terça-feira, 31 de maio de 2016

A dívida dos jornalistas

Os batedores de bumbo do PT nunca estiveram tão exultantes, desde Waldir Maranhão, com os últimos golpes para “provar que é golpe” a operação que se ensaia para deter o livre despencar da miséria brasileira nas profundezas do caos político e das finanças públicas destroçadas que seu partido nos legaram.

Lá virá a ladainha de sempre para demonstrar que alhos são bugalhos mas é tempo perdido. O que derrubou o PT foi a paralisação da economia, o que paralisou a economia foi a mentira institucionalizada, Temer está onde está porque é o sucessor constitucional no posto do qual o Brasil apeou Dilma, a Lava-Jato não vai parar. Só o Brasil tem força para desencadear ou para suspender processos como esses.

O PT passou 13 anos operando só para si e nas sombras e deu no que deu. Temer começa falando só de Brasil mas ainda hesita em expor-se inteiro ao sol. Vai em busca de sua legitimação junto à única fonte de onde ela pode vir. Pede humildemente endosso da opinião pública à lógica das suas soluções; dispõe-se a adapta-las para consegui-lo.

Por esse caminho é certo que pode dar certo. Mas se, e somente se, a aposta na transparência for absoluta.

Ninguém atravessou a “Era PT” impoluto. O país conhece os políticos que tem e sabe que é com eles que terá de contar. O fato de todos eles estarem discutindo Lava-Jato, como o resto do Brasil, não significa, em si mesmo, rigorosamente nada. Do presidente em exercício para baixo, na equipe política e na equipe técnica, são as mesmas pessoas que serviram o PT que se dispõem, agora, a servir antes o Brasil como poderia ter sido sempre se o governo anterior o tivesse desejado. Muda a música que se toca, muda a dança que se dança.

Gravações?

Haverá outras mil. Nesse departamento vivemos o clássico dilema do ovo ou da galinha. Se a imprensa continuar sinalizando que disparará em manchete toda gravação que qualquer chantagista lhe enfiar na culatra a política seguirá, como hoje, sendo movida exclusivamente a gravações de chantagistas. E mata-se o Brasil. Se passar a investigar e dar manchetes para o maior problema brasileiro, a política nacional passará a girar em torno do maior problema brasileiro. E o Brasil ressuscitará.


Explico-me com um pouco de história. Em 1976, em pleno regime militar e no auge da censura, este jornal publicou a série “Assim vivem nossos superfuncionários” que ficou conhecida como a reportagem “das Mordomias”. Ela expôs em detalhe à miséria nacional o universo obsceno de fausto e desperdício que ela sustentava sem saber e que drenava todo dinheiro público que deveria estar sendo investido em infraestrutura e serviços essenciais à melhoria continuada do desempenho da economia e, consequentemente, do valor do trabalho. Dado o sinal à nação de que havia quem se dispusesse a publicá-las choveram denuncias na redação durante meses a fio revelando as infinitas formas que assumia a ordenha do Estado mal disfarçada na soma de salários e benefícios estratosféricos, no assalto a longo prazo ao erário mediante a “anabolização” de último minuto em aposentadorias que perdurariam por décadas e se desdobrariam em pensões vitalícias transmitidas de pai para filho e nos outros ralos mil abertos por agentes corruptos dos três poderes que viviam de vender esse saque institucionalizado do Estado.

Materializada na exposição direta dos modos de vida que esses esquemas sustentavam, a discussão saiu do nível abstrato. Cada brasileiro, lá do seu barraco, pôde ver com os próprios olhos como e por quem vinha sendo estuprado, e no que se transformava, na realidade, a estatização da economia que a esquerda, de armas na mão, de um lado, exigia que fosse total, e os militares da direita, lá pelo deles, concretamente executaram como nunca antes na história deste país criando mais de 540 estatais. Mas nem a famigerada ditadura militar resistiu à força dos fatos e imagens revelados. Muitas outras reportagens semelhantes foram produzidas país afora e, já em 1979 os generais, pressionados, tinham criado um ministério inteiro para começar a desmontar a privilegiatura. Quando o país emergiu para a redemocratização, em 1985, sabia em que direção tinha de caminhar. A luta para desprivatizar o Estado e devolve-lo ao conjunto dos brasileiros veio até o governo FHC e a Lei de Responsabilidade Fiscal cujo desmonte – e consequências – pôs um fim à “Era PT”.

Esse continua sendo o maior problema brasileiro. Desde 2003 o PT reelegeu o loteamento do Estado como moeda única do jogo político e, ao fim de 13 anos de um processo desenfreado de engorda, cada emprego pendurado no cabide vem desaguando, obeso, na Previdência. O governo Temer aponta vagamente “a Previdência” como o “X” do problema brasileiro e está certo. Mas, pendurado ainda no ar, sabe que tomar a iniciativa de por esse bode na sala é morte certa. É por isso que, nem Henrique Meirelles, nem seu chefe se permitem completar a frase: é a Previdência do setor público, valendo 33 vezes o que vale a outra, que é o “X” do problema brasileiro. E sem mexer profundamente nela o Brasil não desatola.

