quinta-feira, 5 de maio de 2016

Dilma telefone jornal se inscreve empresa vai ressucitar pessoas

A espada de Dâmocles que aterroriza a classe política do Brasil

Nos últimos dias importantes políticos brasileiros foram vistos fazendo ligações de telefones públicos em aeroportos. Eles temem que seus telefones celulares estejam grampeados.

Os políticos vivem uma espécie de crise de pânico desde que a operação anticorrupção Lava Jato começou a revolver suas vidas e teve início o desfile de prisões e condenações.

Isso me fez lembrar a lenda da espada de Dâmocles, nascida na história da Grécia há 2400 anos. É uma metáfora do perigo que se corre na busca do poder, que foi recolhida pelo escritor Ovidio.

Dâmocles era membro da corte do rei Dionisio, um tirano sanguinário de Siracusa, na Sicília. Era um adulador e invejoso do rei, tanto que este quis se vingar.

Ofereceu-lhe ser rei por uma noite, com os luxos e prazeres e orgias que ele desfrutava em sua corte. Ébrio, aceitou. Quando estava no meio da glória que havia sonhado, seu sangue gelou ao ver pendendo sobre sua cabeça uma espada afiada, suspensa apenas por um fino fio de crina de cavalo. Assustado, fugiu, enquanto o rei lembrou-lhe: “Essa espada também pende todos os dias sobre a minha cabeça”.

É o perigo ao qual está exposto o poder, e o tributo pago por sua busca a qualquer preço.

No Brasil, muitos chegam à política não com o desejo sincero de servir o país, da entrega vocacional para o bem comum, mas com a esperança de poder desfrutar da orgia de privilégios e enriquecimento dos imperadores da antiguidade.

Como a Justiça está descobrindo, tudo era permitido, o fim justificava os meios. O poder e a riqueza tornaram-se os melhores afrodisíacos.

Isto até ontem, até surgir operação Lava Jato que colocou, sem distinção, sobre a cabeça de todos, a mítica Espada de Dâmocles.

Essa espada pende, causando pânico, sobre a grande maioria dos políticos.

Hoje se diz com total naturalidade que o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, está prestes a propor a acusação da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula, assim como do líder do maior partido da oposição, Aécio Neves, e dos líderes do maior partido, o PMDB, do provável novo presidente Michel Temer.

Essa espada aparece ameaçadora sobre as cabeças dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros. E não uma, mas até uma dúzia de espadas acusatórias. Meio Congresso vive sob o medo da justiça.

A classe política brasileira poderá continuar sob o trágico temor dessa espada de Dâmocles? E por quanto tempo sem que isso suponha finalmente um perigo para a democracia?

Há quem deseje passar uma borracha na Lava Jato para afastar das cabeças dos políticos a afiada espada de Dâmocles. Já não é possível. A luta contra a corrupção foi adotada pela sociedade civil. Fora do Brasil, a operação levada a cabo pelo juiz Sérgio Moro e sua equipe é vista como uma das esperanças de renovação da classe política brasileira.

Ao mesmo tempo, essa incerteza, que torna cada vez mais difícil escolher novos governos com políticos que no dia seguinte não apareçam sob as garras dos juízes, vai ter de acabar.

O Supremo Tribunal Federal, uma das instituições mais bem avaliadas hoje pela opinião pública, tem o dever de julgar, condenar ou absolver, sem perda de tempo, os políticos atualmente sob suspeita ou já objeto de acusações. Não são desculpáveis parcimônias nestas horas decisivas para o país. O Brasil tem pressa.

A sociedade precisa saber quais políticos estão manchados pela corrupção, para eliminá-los da vida pública, e em que pode continuar confiando, se é que ainda existe um punhado de justos como no texto bíblico de Sodoma e Gomorra.

Nada pior, neste momento de reconstrução do país em crise, que a incerteza sobre a ética daqueles que devem nos governar.

Essa moderna espada de Dâmocles não pode continuar indefinidamente sobre a cabeça dos políticos, transformando todos em suspeitos.

A justiça precisa, urgentemente, separar o joio do trigo se queremos um Brasil novo e mais limpo.

Janot torpedeia Dilma, Lula e o PT

As decisões da Procuradoria-Geral da República divulgadas na última terça-feira criam sérios obstáculos ao futuro político do ex-presidente Lula – além de reforçar a tese do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e colocar figuras proeminentes do “lulopetismo” em maus lençóis, com potenciais riscos de se tornarem inelegíveis para a disputa de 2018.

