quinta-feira, 3 de março de 2016

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Só a rua salva o Brasil

Prender a polícia; a velha obsessão! Depois da proposta de “restabelecimento imediato” do programa econômico do PT para nos salvar … dos efeitos da persistência insana no programa econômico do PT, tirar Jose Eduardo Cardoso do Ministério da Justiça e entregar a pasta à “guarda baiana” do lulismo, sob um lugar-tenente de Jacques Wagner, o lugar-tenente de Lula, com a missão oficialmente definida de rachar o Ministério Público (o de SP já se acovardou) e “enquadrar a Polícia Federal” é a prestação da vez do golpe aos pedacinhos do PT, com epicentro sempre no Judiciário, diante do que não dá mais para negar, nem a respeito da multinacional baiana de empreitadas presidenciais bilionárias, nem do que esse esquema rendeu na forma de “dachas” e outros mimos para o seu criador e digníssima família.

O flagrante de contato de mucosas entre as offshores panamenhas das famílias Santana e Odebrecht intermediado por um notório operador de subornos do “petrolão” conforme instruções precisas escritas de próprio punho pela sorridente senhora Santana, com pagamentos da Odebrecht para o marqueteiro de Dilma durante a campanha de Dilma, pôs munição viva na roleta russa do “caixa-2-pau-pra-toda-obra” que vem sendo jogada pelo PT e desenhou com minúcias chocantes os contornos da “Internacional Bolivarianista” que instalou uma rede de ajuda mutua de presidentes eleitos de extensa ficha policial em países diversos da África e da América Latina com o concurso de campanhas roteirizadas pelo marqueteiro de Lula e “Conselheiro nº 1 de Dilma Presidenta” pagas com “obras” bilionárias para a Odebrecht, bancadas algumas pelo BNDES, tudo isso dando vida à receita que ele tantas vezes festejou no Foro de São Paulo.

Com o país atolado na sua assumida incapacidade de formular mais que o ataque ao poder e de construir o que quer que vá além dos meios de mantê-lo, a nova coleção de provas configura o universo real do petismo no governo à imagem e semelhança do sindicalismo pelego getulista onde finca raízes no qual, uma vez tomada uma corporação numa determinada praça tudo que ha a fazer é não perder mais as “reeleições” por aclamação de eleitores expostos às pressões, violências, chantagens e reformulações da regra que garantem a quem se dispuser a praticá-las sem nenhum limite manter para sempre o livre dispor do imposto sindical correspondente.

“Governar é locupletar-se dos meios de ganhar a próxima eleição” é a única lição que se aprende nessa escola. Faz todo o sentido, portanto, que os governos do PT desdenhem completamente os profissionais do fazer mas erijam em eminências pardas todo poderosas os assessores do dizer com notória especialização em revestir superfícies podres de purpurina dourada, não importa em que latitude, não importa em que idioma.

As provas acumuladas contra os Silva, os Santana e os Odebrecht às vésperas de um momento de catarse como o do 36º aniversário do partido parecem ter precipitado manifestações descoordenadas dos setores mais “soft” e mais “hardcore” do golpismo genético no PT, o que explica o anuncio em sequência do “divórcio de Dilma” (sem separação de corpos) e início oficial da construção da grande mentira de 2018 embutido na “reafirmação” preventiva como efeito de um “programa econômico” que é a causa da desgraça profunda que o Brasil vai viver nos próximos tres anos e mais, seguido da rasteira em Jose Eduardo Cardoso, uma vez refeito o partido do susto, para por em curso mais um dos “arranjos” judiciais no figurino do Foro de São Paulo para os quais o PT se vem articulando desde o primeiro dia dos seus quatro governos, e se faz necessário nesta emergência para manter Lula vivo até o momento de protagoniza-la.