Não há um único jornalista, especialmente em Brasília onde o despautério é mais visível a olho nu, que não saiba disso. E, no entanto, persiste a cumplicidade com essa mistificação quando até o PMDB já está claramente pedindo o empurrão que falta para que esse tema indigesto suba à mesa.

Para poder voltar a andar o Brasil não precisa, exatamente, de uma reforma da Previdência, espremendo um pouco mais a miserinha que ela distribui depois da festa dos aposentados do Estado na qual, diga-se de passagem, os do Judiciário são reis. Mais do que justiçamentos o Brasil precisa de justiça que é uma idéia bem mais fácil de vender, desde que antes o jornalismo, em vez de só barulho, faça a sua porca obrigação de mostrar em todos os seus escandalosos pormenores o tamanho da injustiça que é necessário corrigir.

Ou Temer se comunica ou se estrumbica

Converso com muita gente culta, de gravata, e concluo: 3 milhões de pessoas foram protestar nas ruas, mas pouca gente entende realmente o que está acontecendo no Brasil profundo. Profundo no sentido de detalhes contábeis, dos segredos de gaveta que só os carunchos conhecem. Ninguém sabe nada. Essa deficiência da opinião pública é que os petistas usarão para arrasar o governo do Temer. Como o presidente em exercício tem pouco tempo, e como a c***da deixada por Dilma e PT foram imensas, teremos dois anos (se Deus ajudar) para reorganizar a economia que teve perda quase total. É difícil, por causa das sabotagens e da lentidão brasileira. Por isso, Lula está adorando o impeachment de Dilma. É a melhor coisa que podia lhe ter acontecido. O Sarney disse outro dia na gravação que Lula estava muito deprimido. Deve estar, mas não é uma melancolia inócua, passiva, sem rumo; não, Lula está se preparando para sapatear em cima dos erros e dificuldades inevitáveis desse governo.

Agora, ele e seu PT podem partir para a oposição, contando com uma população imensa de imbecis que serão convencidos de que o impeachment foi só para acabar com a Lava Jato.

A narrativa deles será a de que todo mundo sempre roubou e que eles só entraram na regra do jogo. Mentira. A corrupção do PT inventou algo novo: corromper para governar, pois revolucionário pode roubar em nome do Bem. E assim, bateram um recorde mundial: nunca na história do mundo houve uma roubalheira organizada como essa.

Temer tem a difícil tarefa de andar na corda bamba, no fio da navalha entre uma equipe econômica de primeiro time e um restolho de vagabundos que aparelharam ministérios e repartições em geral. Se bobear, Temer pode eleger o Lula em 2018, se o “grande líder do povo” não for em cana.
Uma transição de governo intempestiva gera medo mas também uma esperança de mudança imediata. “Ahhh...acabou o PT, o ‘petrolão’ – agora seremos felizes.” Auriverde ilusão de minha terra...

O problema é que a herança maldita dessa terrível senhora é um emaranhado infernal para se consertar. Em dois anos, seríamos uma Venezuela. E esta é a felicidade do Lula: a expectativa dos mal informados (que são a maioria) vai se esfarinhar e o Temer será culpado pela c***da que o PT deixou no meio fio. A culpa vai ser dele em pouco tempo.

Brasileiro “assiste” ao Brasil. Brasileiro assiste à política como um Fla x Flu, torcendo, xingando juiz, mas quer que o Estado resolva tudo, pois não sabe que o Estado é o problema e não a solução. A sociedade protesta, mas não sabe como tomar as rédeas. Este governo tem um só caminho: conquistar um apoio da sociedade, para que ela entenda que não se trata de ideologias e sim de uma tragédia contábil. “É a economia, estúpidos!” (citando o refrão batido do James Carville).

Temer vai ter de arrumar as contas. Só. E aí, vem a esparrela: como expulsar 100 mil vagabundos aparelhados no governo? Como impedir que volte a lama debaixo do tapete? Nosso complexo de impotentes renasce feito rabo de lagarto. Debaixo de nossos olhos, a máquina da sordidez nacional ressuscita, como um monstro de ficção cientifica, um “Alien”.

Os escândalos cada vez maiores não podem encobrir o dano nas contas publicas. E tem mais: vai haver aumento de impostos, sim. Não adianta chorar. É impossível, só com ajustes e cortes resolver o buraco da Dilma de R$ 170 bilhões jogados no lixo. E aí? Como explicar?


Esse é o maior perigo: a teia de escândalos pode mascarar os urgentes acertos da República devastada.

Precisamos que o Temer dê certo, ao menos na economia. Porque ninguém irá às ruas apoiá-lo. Todo mundo tem medo de apoiar governos. É impossível imaginar que brasileiros vão às ruas para defender o ajuste fiscal: “Queremos ajustes!” É mais fácil ser contra. A oposição enobrece, a adesão é humilhante.

Por outro lado, os militantes pagos da CUT, MST e outras siglas vão para as ruas, gritar contra. Rolam boatos fortes de que o PT está reunindo muita grana para comprar uns três senadores. É possível.

Por isso, acho que uma das coisas mais sérias que este governo tem de buscar é a comunicação com o país.