O mais grave dos movimentos da PGR foi o pedido de abertura de inquérito contra Dilma, Lula, José Eduardo Cardozo, atual advogado-geral da União, e Aloízio Mercadante, ministro da Educação, por tentativa de obstrução da Justiça. O processo já está com o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), e deve resultar em condenação, tendo em vista que tanto o ambiente no Supremo – bastante hostil a Lula – quanto a abundância de provas comprometem os investigados.


A acusação contra Dilma – ter tentado obstruir o andamento da Operação Lava-Jato – reforça, sem nenhuma dúvida, a tendência de aprovação do impeachment no Senado e deve levar à adesão de mais alguns senadores à tese. Hoje, mais de 54 apoiam a saída da presidente do governo.

Outra consequência é o enfraquecimento da imagem de Dilma no STF, reduzindo dramaticamente as suas chances de obter alguma decisão interlocutória na Corte sobre o andamento do impeachment no Senado. À espera de fato novo, Dilma poderia recorrer ao STF. Mas como fazê-lo se seu advogado está sendo acusado de promover obstrução da Justiça?

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ainda a inclusão de Lula, Ricardo Berzoini, ministro da Secretaria de Governo, Jaques Wagner, entre outros, no inquérito da Operação Lava-Jato que já tramita no STF. Cabe ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo, autorizar a inclusão ou não dos novos suspeitos no inquérito, que já abrange 39 pessoas. No pedido, Janotsugere que Lula era o “chefe da organização criminosa”que explorou a Petrobras.

Para piorar o que já estava muito ruim, o empresário Ronan Maria Pinto, envolvido nas investigações do assassinato, em 2002, do petista Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André, foi indiciado pelo juiz Sergio Moro no âmbito da Lava-Jato. A prisão de Ronan pode ter impacto no andamento do caso, sob exame no STF há mais de dez anos!

Os fatos da última terça-feira apontam para o comprometimento definitivo de Lula, que provavelmente gastará o resto de sua vida política se defendendo no STF de acusações variadas. Inclusive aquelas que poderão afetar casos antigos, como o mensalão e o já mencionado assassinato.

A acusação a Lula, caso confirmada, pode resultar em sua inelegibilidade para 2018, bem como a de próceres do PT como Wagner, Mercadante, Berzoini e Cardozo. Enfim, trata-se de um verdadeiro Titanic partidário que pode ceifar lideranças importantes que poderiam sustentar a bandeira do PT com alguma chance eleitoral.

Ânimo! Só faltam mais sete dias...

Ao contrário do que se imagina e muito se cita em discursos e textos clássicos ou comuns, a matriz do pensamento da esquerda ocidental contemporânea não é mais o comunismo de Marx e Engels nem a teoria da revolução proletária de Lenin. Mas se inspira numa frase do filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre: “O inferno são os outros”. Ante a angústia de ter de decidir como viver a própria vida, o ser humano, como fica explícito em sua peça Huis Clos (Entre Quatro Paredes), habitua-se a delegar ao “outro” a responsabilidade pela própria existência. A militância esquerdista, desde a adesão do pai do existencialismo à tirania pós-stalinista do chinês Mao Tsé-tung, assumiu a fraqueza humana como justificativa para as próprias vilezas.

Mesmo não sendo o autor de O Ser e o Nada o melhor exemplo de caráter ilibado, seria injusto conceber que ele possa ser o maior responsável pelo comportamento do lulodilmopetismo na exacerbação amoral e imoral desse raciocínio. Como Lula se orgulha de detestar ler e Dilma tem dificuldade de entender o que ouve, lê e repete, é mais sensato constatar que esse paradigma da apropriação do bem que o outro faz e da responsabilidade deste sobre os próprios delitos é um acréscimo prático às lições de Nicolau Maquiavel aos cruéis príncipes da Florença renascentista. Durante a bonança da primeira gestão Lula, os benéficos resultados da revolução social planejada, gerada, produzida e gerida nas administrações de Itamar Franco e Fernando Henrique foram tratados como “herança maldita”. E os bens causados pelo equilíbrio fiscal e monetário, incluídos no legado “bendito” do padim dos oprimidos.


