sexta-feira, 11 de março de 2016

Nem o pior adversário do PT imaginaria fim tão melancólico

As versões variam pouco, com algumas coincidências. Segundo uma delas, Dilma convidou Lula para ocupar um ministério, mas ele teria recusado. Segundo a outra, ele vai usar este fim de semana para pensar. O que há de inequívoco nas duas? Aquilo que muitos tratavam de forma jocosa, como o limite rumo à impossibilidade, aconteceu: a ainda presidente realmente fez o convite. E ele até poderia escolher a pasta. Bem, faz sentido! Na prática, ele já escolheu a cadeira dela.

A coisa é escandalosa até para os padrões petistas. Mas não deixa de ter a sua graça: a presidente prestes a ser impichada formaliza a posição de Lula, que hoje já comanda o governo, entronizando-o como o rei do Brasil.

Se acontecer, nunca antes na historia “destepaiz” alguém terá se tornado ministro só por medo de ser mandado para a cadeia. E que se note: nem garantia é.


Dilma tem mais alguns bons pares de dias antes de cair. Até lá, imaginem a cena: numa reunião com ministros, quem vocês acham que daria as cartas? Quem seria ouvido? Quem definiria as diretrizes?

O mais patético de tudo é que há petistas graúdos contra a ideia, mas não porque se importem com o absurdo e o ridículo, mas porque, dizem, Lula corre o risco de se afundar junto com Dilma. Atenção! No próprio PT, são raros os companheiros que acreditam que ela chegue a 2018. Eu aposto que não chega ao segundo semestre deste ano.

Aliás, um dos esportes prediletos hoje em Brasília é montar o “Ministério do Michel”. Até o PMDB, que foi alvo de manobras divisionistas oriundas do Palácio do Planalto, passa por um reagrupamento. Renan Calheiros (PMDB-AL), por exemplo, presidente do Senado, recebeu Lula num café da manhã. Ouviu tudo e não prometeu nada.

Que desfecho, não? Para fugir da cadeia, os petistas agora pretendem se esconder nos palácios. Nem o adversário mais severo da legenda imaginaria fim tão melancólico.

Um governo condenado

A palavra “condenado” deve ser lida aqui com a acepção que lhe é dada em engenharia civil, para designar um edifício prestes a desabar, sem possibilidade de recuperação. É pouco provável que, fragilizado como já estava, o governo consiga se recuperar do desgaste adicional causado pela vertiginosa sequência de eventos adversos a que se viu submetido nas últimas semanas. Antes que os fatos se embaralhem no turbilhão da crise, é bom tê-los em perspectiva e nitidamente diferenciados, para entender com mais clareza as razões do dramático estreitamento de espaço de manobra com que hoje se debate o governo.

Não é preciso uma lista exaustiva. Basta ter em conta os eventos mais desgastantes, todos ocorridos nos 12 dias compreendidos entre 22 de fevereiro e 4 de março: a prisão de João Santana; as evidências de que, em meio à campanha presidencial de 2014, o marqueteiro teria recebido, em contas de empresas não declaradas no exterior, vultosos pagamentos feitos com recursos provenientes do petrolão; a divulgação do depoimento do senador Delcídio Amaral, no quadro de um acordo de delação premiada, em que acusa a presidente de tentativa de obstrução de Justiça e de ter tido pleno conhecimento prévio das implicações da decisão de aquisição da refinaria de Pasadena; e, para culminar, a condução coercitiva do ex-presidente Lula, para prestar depoimento à Polícia Federal, e o cumprimento de mandados de busca e apreensão em seus apartamentos de São Bernardo, na casa de Atibaia e no Instituto Lula.


Para avaliar a extensão dos danos que essa saraivada de eventos adversos vem impondo ao governo, é importante ter em conta seus efeitos devastadores sobre narrativas cruciais a que o Planalto e o PT, a duras penas, vinham se agarrando.

Que nem um real de dinheiro desviado do petrolão havia sido canalizado para o financiamento da campanha presidencial de 2014. Que a presidente se orgulhava de sempre ter assegurado amplo espaço para as investigações da Lava-Jato, sem jamais ter tentado obstruir por qualquer meio o andamento da operação. Que, embora tivesse ocupado diligentemente, por mais de sete anos, a presidência do Conselho de Administração da Petrobras, cinco deles como ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff jamais tivera conhecimento de qualquer malfeito ocorrido na Petrobras. Que, não obstante a escala impressionante da pilhagem de recursos públicos observada em seus dois governos, o ex-presidente Lula sempre esteve totalmente à margem desse processo, sem dele auferir qualquer espécie de ganho.