Vi outro dia o Temer falando e achei que ele está imbuído de um desejo real de entrar para a história como um cara que ajudou a consertar o Brasil. Houve momentos em que ele mostrou uma virilidade legal. Por exemplo, quando disse que já tinha sido secretário de segurança em São Paulo e que não tinha medo de bandido. Ali, o povo gostou. Acho que gostou também quando ele disse que não tem medo de errar e que, se errar em algo, consertá-lo-á. Acho ótimo um presidente falando em mesóclises. Melhor que a Dilma na mandioca. Temer tem de falar, muito, explicar para a população o que significa esta fase de nossa vida, muito além de corrupção ou ideologias.

Tem de explicar. Olho no olho. Sem propaganda. Tem de conquistar um carisma. Tem de explicar, como numa gramática, o que é divida pública, gastos inúteis, aparelhamento do Estado; as pessoas têm de saber contra o quê estão gritando ou marchando. A corrupção imensa, pavorosa, não é o núcleo da questão. Ela nasce das condições arcaicas de dentro da organização política e administrativa. Nossa formação patrimonialista está explodindo agora, depois de séculos. É preciso criar um espaço simbólico para esta presidência transitória.

FHC não explicou com clareza o que estava fazendo em seu governo. FHC não conseguiu criar um espaço reconhecível pela opinião publica, que não pode ser confundido com propaganda ou marketing. Por isso, seu excelente governo, que acabou com a inflação e nos jogou num novo mundo administrativo, acabou arrasado pela oposição do PT diante de uma opinião publica desinformada, aérea. É preciso que as pessoas se sintam passageiros no trem do seu governo.
É importante que o lado “espetaculoso” das denúncias, não crie uma institucionalização da zona. Há um velho hábito de acharmos que o Brasil não tem jeito. O perigo é ficarmos cínicos, fatalistas e desesperados. Se não der certo, estamos f***dos.

Ruim com ele, pior sem ele

Perguntar não ofende: qual o objetivo de quem é contra o impeachment de Dilma Rousseff e está queimando pneus em estradas, invadindo prédios da Cultura, gritando “Fora Temer” na parada LGBT, exibindo cartazes no exterior para dizer que “there is a coup in Brazil”? E qual o objetivo de quem é a favor do impeachment, mas torce contra o governo interino de Michel Temer, condena as propostas para combater o rombo das contas públicas e repudia a indispensável reforma da Previdência?

Tanto quem é a favor quanto quem é contra o afastamento de Dilma tem de ter em mente a responsabilidade coletiva com a história e que só há três saídas para um país mergulhado em tantas crises. Fora disso, não há alternativa, a não ser anarquia.

Charge (Foto: Miguel)
Uma saída é dar uma trégua para Temer governar e a equipe de Henrique Meirelles tentar por a economia em ordem nesses dois anos e meio, para entregar para os eleitores em 2018 um país razoavelmente saneado. Temer não é perfeito e o PMDB tornou-se muito imperfeito, mas ele foi escolhido por Dilma e por Lula e eleito na chapa do mesmo PT que anima os queimadores de pneus, os invasores da Cultura, os que gritam “Fora Temer” e uma turma que mora fora – uns, há tantas décadas, que deveriam estar mais preocupados com o Trump.

Além de habitar o Jaburu, Temer despacha agora no Planalto por força da Constituição, que assim determina: sai um(a) presidente, assume o vice. Não importa se é bonito, feio, gordo, magro, se é Itamar Franco ou se é Michel Temer. Ele está lá, e o Brasil, os brasileiros, a indústria, o comércio e os 11 milhões de desempregados precisam desesperadamente que comece a equilibrar as contas públicas e a fazer a economia andar.

A saída número 2 é a volta de Dilma. Sério mesmo, alguém deseja de fato a volta de Dilma, com sua incapacidade de presidir o País, negociar com o Congresso, ouvir os conselhos do padrinho Lula ou, aliás, ouvir qualquer expert de qualquer área sobre qualquer coisa? No aconchego dos seus lares, na convivência com familiares, amigos e vizinhos e nas conversas com seus travesseiros – e com o próprio Lula –, será que os petistas de raiz querem mesmo a volta de Dilma?

Os deputados não são lá essas coisas, mas acataram o impeachment pelo crime de responsabilidade fiscal, previsto na Constituição e confirmado pelo resultado final: um rombo que o governo Dilma admitia ser de R$ 96,6 bilhões e que a equipe de Meirelles descobriu bater em R$ 170 bilhões. Mas, além do fato formal, deputados e senadores tocaram o processo adiante pelo desmantelamento da economia, o esgarçamento das relações políticas e porque Dilma conseguiu ser a presidente mais impopular do país desde 1985.

A opção 3 (dos favoráveis e contrários ao impeachment) seria a antecipação de eleições diretas, empurrando Temer ou Dilma para a renúncia (dependendo de o Senado confirmar ou não o impeachment), ou dando um golpe branco e mudando a Constituição por questões conjunturais. E o que viria depois? Uma eleição às pressas, sem que os partidos tivessem se preparado e sem candidatos à altura da crise. Dá um frio na espinha pensar nos aventureiros que se lançariam como salvadores da pátria, da ética, da economia, dos “bons costumes”, da “ordem” deles, do “progresso” deles.

