa ser encarada.

A persona da mulher destemida e com verve irrefreável forjada por Cidinha confunde-se com a própria guinada do brizolismo no Rio de Janeiro. Não é por acaso. Maria Aparecida Campos Straus, a própria, filiou-se ao PDT em 1982 e desde então destacou-se como uma ferrenha defensora deste arremedo ideológico destinado a acabar com o Rio.

Anotem aí pois afirmo sem o menor medo de errar: para cariocas como eu, que viram de perto o populismo chinfrim asfixiar as menores fagulhas de discurso moderno que pudessem surgir, que presenciaram a institucionalização de uma ditadura da maioria e, talvez o mais grave, a formação de uma escola de políticos determinada a perpetuar Leonel Brizola, é horripilante voltar a ouvir o nome de Cidinha Campos com pompa e circunstância.

Mas, então, se Cidinha realmente provoca tanta repulsa assim, por que foi escolhida? De onde veio a indicação? Voltando à tese inicial, teriam Jorge Picciani e Sergio Cabral lembrado de suas atuações histriônicas na Alerj e então enxergado nela a candidata ideal para escudar Pedro Paulo?

Até faz sentido, vá lá, entretanto convém esquecer de vez a cartada da mulher que referenda o acusado. Quero dizer, alguém com a pachorra de, logo nas primeiras entrevistas, regurgitar boçalidades como “eu sou contra violência doméstica, mas quando é contra as pessoas desvalidas”, vamos combinar, não merece ter sua opinião sobre o tema respeitada.

Qual seria o motivo, então? Cacife moral? Mas, como, se ainda em 1994 Cidinha era alardeada aos quatro ventos como beneficiária de propina do jogo do bicho? Que fim leva a retórica da superioridade moral desta forma?

Insisto, para os cariocas da minha geração, os que nasceram no início dos anos 70, Cidinha não passa de um bolor. E, se pensarmos bem, ao atinarmos para a visível fragilidade física de Dornelles em suas últimas aparições, mesmo com a perpetuação de Moreira Franco pelos corredores do poder, a sensação que fica é de desespero. Como se estivéssemos enfiados até o gogó na areia movediça.

Pedro Paulo merece toda a repulsa possível do povo carioca, disto eu não tenho dúvida. Ainda que sua candidatura signifique a continuidade daquele que já pode ser considerado o melhor prefeito do Rio nas últimas décadas, existem situações na vida que ultrapassam todos os limites do aceitável e bater em mulher é uma delas.

Quanto a presença de Cidinha Campos, só me resta pensar em desespero, na falta de idéias de uma campanha que, se bobear, mais ajuda aos adversários do que a si mesma quando faz embarcar alguém tão fora do prumo e capaz de incitar sentimentos ruins.

Por fim, é duro admitir, mas, entre as alianças de Crivella e Garotinho, Pedro Paulo e Cidinha, sem falar no ignóbil Freixo ou no falso arrependido Molon, a melhor saída para o carioca talvez seja o Galeão.

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Evgeny Lushpin
Evgeny Lushpin

Lula, à beira do abismo, só falta dar um passo para frente...

O conluio entre Lula e família e as grandes empreiteiras acaba de desaguar na transformação do ex-presidente da República em réu de crimes capazes de levá-lo à prisão, tanto quanto a quadrilha por tanto tempo acostumada às suas benesses e falcatruas. Se acontecer, junto com o necessário afastamento definitivo de Dilma Rousseff, nem por isso estará o país livre da rachadura. Mesmo com o PT posto em frangalhos, a divisão entre as elites e as massas tornará as ruas e as consciências intransitáveis.

Batalhas entre o Brasil formal e o Brasil real visam impedir opções e espaço para a conciliação. Isso, só depois da explosão, de resultados imprevisíveis. Raras vezes tem-se verificado dicotomia tão profunda em nossa História, recaindo a responsabilidade pelo embate na avidez das lideranças das duas porções em choque. Perderão ambas, mas o que resultará do mútuo esgotamento das partes?