O pior, para o governo, é que tudo indica que esse desmoronamento das narrativas que lhe são caras deverá ser reforçado nos próximos meses, por uma onda adicional de acordos de delação premiada, no contexto da Operação Lava-Jato, estimulados pelas condenações em primeira instância e pela nova jurisprudência firmada pelo STF, em fevereiro, que permite que penas de prisão já sejam executadas a partir de decisões de segunda instância.

Da noite para o dia, um governo que se sabia fragilizado passou a ser visto como desenganado. E é natural que isso tenha deflagrado amplo reposicionamento de forças políticas. Partidos de oposição, que chegaram a alardear que o impeachment estava enterrado, passaram a ver com novo ânimo a possibilidade de abreviar o mandato da presidente Dilma. Já há até sinais de que as facções governistas do grande arquipélago peemedebista andam costeando o alambrado, prontas a abandonar a presidente à própria sorte. E rumores de que o resto da base governista pode saltar do barco a qualquer momento.

O que esperar da condução da política econômica nesse quadro conturbado, de fim de festa? Na melhor das hipóteses, que os tripulantes se empenhem para, na medida do possível, evitar que a deterioração da situação política se traduza em agravamento da brutal crise econômica que enfrenta o país. Mas não é bem isso que vem sendo esboçado.

Rogério Furquim Werneck

Vácuo no governo e na oposição

Em outro artigo, que será publicado na edição de Zero Hora deste próximo final de semana, escrevi sobre a anomia que acometeu o Brasil neste inicio de século, relegando a nação a uma condição selvagem em pleno ambiente urbano. Tal condição se caracteriza pela insegurança, pelo medo, pela decadência do respeito à lei e aos poderes constituídos, e pela quase inutilidade do setor público, incapaz de dar solução adequada às mais rudimentares de suas atribuições.


Na política, repete-se como axioma que ela não convive com vácuos. Em tese, todo vazio é rapidamente preenchido. Pois a anomia se instalou no Brasil muito gradualmente já no segundo mandato de Lula, quando o presidente, para efeitos públicos, assumiu-se como mito. E mitos não governam. Mitos são taumaturgos, anunciam quimeras. Governar é para os mortais. Depois, quando Dilma foi eleita e reeleita, o vazio do poder instalou-se de vez. A presidente da República é aquilo que a ciência define como perfeito e impossível - o vácuo absoluto, a total ausência de conteúdo. Quando se instala algo assim no espaço intergaláctico, forma-se o fenômeno conhecido como buraco negro, capaz de devorar galáxias inteiras. No Brasil, não. Fica vazio e pronto.

Não bastasse uma governança politicamente oca, verdadeiro infortúnio, produziu-se entre nós, simetricamente, um outro vazio tão ou mais surpreendente na oposição política. O tucanato, apresentado pelo petismo como seu arqui-inimigo, não corresponde à ideia comum que se tenha de um partido de oposição. Não é possível olhar para o PSDB e achar que ali está o Batman do Coringa petista. O PSDB é apenas o maior partido fora do governo. Não é sensato tomar como conduta de partido de oposição aquilo que, na ordem dos fatos, são apenas manifestações desconexas de divergência em relação ao governo.

Temos, portanto, dois fenômenos que, em tese, não poderiam existir. E que talvez só possam ocorrer exatamente por serem simétricos e equivalentes. Dois vácuos políticos aguardando provimento, no governo e na oposição. Não será difícil encontrar na situação descrita uma das causas determinantes da crise multiforme que, como nação, estamos enfrentando.

No dia 13 ocorrerá no Brasil a maior manifestação popular de nossa história. É diante desse cenário que ela vai acontecer. O povo irá às ruas não para substituir-se às instituições, mas para sacudi-las de sua letargia. Vai às ruas por uma questão de saneamento moral básico, de honra nacional, para recuperar valores que foram pisoteados pelos cavaleiros do Átila de Guarujá. Ainda assim continuaremos precisando de algo tão parecido quanto possível com um governo e uma oposição.

Percival Puggina

Lula, o preso político

Petistas têm denunciado que a condução coercitiva de Lula à Polícia Federal fez dele um preso político. Assim espero! Não dá para tratar Lula, mentor e beneficiário do Mensalão e agora do Petrolão, apenas como um criminoso comum.

O que ele e o PT têm feito ao tomar de assalto o governo com dinheiro roubado do povo e fraude eleitoral, é um crime político. Lula jamais seria um preso político como aqueles que sabemos existir em Cuba ou na Venezuela, cujos dirigentes são aliados do PT e encarceram qualquer um que ousarem criticá-los.

