sábado, 28 de maio de 2016


Passo a passo

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O momento obriga a ir além do simplismo redutor e das palavras de ordem. Força a pensar, tomar consciência do que acontece, tentar examinar causas, imaginar desdobramentos. De certo modo, é como quem sofre de uma doença muito grave e tem de encarar a perspectiva de um tratamento que acena com algumas possibilidades de melhora, mas não garante cura e ainda traz sofrimento e efeitos colaterais devastadores. Nesses casos, as reações individuais variam de uma pessoa para outra. Uns entregam os pontos, outros se rebelam e negam os fatos, outros respiram fundo, tentam ser racionais e seguem em frente. Há quem procure curandeiros, quem vasculhe a internet em busca de informação, quem se coloque confiante nas mãos de especialistas. Talvez a maioria das pessoas alterne essas facetas em momentos diferentes.

Um estudo recente conclui que a capacidade de sentir felicidade ajuda a superar doenças. Até acredito. Mas não deve se tratar de uma capacidade tão cega que evite buscar tratamento. Tão confiante que negue o combate ao mal, em nome da crença de que dias melhores virão sem que façamos nada para construí-los.

Pessoalmente, tenho dificuldade em ver as coisas de modo apenas binário e não gosto de futurologia. Evito fazer previsões, boas ou más. Mas sei que os velhos mitos tinham razão simbólica, e os antigos gregos sabiam o que diziam quando afirmavam que Cronos, o deus do tempo, é também um cuidadoso jardineiro, além de ser o terrível Saturno que os romanos temiam. Devora os próprios filhos, é verdade. Mas também faz a árvore renascer, o jardim florescer, a colheita amadurecer.

Assim, nos dias que vivemos, não consigo estar entre os que celebram o encerramento de um vergonhoso episódio histórico — nem acredito que esteja encerrado. Não estou comemorando a saída de uma crise que, de tão complexa e profunda, exigirá um longo tempo de sacrifício e medidas duras para trazer os tais dias melhores. Tenho apreensões em relação a perigos que possam ameaçar conquistas preciosas das últimas três décadas, um patrimônio de que o país não pode abrir mão — as instituições garantidas pela Constituição de 1988 e pela redemocratização, a estabilização da economia e a responsabilidade fiscal com que os tucanos deram as bases de um crescimento indispensável, os projetos sociais e a diminuição da desigualdade que os petistas puderam desenvolver a partir dessas condições asseguradas por quem os precedeu.

Ao lado da preocupação apreensiva com qualquer ameaça contra esse tripé institucional, econômico e social, vejo também razões de um certo otimismo e fé no futuro, quando faço algumas constatações sobre nosso momento. Os poderosos estão sendo investigados e punidos, como jamais haviam sido — e essa nova conquista não tem preço. Mentiras elaboradamente arquitetadas e maciçamente impostas para enganar a população, durante anos, vão sendo desmascaradas. Os partidos que proliferaram como cogumelos e se igualaram em práticas escusas e clientelistas iludem a cada vez menos gente. Os jovens tendem a não mais lhes prestar obediência cega e a substituí-los por suas redes de contato. Bons sinais.

Ao mesmo tempo, a mídia concentrada em poucas mãos abre espaços para acolher vozes dissonantes, até mesmo porque não dá para ignorar essas vozes que se alastram na internet, em saudável efervescência de pontos de vista que corroem a força de dogmatismos. Nunca se escreveu ou leu tanto sobre política entre nós. É verdade que há na rede uma camada superficial mais visível, carregada de intolerância, ódio, agressão. Mas há outro estrato muito interessante, com ângulos inesperados, pontos de vista diversos, reflexões inteligentes e fecundas. Há mais observadores do que qualquer jornal ou revista comportaria. É claro que nessa grande bagunça há de tudo, inclusive o indesejável e o abjeto. A cada um de nós, a tarefa de filtrar a porcaria que não quer ingerir. E o cuidado de discernir o que visivelmente parte de uma origem única, pretendendo desviar o foco do que importa ou impor uma só forma de pensar e ver. Essa variedade de reflexões soma experiências, desloca certezas, nos enriquece, reforça o sistema imunológico democrata, ajuda a compor uma força coletiva capaz de erguer uma barreira resistente contra retrocessos, de modo a não perdermos as conquistas obtidas. E a ampliá-las, como merecemos e desejamos.

