quinta-feira, 9 de junho de 2016

'A tristeza é um pássaro morto'

“A Tristeza é um pássaro morto”, diz o escritor e jornalista espanhol Juan Cruz em sua obra El Niño Descalzo(Alfaguara, Madri, 2015).

A alegria, ao contrário, é ver os pássaros voarem.

Por que então é tão difícil fotografar a felicidade? Imagine uma tela em branco na qual projeta uma foto interessante e chamativa para um concurso. Você escolheria um tema que evoque felicidade ou violência?

Numa exposição de fotos no Museu Franz Mayer, do México, organizada pela World Press Photo, sete das nove imagens premiadas, entre 108.000 feitas por 5.847 fotógrafos de 126 países, não apresentavam nem um sinal de felicidade. Eram todas tristes, amargas ou de violência.

Há poucos filmes com final feliz. Por que a felicidade atrai menos a curiosidade que a desgraça?

Por que existem lágrimas felizes e lágrimas amargas, ao passo que não existem sorrisos de dor?

E, entretanto, a dor não é inconciliável com a felicidade. Vi sorrirem, felizes, pessoas em cadeiras de rodas, e pessoas infelizes nadando na abundância e na saúde.

Se o mundo continua existindo, ensina Freud, é porque em nós prevalece o impulso de vida perante o de destruição. É a força de Eros, da reprodução, contra a de Tânatos, a morte e a violência.

Se no mundo é maior o desejo de viver, de alcançar nossos sonhos, que o de morrer, por que é tão difícil lidar com a felicidade? Por que ela está desprestigiada, vista como boba, pouco masculina, enquanto a violência e a tragédia atraem?

Por que as notícias sobre as desgraças costumam ter maior espaço nos jornais?

Existe só uma exceção: as notícias que provêm da ciência, da medicina ou da tecnologia.

Talvez exista nisso um fundo psicanalítico, e esteja estreitamente relacionado com o desejo de continuarmos vivos e sãos, ao se referir à luta contra a doença e a morte. São notícias de superação.

Nessa atração ou curiosidade pelas más notícias, as catástrofes e as violências, pode se esconder também a sensação de nos sentirmos protegidos, afirma a psicologia. Como se pensássemos: eu não estava naquele avião que caiu nem naquele tsunami. Eu me salvei. Ou: eu nunca cometeria esse crime horrendo. Não seria um corrupto.

Precisamos dos maus para nos sentirmos bons?

Talvez por isso tenham fracassado todas as tentativas de criar jornais só de notícias positivas ou exemplares, como às vezes se tentou. Eles não têm leitores.

Continua de pé a pergunta: por que é tão difícil lidar com a felicidade? Ainda mais em tempos de crise como a que está vivendo o Brasil, onde essa palavra parece ofensiva. São outras as imagens que interessam e atraem nas redes sociais neste momento de perplexidade quanto ao futuro. Prevalece a ira sobre o diálogo, o derrotismo sobre a esperança de recomeçar.

Quanto será preciso esperar para poder ver de novo a foto de um Brasil feliz?

Sobre ser ou não ser 'de esquerda'

Esteve no Roda Viva Internacional quinta-feira da semana passada o embaixador Rubens Ricupero, um dos últimos representantes vivos da “esquerda honesta”. Considerada a escuridão em que anda mergulhada a política brasileira ouvir um desses remanescentes da geração anterior tem sempre o efeito de uma iluminação. Ricupero é um homem indiscutivelmente íntegro, bem intencionado. Mas não se permite o rigor, no seu senso crítico e na coerência entre o pensar e o fazer, de um Hélio Bicudo por exemplo. Ele mantém com o dogma aquele tipo de relação que define o bom católico: ha sempre uma barreira além da qual a racionalidade, pura e simples, não está autorizada a passar.

Dou um exemplo. Foi a meu ver exata a definição de fascismo que ele deu a partir do 59º minuto da entrevista (confira aí embaixo), aplicada a Donald Trump: “Ele é um egomaníaco com traços fascistas. Tem aquele desprezo pelo conhecimento, pela informação; tem aquela atitude típica do fascismo, diz bobagens, se contradiz, mas (afirma que) isso não tem nenhuma importância porque o Fuehrer, o Duce, nunca pode se enganar. A solução de todos os problemas está encarnada num homem. Não precisa nem apresentar programa, é ele que vai resolver tudo … É um homem que admira o Putin e que ontem recebeu o apoio do homem da Coreia do Norte, veja você!”