LULA ASSUMIR MINISTERIO mp de sao paulo pede prisao de lula telefone dilma perai

Lula nunca foi impedido de expressar sua opinião. Ninguém pretende prender “o cara” porque ele se opõe ao atual regime – semi-ditatorial – que ele mesmo ajudou a criar. Pelo contrário, ele foi convidado a comparecer à Polícia Federal, exatamente para esclarecer tudo aquilo do qual ele está sendo acusado de praticar.

Lula é um preso político de outra espécie. É o típico homem público que no exercício do poder governou de forma demagógica e populista, fazendo de tudo para conspirar contra as instituições estabelecidas, com o único propósito de enriquecer ilicitamente para se manter indefinidamente no poder.

O crime político de Lula ainda vai além, tentou implantar no Brasil um sistema social baseado na violação dos direitos à vida, à liberdade e à propriedade de cada um de nós, ricos, pobres e quem estiver ali pelo meio. Lula, como todo criminoso político, acabou incorrendo num crime menor, o de ser apenas mais um político criminoso.

Se for provado o que todo o Brasil já sabe, o petralha não será lembrado como herói. Ele fará parte da História, naquele capítulo que fala do “pixuleco” e será tratado como merece, um vulgar político preso.

PT submete Dilma a impeachment companheiro

Dilma Rousseff não só acredita em vida depois da morte como crê que é esta que ela está vivendo. Suposta presidente da República, Dilma já não tem capacidade nem para projetar as aparências do poder. Para evitar que outras forças políticas dêem um golpe, o PT decidiu implementar um impeachment companheiro. Articula a conversão de Dilma em ex-presidente ainda no exercício da Presidência. Só falta decidir o que o partido fará com o vácuo que herdará de si mesmo.

Lula passará o final de semana refletindo sobre a conveniência de assumir um ministério sob Dilma, informou Rui Falcão, presidente do PT, ao discursar na noite desta quinta-feira para uma plateia de cerca de 300 militantes de movimentos sociais. Lula não está interessado no escudo do foro privilegiado, assegurou Falcão. Não, não. Absolutamente. A ideia é que ele vá à Esplanada para “salvar o nosso projeto.” Bom, muito bom. Pode criar algo inteiramente novo. Caos não falta.


Na saída do evento, Falcão afirmou que a decisão de Lula pode sair no próprio final de semana ou demorar mais alguns dias. “Essa é uma decisão dele. Lula está tranquilo e sereno.” Noutros tempos, a escolha de ministros era decisão exclusiva de presidentes. Mas Dilma não se importará se Lula decidir se autonomear. Ela o deixou à vontade para escolher a pasta. O PT quer vê-lo na Casa Civil. Funciona no 4º andar do Planalto, em sala que fica imediatamente acima do gabinete presidencial, situado no 3º piso.

Não é difícil imaginar a cena: na antessala do neo-ministro, congressistas e empresários se acotovelando por uma audiência. Na sala de espera da pseudo-presidente, o silêncio do vazio. No interior do gabinete, o nada. Inútil tentar alcançar Dilma com os olhos. O olhar atravessa o nada e vai bater no couro do espaldar da poltrona. Lula queria um sucessor invisível, que não lhe fizesse sombra. Exagerou!

Impeachment depende da rua

O PT chamou a população para defender Lula nas ruas e agora corre o risco de ouvir como resposta no próximo domingo o mesmo "não" que derrubou Fernando Collor em 1992.

Acusado naquela época de ter contas pagas por terceiros, Collor fez um discurso exaltado no dia 13 de agosto daquele ano. Dizendo-se presidente dos descamisados, falou em "golpe", reclamou que a "central única dos conspiradores" pretendia promover o "terceiro turno das eleições" e conclamou a população a vestir as cores da bandeira nacional.

O efeito foi o de um bumerangue. Três dias depois, enquanto Collor reunia cerca de 300 apoiadores em frente à Casa da Dinda, o país presenciou uma onda de manifestações em favor do impeachment na qual o preto foi adotado como símbolo e as gargantas pediam "cadeia". Collor durou só mais 44 dias no cargo.

Lula não é um outsider como era o seu adversário de 1989. Tem na retaguarda um partido estruturado, ainda que combalido, uma central sindical e alguns movimentos sociais. Mas o fato de não conseguir formular uma resposta minimamente convincente para os presentes que recebeu de empreiteiras torna sua posição muito frágil. Como convencer alguém a defender o direito do Lula de ser paparicado pela Odebrecht?