Essa força de opinião pública e apoio popular tem sustentado a Lava-Jato e se arrepia cada vez que parece surgir uma ameaça contra ela, venha de onde vier. Traduziu-se em dois milhões de assinaturas em favor de um projeto de leis anticorrupção, enviado ao Congresso, à espera de entrar em pauta. Congelando-o, parlamentares ficam marcados como coniventes.

O eleitorado passa a perceber a obstrução da Justiça como cúmplice da roubalheira e da mentirada. Começa-se agora a discutir e pressionar por uma reforma político-eleitoral. Que seja o passo seguinte. Logo e na direção certa.

Ana Maria Machado

Puxando a descarga

Era previsível que, em algum momento, a devassa da Lava Jato chegasse ao primeiro escalão do PMDB, coadjuvante do PT ao longo dos últimos 13 anos – no governo e na rapina ao Estado.

Caricata é a euforia do PT diante das gravações, produzidas por Sérgio Machado, como se a descoberta de novos corruptos reabilitasse os anteriores – e como se os de agora não integrassem a mesma quadrilha já interditada. São companheiros de viagem.

Eduardo Cunha, Romero Jucá, Sérgio Machado, Gim Argello, Waldir Maranhão - e outros que ainda virão à tona - são acusados de crimes que, segundo o Ministério Público, tinham PT, Dilma e Lula na chefia. O Petrolão é obra conjunta, mas com claro comando: o PT. Se alguém da oposição agregou-se à quadrilha, será também arrolado.

É, portanto, surrealista a ideia de que Dilma, Lula e PT têm o que ganhar com a revelação de seus cúmplices de segundo escalão.
As gravações mostram a classe política no banheiro com a porta aberta. Lá estão os palavrões de sempre, a visão minúscula da vida pública, a ausência de norte moral – e o odor fétido de tudo isso.

Também aí, PT e PMDB se equivalem. Se alguns viam o impeachment apenas como truque para parar a Lava Jato, sintonizaram com a população pelo avesso, já que, para esta, o impeachment era – e é - medida de higiene moral.

O governo transitório é o que temos, não o que desejávamos. Se não funcionar, não se sabe o que virá, mas com certeza não será mais o PT. O país não quer andar para trás.

A Lava Jato não vai parar. É hoje mais sólida e estável – além de bem mais popular -, que o próprio governo, cujo futuro a ela se submete. Michel Temer, ao que parece, não levou isso em consideração, ao convocar para seu governo gente sob investigação ou com reiteradas citações por parte de delatores.

Romero Jucá, ex-ministro de Lula - e ex-líder do próprio Lula e de Dilma -, era um desses. O fato de ser um bom articulador político não o torna menos vulnerável, nem reduz o peso de seu prontuário. Não foi por falta de aviso que Temer não apenas o convocou como o tornou um integrante do seu assim chamado núcleo duro, cedendo-lhe uma das pastas mais estratégicas, a do Planejamento.

Foi um tiro no pé – e, ao que parece, há mais balas na agulha. O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, por exemplo, é outro investigado. E há o novo líder do governo na Câmara, André Moura, acusado não apenas de corrupção, mas até de um crime de morte.

Será que, entre os 367 deputados que votaram pela admissibilidade do impeachment, não havia um único nome menos problemático? Sabe-se que Michel Temer formou um Ministério para garantir não apenas as primeiras medidas econômicas no Congresso, mas também a confirmação do impeachment no Senado.

Escolheu, por isso, gente que jamais caberia no rótulo de notável, como o filho do senador Jáder Barbalho, Hélder Barbalho, para seu ministério. Jáder não votou pela admissibilidade do impeachment. Com o filho na Esplanada, deve fazê-lo agora. Não é um notável; é um notório, como tantos outros.

A pergunta é: vale a pena correr tal risco? As gravações que estão sendo reveladas e as delações premiadas em curso indicam que não. Qual a relação custo-benefício de uma frouxidão ética? Não se sabe o que está por vir, mas o que já se sabe não é pouco – e sugere que os diálogos de latrina estão longe de se esgotar.

Registre-se a favor de Temer a atitude que teve com Jucá. Demitiu-o sumariamente, em contraste com Dilma, que manteve em seu círculo mais íntimo alguns réus e investigados da Lava Jato, gente como Ricardo Berzoini, José Eduardo Cardoso, Aloizio Mercadante, Edinho Silva, além de ter tentado dar abrigo a Lula, nomeando-o ministro para que escapasse de Sérgio Moro.