Se, entretanto, alguém fizesse ver a Ricupero que, substituindo-se Putin por Ahmadinejahd e “o homem da Coréia do Norte” por, digamos, “o homem da Venezuela“, esta é uma descrição perfeitamente exata de Luis Ignácio Lula da Silva, ele negaria como absurda a evidência porque é da essência do indivíduo que se define como “de esquerda” que não são os fatos e o comportamento concreto de um homem no poder que o definem como fascista ou antifascista, mas sim as suas supostas intenções.

Lá pelos finalmentes, instado diretamente por um dos entrevistadores a definir esquerda e direita ele sintetizou assim a coisa:

“É de esquerda quem acha que dá pra corrigir a desigualdade e de direita quem acha que ela é um dado imutável da natureza”.

É o tipo de definição em que está implícito aquele “nós, os moralmente superiores”, contra “eles, os mal intencionados” boa pra campanhas eleitorais mas venenosa para todo o resto. Além de pouco exata no que diz respeito ao teste da realidade histórica, cabe lembrar, antes de mais nada, que entender a diferença como um dado da natureza, como ela de fato é, não exclui o entendimento de que ela possa ou deva ser, na maior medida possível, mitigada no contexto da organização social. Na verdade qualquer sujeito adulto e com olhos de ver pregados à cabeça, até os que se consideram “de esquerda“, sabe que a desigualdade é um dado da natureza onde não existe nada exatamente igual a nada, mas não precisa, necessariamente, de uma narrativa fantasiosa, tipo o mito do “paraíso perdido” ou o do “bom selvagem” que é a sua versão mais americana, para “provar” que, do ponto de vista do acesso aos bens e aos direitos inerentes à vida em sociedade, é necessário que as coisas não sejam tão diferentes quanto são na natureza.

O verdadeiro divisor de águas está no modo de se encarar o valor da liberdade e o sentido de “civilização“: como história concreta do esforço de superação do estado de natureza ou como utopia. O divisor de águas está, para ser mais exato, no “como” e no “pelo quê” se admite trocar a redução da diferença; se isso deve ser feito preservando-se ao máximo a liberdade, bem do qual escolher o próprio modo de ganhar a vida é a expressão mais básica e essencial, ou mandando-se a liberdade às favas.

E é aí que entra a História. Ha muito que isso não é mais um mero “achismo”. Trata-se de experiência vivida posto que essas alternativas foram amplamente testadas ao longo do século 20. Aconteceram exatamente na mesma época as reformas da “Progressive Era” dos Estados Unidos, de um lado, e as revoluções socialistas e comunistas da Europa e da Ásia do outro. E essa experiência (tragicamente) vivida deixou claro que as verdadeiras alternativas são forçar a desconcentração do poder econômico com medidas a favor da liberdade, ou seja, pela pulverização da propriedade privada em favor da concorrência que deve ser a mais ampla e a mais livre possível em benefício do cidadão nas suas dimensões mais concretas que são as de trabalhador e consumidor (legislação antitruste), ou contra a liberdade, pela concentração de toda a propriedade nas mãos de uma “vanguarda” chamada Estado, que é tão feita de gente com todos os seus defeitos quanto todas as outras.

No campo da organização política, a alternativa está em tomar decisões a esse respeito passo a passo exigindo, a cada um, a chancela direta de todos os cidadãos que serão sujeitados a elas chamando-os a atuar mediante o exercício do recall, das leis de iniciativa popular e do referendo das leis propostas pelos representantes eleitos para mandatos delimitados no tempo e no espaço, ou entregando todas as decisões à tal “vanguarda” que não admite oposição e decide tudo em nome “do povo” sem precisar consultá-lo, nem a cada passo, nem sequer a cada mandato.

Já no da economia, a escolha está entre dar a cada um o correspondente ao que ele trabalhar para entregar ao conjunto da sociedade, ou dar a cada um o que conseguir “adquirir” como “direito especial” aliando-se à tal “vanguarda” com o poder exclusivo de outorga-los.

São essas as alternativas reais. E os efeitos práticos da opção por cada uma delas, tanto para a felicidade material como para a felicidade espiritual da humanidade, estão aí para quem quiser abrir os olhos e ver, seja no passado, seja no presente.