Tanto assim que, na própria sexta, a despeito de o PT ter tentado mobilizar sua militância contra a condução coercitiva de Lula, pouca gente foi para rua. Houve alguns protestos, uma ou outra confusão, um ex-deputado mostrando a cueca, mas o máximo que o partido conseguiu foi lotar a quadra de um sindicato. É pouco para o Lula que já foi considerado o presidente mais popular da história.

A manifestação de domingo, dependendo da sua amplitude e vigor, pode significar o respaldo que a Câmara aguarda para o pedido de impedimento de Dilma. Como disse Michel Temer a aliados meses atrás, não é o Congresso quem aprova o impeachment. "É a rua."

Justiça já derrubou dois


Dilma perdeu esta semana dois ministros nos tribunais. Wellington Correa, o WC, foi sem nunca ter sido na pasta da Justiça. E o ex Lula caiu antes de aceitar a Casa Civil.

Está difícil arrumar gente de reputação ilibada, pois há pelo menos cinco ministros na mira do judiciário. E para piorar, a reserva é volume morto
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Lula poderia ser tão importante quanto Mandela, mas a ambição...


Foi a primeira vez que um país realmente importante colocou um operário no poder, um líder metalúrgico de pouca instrução, que reconhecera jamais ter lido um livro, mas possuía um carisma arrebatador, uma intuição política invejável e uma sorte de ganhador de loteria. Não importa que tenha sido aliado do regime militar, que o apadrinhou e lançou para a glória, como massa de manobra para enfraquecer Leonel Brizola, que era um político de expressão, considerado pelos militares como a maior ameaça ao “Sistema” – denominação que designava o esquema detentor do poder no país, que aceitou devolver o governo aos os civis, desde que mantivessem a situação herdada dos militares. Era a abertura lenta e gradual, no rumo da democracia plena, mas bem devagar.

No caso de Lula, o mais importante é que ele depois conseguiu chegar sozinho ao poder e se deixou monitorar pelo economista conservador Henrique Meirelles , para fazer um governo consagrador, que colocaria o Brasil como a sexta economia mundial, com crescimento de 7,5% no PIB em 2010, último ano de sua segunda gestão. Um desempenho realmente notável, não há como desconhecer esta realidade.

Seu prestígio internacional era impressionante. Roubava a cena nas reuniões de cúpula, o Brasil passou a ser um dos líderes do G-20 e do BRICS, o grupo dos chamados países emergentes.

As universidades estrangeiras o homenageavam, uma atrás da outra, Lula tornou-se um dos políticos mais conhecidos do mundo. Se tivesse se comportado como o líder sul-africano Nelson Mandela, teria seu nome inscrito para sempre como um dos maiores políticos da História Contemporânea, vejam a que ponto estava chegando a trajetória do ex-metalúrgico brasileiro.

Mas acontece que Lula é um herói de pés de barro, como se dizia antigamente. Ao invés de se mirar no exemplo de Mandela, que nem reeleição aceitou, Lula se deixou levar pela embriaguez do poder. Não quis voltar à vida simples de antes, passou a se comportar como as elites que ele tanto criticava. De repente, não era mais o Lula. Havia se transformado em mais um novo rico, cercado de luxo, orgulho e arrogância, andando de jatinho para cima e para baixo, num comportamento deletério que contaminou toda a família e levou os filhos pelo mesmo caminho.

O orgulho e a arrogância – como sempre – deram em nada. Não adianta mais Lula dizer que foi o maior governante deste país nem se classificar como a alma viva mais honesta, isso apenas mostra que a soberba continua instalada em sua personalidade.

Lula era rico e não percebia, tinha conquistado tudo o que podia, mas ainda continuava insatisfeito. Tinha de viver como milionário. Mas sua declaração de renda não o permitia. Como explicar a compra simultânea do triplex, do sítio e da cobertura ao lado em São Bernardo? Quanto os federais entraram na residência de Lula, se surpreenderam porque uma parede tinha sido derrubada e as duas coberturas se comunicam internamente.

E a família Lula ainda ocupa um terceiro apartamento no mesmo prédio, onde fica instalada a equipe federal de segurança que acompanha permanentemente a família, e os jornais ainda não se interessaram em saber quem é o dono de mais este imóvel. Será o primo do Bumlai? Ou o advogado e compadre Roberto Teixeira, sempre pronto a ajudar o amigo?

O grande político brasileiro Lula não existe mais. A força-tarefa da Lava Jato reuniu tantas provas sobre o enriquecimento ilícito da família Lula da Silva que não há advogado que dê jeito. Já foram contratados três escritórios – em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Curitiba. Mas contra fatos concretos não há argumentos jurídicos que consigam reverter a condenação.