Pior: teve – e continua tendo – como seus porta-vozes no Senado outra falange de investigados, como Humberto Costa, Lindberg Faria, Gleise Hoffmann e Thelmário Mota (cuja mulher acaba de ser presa). Chega a ser engraçado vê-los indignados com o teor das gravações, em discursos inflamados contra a corrupção.

Dilma avisa que irá usar, em sua tentativa de reverter o impeachment, a gravação em que Jucá diz que, para parar a Lava Jato, só mudando o governo. Ainda bem que ela não usará as demais gravações, sobretudo aquela em que Renan Calheiros diz que ela é corrupta, e a outra, em que Sarney diz que, com a delação de João Santana e sua mulher, ela estará perdida.

Em suma, o país vive um momento sanitário, cuja demanda básica é não interromper o fluxo da descarga, nas mãos da Força Tarefa da Lava Jato e do juiz Sérgio Moro.

Áudios provam o golpe... do PT contra o erário

Os historiadores fascinarão os brasileiros do futuro quando puderem se pronunciar sobre os dias atuais sem se preocupar em saber o que vai sobrar depois que a turma da Odebrecht começar a suar o dedo. O relato sobre o apocalipse do PT no poder encontrará a exatidão no exagero. Buscará paralelos na dramaturgia grega ao relatar como o petismo saiu da História para cair na vida.

No início desta semana, o PT imaginou que poderia reescrever a história a partir da gravação de uma conversa em que Romero Jucá insinua para Sérgio Machado que a queda de Dilma e a ascensão de Temer poderia resultar num “pacto” para “estancar a sangria” da Lava Jato. Está confirmado o golpe, alardearam Dilma e os petistas.

Passaram-se os dias. Sobrevieram as gravações dos diálogos que Machado travou com Renan Calheiros e José Sarney. Veio à luz a delação do ex-deputado Pedro Corrêa, do PP. Antes que pudesse comemorar uma mudança dos ventos, o PT viu-se enredado num redemoinho que o devolveu rapidamente à defensiva.

Numa das conversas colecionadas por Machado, Sarney declarou que a própria Dilma pediu dinheiro à Odebrecht para nutrir a caixa registradora de sua campanha e remunerar o marqueteiro João Santana. Previu que madame será abatida numa confissão da turma da empreiteira, “metralhadora ponto 100”.

Em sua delação, Corrêa iluminou o submundo em que Lula se meteu para comprar apoio congressual com dinheiro roubado da Petrobras. Estilhaçou a retórica do “eu não sabia” ao relatar reuniões em que o morubixaba do PT apartou brigas dos aliados por dinheiro ilegal e ordenou a nomeação de diretores larápios para a estatal petroleira.

Quando puder relatar à posteridade tudo o que sucedeu, a História descreverá uma fantástica sequência de fatos extraordinários acontecidos com pessoas ordinárias —em todos os sentidos. E concluirá que houve, de fato, um golpe no Brasil. Um golpe do PT e da quadrilha que gravitou ao seu redor contra o erário.

Educação e cultura: uma aliança perfeita

A gritaria contra a absorção do Ministério da Cultura pela pasta da Educação, como era até 1985, foi tão intensa que o presidente interino Michel Temer reviu seu projeto de modernização do Estado, contrariando grande parcela da população que está lutando por nova práxis política. Ele cedeu a figurões da música e das artes cênicas, que recebiam apoio ruidoso da mídia e de segmentos da vanguarda brasileira, sob o argumento de que a cultura seria profundamente afetada.

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Essa postura registrou, infelizmente, preconceito em relação à educação como o sistema mais adequado para preparar as novas gerações quanto à formação de habilidades, à assimilação de conhecimento e ao cultivo das artes expressas como música, desenho, dança, modelagem, teatro, pintura, escultura e tecelagem. Isso compunha a escola brasileira até os anos 70, mas foi extinto com reformas curriculares para cortar custos, experimentar novas teorias pedagógicas e introduzir tecnologias de informação. A retomada da aliança poderia permitir, entretanto, que o templo do saber fosse novamente o espaço para a descoberta de talentos, conferindo aos alunos as lições para desenvolver suas potencialidades com supervisão adequada para a profissionalização dos mais talentosos e a formação de espectadores conscientes e leais aos bons artistas. Ou seja, a aglutinação das duas áreas numa pasta ensejaria a recuperação do diálogo, com melhoria significativa do sistema educacional, menosprezado desde a colonização da Terra de Santa Cruz. Foi, então, injustificável que justamente o segmento mais instruído, moderno e celebrado pelo público e pelo Estado tenha ficado insensível aos benefícios inerentes à proximidade das artes com a escola num ministério com alta dotação orçamentária.