Apresentada a conta dos frutos podres desse pomar, onde foram queimados em fogo-fátuo o suor e as lágrimas dos desvalidos, especialmente dos 10,9% de desempregados, hoje eles passam a usar mentiras maledicentes contra quem ouse denunciar seus crimes. E a tratar suas vítimas como cúmplices no que as prejudicaram, forçando-as a perdoá-los.

Acolitada por Lula e repetindo o discurso à Goebbels do marqueteiro João Patinhas Santana, Dilma vendeu o paraíso na terra na campanha pela reeleição, em 2014. Mas desde o primeiro dia do segundo governo iniciou a transferência para os derrotados da própria culpa pelo inferno da maior crise econômica da História. O PT e seus aliados formaram, em 13 anos e quatro meses de desgoverno, uma organização criminosa que esvaziou os cofres da República, feito um Robin Hood às avessas. Assim, a crise moral que assolou as máquinas burocráticas federal e estaduais, roendo as conquistas do Plano Real, a maior revolução social da História, produziu a maior crise econômica de todos os tempos.

Flagrado tapando, de forma ilícita, rombos do Tesouro com saques em aberto em bancos públicos, o bando no poder, sob o comando de madama, cometeu crimes de responsabilidade e tornou o impeachment dela uma urgência para a salvação nacional. Ao longo dos quatro anos do primeiro mandato, ela moeu a maioria no Congresso, herdada do antecessor e padroeiro, com sua inusitada incapacidade de conviver com membros de outros Poderes, gerada no ventre da serpente de seu trato truculento e intolerável com outrem.

Demonstrando enorme desapreço pela Constituição, revelado quando só a assinaram a contragosto, seus correligionários petistas tentaram, em vão, espalhar pelo mundo a hipótese estapafúrdia de que “impeachment sem crime é golpe”. Esse slogan parte de duas mentiras grosseiras: a de que ela é inocente e a da possibilidade de êxito de uma conspiração tramada nos porões (como os da tortura na ditadura militar) por 61% da população, representada por milhões nas ruas, 69% dos deputados federais, 61% dos senadores (conforme revela o placar do Estadão) e pela maioria do Supremo Tribunal Federal (STF).

O absurdo, que chacoalha o esqueleto de Aristóteles, não resiste a fatos. Os brasileiros que querem apeá-la do poder são em maior número do que o total dos que nela votaram. A oposição, que ela acusa de culpa pela crise por ter aprovado pautas-bombas que tornaram inviável seu insustentável ajuste (?) fiscal, é minoria insignificante no Congresso. E dos 11 juízes do Supremo, oito foram nomeados por Lula e por ela.

A insistência com que sua defesa mente tira a harmonia do samba de uma nota só do “golpe”. José Eduardo Cardozo, advogado-geral da União, de fato seu causídico pessoal, já arengou tanto no Congresso, no STF e na “mídia” que merece uma citação no Guinness como o mais loquaz camicase na história dos “golpes”.

Não só de acusações à oposição sobrevive sem governar o atual desgoverno. Quem não apoia tal desvario tem sido açoitado no pelourinho petralha. A professora da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) Janaína Paschoal teve de explicar à “bancada do chororô” na comissão de impeachment no Senado por que defendeu um procurador que bateu na mulher. Seus detratores, que ainda a acusaram de ser “tucana”, não replicaram com um só argumento válido à acusação por ela lida. Nem se lembraram da sentença romana de que acusados devem gozar da presunção de inocência, tão citada pelo PT para defender cúmplices na roubalheira.

Na dita sessão, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, chamou os brasileiros de caloteiros, ao perguntar quem nunca deixou de pagar uma conta, ousando comparar a irresponsabilidade da chefona com o estado de extrema necessidade do desempregado que não consegue manter o crédito na praça porque perdeu o salário. Ocupada em contar reses, não sabe que ninguém entende mais de crédito do que o pobre, incapaz de sobreviver sem ele.

Contra tantas ignomínias, com as quais Sartre nada tem que ver, há uma salvação: o emprego de Dilma e o protagonismo de seu partido estão a sete dias do fim anunciado. Amém!