Dilma Rousseff segue o mesmo caminho. A delação premiada da Andrade Gutierrez apresenta provas materiais de utilização de recursos ilegais na campanha de 2014, e a cassação da chapa com Michel Temer tornou-se inexorável, apenas questão de tempo. Dilma finge que governa e a gente finge que acredita. E la nave va, cada vez mais fellinianamente.

Companheiros envolvidos em trapalhadas

A operação Lava Jato continua produzindo notícias, senão informações. O Ministério Público Federal, em documento de 89 páginas, acaba de requerer do juiz Sérgio Moro as medidas cautelares dos pedidos de busca, apreensão e condução coercitiva do Lula, indicando que os procuradores encarregados do caso estão convencidos da culpabilidade do ex-presidente no caso. A referência supõe que o primeiro companheiro está implicado na ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro, no caso do triplex do Guarujá. O imóvel teria sido oferecido ao Lula pela empreiteira OAS, com obras suplementares, inclusive um elevador privativo e móveis de luxo, a preço de banana podre, dada a situação de ficar encarregada do trabalho, pela falência da empresa antecessora, da qual ele era sócio.

Em função dessa versão, da qual o MPF não duvida, divulgou-se que para escapar de ver seu criador tornar-se réu junto ao Supremo Tribunal Federal, e provavelmente ser condenado, a presidente Dilma Rousseff chegou a cogitar nomeá-lo ministro, coisa que garantiria sua blindagem perante a mais alta corte nacional de Justiça. O Lula rejeitou a proposta, que envolveria quatro ministérios: Relações Exteriores, Justiça, Defesa e Comunicações.

Nada mais absurdo do que uma dessas nomeações, não apenas porque misturaria favores de dois governos,de Dilma e Lula, mas porque humilharia o ex-presidente, beneficiando-se de um expediente nada ético para escapar de responder pelos seus atos quando chefe do governo.

Olhando-se de fora a monumental crise que assola o país, tem-se a impressão de valer muito pouco a presença do PT na arte de administrar o país. Companheiros envolvem-se em trapalhadas sem fim, a ponto de uma presidente da República oferecer ao sucessor mecanismos capazes de livrá-lo de condenações.E de o Lula não poder explicar a aquisição de um triplex em desacordo com suas posses. Isso sem entrar na novela de um sítio que não foi comprado mas vem sendo usado por ele e sua família sem contrato de aluguel.

Junte-se à lambança encenada por ministros, aliados, empresários e parlamentares integrantes do time do governo e se terá a receita de uma quadrilha agindo faz tempo à sombra do PT. Por certo existirá gente séria à sombra do palácio do Planalto, mas quem garantirá a ausência de vigaristas?

O fim de semana promete embates, acusações e manifestações em torno do poder. Não seria o caso de preparar sua substituições?

Um cardápío de medos para as novas gerações

Com exceção de tempos em guerra, as gerações costumam deixar futuro melhor para seus jovens; sobretudo, um futuro alentador. Mas, de todas as dificuldades que os adultos de hoje estão deixando para os jovens brasileiros, nenhuma é mais imperdoável do que o medo. Nosso legado é um cardápio de medos.

Não estamos sendo capazes de oferecer as ferramentas necessárias para os jovens enfrentarem as incertezas criadas pelas mudanças no mundo, e ainda estamos criando novos medos brasileiros. Por força das transformações no mercado de trabalho, devido ao avanço técnico, os jovens estão com medo de desemprego, sem um sistema educacional capaz de enfrentar os desafios criados pelo avanço tecnológico; e ainda estamos provocando desemprego conjuntural, devido à recessão econômica criada pela incompetência e pela irresponsabilidade do governo atual.

Os jovens têm medo de andar nas ruas, usar tênis da moda ou um relógio que o pai deu. Todos estão com medo de epidemias, especialmente dengue, ainda mais as mulheres jovens, assustadas com o risco de seus filhos sofrerem microcefalia. E a imensa maioria, que depende do sistema de saúde pública, teme pela falta do necessário atendimento médico.

Estão com medo de que não terão um sistema sólido de aposentadoria, porque começam a perceber que a vantagem de uma vida mais longa vai exigir reformas que os obrigarão a trabalhar por mais tempo; e temem que a falta da reforma ameace a solidez do sistema.

Como todos os brasileiros, os jovens estão assustados com a inflação. Eles cresceram acostumados à estabilidade monetária e agora temem, com razão, o que vai acontecer no país se não conseguirmos recuperar a estabilidade monetária. E temem também as consequências que o enfrentamento desse problema provocará, devido aos cortes de verbas na educação, na saúde, na infraestrutura.