A tal da letra "a"

Lidiane Alves Brasil (jovem presa numa cela masculina no Pará); Patricia Acioli (juíza emboscada e assassinada com 21 tiros, no Rio); Sinara Polycarpo Figueiredo (analista demitida do Santander a pedido de Lula pelo prognóstico realista do desastre que sobreviria com a reeleição de Dilma); Danielly Rodrigues (vítima fatal do estupro coletivo de quatro moças no Piauí). Essas mulheres não integraram os governos funestos de Dilma Rousseff, nem nominal, claro, nem simbolicamente.

Só pelo caminho da demagogia na atuação entre preguiçosa e delinquente de auxiliares implausíveis em qualquer governo que, digno, não se orientaria pelo sexismo – que precisa ser entendido não só como desfavorecer, mas também favorecer alguém pelo critério do sexo. Sinara se distingue do grupo por ter sido punida por Lula, como ele puniu Francenildo Pereira, demonstrando que o jeca só diferencia homens e mulheres no escritório da presidência da república nos tempos concupiscentes de Rosemary Noronha. Diferenças suspensas quando assediou o menino do MEP, que resistiu ao charme que o caudilho não tem.

As demais mulheres não se constituíram em preocupação que merecesse algum tipo de política pública; não motivaram uma nota do governo inventor do populismo de gênero; não arrancaram uma palavra da presidente que se pronunciou até a respeito da mandioca e valoriza tanto a letra “a” do detestável “presidenta”. Aquelas mulheres também não despertaram o interesse dos fanáticos defensores de Dilma Rousseff que submetem todas as complexidades do mundo à escuridão ideológica, numa compreensão desidratada ao restringi-las à sentença única e multiutilitária: é tudo cultural.


Calados por 13 anos, berram na militância oportunista contra certa cultura do estupro que iguala a um ato brutal a saborosa e eterna cantada, numa atitude opressora e castradora em nome de uma causa que, de resto, é sempre a gema de todas as opressões. Eis um modo de não resolver coisa nenhuma, além do frêmito publicamente secreto de mostrar os seios na multidão como um ato pretensamente libertário num mundo em que algum recato ou alguma pudicícia tornam-se a verdadeira revolução.

Ocupam-se da jovem estuprada no Rio porque o crime aconteceu sob o governo de Temer, então suspendem a indivisibilidade do indivíduo para fragmentá-lo na ideologia que satisfaz a si mesma no cio insaciável de enfraquecer o inimigo que não é o estuprador, o assassino, o ladrão, o sequestrador reais, pois essa militância não sabe lidar com as realidades que revelam a mixuruquice dela.

O inimigo é o dissidente dessa irracionalidade configurado também em qualquer homem porque percebido como um potencial estuprador. Só consigo compreender o gozo perverso dessa fantasia se ela for pensada como potência realizada no imaginário em contraste com a impotência frente ao agressor real. Contudo, é evidente que assim nem se combate o machismo renitente na nossa sociedade, nem o cotidiano de violência.

De todo modo, contra o inimigo potencial, vale mostrar os peitos na multidão, mas não vale pedir cadeia para os criminosos. Ou alguém viu nas manifestações contra a tal cultura do estupro cartazes pedindo segurança além dos que diziam “fora Temer”? Enquanto se deleitam nessa miragem, a população – sobretudo a parcela mais pobre – padece sob a violência e a criminalidade reais. A reportagem de VEJA a respeito da jovem carioca que sofreu o estupro coletivo mostra a paisagem catastrófica da segurança pública que é indissociável da administração inepta e indiferente do PT quanto às políticas públicas de segurança que deveriam contemplar um plano de ação juntamente com os estados e o patrulhamento decente das fronteiras para coibir a entrada de armas e drogas.

Na construção do pesadelo, o Rio de Janeiro se destaca desde a gestão desastrosa de Leonel Brizola também quanto à criminalidade, inspirada num esquerdismo sempre leniente com a bandidagem, vista como expressão de incerta brasilidade, de uma malandragem libertária e outras miragens bacanas-tipo-descoladas, numa antropologia tropicaloide fronteiriça com a idiotia. A garota carioca tinha 3 anos quando o PT chegou ao poder e, por 13 anos, ele se empenhou, pela omissão fanática, em aumentar as probabilidades do horror descrito na revista sob a vigência da lei dos criminosos, a ausência do Estado, a impotência das famílias, os jovens fazendo escolhas erradas num contexto socioeconômico que lhes esfrega na cara um punhado delas.