A grave crise econômica impõe racionalidade nos gastos públicos e redução de serviços inerentes à cidadania, sacrificando os brasileiros. Fica, então, insustentável que um ministério financie, por renúncia fiscal, eventos que têm bilheteria garantida pelo prestígio dos participantes, em detrimento de outras atribuições, como a proteção/administração do patrimônio cultural (arquitetônico, artístico, literário, sacro e arqueológico), das bibliotecas públicas, dos museus, dos monumentos históricos, de atividades tradicionais e das celebrações populares, buscando promover novos talentos e acessibilidade da população a diferentes formas de lazer. É indispensável pôr na mesma balança a encenação de peças de Nelson Rodrigues, as apresentações da MPB, as cavalhadas de Brejo do Amparo, a Semana Santa de Goiás Velho, o Corpus Christi de Ouro Preto, o bumba meu boi de Parintins, o São João no interior do Nordeste, o congado em Bom Despacho e milhares de outros eventos constantes no calendário dos brasileiros. É preciso também apoiar a cerâmica do Vale do Jequitinhonha, a tecelagem de Resende Costa, as bordadeiras de Alagoas e muitas outras atividades que compõem nossas melhores tradições.

Gilda de Castro

A imbecilidade mais imbecil

Não há ninguém mais bobo do que um esquerdista sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer
Nelson Rodrigues

O Livro das Perguntas

Pabblo Neruda, prêmio Nobel de literatura em 1971, é autor de um curioso Libro de las Preguntas.Nesse poeta, nascido Ricardo Eliécer Neftali Reys Basoalto, nem tudo é óbvio. E, no livro em que há só perguntas, algumas até poderiam ter ligação com os novos tempos. Como “Achas que o luto antecipa a bandeira de teu destino?”. Ou “Por que fechei os meus caminhos?”. Ou “Devo escolher esta manhã entre o céu e o mar, tudo ou nada?”. Imagino dito Neruda passeando no Brasil de hoje. Que perguntas faria?, por aqui. Entre outras, quem sabe as seguintes:


Fato. A partir de 2013, milhões de brasileiros pediram nas ruas uma política mais limpa. Sem réus da Lava Jato agindo livremente no governo. Muitos com Lula. Hoje presos. Ou sendo processados. Outros muitos com Dilma, no caminho da prisão. 
PERGUNTA. “E como é que o governo Temer, sabendo desse anseio público por limpeza, teve a coragem (ou a insensatez) de nomear tantos investigados (7, em 23) para seu ministério?”

Fato. O cineasta Kleber Mendonça Filho exerce função de confiança (sem concurso público) na Fundação Joaquim Nabuco. Bem remunerada. Em Cannes, se sentiu à vontade para atender pedido de alguns membros do governo Dilma (que o contratou). E fez um estrondoso protesto com o “golpe”. 
PERGUNTA. “O cineasta, que não renunciou a seu emprego, se sente à vontade para exercer um cargo de confiança no governo Temer?”

Fato. O diretor de teatro Aderbal Freire Jr., casado com Marieta Severo, segundo a Folha de São Paulo ganha por mês 91 mil reais na TV Brasil. Vai perder a boquinha, com certeza. E escreveu, na mesma Folha, violentíssimo artigo contra o “golpe”. 
PERGUNTA. “O bom jornalismo não exigiria do diretor, nesse artigo, informar ao leitor (não fez isso) que tinha contrato com o governo Dilma em tão alto montante?”

Fato. O Ministro Romero Jucá já saiu. Nada contra. 
PERGUNTA. “Pensando bem, deveria ter sido nomeado para o cargo?”.

Fato. Com exceção da França, nenhum país importante do mundo tem um ministério só para cuidar da Cultura. 
PERGUNTA. “Não ter um ministério específico para a Cultura seria prova de que o governo, qualquer governo, não quer prestigiar a Cultura?”

Fato. A Petrobrás foi destroçada por decisões gerenciais lamentáveis e uma corrupção mastodôntica. Agora, vai ser presidida por um técnico reconhecidamente competente e correto. Pedro Parente. E os sindicatos petroleiros, que antes mantinham um silêncio cúmplice com tantos desmandos, são contra. 
PERGUNTA. “Onde estavam os sindicatos no tempo em que a Petrobrás foi assaltada? Só agora decidem protestar? E logo contra um homem de bem?”