Tempo ainda há, muito curto, para evitar o pior. Antecipar as eleições gerais para breve pode constituir-se em solução, ainda que tanto as elites quanto as massas apresentem suas soluções inconciliáveis. Imaginar a terceira alternativa sempre será possível, ainda que geralmente ilusória. O radicalismo de um lado e de outro obstará a conciliação, deixando mínimo espaço para desenvolver-se. Como se trata da derradeira oportunidade de evitar o caos, quem sabe?

Não é hora de fulanizar, porque mesmo disfarçados, os grupos em choque serão facilmente identificáveis. À beira do abismo, porém, tudo é possível para evitar a queda.

Deu a louca no mundo virtual

Dia desses li que 2,4 bilhões de seres humanos - praticamente um terço da população mundial - fazem uso da Internet. Eis aí, sem a menor sombra de dúvida, uma das mais importantes inovações da nossa era, dotada de um poder revolucionário virtualmente inimaginável.

E eis que, surfando na fascinante onda desta novidade, apareceu um cidadão buscando facilitar o adultério! O dito cujo montou um sítio na Internet especializado em viabilizar encontros com pessoas casadas. Logo na página inicial fica clara a intenção da ideia: “a vida é curta, tenha um caso”.

#epicfailure:
Um outro elemento resolveu estabelecer um serviço de telegramas para o além. Basta digitar a mensagem a ser transmitida para algum morto, ao custo de US$ 5 por palavra, e o telegrama será devidamente entregue através de um portador - algum doente terminal que se disponha a memorizar a mensagem para repeti-la, depois de morto, lá nas paragens celestiais. Aliás, por falar nisso, encontrei um outro sítio cuja única finalidade é definir o dia de sua morte - assim você pode até se oferecer para levar algum telegrama para o além.

Descobri também um serviço especializado em proporcionar experiências com seres de outros planetas. Segundo li, uma equipe composta de profissionais altamente treinados, incluindo médicos, hipnotizadores e até técnicos especializados em implantes de memória, o fará experimentar a sensação de ser abduzido por algum “ET”.

A propósito, há na Internet um sítio vendendo uma apólice de seguro para o caso de você ser realmente carregado por um alienígena. O serviço custa US$ 19,95 mais US$ 5 de despesas postais. A partir daí, basta algum “ET” carregá-lo para um disco voador e você ganhará US$ 10 milhões, na qualidade de um feliz segurado!

Você quer ficar infeliz? Deseja alcançar um estado de depressão ouvindo palavras amargas? Está cansado de ouvir palavras de incentivo? Neste caso, conte com um sítio cujo lema é “descobrimos a cura para a esperança”. Por preços módicos, pode-se comprar ali até um “calendário de desmotivação”, a fim de que a cada novo dia você tenha uma razão nova para ficar deprimido.

Curioso, também, é o sítio para imbecis. A ideia é proporcionar um centro virtual de acolhimento aos idiotas deste mundo. Funciona assim: na entrada o candidato se submete a um teste de QI, e em ficando constatado que o dito cujo é uma anta a aceitação como sócio neste seleto clube é imediata.

Não menos interessante é o sítio através do qual pode-se adquirir terrenos na Lua, em Marte e em Vênus. Os preços começam em uns R$ 56,20 para um acre até R$ 315,40 para um lote de dez acres. Acompanha a escritura um mapa do local (Lua, Marte ou Vênus, repito), a fim de que você encontre o terreno com facilidade quando por lá resolver aparecer.

Encerro esta lista com o inacreditável sítio alemão dedicado a intermediar a compra e venda de votos nas eleições realizadas naquele país. Através dele os eleitores procuram compradores para seus votos, recebendo 10 Euros por cada um. Eles devem preencher um formulário, comprometendo-se a votar no partido ou político comprador. Clientes podem comprar pacotes de votos - 1.000 por 6.250 Euros ou 10.000 por 59.000 Euros.