Sofrem com o medo da recessão econômica, que reduzirá a renda per capita que lhes caberá, diminuirá a posição do Brasil no mundo, degradará nossa infraestrutura econômica e social, reduzirá o nível de consumo e o bem-estar.

Estamos deixando aos jovens o medo do desequilíbrio ambiental, do aquecimento global – num dia, enchentes, noutro, falta de água –; os recursos naturais ficando escassos. Não fomos capazes de acenar para eles um futuro no qual o progresso não signifique degradação ambiental, concentração de renda, violência e desigualdade social.

Medo do trânsito que ameaça a vida com acidentes, especialmente envolvendo motos e bicicletas, e rouba a vida, silenciosamente, pelas perdas de tempo no dia a dia dos engarrafamentos.

Também têm medo da corrupção e de suas consequências, inclusive de nós, dirigentes, que hoje estamos construindo o futuro em que eles viverão com medo. Medo de que, em 2018, nenhum candidato a presidente prometa e ofereça, transmitindo confiança, credibilidade e competência, os caminhos para assegurar aos jovens que eles terão um país sem medo. Pelo menos isso: um Brasil sem medo.

Cristovam Buarque

Um governo jeca

O governo da Dilma é jeca. E os auxiliares que a cercam mais jecas ainda. Só em um país sem comando, à deriva, desacreditado e apodrecido moralmente nomea-se um ministro da Justiça sub judicie. Isso mesmo, o baiano Wellington César Lima e Silva está ameaçado de não permanecer no ministério porque o STF entendeu que ele, por ser integrante do Ministério Público, não pode exercer a função para qual foi nomeado pela Dilma.

Meu Deus!, viramos uma republiqueta das bananas, nanicas. Parece que estamos vivendo em outra galáxia, a galáxia que hospeda um monte de débeis mentais na Praça dos Três Poderes. Que país avacalhado é esse que nomeia um ministro (da Justiça!) sem uma análise criteriosa, cuidadosa. Chegamos ao mais baixo nível da desmoralização da administração pública. Aquela em que, pasmem, os ministros são feitos nas coxas.
Até o mais idiota dos assessores do Planalto sabia que é inconstitucional um integrante do Ministério Público (caso do Wellington) exercer um cargo no Executivo sem renunciar à carreira, ou se aposentar. Agora, com o impasse, veja que coisa, o país está acéfalo na sua principal área de vulnerabilidade, a segurança. Sem comando, um ministério que tem sob o seu guarda-chuva a segurança pública, as garantias constitucionais e a administração das penitenciárias, entre outros setores relevantes, de uma hora para outra, está vazio. E com a decisão do STF, Wellington tem vinte dias para se afastar da Pasta ou se aposentar do Ministério Público.

Tudo isso aconteceu porque o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, responsável pela articulação política e pela escolha de ministros junto com a presidente, impôs a sua vontade. Foi buscar na Bahia um amigo para assumir o ministério antes que o pessoal do Lula indicasse um nome. Atropelou todo mundo e agora deixa o abacaxi nas mãos da Dilma. Para não retroceder, a presidente orientou José Eduardo Cardozo, antigo titular da Pasta, para defender a permanência de Wellington no cargo junto ao STF. Levou uma surra na votação do tribunal que julgou inconstitucional a presença do amigo dele no seu antigo ministério.

A petezada avacalhou o país. Do dia pra noite, o Brasil saiu de país emergente para descambar para uma nação desacreditada, apodrecida, comandada por uma presidente que não tem a menor noção da importância do cargo que exerce. Uma marionete nas mãos de um bando de sindicalistas corruptos e incompetentes que zombam da paciência do povo brasileiro.

Nem bem se recompôs da gafe, a Dilma agora quer transformar a Esplanada dos Ministérios em um presídio a céu aberto. Cogita entregar um ministério ao ex-presidente Lula para evitar que ele saia de São Bernardo algemado dentro de um camburão para formar um time de futebol no presídio de segurança máxima do Paraná. Ao seu lado, a Dilma já protege Edinho Silva, ministro da Comunicação Social, envolvido na Lava Jato. Delatores contam que foram achacados e intimidados por ele quando exerceu a função de tesoureiro da campanha dela. Para resguardar o ex-tesoureiro a Dilma o acolheu dentro do Planalto a pedido do Lula que agora também quer se alojar lá dentro sob o manto da imunidade. Não adianta fugir, se esconder, procurar refúgio porque, como dizem os internautas na internet, que se preparam para invadir as ruas pelo impeachment da Dilma: “O Moro vai te pegar!”