Fato. Maradona publica foto junto a camisa da seleção brasileira com o número 18 nas costas. 2018, imagina-se. Apoiando Lula e Dilma. 
PERGUNTA. “Depois disso, Lula e Dilma têm salvação?”

E vamos parar por aqui. Faltando só lembrar verso de Neruda em 20 poemas de amor e uma canção desesperada: “É hora de partir, oh abandonado”. O vaticínio já valeu para Dilma, claro. Problema para o novo governo é que, se nada começar a melhorar, pode mais tarde valer também para Temer.

Isolada e esquecida, Dila assiste o tempo passar

Dilma Rousseff não preside, muito menos governa. Apenas assiste o tempo passar, nessa estranha interinidade determinada pelo processo do impeachment a que responde. Raramente pode ser vista pedalando sua bicicleta, em Porto Alegre ou Brasília. Se acompanha ou não as iniciativas de Michel Temer, é segredo. Ninguém garante. A verdade é que não se falam.


Aliás, são raros os telefonemas que Madame dá ou recebe, exceção dos próprios familiares. Mantém-se afastada de todos, a começar pelo Lula e as lideranças do PT. Ignora-se, até, se lê jornais ou escuta rádio. Aguarda-se para as próximas horas a divulgação de sua defesa, a cargo do ex-ministro da Justiça e ex-advogado Geral da União. Omitem-se ou são rejeitados os companheiros do antigo governo.

Há quem suponha, no atual interregno, a disposição da presidenta de mergulhar no esquecimento, indignada pelo abandono em que foi deixada. Existem, porém, os que identificam em sua atual postura a estratégia de contribuir para aumentar o tamanho do fosso existente entre sua presença anterior no governo e as características apresentadas pelo substituto. Ela não perdoa ter sido abandonada pelo antigo vice, ainda que nenhuma iniciativa tenha adotado para evitar o vazio em suas relações anteriores, antes que se caracterizasse o rompimento.

Numa palavra, condenada em definitivo como parece a projeção do processo de seu afastamento, ou por milagre reconduzida ao poder no final de 180 dias, como ainda acreditam alguns petistas, o destino de Dilma é seguir isolada e esquecida. Bem que poderia dedicar-se a escrever suas memórias…

Se o governo Temer não cortar na carne, jamais poderá ter credibilidade

O governo Temer, se quiser colaboração do povo, deve dar exemplos. Se não cortar na própria carne não encontrará boa vontade da população, que está cansada de tantos desmandos e descalabros com o dinheiro público. Ágeis em diminuírem os gastos relativos ao bem-estar da população (educação, saúde e previdência) são verdadeiras lesmas quando as medidas devem ser tomadas entre os Poderes, que se julgam intocáveis, sagrados.

Não haverá governo com a devida e necessária autoridade moral, caso não se debruçar sobre as exageradas despesas com custeio dos três poderes. De nada adiantarão as medidas de contenção de despesas, se gastos que são verdadeiramente imorais se mantiverem intactos.

O governo deve ter com o povo transparência e obrigação em moralizar esta questão, que hoje está absolutamente à vontade com os parlamentares e altos funcionários do Executivo, Legislativo e Judiciário, que se acham mesmo donos do Brasil, e podem fazer do erário público o que bem entendem!

Ou o governo acaba com essas despesas, que são verdadeiros deboches ao trabalhador e à cidadania ou, então, jamais teremos o equilíbrio das contas públicas, por conta exatamente da omissão de quem deveria dar exemplo de austeridade e probidade, e não ao contrário, conforme assistimos passivamente há muito tempo.

Tem sido demasiada a exploração do povo pelos governantes, o descaso com a população, o escárnio com a moralidade e honestidade.

Um exemplo eloquente são os financiamentos do BNDES aos governos da Venezuela e Cuba. Pode-se afirmar que as verbas liberadas foram doações, pois não podem pagar esses empréstimos, simplesmente porque não têm recursos. Cuba, porque praticamente nada produz e, a Venezuela, falida por Chávez e Maduro. São prejuízo de quase dois bilhões de dólares aos cofres do país ou oito bilhões de reais!

Se anteriormente eu escrevia que os roubos contra a Petrobrás bastariam para colocar na cadeia Lula e Dilma, a liberação desses “financiamentos” do BNDES para governos politicamente ligados ao PT deveria condenar a dupla de bandidos à punição máxima, se a Justiça atuasse como isenta e imparcial, principalmente no STF, último esteio dos petistas para se livrarem de condenações e prisões.

