sexta-feira, 6 de maio de 2016

Cinquenta tons de marrom

Com a sua experiência e inteligência política, o deputado Ulysses Guimarães cunhou o “Axioma de Ulysses”: “Um novo Congresso será sempre pior do que o anterior”, que vem sendo comprovado empiricamente, a cada nova legislatura. Mas por que nosso Congresso sempre piora?

Se um país está evoluindo, se educando e se desenvolvendo, seria lógico supor a progressiva melhora do nível dos candidatos — e dos eleitores. Não no Brasil, onde a política virou meio de vida e se tornou a forma mais fácil de ascensão social. Bastam dinheiro, legal ou não, um bom marqueteiro e boas conexões com os caciques partidários. E comprar alianças e lotes de votos. Ou ter um programa de rádio. Uma igreja. Um time de futebol.


São todos ladrões, corruptos e venais? Claro que não, há sempre uma minoria mínima de homens e mulheres honestos, preparados e qualificados, que acabam impondo alguma presença moral, e algum constrangimento, à banda podre, provocando pressões da opinião pública e impedindo maiores desastres.

Imaginemos um jovem deputado, de origem humilde, honesto e bem intencionado, eleito por um estado pequeno, chegando à Câmara dos Deputados. Depois do deslumbramento inicial, ele acaba se adaptando ao jogo, e gostando. Com verbas para tudo, carro com motorista, 20 funcionários no gabinete, viagens, mulheres, colegas sugerindo vantagens e privilégios nas brechas da lei, ele passa a se sentir superior ao cidadão comum.

E surgem as primeiras oportunidades de negócio. Pedidos de ajuda, naturalmente remunerados. Favores a colegas, que logo serão retribuídos. É duro resistir às tentações, mas é preciso pensar na reeleição. O salário de R$ 33 mil já parece pouco, diante dos números que passa a ouvir no dia a dia. Até morder a primeira isca, dar o primeiro gole, que vai levá-lo aos alcoólicos públicos, de onde só sairá com a Polícia Federal.

O “Axioma de Ulysses” é provado pelo “Teorema de Cunha”:

Sendo certo que entre os novos deputados alguns vão se corromper, e que nenhum dos corruptos já estabelecidos vai se regenerar, matematicamente, a cada legislatura o Congresso vai piorar.

Como queríamos demonstrar.

Nelson Motta

É possível entender por que não se pode acreditar nos políticos brasileiros

De fato o Brasil é um país “sui generis”, pois grande parte do povo brasileiro não acredita nas instituições e muito menos nos chamados “homens públicos”. E o que é mais estarrecedor é que a urna serve como máquina de lavar reputações, eu diria que serve para alcançar a excrescência do tão almejado foro privilegiado, senão homens como Fernando Collor de Mello, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Eduardo Cunha e tantos outros que já foram condenados ou são alvos de inquéritos que tramitam na mais alta Corte de Justiça do país, usam e abusam dos subterfúgios para não serem alcançados pela justiça, induvidosamente não deveriam estar mais em cena, mas infelizmente estão.

Quem sabe uma solução não seria exterminar com o voto obrigatório, passando o voto a ser facultativo, pois assim só aqueles que têm o total interesse em ver a nação prosperar em todos os níveis do conhecimento humano, certamente, teriam o interesse em ver o mais habilitado ser sufragado nas urnas para administrar os seus interesses, as suas aspirações.


Pergunta-se: “O que leva um cidadão de bem a votar num ladrão?”. Talvez, salvo melhor juízo, deva-se essa situação à sua ignorância política, conjugada à obrigatoriedade do voto, pois, sem ter votado, o cidadão que lograr êxito em um concurso público de títulos e provas não poderá ser investido do cargo.

A propósito, o dramaturgo Berthold Brecht já nos ensinou que o pior ignorante é o ignorante político, porque o ignorante político não entende que os preços do arroz, do feijão, da carne e de tudo o mais dependem das decisões dos políticos.

Lembro também do ex-chanceler alemão Helmut Kohl. Flagrado numa transação nebulosa que favorecia seu partido, teve que renunciar e nunca mais ousou se candidatar a nada na Alemanha. O eleitor lhe deu as costas. Entretanto, não esqueça o nobre leitor que se trata do povo alemão, que promoveu duas guerras mundiais, sofreu com as suas consequências e parece ter aprendido as lições.

Induvidosamente, como ainda não possuímos a cultura do povo alemão, temos políticos que estiveram e estão em situação bem pior do que o chanceler Helmut Kholl e nem por isso perdem a pose ou o poder que têm.