Em meio à desolação, Dilma e a confraria que ela inspira só enxergam a dita cultura do estupro e só depois do afastamento da presidente para, de modo repulsivamente hipócrita e manipulador, atrelar aquela brutalidade a um recém-inaugurado governo só de homens. É a tal da letra “a”. Essa contribuição dos romanos ao mundo, alfa na versão grega, aleph como abertura do alfabeto hebraico com que Borges nomeou seu magnífico conto em que o particular e o universal se condensam para abrigar todo o conhecimento, a letra “a” nos deu presidenta – a condensação acanalhada da nossa tragédia.

Dilma, a Xerxes de bucho cheio, é servida por corte de 36 eunucos

Já temos o nosso imperador persa no Planalto, ao menos no que respeita aos eunucos: chama-se Dilma Rousseff. A Afastada, desocupada e, em breve, desempregada teve o topete de requisitar, atenção!, 36 funcionários para “trabalhar” com ela no Palácio da Alvorada, sendo 31 do gabinete da Presidência da República, e nada menos do que cinco ajudantes de ordem. Dilma é a nossa Xerxes do bucho cheio.

Para que tanta gente, meu Deus? Resposta: pra nada! Qual é hoje o trabalho daquela senhora? Sair por aí berrando que foi vítima de um golpe. Conceder entrevistas para difamar o Brasil. Mobilizar governos estrangeiros para ver se eles retaliam o país por ter cumprido a Constituição.

É um acinte e um disparate. Dá para entender por que a dita “presidenta” elevou seus ministérios a 39 e, com esse exército, conduziu o país à bancarrota.

A coisa é tão estúpida que o atual presidente, Michel Temer, está sem espaço para nomear os seus assessores. Dos 31 cargos que Dilma sequestrou, 16 estão no topo da pirâmide salarial.


E os eunucos da Xerxes do Cerrado ainda reclama. Dizem que a Casa Civil se negou a pagar a hospedagem da turma que acompanha a Presidenta Desocupada. Ora, não me digam… Os dilmistas também não se conformam que aviões da FAB estejam liberados agora apenas para conduzir a Sem-Nada-Para-Fazer a Porto Alegre. Para deitar proselitismo em Campinas, por exemplo, Dilma teve de alugar um jatinho, pago pelo PT.

É preciso pôr logo um ponto final a essa história. Conforme informou o Painel, da Folha, de janeiro a maio, Dilma gastou R$ 280 mil, em seu cartão de suprimentos, com despesas para alimentação — R$ 62 mil por mês.

“Ah, coitada, recebia muita gente… Sabem cumé…” Ora vejam: de 13 a 31 de maio, já afastada, a “presidenta” torrou R$ 54 mil para abastecer o Alvorada. A assessoria da petista soltou uma nota furiosa contra o vazamento de dados, mas não contestou os números.

Como é que uma presidente afastada, sem agenda, consegue gastar R$ 54 mil em alimentação em uma quinzena?

A Folha informa que Michel Temer determinou que sejam aceleradas as demissões dos quadros petistas que ainda ocupam cargos de segundo e terceiro escalões. Daqui a pouco, as esquerdas já estarão chorando por aí, dizendo-se perseguidas…

Que fique claro: trata-se de cargos de confiança. Até que não sejam extintos, é evidente que os, digamos, “agentes” do governo anterior têm de ser ao menos substituídos.

Essa patuscada já foi longe demais. O Brasil precisa saber, sim, qual é o custo da “resistência” de Dilma, aquela que insiste em ficar torrando dinheiro público, mesmo afastada de suas funções, depois de quebrar o país.