O resto dos bilhões de dólares concedidos aos demais países, não sei se receberemos algum trocado de volta, e me causa surpresa e indignação o empréstimo concedido à Bolívia, quase oitocentos milhões de reais!

Gostaria muito de saber se este dinheiro foi liberado antes ou depois que o ladrão Evo Morales logrou o governo brasileiro e a Petrobrás, encampando as nossas refinarias no seu país.

Se isso aconteceu depois da encampação, Lula e Dilma são reles traidores do Brasil, criminosos abjetos. Se ocorreu antes, pergunto: Por que o Planalto não agiu com o rigor esperado em casos de ofensas graves ao povo e dilapidação do patrimônio nacional?

Enfim, urge uma auditoria independente e de fora para analisar o BNDES, e as formas como liberava o dinheiro do povo brasileiro para nações falidas ou comandadas por ditadores, desde que da mesma ideologia petista, de traição ao país.

Código Florestal ainda busca 'raio-X' ambiental

Quatro anos depois de uma votação polêmica marcada por protestos e tensão, o Código Florestal ainda tenta montar o mapa da vegetação nativa que restou nas propriedades privadas do país. Sancionada em 25 de maio de 2012, a lei que reformulou as regras de proteção das florestas em áreas particulares criou uma base de dados ambiental sem precedentes, com informações declaradas por de cerca de 4 milhões de proprietários rurais.

O registro eletrônico, chamado de Cadastro Ambiental Rural (CAR), é obrigatório e ponto de partida para que o Código seja aplicado. Cerca de 82% da área nacional prevista foram declarados dentro do prazo estipulado pela lei, que venceu no último dia 5.


Os que ficaram de fora, segundo o Ministério do Meio Ambiente, seriam produtores familiares que não receberam apoio do estado para fazer o cadastro, a maior parte do semiárido nordestino. Para esse grupo, o governo decidiu estender o prazo até maio de 2017 sem que eles sofram restrições de crédito agrícola.

Criticado à época por retrocessos, como o possível aumento do desmatamento, o código sancionado então por Dilma Rousseff foi visto com ceticismo por muitas organizações. "Tínhamos uma incerteza muito grande se isso iria dar certo, mas o cadastro se tornou uma realidade e está consolidado como política pública", avalia Cristiano Vilardo, da Conservação Internacional e integrante do Observatório do Código Florestal.

Com a inscrição no CAR, o proprietário identifica o imóvel com uma planta e coordenadas geográficas, e informa a localização de áreas protegidas. A partir desse banco de dados, o governo fiscaliza quem está de acordo com a lei. Nos estados da Amazônia Legal, por exemplo, as propriedades são obrigadas a manter 80% da vegetação nativa.

"O desempenho técnico do Ministério do Meio Ambiente para capturar e gerir essas informações e o potencial de uso do cadastro serão reconhecidos internacionalmente e são impressionantes", avalia Anselm Duchrow, diretor de Proteção e Gestão Sustentável das Florestas Tropicais da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ, na sigla em alemão).

Por outro lado, a qualidade desses dados ainda é questionável. "A verificação e correção dos dados [informados pelos proprietários] pode levar anos", aponta Duchrow.

Raimundo Deusdará, diretor do Serviço Florestal Brasileiro, afirma que o serviço de verificação já começou: "De fato, é um trabalho complexo", reconhece. "Mas temos um sistema robusto, montados pela nossa equipe, que vai verificar os cadastros, um a um."

Automaticamente, no momento do registro, o sistema aponta se há sobreposição de propriedades, ou se ela está dentro de terra indígena, por exemplo. O proprietário é informado na hora quando há conflito de informações. "O próximo passo será o de verificar se a propriedade cumpriu suas obrigações, como manda a lei", explica Deusdará.

Analistas do Serviço Florestal e dos estados vão comparar os dados declarados a imagens de satélites das propriedades adquiridas pelo governo a partir de 2008. Esse é um ano crucial: segundo o Código, quem desmatou além do permitido antes dessa data está perdoado e não será obrigado a repor a vegetação.

"Você tinha um código anterior que não era monitorado, não era visto ou cobrado. Hoje toda a propriedade poderá ser monitorada", rebate Deusdará. Segundo o Serviço Florestal, mais de 1 milhão de nascentes foram declaradas por proprietários no CAR. "Quem é que tinha essa informação antes?", comemora.

Ainda segundo Deusdará, o Serviço Florestal não sabe prever quanto tempo o trabalho de verificação do cadastro levará. "O nosso limite é de pessoal e financeiro. A tecnologia nós já temos."