Supremo já conseguiu criar três presidentes-zumbis - Dilma, Temer e Cunha

É realmente impressionante a criatividade do Supremo Tribunal Federal aqui no Brasil. Não há nada igual em nenhum país que tenha um mínimo de avanço civilizatório. Como dizia o grande historiador Kenneth Clark, que era lorde e diretor do Museu Britânico: “Civilização? Não sei o que é isso. Mais sei que, se alguma encontrar alguma, saberei reconhecê-la”. O fato concreto, em pelo Século XXI, é que, em matéria de criatividade, nenhuma outra Suprema Corte se compara à brasileira, que foi criada por Ruy Barbosa à imagem e semelhança do modelo norte-americano, mas funciona de forma totalmente diversa.

De dezembro para cá, tem sido um verdadeiro espetáculo. Os digníssimos ministros nos surpreendem a cada momento. Primeiro, houve o julgamento do rito do impeachment, onde pontificou Luís Roberto Barroso, que manipulou as informações sobre a Lei do Impeachment e o Regimento da Câmara, depois inventou que o Senado tinha poderes para rejeitar (liminarmente e por maioria simples) a decisão da Câmara. e sete ministros acompanharam seu inusitado voto, totalmente à margem da lei.

Para lembrar a frase do pensador Lula da Silva, pode-se dizer que foi um vexame nunca visto antes na História da Suprema Corte brasileira. Depois, para se justificar, o ministro Barroso afirmou que seu voto tinha sido adulterado numa edição pirata, mas logo ficou provado que era mentira. Mesmo assim, prevaleceu o corporativismo, que alguns chamam de”espírito de corpo”, outros preferem classificar de “espírito de porco”.

Um mês depois, os ministros tiveram oportunidade de rever a decisão equivocada, mas preferiram apoiar o colega infrator e o julgamento acabou em 9 a 2. O ministro Edson Fachin mudou o voto anterior, apenas Gilmar Mendes e Dias Toffoli tiveram coragem de contestar Barroso e dizer que as leis existem para serem cumpridas.

Devido à criatividade indevida do Supremo, que conseguiu evitar o afastamento da presidente da República logo após a decisão da Câmara, conforme está expressamente previsto na Lei do Impeachment (Lei 1.079), surgiram dois presidentes-zumbis para assustar o povo brasileiro – Dilma Rousseff, aquela que foi, mas já era, e Michel Temer, aquele que não é, mais será.

Ainda não satisfeitos, os inventivos ministros do Supremo agora nos brindam como nova criação, ao afastarem o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, sem que seu mandato seja cassado. Com isso, criaram mais um presidente-zumbi, que vai passar algum tempo assombrando os longos corredores da Câmara, pois Cunha já era, mas estranhamente ainda é. Continua a ser deputado, pode frequentar seu gabinete na Câmara, o suplente não assume e la nave va, sempre fellinianamente.

Por tudo isso, é pena que a próxima Olimpíada ainda não tenha a disputa da suprema criatividade, porque certamente o Brasil poderia ganhar ouro, prata e bronze, tudo ao mesmo tempo.

PS – Já ia esquecendo: o Supremo conseguiu criar um quarto presidente-zumbi. Chama-se Waldir Maranhão, não se sabe quem é, ele julga que está comandando a Câmara, senta-se na cadeira do presidente, dá ordens, mas ninguém obedece. A situação é cada vez mais patética.

Um dia para ficar na história

O STF suspendeu ontem o mandato de Eduardo Cunha como presidente da Câmara dos Deputados. Antes tarde do que nunca, foi o que disse dona Dilma lá em Belo Monte, no Pará.

É o mesmo que diremos no dia em que ela for afastada do Planalto.

Os petistas ficaram animados, coitados. Tomaram a decisão do STF como um raio de sol em seu partido. Acham que isso dificultará o impeachment de dona Dilma. Ainda não se convenceram que não tem nada uma coisa a ver com a outra.

A não ser que haja um fato novo muito, mas muito sério, dona Dilma será afastada da presidência e dentro de até 180 dias, julgada pelo Congresso como impossibilitada de presidir o Brasil.

Tenho a impressão que o maior beneficiado pela decisão de ontem foi Michel Temer. Pelo menos é o que sentiria se soubesse que, presidente da República, poderia ter um forte resfriado que não seria substituída por alguém como Cunha.

Mas fica uma pergunta que requer uma resposta que tranquilize a sociedade: quem será o vice do atual vice? Renan Calheiros? Para que? Para que o país passe novamente pelo que passou ontem e muito em breve?

Temos um hábito enraizado em nossa personalidade: gostamos de deixar tudo para amanhã. O improviso nos atrai. Não seria do maior bom senso entregar logo o Congresso ao presidente do STF?

Um novo governo oxigenará o Brasil. Disso não tenho dúvida. Mas isso não basta. Era preciso que Michel Temer fosse menos pusilânime diante dos partidos que inundam nosso cenário político. Os nomes citados como futuros membros de seu governo são todos oriundos dos dois governos lulopetistas que tanto mal fizeram ao Brasil. Uns dois ou três merecem nossa confiança, mas a maioria, Deus que nos ajude, será apenas mais do mesmo.