Isso não é brincadeira. O seguro, que morreu de velho, recomenda respeitar a Constituição, o Congresso que o eleitor elegeu e a posse do vice que 2014 jogou no Jaburu, na perspectiva de assumir com o afastamento constitucional da presidente. Vale, sim, gritar contra muitas coisas, inclusive a nomeação de um ministro da Transparência indicado, ora, ora, pelo senador Renan Calheiros. Mas o esforço para derrubar Temer, neste momento, é trabalhar contra o Brasil.

As legiões de Lula, derrotado na última batalha

Nos tempos finais de Augusto, três legiões romanas foram massacradas pelos gauleses, chefiados por Decébalo. O primeiro, mais perfeito e mais longevo dos imperadores da Roma antiga passou as últimas semanas trancado em seus aposentos, chorando e se lamentando diante dos restos mortais de seu general-comandante: “O que fizeste das minhas legiões?”

Augusto é lembrado por suas virtudes, mas nem ele nem Roma jamais esqueceram a única derrota.

O episódio se conta como recordação de que os césares mergulharam na desgraça depois de períodos de sucessos e de vitórias.

Assim parece o fim do Lula, que em seguida a tantos triunfos, começa a ser visto como exemplo de fracasso na última batalha. Onde anda o primeiro-companheiro, senão envolto nas cinzas de suas derradeiras legiões? Perdeu-se, depois de tantas conquistas do PT…

Poderia ser diferente? No começo, quem sabe. À medida em que os gauleses se aproximam, de jeito nenhum. Decébulo tem muitos nomes.

Afastamento provocou amnésia em Dilma

Dilma Rousseff não é mais a mesma. Afastada da Presidência, perdeu a memória. E absolveu-se do seu passado. “Não respeito delator”, costumava dizer. Hoje, surfa nas gravações de Sérgio Machado, o silvério do PMDB, como se não tivesse nada a ver com o personagem. Alguém precisa socorrer Dilma, recordando o que ela fez nos verões passados.

Na noite desta segunda-feira, Dilma discursou num evento na Universidade de Brasília. Reiterou que há “um golpe de Estado” em curso no Brasil. Afirmou que as gravações clandestinas de Sérgio Machado com cardeais do PMDB provam que uma das motivações do “golpe” é asfixiar a Lava Jato.

“Há nas gravações fartas palavras sobre o medo que eles sentem de que seus crimes que sejam desvendados,'' declarou Dilma. Não deu nome aos bois. E se absteve de recordar que os crimes foram praticados sob o seu nariz. A presidência de Sérgio Machado na Transpetro escancarou a falência ética do seu governo

A vida ofereceu a Dilma várias oportunidades para demitir Sérgio Machado. E ela desperdicou todas. Em setembro de 2014, época de eleição presidencial, o Ministério Público Federal denunciou Machado por improbidade. Acusou-o de fraudar licitação para a compra de oito dezenas de barcaças destinadas ao transporte de etanol. Dilma fingiu-se de morta.

Dias depois, em 10 de outubro, às vésperas da sucessão, ganhou as manchetes o depoimento do delator delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. Ele declarou à Justiça Federal que recebeu R$ 500 mil em verbas sujas das mãos de Sérgio Machado. Dinheiro proveniente do esquema de cobrança de propinas montado na estatal.

Dilma considerou “estarrecedora” a divulgação do depoimento no período eleitoral. Sobre o conteúdo das denúncias, declarou o seguinte na ocasião: “Em toda campanha eleitoral há denúncias que não se comprovam. E assim que acaba a eleição ninguém se responsabiliza por ela. Não se pode cometer injustiças.” E ficou por isso mesmo.

Sérgio Machado não foi demitido. Ele apodreceu no cargo. Em novembro de 2014, crivado de suspeitas, tirou licença do comando da Transpetro. Fez isso por exigência da PricewaterhouseCoopers, que audita as contas da Petrobras. A empresa disse na época que, com Machado na Transpetro, não assinaria o balanço trimestral da estatal.

Sérgio Machado ainda submeteu Dilma a uma coreografia constrangedora. Em nota, afirmou que deixava o cargo por 31 dias como um “gesto de quem não teme investigação”. Todo mundo já sabia que o suspeito não retornaria à poltrona. Mas Dilma se permitiu frequentar a cena como coadjuvante de uma encenação que prolongou o vexame. Vergou-se diante de Renan Calheiros, o padrinho político que Machado agora joga ao mar.

Foi por indicação de Renan que Lula determinou a nomeação de Sérgio Machado para a Transpetro, em 2003. Decerto avaliou que era por amor à pátria que Renan patrocinava o descalabro. O pedido de licença do afilhado do senador foi prorrogado um par de vezes. Ele se afastou da companhia apenas em fevereiro de 2015, após 12 anos de negócios e oportunidades.

A Transpetro gerenciava um programa bilionário de recuperação de sua frota. Envolvia a encomenda de 49 navios e 20 comboios de barcaças hidroviárias. Um negócio de R$ 11,2 bilhões. Que Lula e Dilma confiaram ao talento gerencial do amigo de Renan.

Hoje, acometida de amnésia, Dilma protela suas culpas. Não perde por esperar. Se o comportamento de Sérgio Machado provou alguma coisa é que ele não medirá esforços para livrar o próprio pescoço. Em troca de redução da pena, é capaz de entregar até a mãe.