Que ninguém se impressione com a falta de sentido real das “propostas” do partido; é isso mesmo que dá sentido prático a esse angu dialético. Ao reagir a todo e qualquer fato novo com bofetadas na cara da lógica e do senso comum, o PT tem conseguido fazer com que cada bofetada nova pareça menos chocante que a anterior, o que vai dessensibilizando o ouvinte até que agredir a lógica torna-se a regra, e portanto, a lógica, e não a excessão, que é aquilo que, por inusitado, aciona nossos alarmes cognitivos. É com esse expediente que ele se tem dedicado ultimamente à empreitada de transmutar o castigo em crime e fazer da adesão ao impeachment sem o qual não sobrevive o Brasil uma espécie de “confissão de culpa” da intenção oculta não de prender os criminosos, mas de deixar vagos os seus postos na organização criminosa.

A “DR” pública do 36º aniversário do partido confirmou o que já se sabe desde o início da prova de apnéia que já vai muito além do limite do dano irreversível imposta à economia brasileira a partir da subida de Joaquim Levy ao palco: Dilma Rousseff não tem o mesmo estômago de Lula para recomendar com ar piedoso aos miseráveis que estrebucham em seus braços que tomem mais uns bons goles de veneno para se curar, mas também não tem grandeza bastante para sair de cima e deixar o país vir respirar na superfície. Ego por ego, os dois se anulam mutuamente, o que vai otimamente bem para o Brasil dos “Sem Crise” onde “demissão” é palavra fora do dicionário e aumento de salário se dá por decurso de prazo, haja o que houver com o “país real”, em que se irmanam, no mínimo na absoluta falta de pressa, situação e oposição.

Uma leitura objetiva do rame-rame e do prende-e-solta destes dois anos de enfrentamento surdo entre a trincheira solitária de Curitiba e o grande território ocupado do Judiciário de modo nenhum autoriza que se deixe de levar a sério a ameaça prometida de castrar a Polícia Federal e assumir oficialmente que nesta terra de avessos, pau que não bate em delcídio também não bate em marcelo nem, muito menos, em luis, por mais ululantes que sejam os fatos.

Só a rua salva este país. Se no próximo dia 13 o Brasil não der prova indiscutivel de apoio maciço à sua última célula saudavel, a doença terá vencido e não haverá segunda chance.

Dilma viu riqueza. Era corrupção

Quando deixou a presidência do Conselho de Administração da Petrobras, em março de 2010, Dilma Rousseff disse que se sentia muito feliz, orgulhosa e grata pelo aprendizado. “Você tem uma nova visão de Brasil, vê a riqueza do Brasil”, afirmou.

Estava, pois, num posto privilegiado, onde ficou sete anos. E como não viu os desastres cometidos na gestão da empresa? Porque não foi apenas roubalheira. A Petrobras foi também destruída por uma administração no mínimo temerária, que deixou prejuízos bilionários para a companhia.


Eis dois exemplos bem atuais. Na última terça, a Petrobras foi condenada no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) a pagar impostos e multas no valor de R$ 7,3 bilhões. O Carf considerou irregulares duas operações feitas em 2007 e 2008, nas quais a companhia colocou como despesa operacional os aportes de R$ 6 bilhões que fizera para o Petros, fundo de pensão dos funcionários. A despesa operacional abate do resultado e, pois, reduz o imposto a pagar.

Dirão: mas é uma questão de contabilidade, não passa pelo Conselho de Administração.

Errado. Essa manobra — bilionária — aparece no balanço e tem de chamar a atenção do conselho, pelo menos de um conselho minimamente atento.

Outra: na mesma terça passada, o ValorPro, serviço de informação on-line do jornal “Valor Econômico”, informou que a Petrobras obteve um prejuízo de US$ 1,95 bilhão na compra da refinaria de Okinawa, no Japão, efetuada em 2008. O jornal teve acesso a um relatório da própria companhia. A refinaria foi fechada, por inútil, no ano passado. Está à venda, mas não apareceram compradores.

A compra se deu dois anos depois da aquisição da refinaria de Pasadena, nos EUA — isso mesmo, aquela que deu um prejuízo do mesmo tamanho, sem contar a roubalheira.