STF precisa dizer o que Dilma pode fazer fora do poder

A Dilma anda espalhando que vai sair por aí fazendo campanha contra o “golpe” a bordo dos aviões da FAB se realmente for afastada da presidência. Isso mesmo, a presidente, destituída temporariamente, quer gastar mais dinheiro, agora insuflando os brasileiros contra as medidas legais do Congresso Nacional que devem afastá-la do poder. Como não bastasse o desastre promovido por ela na economia e o seu envolvimento nos maiores escândalos de corrupção da história do país, a presidente acha-se no direito de manter todas as regalias do cargo mesmo sendo afastada das suas funções.


Ora, se a legislação é omissa em relação aos direitos de um presidente afastado, cabe ao STF, desde já, determinar quais são as atribuições da Dilma longe do poder. Por exemplo: deve usar o avião presidencial? Manter o séquito de servidores ao seu lado? A frota de veículos e a segurança com todo o aparato? Permanecer no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência? Usar verba de gabinete e dispor do cartão corporativo para fazer compras em nomes da segurança nacional, nunca revelados? Fazer supermercado com o dinheiro do contribuinte? Receber autoridades internacionais usando as prerrogativas presidenciais? Viajar no avião oficial? Falar em nome do governo brasileiro em assuntos internos e externos?

Pois bem, essas interrogações devem ser esclarecidas aos brasileiros antes que a Dilma meta os pés pelas mãos e sinta-se no direito de gastar o dinheiro do contribuinte sem fiscalização dos órgãos competentes como fez irresponsavelmente com os bancos oficiais no caso das pedaladas, crimes pelos quais está sendo processada e apeada do poder. Na condição de presidente afastada temporariamente, a Dilma deve ser vigiada de perto para não abusar das suas prerrogativas, caso ainda tenha algumas depois de sair da presidência.

Cabe ao STF – e não mais ao Congresso Nacional – regulamentar as atividades da ex-presidente, já que essa situação, como é atípica, não está regida pela Carta Magna. O afastamento da presidente é uma punição pelos crimes que ela cometeu à frente do governo, portanto, a lógica é de que ela não teria direito a nenhum tipo de benefício fora das suas funções, se o STF assim o entender. Se voltar ao poder, aí sim, teria seus direitos restabelecidos como determina a Constituição.

Espera-se, portanto, que o STF não se sensibilize com a destituição da presidente e, como prêmio de consolação, mantenha regalias que ela não teria por omissão das leis vigentes. Pelo menos é assim que o Supremo Tribunal Federal vem agindo nos últimos tempos. Quem não se lembra, por exemplo, do mensalão quando a Corte se utilizou de uma brecha casuística para reduzir a pena de vários criminosos petistas que depois seriam soltos beneficiados por esses artifícios?

É preciso desde já ditar as regras do jogo. Se o STF for benevolente em relação aos direitos da presidente que sai, não esclarecendo o que ela pode ou não pode fazer, cabe então ao presidente que entra vigiar os gastos e as mordomias da ex e de seus auxiliares para que o contribuinte não arque com o ônus de sustentar dois presidentes.

A intenção da Dilma, quando perder o cargo, é juntar-se aos movimentos sociais, que vivem às custas do dinheiro público, para promover badernas no país, como bem já disseram o ex-presidente Lula e o fundamentalista Rui Falcão. Querem provocar arruaças e promover uma convulsão social espalhando o medo e o terror sob o pretexto de que foram injustiçados e vítimas de um golpe, ignorando todo o trâmite legal que depôs a presidente a sua turma.

A notícia de que o STF freou um gasto de 80 milhões de reais que a presidente pedira ao Senado Federal em regime extraordinário é um bom sinal de que as instituições estão atentas às artimanhas do PT que iriam permitir, de última hora, encher os cofres do governo para promover a campanha contra o golpe.

A primeira mosca

Uma sequência do fotógrafo Bruno Santos na primeira página da Folha de segunda-feira mostra a presidente Dilma Rousseff perturbada por uma mosca em seu rosto durante promovido em São Paulo pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), no Dia do Trabalho. Nas primeiras fotos, Dilma parece apenas contrariada pelo inseto impertinente que insiste em passear sem audiência marcada por nariz e boca presidenciais. Na última foto, Dilma aparece com a mão espalmada, pronta a aplicar um safanão na mosca e mandá-la, literalmente, para o espaço.