Governo, cultura e corrupção

O indefinido Michel Temer retrocedeu e reinstalou oficialmente o Ministério da Cultura. Lá, para geri-lo, colocou um barbudinho, cria de Eduardo Paes - este, um político profissional de segunda categoria que o Rio de Janeiro aprendeu a desprezar. Acuado pela corporação de sempre, o presidente interino verificou que “a cultura era um setor fundamental para o país”. Pobre interino! A figura lembra aquela virgem permissiva que deixou entrar só um pouquinho e depois... Bem, depois o temerário foi correr atrás do Ministro da Fazenda para pedir a “liberação de mais grana para a rapaziada”.

Temer é um sujeito que labora na linha da social-democracia. Muitos desconfiam que ele não atentou para o fato de que a parte mais ruinosa da chamada “classe artística” apenas repassa a cantilena lulopetista orquestrada nos desvãos do matreiro Instituto Lula. (Sem esquecer, por sua vez, que a terrorista Dilma - envolvida no milionário assalto ao cofre de Ademar de Barros e integrante da organização responsável pelo assassinato do soldado Mário Koesel Filho, em junho de 1968 – rege furiosa, a partir das salas do Alvorada, o coro histérico da militância bolivariana que, neste preciso instante, ocupando ad infinitum o Palácio Gustavo Capanema, no Rio, vocifera em uníssono o “Fora Temer!”

De fato, essa gente encara o inseguro Temer como mero “golpista”. Para eles, a recriação do “cabide” Ministério da Cultura, imposta no grito, soergue um trampolim político-ideológico para o retorno do cangaceiro Lula e seus cabras da peste (mais ou menos estropiados pela Operação Lava-Jato). 


De minha parte, considero que a volta do MinC, para usufruto da corporação parasitária, não passa de um ato de traição do governo Temer para com 80% da população brasileira, a mesma que, indignada, tomou as ruas contra a corrupção, a safadeza institucional, a vagabundagem bem remunerada e o paquidérmico Estado socialista fomentado pela quadrilha petista reunida, ainda agora, em torno de jantares supimpas na toca palaciana de Dilma Rousseff.

O Ministério da Cultura foi tramado por Zé Sarney, impostor literário que chegou ao poder por um golpe de sorte e fez de Brasília uma imensa casa de tavolagem, ao ponto do próprio Lula (um especialista) , em discurso, apontá-lo como “ladrão descarado”.


Como já escrevi, o MinC representa no Brasil oficial a manutenção da mais agressiva forma de aparelhamento do Estado para usufruto de uma casta privilegiada de “señoritos” que se diz à procura de uma controversa “identidade nacional” cacarejada em torno do chamado “multiculturalismo”, mistificação marxista para acirrar a luta de classes. Ele significa, num governo que pretende salvar o Brasil, o AVANÇO DO RETROCESSO. No histórico, depois de décadas de existência, o monstrengo não criou mercado nem fez, como alardeado, a inclusão social da massa espoliada. A alta cultura dançou - e ninguém ganhou Oscar ou Nobel. Tudo ficou no âmbito da mendacidade e da (cara) propaganda enganosa!

Sem considerar juros nem correção monetária, o MinC jogou pelo ralo, nos últimos anos, mais de um trilhão de reais! No seu rastro, só se expandiu uma pesada burocracia militante em conluio com a casta empenhada em usurpar a grana do contribuinte para a consecução de projetos pessoais inexpressivos, muitos vergonhosos e/ou politicamente ideologizados. Afogado em dispendiosos programas de pura marquetagem, o MinC (Ministério da Incultura) só funcionou, na prática, como vertiginoso mensalão para cooptar medalhões e medalhinhas da área e manter a peso de ouro uma burocracia perdulária que saqueou o bolso da sociedade e do miserável povo brasileiro. Um horror!

(Cultura, vale dizer, não tem nada a ver com órgão de governo e suas patranhas. Ela deve ser entendida como a tradição de normas de condutas aprendidas e que nunca foram “construídas” – o que nos remete à questão de que a evolução cultural não é só fruto da criação consciente da razão. Mas como explicar isso a essa gente viciada em mamar nas tetas da nação?

Há um temor generalizado de que o governo Temer fracasse. Meirelles, o ministro da Fazenda que serviu ao Lula, acena com novos impostos. O intragável Zé Serra, formado na UNE e mentor da clandestina Ação Popular (AP), responsável por ataques terroristas, informa que no Itamarati vai “aprofundar laços diplomáticos com a China e a África”. E, pior, o contribuinte mantendo uma “máquina” com 300 mil ativistas terceirizados nas estatais e 107 mil militantes ocupando cargos comissionados, enquanto o o governo fala em cortar risíveis 4 mil parasitas das das bocas ministeriais!

Como diria o sifilítico Lênin: Que fazer?

Só resta voltar às ruas, pois o governo Temer, alicerçando o retorno do PT, parece sucumbir na acomodação.

Ipojuca Pontes

E haja medíocre!