Cretinice sem medida


Operação Lava-Jato se tornou um instrumento político inquisitório, que opera à margem da legalidade 
Tarso Genro, ex-ministro e ex governador do Rio Grande do Sul

Governo quer empresas fazendo o 'autolicenciamento' ambiental

Depois de um desastre como o de Mariana, em Minas Gerais - considerado por muitos como a pior tragédia ambiental do Brasil -, nós poderíamos supor que os esforços das autoridades seriam em melhorar os mecanismos ambientais no Brasil, como licenciamento e fiscalização. Em vez disso, está acontecendo o contrário. Está tramitando com grande rapidez no Conama, o Conselho Nacional do Meio Ambiente, uma proposta que flexibiliza completamente o processo de licenciamento de uma obra com potencial poluidor no Brasil. Para ambientalistas, a proposta faz com que as empresas possam, na prática, fazer um "autolicenciamento" de suas obras.

Atualmente, o licenciamento ambiental é feito em três fases. A empresa que quer fazer uma usina, indústria ou extração de minérios, por exemplo, precisa primeiro mostrar que o projeto é viável do ponto de vista socioambiental, recebendo uma Licença Prévia. Depois, analisar os danos concretos que a obra pode causar, quando recebe uma Licença de Instalação. E por fim, atender às exigências impostas pelo órgão ambiental, como o Ibama, quando só então recebe a Licença de Operação e pode funcionar normalmente. Esse processo continua existindo na proposta, mas outras três modalidades de licenciamento são criadas.

Uma das modalidades, o Licenciamento Unificado, permite que a empresa possa operar com apenas uma licença ambiental. Ela vale mesmo para empreendimentos de alto potencial poluidor. Para os empreendimentos de médio ou baixo potencial poluidor, são dois processos possíveis. O licenciamento por adesão e compromisso e o licenciamento por registro. Nos dois casos, a empresa que quer fazer o empreendimento apresenta uma declaração ou registro e envia os documentos necessários por email. Isso já é o suficiente para receber a licença. Ao governo cabe apenas fiscalizar. Na prática, o processo de licenciamento fica todo a cargo da empresa que fará a obra potencialmente poluidora.
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De um corte só, R$ 10 bilhões

Em plena crise econômica, os governos federal, estadual e municipal gastam um montante bilionário com pagamentos de servidores que recebem acima do teto constitucional. Estimativas de fontes do Ministério da Fazenda e do Congresso apontam que, caso a lei fosse cumprida, a economia aos cofres públicos chegaria a quase R$ 10 bilhões por ano, considerando todas as esferas de governo. A cifra é similar à que o governo pretende conseguir em 2016 com a recriação da CPMF.

Cálculos do governo federal, que consideram apenas o total que a União economizaria, são bem menores, de R$ 1 bilhão anual. Ignorando a Constituição, alguns servidores ganham acima dos R$ 33,7 mil, salário do presidente do Supremo Tribunal Federal, que serve de referência para a definição do teto. Somente no Superior Tribunal de Justiça, o setor responsável pelos pagamentos confirma que ao menos cinco servidores aposentados receberam, entre janeiro e dezembro de 2015, valores líquidos superiores a R$ 100 mil.Leia mais  

Ódio petista à imprensa

O PT no poder perdeu a batalha das ideias. Atolado em denúncias de corrupção — algumas já comprovadas —, sem saber para onde correr, criou uma bandeira de ódio contra a imprensa que vem estimulando agressões a jornalistas.

Para tentar fugir da responsabilidade de explicar uma avalanche de indícios e dados sobre esquemas de corrupção deslavada, a cúpula petista repete o mantra de que o governo é perseguido por uma imprensa burguesa e golpista.

O PT não entendeu que o buraco é mais embaixo. A imprensa não é feita apenas de donos, mas de jornalistas, repórteres, editores, trabalhadores de classe média que, em sua maioria, apoiavam o PT — ou, pelo menos, acreditavam que, no poder, o partido faria diferente do que sempre se fez no Brasil. Mas, para desilusão geral, o PT não fez diferente.

Nos anos 1980, com o ocaso da ditadura militar e o fortalecimento do Ministério Público e do PT, quando nós, repórteres, apurávamos denúncias contra algum poderoso de plantão, quase sempre recorríamos a promotores, militantes e parlamentares do PT. Conseguimos apurar grandes escândalos, do governo Sarney ao governo FH, em boa parte, devido a informações daqueles que considerávamos como pessoas do bem.
Alguns têm memória curta, mas a imprensa — alimentada pela veia investigativa dos repórteres — batia no governo Collor como bate no de Dilma. E só bate mais forte hoje porque tem a alimentá-la uma torrente de delitos que mais parece noticiário policial.