Para os dois negócios desastrosos, Dilma Rousseff, já como presidente da República, deu a mesma explicação. O conselho havia autorizado as compras com base em resumos executivos oferecidos pela diretoria.

Dois resuminhos e tudo bem?

A reportagem do ValorPro, assinada por Cláudia Schüffner, jornalista de reconhecida competência nessa área, conta que a compra de Okinawa foi intensamente debatida por quadros técnicos da estatal, muitos levantando dúvidas e restrições. Não devem ter aparecido nos resuminhos.

Quem começou o negócio de Okinawa foi Nestor Cerveró. Quem fechou foi Jorge Zelada, ambos apanhados pela Lava-Jato. Assim como os envolvidos com Pasadena, Paulo Roberto Costa e Renato Duque.

Foi também durante o período de Dilma no Conselho de Administração que a Petrobras decidiu construir quatro refinarias, as de Pernambuco (Abreu e Lima), do Rio (Comperj) e as duas “premium” do Maranhão e Ceará. Estas últimas foram canceladas no ano passado. Os projetos, considerados inviáveis técnica e economicamente, custaram cerca de R$ 3 bilhões.

As outras duas refinarias, em construção, tiveram orçamentos estourados em bilhões de reais, estão incompletas, projetos sendo revistos e com a estatal procurando sócios novos.

Quatro desastres, não é mesmo? De novo, sem contar a roubalheira já demonstrada pela Lava-Jato.

Como tudo isso pode ter passado batido pelo Conselho de Administração? Como Dilma, a gerente, não ficou em cima desses projetos?

A nossa hipótese: nem o conselho nem Dilma mandavam. O então presidente Lula decidia tudo. Mais de uma vez Lula se vangloriou disso, de ter determinado que a Petrobras tivesse mais “ousadia” e mais “patriotismo” nos seus investimentos.

Mas isso apenas explica, não elimina a responsabilidade de Dilma Rousseff como presidente do conselho. Digamos que não fosse possível ou fosse muito difícil apanhar as propinas que rolavam por baixo do pano. Mas certamente era possível, e até fácil, desconfiar dos projetos, dos negócios e dos valores envolvidos. Ou da estratégia: construir quatro grandes refinarias ao mesmo tempo? Ela tinha que saber.

O que leva a outra questão, a do momento: o que Dilma sabia ou devia saber sobre suas duas campanhas eleitorais? Ela foi designada candidata por Lula. A engrenagem de Lula montou as duas campanhas com João Santana. Sim, Dilma escolheu alguns colaboradores seus na campanha e no governo, mas a gestão de tudo foi sempre dividida com Lula e seu entorno.

Com a repetição de denúncias de caixa dois e dinheiro de propina nas campanhas, de duas, uma: ou Dilma sabia e deixou passar, ou não sabia e Lula é o responsável por tudo. Mesmo neste caso, porém, como na Petrobras, nada elimina a responsabilidade da presidente.

Na melhor das hipóteses para ela, Dilma cometeu um equívoco fatal para o país. Ali onde ela teria visto “a riqueza do Brasil” estava a maior corrupção da história do país e uma gestão destruidora.

Carlos Alberto Sardenberg 

Como se move uma seita

Se você quer conhecer um inimigo, tem que pensar com a cabeça dele. E a cabeça da seita não se importa em comprar pedalinhos em forma de patão para o sítio que já não é dele, conquanto que os vitimados pela corja não saibam do que se trata. Tentem ler desapaixonadamente a história da ascensão do comunismo em Cuba por exemplo. Não há.

Lula
O que há são histórias da carochinha contadas por um bando de vagabundos sem caráter, que amam endeusar figuras como aquelas duas múmias até hoje no poder. Tentem averiguar a veracidade do “Decálogo de Lênin”, por exemplo. De novo estamos na seara das implicações. Do mau jornalismo. Do achismo jornalístico. Da falta de verdade que nos permeia. Do falseamento dos fatos e das versões.