A mosca não sabia com quem estava se metendo. Foi atazanar a vida de uma mulher que nunca precisou de motivo para desferir safanões verbais em quem estivesse à sua volta e, agora, tem motivos reais para isto. Em poucos dias, descerá do posto a que foi levada por 54 milhões de eleitores — dos quais, a julgar pelas últimas manifestações a seu favor, não lhe restam nem 4 milhões — para submeter-se a 180 dias de férias forçadas, com grandes possibilidades de que estas se prolonguem pelos próximos oito anos.

Por outro lado, a dita mosca podia apenas fazer parte de uma equipe exploratória — uma batedora avançada do batalhão de moscas que deverá fazer companhia à futura ex-presidente no palácio da Alvorada, onde cumprirá um doce exílio entre seus próprios lençóis e fronhas. As perspectivas são as de que não terá muitas visitas enquanto estiver afastada — ninguém de fato a estima, nem entre os seus colaboradores mais íntimos, e os correligionários que ainda a defendem o fazem apenas em nome de uma estratégia política.

Limitada nos próximos tempos a presidir um sofá ou uma cômoda e impossibilitada de continuar quebrando o país, Dilma será grata a qualquer um que se interesse em ir vê-la.

Um bom presente a levar-lhe: um mata-moscas.

Senta, o leão é manso

O PT é bom de grito, todo mundo sabe, é inegável essa competência. O ex-presidente Luiz Inácio da Silva, então, esbraveja como ninguém. Quesito no qual a presidente Dilma Rousseff tem se mostrado digna de graduação.

Mestre em ameaçar fazer e acontecer quando acuado pelas evidências, o grupo não tem tido o mesmo êxito - louve-se aos céus - no tocante à eficácia de suas (más) intenções. Muito provavelmente porque elas se chocam com a lei e contradizem a realidade. No mundo das palavras tudo é possível, já no mundo das ações há regras a serem obedecidas e circunstâncias a serem observadas.


Quando os habitantes de um universo tentam atuar no outro sem mudar instrumentos nem critérios, o resultado é o fracasso. Isso quando não incorrem na perda do senso de ridículo.

O PT iniciou essa travessia já na época do mensalão, quando tentou imprimir a seus correligionários condenados por crimes comuns pelo Supremo Tribunal Federal a aura de presos políticos e se dispôs a recorrer a cortes internacionais para rever a decisão e fazer crer a estrangeiros incautos que o STF era um tribunal de exceção. Nada aconteceu.

Anos antes de cumprir sentença por corrupção, José Dirceu havia deixado a Casa Civil anunciando que retomaria o mandato de deputado para “comandar”, do Congresso, o governo. Não conseguiu sequer terminar o discurso que fez da tribuna no dia da volta, tal a sorte de apartes contestadores por parte do plenário, que pouco tempo depois aprovaria sua cassação.

Transitado em julgado o processo, Lula anunciou que como ex-presidente dedicaria seu tempo e energia para provar que o mensalão não existiu. O desmonte da “farsa”, como se viu, era a farsa em si. Lula não provou nem tentou. Por impossibilidade fática, a tal da “narrativa” caiu no vazio.

Foi retomada com força total e acrescida de novas alegorias agora que o fim do ciclo do PT no poder se aproxima e se dá em cenário de triste espetáculo. A presidente da República prestando-se ao papel de revolucionária sem causa, transformando o Palácio do Planalto em trincheira de resistência imaginária, improvisando um governo de esquerda “fast-food”, com medidas destinadas a reunir as tropas militantes ao arrepio das contas públicas, cuja implosão já se encarregara de comandar.

O ex-presidente Lula, o habilidoso articulador político, desprovido do proverbial tirocínio, deixa São Bernardo para entrar no Palácio do Planalto como dono de uma jogada de excelência para sair dele prisioneiro da arapuca em que se transformou sua nomeação para ministro-chefe da Casa Civil.

De lá, seguiu para um quarto de hotel em Brasília, de onde comandaria a “virada” de votos na Câmara, evitando a admissibilidade do impeachment. Não levou uma nem duas, mas várias rasteiras dos “picaretas” que acreditava serem ainda seus súditos.

Nesse meio tempo, houve o anúncio de fogosa resistência. A militância iria para as ruas e nelas montariam barricadas pelas quais o impeachment não passaria. Passou e continua seu caminho, indiferente à denúncia internacional do “golpe” à qual nem o Itamaraty aderiu.