A imprensa nada mais faz do que refletir os anseios do pensamento hegemônico no Brasil, de pessoas que se sentiram traídas, em suas esperanças, pelos governos Lula e Dilma. E faz o que é seu dever fazer: fiscalizar o poder — às vezes, é bem verdade, com certo radicalismo pueril, que só enxerga o mal no lado do PT. Mas a culpa desse estado de coisas é, antes de tudo, dos métodos do PT no poder, não da imprensa.

Em 2009, testemunhei uma cena que simboliza esse desencanto dos jornalistas em relação ao PT, numa concorrida audiência pública na Câmara Federal. O então deputado José Genoino se aproximou, circulando entre os jornalistas. Todos fizeram questão de ignorá-lo. Uma repórter chegou a virar-lhe as costas! Meio sem jeito, Genoino se afastou. Logo ele que, antes do mensalão, era uma das fontes preferidas e mais paparicadas do jornalismo brasiliense e paulista.

Esse sentimento de decepção, que tomou conta de boa parte da imprensa, representa, na verdade, o desencanto de parcelas expressivas da sociedade brasileira. Afinal, não somos astronautas, fazemos parte da mesma massa de decepcionados com o PT no poder.

Não tem jeito. O PT matou nossos sonhos de construção de um sistema político melhor, mais arejado, menos corrupto.

Ser de “esquerda”, no Brasil, representou, na fase de redemocratização do país, integrar correntes democráticas de pessoas, socialistas ou não, unidas pelo ideal de um país mais justo, menos desigual, com um Estado aperfeiçoado, um capitalismo menos selvagem. Mas o sonho dessa esquerda já era. Lula matou a esquerda brasileira. Zé Dirceu foi o coveiro.

Ronie Lima 

Sociedade corrupta estimula desonestidade

O nível de corrupção de uma sociedade influência a honestidade de seus cidadãos, concluiu um estudo publicado pela revista científica Nature nesta quinta-feira. Os pesquisadores afirmam que, quanto mais propenso for o ambiente para violação das normas, menos honestos tendem a ser os indivíduos.

Os pesquisadores Simon Gäechter, da Universidade de Nottingham, e Jonathan Schulz, da Universidade Yale, analisaram como a violação de normas no contexto social, como no caso da corrupção, evasão fiscal ou fraude política, pode influenciar a honestidade intrínseca do indivíduo.

"Pessoas que vivem em sociedades mais corruptas têm mais probabilidades de ser desonestas que as que habitam em sociedades onde se desaprova a violação das normas", diz o estudo.

Para mostrar essa relação, os pesquisadores elaboraram uma lista de 159 países e classificaram a saúde de suas instituições com bases nas categorias corrupção, evasão fiscal e fraude política, a partir de dados de 2003.

Em seguida, realizaram uma experiência com 2.568 jovens de 23 países, como China, Alemanha e Colômbia. No experimento, eles tiveram a possibilidade de mentir em benefício próprio sem que ninguém soubesse disso.

Os voluntários, cada um em uma cabine, tinham que jogar um dado duas vezes e dizer qual o primeiro número que havia saído. Eles recebiam mais dinheiro quanto maior o número (a exceção era o "seis", pelo qual não ganhavam nada).

Se todos fossem honestos, todos os números teriam a mesma probabilidade de sair. Se não o fossem, os pesquisadores poderiam descobrir ao calcularem a distorção.

"Não podemos dizer, a nível individual, se os voluntários foram ou não honestos, mas, num determinado grupo de pessoas, podemos tirar conclusões por meio das leis da estatística", explicou Gäechter, professor de Psicologia da Tomada de Decisões.

O experimento mostrou que cidadãos de países com níveis de corrupção mais elevado tendiam a dizer que tinham tirado número mais altos, recebendo assim mais dinheiro, ou seja, eram mais desonestos do que os de sociedades menos corruptas.
As pessoas limitam o seu nível de honestidade de acordo com o que é percebido como aceitável na sociedade ao seu redor
Simon Gäechter 
Os pesquisadores constataram também que em todo o mundo as pessoas tendem a tirar um pouco de vantagem a seu favor. O experimento revelou que muitos, em vez de dizer o primeiro número, diziam o maior número das duas jogadas.

Segundo Gäechter, o estudo confirma a teoria psicológica de que indivíduos que vivem numa sociedade onde todas as regras são quebras são mais propensos de pensar que está tudo bem ser um pouco desonesto.

Os pesquisadores garantem ainda que as instituições frágeis, que permitem a corrupção e outras violações, não só têm efeitos econômicos negativos para as sociedades, mas também na honestidade intrínseca dos cidadãos.

Deutsche Welle