Dizem alguns que a evolução espiritual da humanidade não tem acompanhado o avanço de sua tecnologia. Daí, talvez, a exclamação de Rivarol, segundo quem “os povos mais civilizados acham-se tão próximos da barbárie como o ferro polido está perto da ferrugem”.

Pedro Valls Feu Rosa

Corrupção incide mais sobre educação e saúde

A Controladoria-Geral da União, rebatizada sob Michel Temer de Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle, realizou 221 operações especiais anticorrupção entre 2003 e o primeiro semestre de 2016. Executadas em parceria com a Polícia Federal e a Procuradoria da República, essas ações produziram uma estatística estarrecedora: 67% dos casos de desvio de verbas federais repassadas a Estados e municípios ocorreram nas áreas de educação e saúde.

Repetindo: o roubo é mais frequente nos cofres da educação e da saúde. Pense nisso sem pensar no resto. Esqueça por um instante o desemprego e a inflação. Pense só nisso. A verba da educação e da saúde, que já é insuficiente, fica mais escassa por conta dos assaltos. As escolas e os hospitais brasileiros são escandalosos em parte porque a gestão da dinheiro público nessas áreas tornou-se um escárnio.


“A Lava Jato é apenas o começo”, disse o ministro Torquato Jardim (Transparência) ao comentar o flagelo da corrupção em conversa com o blog. As seis operações mais relevantes realizadas no primeiro semestre de 2016 resultaram na descoberta de desvios de R$ 143 milhões. Os seis casos mais importantes desbaratados ao longo de 2015 somaram R$ 452 milhões. Perto dos bilhões da Lava Jato, as cifras são modestas.

Mas Torquato pondera: “Admitido o critério da proporcionalidade, esses casos não são menores do que a Lava Jato. Para mim, tudo isso é muito chocante. Em 13 anos, mais de 200 operações, 67% dos desvios na saúde e na educação. É dinheiro de merenda e saneamento. Quer dizer: são gestores públicos que estão destruindo a próxima geração de brasileiros.”

Torquato não exagera. Estudo repassado a Michel Temer anota: 1) na educação, a maioria dos casos de corrupção pilhados pelos órgãos de controle ocorre no Fundeb (38%), fundo que se destina ao desenvolvimento do ensino básico, e no PNAE (24%), programa de merenda escolar. Na saúde, a corrupção avança mais sobre as verbas do saneamento básico (18%) e do programa ‘Saúde da Família’ (13%), que fornece cuidados básicos de saúde por meio de visitas periódicas aos lares de brasileiros pobres.

A maior parte das operações especiais anticorrupção tem origem em denúncias. Das 221 operações especiais realizadas nos últimos 13 anos, 105 nasceram no âmbito da Polícia Federal, 87 foram deflagradas na antiga CGU e 29 surgiram no Ministério Público Federal. O que mais deixa inquieto o ministro da Transparência é a reincidência do roubo.

“Está acontecendo agora”, disse Torquato Jardim. “Tem um município, que vou me permitir nao citar o nome, em que a prefeita foi autuada pela segunda vez. Trata-se da avó de um deputado federal muito conhecido. Autuada no primeiro mandato, a prefeita continuou a praticar os delitos no segundo mandato.

O ministro realçou que o fenômeno da reiteração criminosa tornou-se latente. “No plano federal, enquanto se julgava o mensalão já se operava o petrolão. Do ponto de vista cultural, isso é uma barbaridade. Há poucos dias, com a Operação Zelotes a todo vapor, um conselheiro do Carf foi encontrar-se com um diretor do Itaú de quem tnha exigido uma bola de R$ 1,5 milhão. Apesar de tudo o que está acontecendo, o sujeito faz uma coisa dessas no shopping!”