Comilança no Palácio enquanto urnas eletrônicas são recauchutadas

Depois de garantir o material de limpeza empenhado na semana passada, a Presidência da República (PR) resolveu abastecer o carrinho de compras com refeições porcionadas para coffee break e brunches da Cial Comércio e Indústria de alimentos Ltda. e lanches da Syria Panificadora (Siriana Panificadora e Confeitaria Ltda.). Os lanches, praticamente todos sem gordura trans – por que não proíbem logo o uso e a comercialização de gordura trans para beneficiar todos os brasileiros? – vão de brioches a pão folha integral ou não para wrap, passando por mini pizzas, pão francês, ciabatta, croissant, sequilhos, salgados e doces de massa folhada invertida, casadinhos, baguetes de gergelim, entre outros pães de variados sabores. As refeições porcionadas da Cial, uma empresa de Goiânia (GO), custam aos cofres públicos R$ 203.653,04. Os produtos para os lanches variados da Syria Panificadora, localizada numa quadra da Asa Sul de Brasília, ficarão por R$ 165.108,91.


A compra de lanches tem 18 itens de guloseimas. O item mais caro da lista é a mini pizza. São 1.400 kg, quase uma tonelada e meia de mini pizzas de 100 gr por R$ 45.388,00. O quilo sai por R$ 32,42. É verdade que os sabores são variados e sofisticados, incluem mozarela de búfala, peito de peru defumado light e azeitonas pretas; mozarela de búfala e calabresa com baixo teor de gordura; quatro queijos – gorgonzola doce, mozarela de búfala, parmesão gran formaggio, catupiry; frango, peito de frango desfiado, não aceitam de forma alguma peito de frango triturado. Todas, é exigência, devem ter aparência e cor clara, textura levemente crocante, aroma de fermentação.

Chama a atenção, entre outros itens, o pão folha integral para confecção de sanduíche tipo wrap. São 50 pacotes de 330 gr comprados por R$ 872,50, “industrializado, formato arredondado, achatado, leve, maleável. Produto de cor clara, sabor suave e fina espessura. É isento de gordura trans” e deve ser de fabricação própria. Curioso é fato de que todas as características são iguais, inclusive o pacote de 330 gr, ao pão folha de uma determinada marca popular. A Presidência da República comprou cada pacote por R$17,45 enquanto o da marca popular é vendido por apenas R$7,69 para qualquer pessoa. Não deveria ser mais barato já que é comprado em grande quantidade? Ou tem a desculpa de ser de fabricação própria? De qualquer forma é bom lembrar que todas as compras foram feitas através de pregão.

Considerando-se a quantidade, o estoque está garantido para uma temporada e a qualidade dos produtos justifica a bronca da presidente afastada, Dilma Rousseff, com a suspensão do seu cartão de suprimento. São produtos sem gordura trans para não comprometer o colesterol dos servidores, mandatários e convidados, mas com muito carboidrato para aqueles que pretendem ficar em forma.

No caso de abuso na comilança, o pessoal da Presidência da República pode pedir emprestadas as novas cadeirinhas de rapel compradas para o 4º Batalhão de Infantaria de Selva e assegurar a prática de um esporte radical nas cachoeiras mais próximas de Brasília. O Comando de Fronteira Acre gastou R$ 5.576,10 com a compra de 35 cadeirinhas para escalada\rapel, pretas, com certificação UIAA (Union International des Associations d’Alpinisme), ajustável na cintura e nas pernas, costura com padrão eletrônico de qualidade (eln), super looping mínimo de 25kn, com fivela duralumínio na cintura e nas pernas, quatro racks porta equipamentos semirígidos, em poliuretano, suporte das pernas em elástico e estofamento em tecido transpirável. Só não dá para entender porque 34 cadeirinhas custaram R$ 160,40 cada e apenas uma, idêntica, comprada separadamente, mas no mesmo dia, foi mais barata – custou R$ 122,50. Todas foram vendidas pela Sea&Náutica Ltda., de Belo Horizonte (MG).

Se nada der certo com o atual governo e a opção for realizar eleições gerais, o TSE já está garantindo, visando às eleições municipais, 415.157 bobinas de papel para as impressoras das urnas eletrônicas. A compra, resultado de pregão, é na empresa paulista Silfer Comércio Indústria Exportação Artefatos Papéis e vai custar nada mais, nada menos do que R$ 2,6 milhões. Sim, eleições num país com mais de 140 milhões de eleitores custam caro e esse valor é só para comprar bobinas de papel! Da mesma forma, o TSE já encomendou a reposição de diversas peças das urnas por R$ 253.428,23 na Procomp Indústria Eletrônica Ltda., também de São Paulo. Em tempos de crise, melhor mesmo consertar do que comprar máquinas novas. Quem sabe essas compras ainda poderão assegurar as eleições gerais, tão sonhadas por muitos?