As matilhas de medíocres novatos, atadas pelo pescoço com a correia de apetites comuns, ousa denominar-se partidos. Ruminam um credo, fingem um ideal, arreiam fantasmas consulares e recrutam um exército de lacaios. Isso basta para disputar abertamente cargos e privilégios governamentais 
José Ingenieros

O legado e a farsa

O novo governo Temer começou, definitivamente, sob o signo do rompimento com a sua predecessora em duas áreas importantes: a econômica e a de Relações Exteriores. O embuste no qual vivia o país foi revelado mediante medidas corajosas que sinalizam um novo rumo para o país.

A nova equipe econômica, sob a batuta do ministro Henrique Meirelles, partiu do reconhecimento do rombo deixado pelo governo anterior, calculando, agora, um déficit de R$ 170,5 bilhões. A veracidade no tratamento das contas públicas e a transparência dos cálculos são condições de toda sociedade moderna.

Já não era mais possível seguir convivendo com a “contabilidade criativa” e a ficção de números sem cessar revistos e de pouca credibilidade. Estávamos nos tornando, neste aspecto, a Argentina dos Kirchner. Felizmente, também lá o novo presidente Macri rompeu com essa aberração.

O novo presidente mostrou a sua força no Congresso com a aprovação esmagadora das novas medidas, sinalizando com condições de governabilidade inexistentes sob o governo anterior. Estabeleceu-se uma relação de coordenação e harmonia entre os Poderes, e não de confronto.

É bem verdade que não se trata de um mar de rosas, pois as relações fisiológicas continuam imperando, mas se trata agora, neste primeiro momento, de um dado da realidade. Não se muda um país da noite para o dia e as prioridades são as reformas fiscal, previdenciária e trabalhista. Cada uma no seu momento. O Brasil precisa urgentemente se modernizar. Disto depende o seu futuro.

Não é pouca coisa o reconhecimento do rombo deixado pelo governo Dilma. A solução de problemas passa necessariamente por um diagnóstico correto. Não se cura uma doença se não se sabe o que aflige o paciente. A ex-presidente vivia no mundo dela, tão mais dissociado da realidade que a propaganda eleitoral em seu último pleito trazia números e “realidades” nos quais nem o seu partido veio a acreditar.

E, mesmo depois disto, foi incapaz de reconhecer os seus erros e pedir perdão à nação. Perseverou em seus equívocos e foi obrigada a se retirar. Note-se, ainda, que as ditas pedaladas fiscais não deixam de ser amostras do mundo ficcional no qual habitava, procurando, nele, manipular a realidade.

Outra saída da ficção dilmista/lulista/petista foi o estabelecimento de um teto para os gastos públicos, criando condições para uma desvinculação orçamentária que atingirá áreas como Saúde, Educação e Previdência. Não é mais possível continuar com a irresponsabilidade no tratamento da coisa pública, aumentando desenfreadamente gastos sem as correspondentes receitas. Trata-se de receita certa para o desastre, o que terminou acontecendo.

Os representantes da ficção, contudo, já estão alardeando que se trata de medidas “liberais” que atentam contra os “direitos sociais”, como se não fossem eles que tivessem produzido 12 milhões de desempregados, o número podendo logo atingir 14 milhões, arruinado a saúde e piorado significativamente a educação, com o pendor, inclusive, de ideologizá-la.

As Relações Exteriores, sob a liderança do novo ministro José Serra, sofreram uma guinada logo nos primeiros dias. O Itamaraty tinha se alinhado à escória latino-americana e africana. Os laços privilegiados com a África, em nome da “solidariedade”, privilegiaram ditadores sanguinários que se perpetuam há décadas no poder. Dívidas foram perdoadas em nome dos seus povos, quando, na verdade, equivaleram simplesmente a uma transferência maior de recursos roubados para as contas desses tiranos na França, Suíça e Reino Unido. Lula e o PT se regozijaram; os povos desses países continuaram na opressão.

Os laços “especiais” com os países bolivarianos são outra herança maldita dos governos petistas, que o novo ministro teve o cuidado inicial de romper. Os governos anteriores foram coniventes com diferentes atentados à democracia perpetuados nesses países. A Venezuela é um exemplo de até onde foram os liberticidas, reduzindo seus povos à miséria, em nome, precisamente dos “pobres” e dos “direitos sociais”. Pisotearam as liberdades, produtos básicos escasseiam nas prateleiras de supermercados, a inflação corrói os salários e, pasmem!, são saudados pela esquerda brasileira. Em bom momento, o ministro Serra deu um basta a isto, não mais atrelando o país a esses que são atualmente desesperados!

Cabe, por último, uma observação relativa à distinção entre esquerda e direita. Na verdade, ser de direita significa saber fazer contas, não gastar mais do que ganha. Uma pessoa de “direita” sabe calcular a relação entre receita e despesa, devendo, necessariamente, responsabilizar-se por tudo o que faz. Neste sentido, pode-se dizer que à ideia de direita correspondem o cálculo entre receita e despesa e a responsabilidade correspondente. Nada muito diferente do que faz um(a) chefe de família quando contabiliza o que pode gastar cada mês em função dos seus proventos. No trato da família, toda pessoa, saiba ou não, é de direita. Se não o fizer, pode produzir um desastre familiar.