O que está em jogo hoje é se temos “polícia” ou não neste país; de que lado ela está e se uma quadrilha – pretextando uma legitimidade comprada com fartas doses de dinheiro público – pode continuar impune a delinquir, extorquir, ameaçar uma sociedade espoliada até o talo. O dia 13 é o dia que esperam as hostes petralhas – o bando; a sofisticada organização criminosa – para “sentir a temperatura da sociedade” e tentar um “calaboca” na Operação Lava-Jato.

Nunca é demais lembrar que falamos de “um juizeco de primeira instância da tribo dos Paranás” – na visão preconceituosa, ignorante e truculenta de um exército de Stédiles que acha que dominou o país com sua saliva . Isso já seria motivo suficiente para “colocar o gajo em seu devido lugar”, de preferência na cela ao lado dos opositores venezuelanos.

É o sonho de consumo dessa gente, meus caros. Implementar aqui um comunismo possível, com toda sorte de defeitos de fabricação que uma trapizomba parida na extinta URSS e trazida para cá num aperfeiçoamento rombudo, misto de monarquia absolutista com ditadura peruana, para finalmente amordaçar os “poucos” que insistem em defender a liberdade por aqui. Pois depende de nossa maciça presença no dia 13 nas ruas o aborto dessa ideia estúpida, dessa pretensão vagabunda, dessa nojeira que nos governa.

Penso que esta será – pelo menos para mim – a última das manifestações pacíficas a que temos direito. A próxima ou festejará a prisão do chefe da quadrilha (e dono dos pedalinhos em forma de patão) e o fim desse governo de vigaristas ou será a nossa Treblinka. Neste caso, a primavera árabe florescerá aqui mesmo. Minha panela de fritar frango já está a postos, reservada a um petralha. Qualquer um. O primeiro vigarista que me aparecer na frente. Questão de tempo para o linchamento. De mau tempo.

Um Estado que destrói a nação

O estado voltado para si próprio, despreparado para bem administrar o País, corporativo, preguiçoso, corrupto e distante da sociedade... Estado aqui entenda-se os poderes públicos em todas suas instancias, dos municípios até Brasília. Estado, segundo o Dicionário Houaiss (século XIII) é designado com simplicidade como "conjunto das instituições que controlam e administram uma nação".

A deterioração da situação fiscal brasileira e dos "nossos" políticos é gritante e, desde muito, é o fator que arrasta a nação para os porões da mal cheirosa moralidade pública... Um estado patrimonialista incapaz de observar seus limites e cumprir seus deveres para com a sociedade que sustenta sua preguiça e descompromisso com sua finalidade. O Brasil quer e precisa avançar. Mas, o estado é o maior obstáculo a ser vencido. Minado por corporações fétidas protegidas por uma legislação benevolente para com os "servidores públicos"...

Um estado autoritário e patrimonialista, demagogo e de aparência democrática, onde as contas públicas se deterioram cada vez com maior velocidade. Um estado onde ninguém é responsável por erros e roubos... Mas todos se inserem nos louros de conquistas. É preciso um estado competente, que custe o mínimo necessário e invista com parcimônia, propiciando uma vida digna para a população.

Nossos partidos e seus líderes pouco contribuem para que ocorram mudanças. Definem seus grupos e tratam primeiro de cuidar de si e de sua turma. Como já afirmara Frédéric Bastiat, economista francês falecido em 1850, "O estado é a grande ficção em que todos esperam viver às custas de alguém mais". O universo dos que produzem e geram riquezas cada vez mais é exaurido por aquele que abriga as ervas daninhas que sugam a seiva de uma árvore frondosa chamada Brasil. E nós, brasileiros, que com nosso trabalho e suor geramos emprego, renda, riquezas e impostos? O que será de nós?