A solução quase final de recorrer à proposta de eleição direta já não conseguiu a concordância sequer dos aliados. Alguns deles por uma questão de bom senso, outros pela convicção de que isso daria a impressão de que a presidente estaria considerando seu afastamento inevitável. Como se houvesse a possibilidade de outro desfecho.

Mas, claro, é preciso resistir. Como? Com a mobilização das entidades que não terão mais verbas públicas para se mobilizar e a montagem de um bunker no Palácio da Alvorada, onde darão expediente Dilma, 15 assessores e os funcionários domésticos que atendem à residência oficial.

De onde, sentemo-nos que o leão é manso.

No fim, um mau negócio

Não sobrou ninguém. O trator de Rodrigo Janot passou em cima do Lula, porque uma organização criminosa como a Lava Jato não funcionaria sem ele. Dilma é denunciada por obstruir o Judiciário ao indicar um ministro do Superior Tribunal de Justiça e, mais, por nomear o Lula para a chefia da Casa Civil. José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça e atual Advogado Geral da União, por tentar obter a liberdade de empreiteiros presos na Operação Lava Jato. Incluem-se na quadrilha Eduardo Cunha, presidente da Câmara, ao receber propinas variadas; Renan Calheiros, presidente do Senado, pelos mesmos motivos.


E mais Aloizio Mercadante, ministro da Educação, Edinho Silva, ministro da Comunicação Social, Jader Barbalho, Romero Jucá e Waldir Raupp, senadores, além de Jacques Wagner e Ricardo Berzoini, ministros, Giles Azevedo, Antonio Palocci, Erenice Guerra, Paulo Okamoto e José Sérgio Gabrielli, ex-ministros. Sem esquecer Delcidio Amaral

Ao todo o Procurador Geral da República denunciou 29 personagens dos governos Lula e Dilma, todos às voltas com processos conduzidos pelo ministro Teori Savaski, do Supremo Tribunal Federal. Somados aos antigos dirigentes e líderes do PT, una já presos, outro quase, eles compõem uma quadrilha para ninguém botar defeito. Recomenda-se a quem quiser saber o nome de todos, recorrer aos arquivos da Judiciário e da Procuradoria, bem como à memoria e às coleções de jornais.

Se alguém buscava razões para o país estar em fragalhos, eis a principal: o número de bandidos, vigaristas e ladrões incrustados nos dois governos dos companheiros.

Anulam-se os efeitos dos benefícios que puderam ser prestados por eles em favor dos menos favorecidos. Aliás, boa parte está desfeita. Evaporou.

Fora os que já se encontram na cadeia, por obra de investigações e sentenças anteriores, essa nova relação conduz a iguais previsões.

Fazer o quê? Pelo menos imaginar que o exemplo frutifique e que cabe se tornando um mau negócio botar a mão nos dinheiros públicos...

Poema da purificação

Depois de tantos combates
o anjo bom matou o anjo mau
e jogou seu corpo no rio.
As água ficaram tintas
de um sangue que não descorava
e os peixes todos morreram.
Mas uma luz que ninguém soube
dizer de onde tinha vindo
apareceu para clarear o mundo,
e outro anjo pensou a ferida
do anjo batalhador.
Carlos Drummond de Andrade


Atalhos da cretinice

Depois que Lula conseguiu com Dilma uma habeas-corpus para fugir do juiz Sérgio Moro, os políticos descobriram uma nova saída para continuarem santos e de certa forma protegidos. Outro investigado como o governador Fernando Pimentel, com foro privilegiado, acabou de conceder à própria mulher o mesmo privilégio. Anunciam agora a vez de Jacques Wagner com o fim do governo Dilma, conseguir junto ao governo baiano do apadrinhado Rui Costa cargo no secretariado para também fugir à Justiça.

É o PT procurando protelar o quanto puder a ida de outra leva ainda maior de seus corruptos para a cadeia. A dança das cadeiras, mesmo como no caso de Pimentel ser crime de nepotismo, é aceita como normalidade no país. Mas é criminalidade descarada e escarrada.

O país aceita passivamente, contra toda a ética, até mesmo se rasgar a lei. Não é o caminho de quem se diz democracia. 

A descoberta de novos atalhos pelos petistas - sempre eles - entre o emaranhado político para correr da prisão mostra o que são capazes esses corruptos com máscara de santos. São os mesmos que vociferam contra o que apelidaram de golpe, criticam o réu Eduardo Cunha e fazem festas a Renan Calheiras, velho conhecido da Justiça, com nove processos nas costas. Tacham de bandidos todos os ex-aliados desde que isso lhes sirva.