Consequentemente, ser de esquerda, e isto o PT mostrou com clareza meridiana no exercício do poder, significa não saber fazer cálculo, achando que o melhor dos mundos pode se produzir com gastos sem limites, como se orçamentos realistas fossem uma coisa de “liberais”. Algo que poderia ser simplesmente menosprezado. Ser de esquerda significa, então, ser irresponsável no tratamento da coisa pública. Pior ainda, os que assumem tais posições, quando confrontados ao seu inevitável fracasso, transferem essa responsabilidade aos outros, os “liberais”, a “direita”, como se não tivessem nada a ver com os resultados de suas ações.

Entende-se, assim, melhor os que se intitulam “progressistas”, pois isto significa, para eles, conservarem o que há de mais nefasto no tratamento irresponsável da coisa pública. Almejam que a roda da história ande para trás. Vivem em uma ficção ideológica que é nada mais do que uma farsa.

Denis Lerrer Rosenfield

O Estado faz mal à saúde

Sabemos que o Estado não é a solução, o Estado é o problema. Em outras palavras, o Estado não é a saúde, mas a doença. Digo isso porque hoje pela manhã me deparo com uma notícia no Le Monde intitulada Les mesures-chocs de l’Australie contre la cigarette (As “fortes” medidas da Austrália contra o cigarro).

Semana retrasada João Pereira Coutinho já havia citado algo sobre esta perseguição aos fumantes em seu breve texto A Pureza da Raça, onde diz que “o Estado […] abomina o vício mas gosta de lucrar com ele.”

E podemos ver isso claramente ao lermos a reportagem no Le Monde, afinal de contas, conforme aponta o jornal francês, as medidas tomadas na Austrália contra o cigarro, que incluem restringir de 50 para 25 cigarros por viajante em aeroportos e aumentar, a partir de 2017, de quatro em quatro anos, 12,5% no valor do maço, dentre outras, “deverão trazer 4,7 bilhões de dólares (3 bilhões de euros) ao Estado.” Além disso, em New South Wales, Sul do país, “acender um cigarro numa praia de Sidney é se arriscar a levar uma multa de 110 dólares (71 euros).” Novamente o Estado querendo “preservar” a saúde de seus cidadãos pelo bolso…

Ainda no Le Monde, lemos que “… está agora proibida a venda de cigarros em festivais, fumar nos estacionamentos, áreas de táxi e locais para as crianças, nas ruas para pedestres, áreas de restauração, etc.” Também tentaram proibir que as pessoas fumassem em suas “varandas particulares”, mas não conseguiram, pois sabiamente houve denúncia de que isso restringia as liberdades individuais.

Se continuar assim, imagino que logo os agentes estatais que “lutam pela saúde” do povo irão bater à porta das casas e apartamentos e dizendo: “Estamos aqui por sua própria segurança. Iremos revistar e procurar por maços de cigarro!”, e logo que encontrarem um cinzeiro, a pessoa será presa em flagrante por prejudicar sua saúde e consumir algo vendido legalmente.

Isso faz lembrar novamente Coutinho que, no artigo já citado, afirmou que “A ideia, agora, é humilhar publicamente os fumadores, apresentando-os ao mundo como exemplos de doença, decadência e degeneração, uma trilogia que eu julgava enterrada com as piores tiranias do século XX.” Ele ainda comenta: “Resta-me esperar que o próximo passo não seja um ‘campo de reeducação’ para fumadores – ou, a médio prazo, o fuzilamento destes novos ‘inimigos do povo’. Mas, nestas matérias, o melhor é não dar ideias.”

Isso já pode ser visto na prática e eu vejo isso com frequência na minha universidade, onde proíbem que as pessoas fumem até mesmo no estacionamento, que é enorme. Sempre que uma das professoras, fumante, quer acender um cigarro, precisa procurar um “gueto”, um canto, um “exílio” para que a patrulha politicamente correta não a multe pelo “crime”. Compreendo que fumar em lugares fechados possa ser algo meio ruim para os que não fumam, embora, claro, quem deve decidir isso é o proprietário do bar, restaurante, etc., não o Estado, novamente, que o proprietário já sustenta com o tumor maligno dos impostos exorbitantes.

Enfim, o ministro da saúde trabalhista Cameron Dick, se orgulhou dizendo que “Notoriamente, fumar se tornou socialmente inaceitável em Queesland.” Por trás desse comentário, há algo sombrio do qual já vimos antes na história. Se fumar, que é um ato individual, assim como comprar um pacote de salgadinhos, é visto como algo socialmente inaceitável, logo os fumantes estarão sendo agredidos sem que a sociedade condene o ato. Os fumantes terão sua Noite dos Cristais?

O Estado, com sua “autoridade moral em si mesmo”, como pregava Mussolini, já eliminou muito mais vidas do que o tabaco. Por isso, sugiro que os fabricantes de cigarro, em contraposição às imagens horríveis de pessoas doentes e mortas colocadas obrigatoriamente nos maços, também coloquem imagens dos campos de concentração e de pessoas perseguidas e assassinadas pelo câncer dos Estados autoritários que nascem a partir de medidas como essas.

Política do descaso é estupro

A rede social revelou ao mundo o estupro de uma jovem brasileira por 33 homens (ou seja lá o número que for), e chocou o país.