Pergunte a eles

Gilberto Kassab, ministro das Cidades, Pezão, governador do RJ,
prefeito Quaquá, Rosangela Zeidan, mulher do prefeito e deputada,
 Míriam Belchior, presidente da Caixa Econômica Federal,
e Dilma Rousseff, há oito meses inaugurando  apartamentos sobre o brejo
Como o governo escolhe um brejo para construir as nossas casas?
Elizabeth Francisca, moradora de conjunto habitacional inundado em Maricá


Crise e transitoriedade

Não se deve lidar com problemas importantes como um ignorante, dizia Anton Chekhov. Vale lembrar dele neste instante (transitório, mas interminável) em que o Brasil não pode deixar de enxergar a sua mais profunda má-fé, a sua mais clara indisponibilidade para o bom senso e a sua mais abjeta vontade de poder.

A onipresença desses maus sentimentos confundem e fazem duvidar de nossa sabedoria, pois, sem nenhuma narrativa como guia, estamos confinados a uma santa ignorância. A ignorância de nós mesmos como uma nação de governantes sem caráter, a consciência trágica de um país que substituiu a fé pela mentira da propaganda política. Onde foram parar os políticos honestos e a nossa crença em nós mesmos?

De fato, a novidade desses tenebrosos tempos de crise, escândalos e roubalheiras em cascata é o desnudamento de nossa infinita crença de que “no final, tudo vai dar certo”. Que Deus é brasileiro e assim nos idealizamos como gente malandra, mas honesta; pobre, mas limpa; poderosa, mas repleta de generosa e doce alegria carnavalesca. Negra na pele, mas branca na alma – eis a suprema admissão de um povo preconceituoso e tão autocomplacente que jamais precisou de rotinas segregacionistas. Para nós, basta(va) o preconceito bem internalizado que, maternal e carinhosamente, engendra o roubo federalizado feito – como estampam os jornais – “dentro da lei!” e no âmbito de um conscientemente desonesto “eu não sabia...”.

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O instantâneo que captura décimos de segundo dessa dimensão infinita e insondável, a qual chamamos de “tempo”, revela algo que deveria ter um início, um meio e um fim, mas que a crise tende a perpetuar, recusando o tempo. E se o tempo feito de uma história que seria feita por nós não resolve, caímos no poço sem fundo de nós mesmos, donde o cheiro de podre que chega vem do contato imerecido, para a maioria sem riqueza e poder, com o denso cinismo dos poderosos.

Eis uma crise que, irmanada aos avanços do individualismo, da transparência e de uma enorme reação à igualdade como o valor central de uma democracia, tende a permanecer irresolvida. O que, como uma dor de cabeça, seria um evento excepcional tem raízes nas ambiguidades da lei, que protege os superiores, dos poderes que se suicidam digladiando-se e do caráter dos partidos e dos políticos, que estão no palco como confundindo verdade com mentira. E assim vamos ficando cada vez mais longe da redenção e a cada hora mais certos de pertencer a um país viciado em incestuosamente trair a si mesmo.

No Brasil de hoje, o transitório que, para Freud, era precioso justamente porque passava denunciando a finitude, o luto e a perda de algo que era nosso e do qual éramos obrigados a dizer adeus à força, banhados nas lágrimas da nossa melancolia, parece não ter fim.

O que motiva Freud, em 1915, em plena selvageria da Primeira Guerra Mundial a revelar o transitório como um fato sociopsicológico, foi a reação negativa de seus companheiros de passeio num belo dia de verão. O jovem poeta que o acompanhava (dizem que era Rilke) e o taciturno amigo que fazia parte da excursão (afirmam que era Andreas-Salomé) lamentaram esse instante de gozo de uma rara beleza, porque a paisagem iria dissipar-se como tudo o mais que é belo e desperta a consciência do inexcedível. Freud aponta o lado positivo do transitório e fala da sua efemeridade como algo que obriga a aceitar o fato de que nada é permanente. Não sendo deuses, vivemos num mundo de instantes e vislumbres, pois a desgraça que eventualmente nos atinge não estava prevista no passado dos “momentos mágicos” – como dizia um certo Lula –, os quais são hoje substituídos por vergonhas, escárnios e insultos à nossa inteligência.