Há algo de podre na canalha política, e não são apenas os adversários. Fedem mais os aliados, que sorrateiramente tramam suas escapulidas. Dilma "pedalou" e continua a rasgar a Lei de Responsabilidade. É de uma irresponsabilidade federal para com o país. Os aumentos prometidos nos últimos dias, as "bondades", são mais um agrado - ilegal - aos mais pobres para que continuem a defender o mandato de uma tresloucada de olho em manter a chama dos diabos para 2018. Também vai exigir regalias em seu afastamento, que custarão mais dinheiro aos cofres públicos já tão minguados por sua incompetência e arrogância.

Dilma está entrando para a história como a presidente que mais causou danos ao país, na entra e na saída. Acha o país como propriedade particular com a mesma sanha dos escravagistas. Entre um senhor de engenho e Dilma não há qualquer diferença. Ambos desprezam o trabalho e se conferem donos do mundo.

Essa mediocridade de políticos corruptos e governantes destrambelhados está corroendo o dinheiro do cidadão que ainda mantém uma aristocracia política do submundo como s ministros indicados neste fim de mandato, que ficarão abastecidos de altos salários por mais quatro meses.

O momento exige precisão e parcimônia no uso das palavras

Para quem lida com palavras, mesmo para os que não têm a escrita como hábito ou profissão, todo cuidado é pouco. O escritor Otto Lara Resende advertia que “as palavras sangram, elas são sangrentas”.

Busco sempre a clareza para transformar em letras, jamais em sangue, o que penso. Ontem, ao me assentar à mesa da máquina de escrever, de saudosa memória, ou, hoje, ao me aventurar diante do computador, acendo logo uma luz amarela: devo ser verdadeiro, mas também elegante. O leitor, parceiro e, claro, crítico de quem arrisca opinião sobre assunto tão difícil (como é a política), qualquer que seja o veículo, não é nem desaguadouro de mágoas, nem muito menos lixeira.

Quando digo, leitor, por exemplo, que o governo Dilma acabou, não estou exagerando nem muito menos sendo grosseiro. Isso ressalta-se aos olhos de quem quer enxergar. A reação a essa afirmação, da presidente e de alguns de seus defensores, preocupados com o que de ruim o futuro lhes reserva, só reforça a tese de que o desespero tomou conta de todos. Dissentir é da natureza humana, mas a presidente e seus defensores ultrapassaram os limites. Tornaram-se patéticos. E, no caso do advogado José Eduardo Cardozo, estou convicto de que ele se arrependerá do triste papel que vem fazendo em defesa do indefensável.

Quando aceito o impedimento da presidente Dilma como recurso legal e legítimo, previsto na Constituição, não estou sendo golpista nem estou dizendo que ela é uma criminosa. O crime de responsabilidade não tem nada a ver com os crimes comuns, tratados no Código Penal. Seu impedimento não a levará para a cadeia, pois, na verdade, trata-se de uma infração político-administrativa. E seu julgamento, depois de aceito por dois terços dos votos na Câmara Federal, será feito pelo Senado Federal e não exige prova de atos de corrupção.

À maneira do poeta Ferreira Gullar, que escreve semanalmente (aos domingos) na “Folha de S.Paulo”, “surpreendo-me com a reação de pessoas reconhecidamente inteligentes e bem-informadas, em face da crise pela qual passa o país neste governo. Não é que não tolere – longe de mim tal propósito! – suas opiniões contrárias à minha, e sim os tipos de argumentos que adotam, contrários aos fatos e aos princípios constitucionais que regem nossa vida política e social”.

A mim intriga, enfim, sobremaneira, a manifestação de alguns intelectuais, juristas ou não, sobre o impedimento. Repetem o mantra “não vai ter golpe” e negam o crime de responsabilidade. Fico imaginando uma situação inversa, isto é, Dilma vice e Temer na Presidência. Já imaginou, leitor, o que fariam o PT e seus aliados? Transformar-se-iam em feras e usariam quaisquer armas. Ou não foi assim que agiram em favor do afastamento do ex-presidente Fernando Collor, com quem, depois, fizeram as pazes? E olhe que, como disse o jornalista Ricardo Noblat em sua última coluna em “O Globo”, se comparado à operação Lava Jato, “Collor não passou de um trombadinha, desses que atacam mulheres indefesas no meio das ruas”.