Em todos os casos e se for necessário, a Presidência da República já comprou cordas, plástico bolha e extensor elástico para carga por R$ 1.131,38 numa empresa da Ceilândia (DF), chamada Licitop Comércio e Serviço Ltda. Talvez seja material suficiente, para fazer a provável mudança definitiva da presidente afastada e/ou do atual titular da Casa, Michel Temer. E que não seja um empreiteiro quem vai pagar o transporte da mudança.

Confira aqui as notas de empenho da semana!

'Políticos jogam xadrez, enquanto o povo joga dama'

Com os pedidos de prisão do procurador-geral Rodrigo Janot ao STF vazados na terça-feira, o ataque da Lava Jato a medalhões políticos do porte do ex-presidente José Sarney e do presidente do Senado, Renan Calheiros, cria incômodo na oligarquia política do país. Mas, segundo os analistas, não chega a abalar suas arraigadas estruturas. Aqueles que detêm o poder renovam suas cúpulas de tempos em tempos, mas não mudam a mentalidade coronelista que os caracteriza – e que tão distante está das ruas e das necessidades reais do país.

A opinião é da socióloga Fátima Pacheco Jordão, para quem, sobre o mesmo tabuleiro, “os políticos tradicionais brasileiros jogam xadrez, enquanto a população joga dama”. Os primeiros são frequentemente os corruptos que dão golpes no peito ao dizer que combatem a corrupção. Do outro lado, estão “as pessoas comuns, que ocupam as ruas do país desde junho de 2013, exigindo demandas básicas que a classe política simplesmente não ouve e das quais não fala”, afirma a fundadora e conselheira do Instituto Patrícia Galvão.

Para a especialista, “menos de um terço da população acompanha a política partidária” e entende o raio de uma operação judicial como a Lava Jato, ainda que celebrem seu movimento anticorrupção. "O problema é que os problemas continuam", já que figuras como Sarney, Renan e companhia “não conseguem entender como uma diferença de vinte centavos pode resultar em passeatas de um milhão”, acredita.

Ainda que o processo desperte ânsias por mudança, o cientista político Pedro Floriano Ribeiro alerta, contudo, para o fato de que “renovação não é necessariamente algo virtuoso”: “Os índices de renovação do Congresso não são baixos, e nas últimas duas décadas tivemos uma transformação no perfil dos parlamentares, de uma fisionomia mais bacharelesca para outra mais popular. “Um deputado pastor e que defende posturas retrógradas, por exemplo, é representante de setores populares do eleitorado”, explica o professor da Universidade Federal de São Carlos, que atua como professor visitante na Universidade de Cambridge.

Fátima explica que, desde os anos 90, o país vê funcionar um Código de Defesa do Consumidor que educou os brasileiros a exigir direitos do cliente e que avançou mais do que a compreensão do Estado sobre os direitos do cidadão. “A população sabe muito bem o que quer, porque aprendeu com o próprio mercado que o que é pago tem que ter retorno. Quem paga impostos e quer ter suas necessidades básicas atendidas”, diz.

O cenário é de anomia, em que as referências estão perdidas, e as regras, a depender do ponto de vista, se tornam elásticas. A política tradicional transmite “apenas decepção e falta de credibilidade”. “Por isso, novas lideranças de direita que ligam seus carros de som na Avenida Paulista são aplaudidas. O discurso que apresentam é de organização, mas o que as pessoas não percebem é que, atrás dele, há um quadro de trevas, um apelo ao autoritarismo”, finaliza.

Morreu um grande ministro do MEC

Discordo de quem avalia a vida inteira de um homem por um episódio de sua biografia, um único. Ou por poucos. Deve-se olhar o conjunto da obra.

Pelé perdeu gols feitos. Foi um perna de pau? Não foi, então, o rei do futebol?

Mas vejamos como as esquerdas avaliam os desafetos, adversários ou inimigos. Sim, as esquerdas, no plural, pois, ao contrário da direita, que é una, elas são muitas e só se unem na cadeia, às vezes dividindo a mesma cela.

Tão logo o PT chegou ao poder federal, aos poucos alguns setores e por fim as correntes hegemônicas do partido, imitaram sem querer um general platino que disse ser o seguinte o seu plano: eliminar a todos! Primeiro, os inimigos; depois, os simpatizantes; e, por fim, os indiferentes.