E o ex-presidente Lula? Seu silêncio, desde 1º de maio, grita mais alto que todas as sirenes dos bombeiros. Diz a Folha de S. Paulo que ele está deprimido. Acredito, não deve ser fácil passar pelo que ele está passando.

Lula saiu do Governo com sua aprovação nos píncaros da Lua. Está agora sofrendo o desamor da sociedade. Isso deve doer. Melhor mesmo para ele que a ideia de eleições antecipadas não possa vingar: uma derrota eleitoral seria a pá de cal em sua história de vida.

Mas quem é o culpado, a não ser ele mesmo? Sua pobre avaliação sobre a herdeira que elegeu para substituí-lo será para sempre um espinho em sua alma.

Tenho a impressão que dona Dilma detesta o PT. Só pode ser essa a conclusão. Ela está fazendo tudo que pode para deixar o buraco em que meteu seu governo cada vez mais fundo, cada vez mais largo, cada vez mais assustador para nós, cidadãos que tivemos a má sorte de ver Lula, por ambição desmedida, deixar essa senhora no Planalto.

Ao fazer mais essa escavação, ela tritura o PT no pó mais fino possível. Não há partido que resista ao horror que ela fez e está fazendo.

Ando pensando muito no destino do Brasil. Por que será que não temos mais políticos fortes e capazes como já tivemos? Será que merecemos essa praga que já dura mais que os sete anos das pragas do Egito?

Lula foi o fenômeno que poderia, se não tivesse se deixado abater por uma ganância estúpida, o homem que faria do Brasil uma potência. Tinha força para isso, mas não o fez...

Eduardo Cunha é um homem forte e inteligente, fala bem, sabe se expressar, sabe explicar o que pensa, sabe comandar. Pena que seu caráter seja tão raso...

De dona Dilma melhor não falar mais nada. Sua mediocridade é um espanto.

Gostaria de estar comemorando com fé e esperança a ida de Michel Temer para o Planalto. Mas, para ser sincera, ando com muito receio de vir a ter uma nova decepção.

Ele terá força para recolocar o Brasil no rumo certo? No rumo de um futuro que nos leve para além do arco-íris?

Quando todos os europeus eram negros

O estudo genético de restos mortais de europeus que morreram há milhares de anos, abriu uma janela única para a pré-história do continente. O trabalho abrange grande parte do Paleolítico Superior, de 45.000 até 7.000 anos atrás, e revela vários episódios até agora desconhecidos.

“O que vemos é uma história das populações tão complexa quanto a dos últimos 7.000 anos, com muitos momentos em que populações substituem outras, imigração em uma escala dramática e em um momento no qual o clima estava mudando radicalmente”, resumiu David Reich, geneticista da Universidade de Harvard e principal autor do estudo, publicado na revista Nature.

O estudo analisou o DNA de 51 euroasiáticos, uma amostra 10 vezes maior que qualquer estudo anterior. Abarca desde os humanos modernos mais antigos registrados aos caçadores-coletores que viveram pouco antes da revolução neolítica que trouxe consigo a agricultura ao continente.

Crânios encontrados na República Checa associados com o período gravetiano
A primeira conclusão do estudo é que, embora os neandertais e os humanos modernos (os Homo sapiens) se cruzaram e tiveram filhos férteis, a percentagem de DNA dessa outra espécie que carregamos diminuiu rapidamente, passando de 6 % para os 2% de hoje. Isto implica certa incompatibilidade evolutiva que já tinha sido destacada por outros estudos recentes.

Embora os primeiros sapiens tenham chegado à Europa há cerca de 45.000 anos, sua marca genética desapareceu completamente nas populações atuais. As primeiras populações que possuem algum parentesco com os europeus de hoje remontam a uns 37.000 anos atrás. Os autores do trabalho identificam essa população com o período aurignaciano.

“Estão associados a esta cultura os primeiros exemplos de arte e música, assim como as pinturas da caverna de Chauvet na França ou as flautas de ossos”, diz Manuel González Morales, pesquisador da Universidade da Cantábria e coautor do trabalho.

Naquela época, a Europa vivia a última idade do gelo, com geleiras avançando do norte da Europa e empurrando povos inteiros à migração ou ao extermínio. Segundo dados do trabalho, há 33.000 anos outro grupo substitui quase totalmente o anterior e é associado com o período gravetiano, caracterizado por pinturas com as mãos em negativo e as redondas estatuetas das Vênus paleolíticas esculpidas em osso, explica González.

Inesperadamente, há cerca de 19.000 anos, reaparecem os descendentes do período aurignaciano. Os restos humanos encontrados na Cantábria mostram agora que os habitantes desta região estavam diretamente relacionados com eles.

Uma das possíveis explicações é que aquele povo migrou para refúgios quentes do sul da Europa, em particular a Península Ibérica. Depois do momento mais frio da última idade do gelo esta população volta a se expandir para o norte da Europa, recuperando o território perdido e substituindo seus habitantes.