Se a situação fosse inversa, qual seria a reação do PT diante de uma proposta de eleições diretas, por meio da apresentação de uma PEC inconstitucional, como a que estaria para ser apresentada pela presidente logo depois da admissibilidade do impedimento no Senado?

Obediência severa à Constituição é o caminho para se estancar a crise. Impedida a presidente, assume o vice. Cabe a este uma missão histórica. Em pouco tempo, saberemos se estará à altura dela.

Quem viver, verá.

Acílio Lara Resende

PT, uma antipatia nacional

As notícias desconcertantes que Dilma, Lula e o PT ouvem todo dia recebeu do povo, em sua maioria, ruidosa condenação, somada a uma antipatia que o PT acumulou em seus longos anos de agitação.

Os fundadores e os ideólogos do Partido dos Trabalhadores devem preocupar-se com este fenômeno de repulsa da maioria dos eleitores pela sigla e pelas vozes sempre altas, um tanto intimidativas, de sua militância.

Quem leu sobre aquele período triste da história da França revolucionária, quando o sangue de nobres e de suspeitos corria indistintamente pelas pedras daquela hoje eloquente cidade de Paris, associa seus capítulos de panfletagem e execuções sumárias às lideranças surgidas da precipitação, da solércia e da valentia circunstancial. Dentre os manifestantes virulentos estavam os jacobinos (os petralhas, na versão atual), designação atribuída aos pregoeiros do caos e dos enfrentamentos, os que apostavam no terror da revolução (José Dirceu foi aluno da guerrilha, em Cuba, em sua juventude). Todos se lembram de que o PT, entre outras façanhas, se colocou contrário ao plano real, o mesmo PT que, no poder, transmudou-se completamente, adotando práticas político-econômicas antes apedrejadas.

As bandeiras que hoje empunhamos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, tanto quanto a Declaração dos Direitos do Homem, que os revolucionários tiveram oportunidade de desfraldar, não decorreram aqueles princípios e aquele documento de ações de bravura pessoal dos panfletários da desordem. Não. São, aliás, muito antecedentes, a primeira atribuída a Étienne de la Boétie em conjunto com Montaigne (meados do séc. XVI). Já a Declaração de Direitos é obra soprada pelo iluminismo francês, período áureo que deu ao mundo, por sábios e intelectuais, enunciados que hoje nos governam.

Comentários infelizes já insinuaram que o Partido dos Trabalhadores possui folha de serviços comparável aos prestados pela Revolução Francesa. Ridícula a afirmativa. A primeira antipatia granjeada pelo PT é o fato de que sua fundação adotou linha programática socialista ultrapassada, e, como Partido dos Trabalhadores, é definição excludente. Só se filiam a ele os trabalhadores ? E as donas de casa ? E os intelectuais ? E os assistentes administrativos ? E os jovens ? E os militares ? E os aposentados ? O fato é que o PT, em resposta agressiva ao movimento de 64, quis enfrentá-lo com uma ideia que aproximasse o povo dos operários (principalmente os de São Paulo) e de suas desordens para uma conjugação de interesses e votos, de adesão enfim, a propósitos pouco transparentes, que serviriam à expansão da liderança do sindicalista Lula. 

Outra fosse a inspiração dos fundadores do partido, de amor à causa operária, teriam prosseguido na doutrina construída pelo trabalhismo, aquele sim, Getúlio, o verdadeiro timoneiro da bandeira trabalhista, o único sinceramente empenhado e solidário com o escravagismo do operariado, e que verdadeiramente encarnava o ideário trabalhista. Porque não seguiram os petistas o catecismo legado por Getúlio, onde reuniriam forças para conjugar o capital e o trabalho ? É porque já havia lugares ocupados no trabalhismo.

Como indutora da antipatia ao PT, coroa a insolência da corrupção que alcança grande número de membros do governo e da família de Lula. Com o episódio do mensalão, de triste memória, que indignou os brasileiros, junto com a negativa de que nada sabia, o ex-presidente enterrou as chances que pudessem reerguer a ética no PT.

A opinião pública não esqueceu esta afronta, e o judiciário agora a investiga e a investigará até as raízes.

José Maria Couto Moreira