Pois assim passaram a proceder, até mesmo em universidades e prefeituras. Pessoas altamente qualificadas foram postas de lado para que verdadeiros repolhos assumissem cargos importantes. Aliás, sobretudo nas áreas da educação e da cultura.

Mas, o que é mais grave é o juízo que certas esquerdas fazem dos discordantes, sem poupar sequer os mortos, contrariando o sábio provérbio da Roma antiga que recomendava: de mortuis nihil nisi bonum (dos mortos, nada, a não ser o que foi bom). É verdade que o adaptaram para as personalidades de suas hostes. Para eles, omnium bonum, nisi malum (tudo o que é bom, nenhum mal).

Fizeram assim com Che Guevara, cujo rosto está estampado no peito de milhões de pessoas mundo afora. Ora, o argentino executou milhares de cubanos no paredão. Às vezes, pessoalmente. E recebeu perdão universal por ter morrido lutando por pobres que queria libertar, mas que o entregaram aos que o perseguiam no interior da Bolívia. Nas mãos de assassinos como ele, morreu executado, como fizera com aqueles que vencera em Cuba.

Passam-se os anos e vejamos o que estão dizendo de Jarbas Passarinho, que acabou de falecer. Sim, ele assinou o AI-5. Delfim Netto também. Mas Delfim, assim como Paulo Maluf, foram procurados pelo PT como conselheiros. Que conselhos o partido esperava?

Jarbas Passarinho não armou um esquema de corrupção para comprar os adversários no Congresso. Não desviou verbas do Mensalão, Petrolão, Eletrolão e quantos outros escândalos que, por enormes, receberam o aumentativo da única língua do ão, que é o nosso Português.

As esquerdas perdoaram Delfim Netto, mas deram pena perpétua, inclusive para além da morte, para Jarbas Passarinho, a favor da anistia de esquerdistas, que era coronel do Exército quando foi ministro da Educação e Cultura nos anos 70.

Um dos feitos mais relevantes de sua gestão foi autorizar cursos superiores de férias, de forma intensiva, para qualificar professores do ensino médio. Com a mesma carga horária de um curso diário, estes alunos estudavam em janeiro, fevereiro, julho e dezembro, em tempo integral. E prosseguiam o curso uma semana em maio e outra em outubro. No resto do ano, ensinavam no ensino médio, em tempo integral também. Seu duplo ofício era trabalhar e estudar. Trabalhar para poder estudar. E estudar para poder trabalhar.

Este escritor e professor fez o curso de Letras nesta modalidade, morando e trabalhando no Paraná e estudando no Rio Grande do Sul. Mais tarde, lecionou nestes cursos muitas vezes. Os resultados eram extraordinários. E os professores foram qualificados.

Reitere-se que, morto o homem, é hora deste escritor e professor dizer como os antigos romanos ao seu colega de colunas no Jornal do Brasil quando o grande periódico era dirigido por Augusto Nunes: “de mortuis nihil nisi bonum”. (De mortos, nada, a não ser o que é bom).

Não há ressalvas a fazer a Jarbas Passarinho? Certamente as há e muitas. Mas, quando o poder trocou de mãos, passando de militares a civis outra vez, todos puderam discordar dele, no Congresso sobretudo, e também em muitos outros lugares onde tornava públicas suas ideias. Na mídia, principalmente. Mas poucos o fizeram! Na verdade, poucos se atreveram. Ele era um ás no parlamento como no texto dos artigos.

Quanto a este escritor, ele jamais se arrependerá de batalhar pela conversa clara e pelo trato justo. Jarbas Passarinho não foi o demônio que agora começam a pintar. Não foi deus. Foi um brasileiro graças ao qual muitos outros brasileiros puderam ser alfabetizados, como já reconheceu Marina Silva, e outros tantos que tiveram a chance única de fazer curso superior em instituições de boa qualidade, em períodos intensivos, pagando as mensalidades do curso enquanto ganhavam seus salários como professores suplementaristas no ensino médio.

Ainda hoje este escritor e professor considera este sistema muito mais eficiente e mais digno do que várias iniciativas que a eles se seguiram. Por quê? Porque não eram vistos como esmola. Eram vistos como uma forma de fazer com que estudantes que trabalhavam fossem vistos como eles eram: trabalhadores que estudavam. E o ministro Jarbas Passarinho logrou, pelo menos, este êxito.