A monstruosidade, inegável, do ato contra a jovem colocou o país de novo alarmado com o número anual dos estupros. Quem se revoltou com os casos idênticos ocorridos na Índia viu que aqui estamos em situação bem pior apesar dos anúncios de "avanços sociais" dos últimos 13 anos.

Os governos petistas, baluartes da defesa das mulheres, não avançaram como alardearam. Em seus números nunca constaram o crescimento dos casos de estupro para chegar a mais de 47 mil em 2015 apesar de tantas mulheres em postos governamentais e a aplicação da senhora presidente. 

É muita criminalidade de 50 mil assassinados por ano para um país, que sustenta a maior organização criminosa do mundo em número e extensão como o Primeiro Comando da Capital com ramificação em todo território e franquias em seis países vizinhos.

Se os estupros a cada 11 minutos e a violência campeando demonstram nossa miserabilidade de país, quando ficaremos estarrecidos com o estupro diário dos milhões de brasileiros revelado pelas revelações de conversas telefônicas de grampeados da política?

Não admira que em meio a tanta criminalidade também não proliferasse a droga política, que adubou durante todo este tempo o terreno para a marginalidade de meliantes e estupradores.

Os políticos, mais interessados nos bolsos próprios e amigos, sempre desleixaram os corpos e as almas dos cidadãos de qualquer gênero. Mais trataram da maquiagem eleitoreira, que garantiriam suas regalias, do que apresentassem e aprovassem medidas efetivas contra o crime. 

Foram de uma eficiência hedionda em aprovar medidas de auto-proteção - veja-se agora o caso de Wadih Damous (PT) para restringir a delação premiada e que acusa a Lava-Jato de "operação fora da lei". Se articularam sempre para camuflar sob a legenda de legalidade os atos mais espúrios da marginalidade do colarinho branco e das oligarquias políticas.

O estupro de qualquer mulher a cada 11 minutos é a consequência trágica do desleixo político para com os cidadãos, a quem os de foro privilegiado tratam apenas como números do título de eleitor para aumentar o caixa particular da família, que sobrevive à custa da desgraça. Mais do que gente, o espírito dessa politicalha é alimentado pela sangue de vítimas. São elas que garantem a fama, o luxo e o privilégio de carrascos de um povo.

América Latina precisa voltar a crescer para avançar contra extrema pobreza

A meta número 1 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas deve ser uma das mais difíceis de alcançar nos próximos 15 anos: acabar com a pobreza em todas as formas, em todo o mundo. E, para a América Latina, na qual os tempos de bonança da década passada ajudaram milhões de pessoas a chegar à classe média, o desafio é ainda maior, pois a região atravessa o quinto ano de desaceleração econômica.


Segundo os Indicadores de Desenvolvimento Global 2016, o percentual de latino-americanos vivendo em extrema pobreza em 2030 será praticamente igual ao de 2012 se forem mantidos os índices nacionais de crescimento econômico registrados na década anterior. Em 2012, 5,6% dos latino-americanos viviam com até US$ 1,90 ao dia, ante os 17,8% registrados em 1990, de acordo com o Banco Mundial.

Os números também deixam claro que a região terá dificuldade em contribuir para o primeiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) — adotado com mais 16 metas em setembro de 2015 — caso a economia siga andando devagar até 2030. Em 2016, por exemplo, a economia regional deve retrair 1%.

Por esse motivo, e também para não perder os avanços sociais conquistados na época de vacas gordas, os economistas buscam promover novas formas para estimular o crescimento econômico latino-americano sem depender tanto das matérias-primas.

Também é importante impulsionar o crescimento econômico das demais regiões em desenvolvimento. Se a economia global continuar crescendo como nos últimos 10 anos, o índice de pobreza extrema no mundo cairá para 4% em 2030. E, se forem considerados os índices de crescimento nacionais dos últimos 20 anos, a população global vivendo em extrema pobreza será 6%.
Proteção social

Uma diferença importante entre a América Latina e as demais regiões está no funcionamento de programas de transferências de renda (como o Bolsa Família, do Brasil, e o Prospera, no México), alimentação escolar, mercado de trabalho e seguridade social, entre outros. Entre os latino-americanos mais pobres, cerca de 60% estão cobertos por iniciativas de proteção social.

Enquanto isso, nas regiões menos favorecidas, os programas não são grandes o suficiente para combater a pobreza, segundo o estudo do Banco Mundial. Na África Subsaariana, por exemplo, apenas 15% dos mais pobres têm acesso a um benefício desse tipo.

A América Latina ainda se destaca pela maneira como registra e examina os indicadores de pobreza. “Recentemente, alguns países, como Colômbia e México, adotaram medidas que visam captar a natureza multidimensional da pobreza, avaliando o quanto as famílias são carentes de formas diferentes (em termos de saúde, educação, habitação e oportunidades do mercado de trabalho)”, informa o relatório.
Conquista global

Apesar dos desafios para todo o mundo em desenvolvimento, pela primeira vez na história, o índice global de pobreza extrema ficou abaixo de 10% em 2015. Trata-se de uma redução de mais de dois terços desde 1990, quando 37% da população vivia com até US$ 1,90 por dia.

O documento do Banco Mundial também destaca que o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio de reduzir a pobreza pela metade foi cumprido, e que o novo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 1 se baseia nessa conquista.