Testemunha auricular e ocular desta história, este professor e escritor não vai negar este mérito dele nunca. E quem profere este juízo é alguém que foi preso e condenado a dois anos por crime de opinião como contista. Quem o prendeu? Aqueles contra os quais, dentro do governo epocal, Jarbas Passarinho também os combateu.

E quem escreve este artigo não o faz em blogs pagos pelo governo. Defende sua opinião com liberdade, como sempre tem feito. Sempre será livre para apoiar ou endossar o que quiser, segundo sua consciência, seu único juiz!

'Se gostasse tanto de mim, ela não tinha me sacaneado'



A presidente afastada Dilma Rousseff, em meados do ano passado, irritada com vazamentos considerados seletivos por ela, e confundindo alhos com bugalhos, como tem feito desde sempre, afirmou à imprensa: “Não respeito delatores!”. Primeiro se referia a ela, que foi presa, mas, coração valente que é, não “entregou” nenhum de seus companheiros.

O irritado desabafo foi o modo que encontrou para dizer à Lava Jato que nada temia porque nada devia. Naquela época, achava-se muito longe de qualquer suspeita. Agora, um ano depois, ao tomar conhecimento dos termos da delação do ex-senador Sérgio Machado, que foi presidente da Transpetro por 13 anos, e fingindo-se alheia ao rolo compressor que se forma contra ela, Dilma suspirou e, em seguida, se sentiu aliviada com as acusações contra o ex-presidente José Sarney e os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá, todos do PMDB.

O primeiro teria recebido (da Petrobras) R$ 30 milhões, o segundo e o terceiro, R$ 20 milhões cada. Diante disso, a avançada e perigosa paranoia que alimenta em torno de sua volta à Presidência da República, coisa que jamais se realizará (segundo pessoas próximas, ela só pensa nela e nela), tornou-se aguda, um caso médico.

Todavia, instantes depois – a velocidade dos fatos na operação Lava Jato me faz usar o adjetivo –, surgiram vazamentos da delação de Marcelo Odebrecht, o maior, em potencial, de todos os delatores. Marcelo ainda terá, para atazanar a vida da presidente afastada, a ajuda de 40 ou mais executivos da empreiteira que preside.

Mas não foi só isso. Ato contínuo, a metralhadora ponto 100 – expressão do ex-presidente Sarney – foi acionada, e veio à tona o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que admitia gozar, com o filho, da amizade dela: “Se Dilma gostasse tanto de mim”, disse Cerveró, em sua delação premiada, “ela não me tinha sacaneado, desculpe-me a expressão, há dois anos, quando fugiu da responsabilidade dizendo que tinha aprovado Pasadena porque eu não tinha dado as informações completas. Ela me jogou no fogo, ignorou a condição de amizade, que eu achava que existia – trabalhei com ela por 15 anos –, e preferiu, para se livrar, porque estava em época de eleição, e tinha que arrumar um cristo: ‘Ah, não! Eu fui enganada’. É mentira! Dilma sabia de tudo o tempo todo”.

É evidente, leitor, que, com o andar da carruagem da Lava Jato, outras cabeças rolarão, de todos os partidos. Isso trará, com certeza, riscos ao sistema político brasileiro, que, segundo o jornalista Fernando Gabeira, “precisa implodir, mas, ao mesmo tempo, não pode implodir: estamos numa profunda crise econômica, e ele é essencial à travessia. Essa urgência na economia acaba impondo atraso na política”.

Anteontem, dia aziago para todos os políticos, antes de concluir estas linhas, ficamos cientes de que quatro cabeças coroadas podem ser presas, se o STF acatar o pedido do procurador geral da República, Rodrigo Janot. A acusação é a de que tentaram obstruir a Justiça. Mas não fizeram coisa idêntica a presidente afastada e o ex-presidente Lula? E o ex-ministro de ambos Aloizio Mercadante não fez o mesmo? Ou o pau que dá em Francisco não tem que dar em Chico?

Lutar para recolocar o gigante de pé, entre mortos e feridos, não é fácil. Isso poderá dar certo, segundo Fernando Gabeira, por meio, “prioritariamente, da reconstrução dos caminhos da economia”.

Haja, em Brasília, estoque de remédios para insônia!