Mas Freud não esqueceu o fato de que o transitório pode ser negativo e, mesmo na tragédia, permitir a quem sofre uma desgraça, ingratidão ou calúnia, esquecê-las e, em alguns casos, lembrar delas com indiferença ou por meio do que chamamos de “saudade”. A dor da perda parece infinita, mas, transformada em saudade, ela passa a ser um evento passível de ser lembrado porque encontrou um lugar no nosso coração.

Thomas Mann vai além e faz um “louvor à transitoriedade”. Para ele o transitório é a “alma do ser”, pois é quem engendra o tempo. Onde não há transitoriedade, princípio e fim, nascimento e morte, não há tempo; e a falta do tempo é o nada estagnado, tão bom e ruim como o desinteresse absoluto.

No caso desse nosso Brasil, barricado por uma crise sem o vislumbre da transitoriedade, como seria normal em todas as crises, pergunta-se: o que fazer quando o transitório não passa e suspende a passagem do tempo?

Sobre anéis e dedos


Uma das peças de resistência da presidente Dilma Rousseff tem sido a alegação de que seu governo se pauta de forma republicana, sem interferir no andamento de ações que investigam a ela própria ou seus aliados. De fato não havia, até agora, episódios significativos que contrariassem este argumento. Mas o sinal amarelo acendeu, com a substituição de José Eduardo Cardozo por um homem da confiança de Jacques Wagner, no Ministério da Justiça. Nitidamente a presidente cedeu às pressões do PT e de Lula, que viviam pedindo a cabeça de Cardozo, por considerá-lo um frouxo no monitoramento da Polícia Federal.

É mais um capítulo da “guerra-fria” entre Dilma e Lula. A relação entre a criatura e o criador lembra aquele casal pequeno burguês da Ópera do Malandro, obrigados a viver sob o mesmo teto “até que a casa caia, até explodir o ninho, até o fim dos dias”. Não se suportam, é verdade, mas um depende do outro para sobreviver.

A presidente sempre tem cedido, para prolongar o fim do casamento. Quer dizer, cede, sem ceder. Por pressão do seu criador, defenestrou o ministro Joaquim Levy. Manteve, porém, o essencial da política econômica e namora com medidas capazes de provocar infarto de miocárdio em muitos petistas: reforma previdenciária, teto para os gastos públicos, restrições a aumentos reais do salário mínimo.

A mesma dança pode ter acontecido, agora, na troca da guarda no Ministério da Justiça. Dilma pode ter entregado os anéis para preservar os dedos. Diante de um Lula às raias da loucura - capaz de tudo para limpar a sua folha corrida - concordou com a degola. Mas não nomeou como novo ministro quem seu criador e a cúpula petista desejavam: o deputado petista Wadih Damous, ex-presidente da OAB.

Damous era o homem escalado pelo lulopetismo para por um freio na PF, para “disciplinar” e “monitorar” suas ações, para submetê-la ao controle férreo do Palácio do Planalto, leia-se, dos interesses do caudilho de impedir os avanços das investigações.

Até certo ponto e grau, a opção de Dilma por um nome de perfil mais moderado, o procurador Wellington Lima, bem como sua decisão de manter, por ora, o chefe da PF, Leandro Daiello, não são coincidentes com os planos de um Lula impaciente e disposto a soltar seus cachorros para cima de sua criatura, se ela não o blindar suficientemente.

Dilma viverá, portanto, nova prova dos nove.

A Lava-Jato tem sua dinâmica própria. Suas investigações não são determinadas ou controladas pelo Planalto. A Polícia Federal tem sua autonomia funcional. Além disso, uma nova cultura vem se formando no país, graças à ação do Ministério Público, da Justiça e do próprio aparato policial. Nesta nova cultura, extremamente republicana, não há homem acima de qualquer suspeita.

Qualquer retrocesso terá impacto fortíssimo na sociedade, para não dizer na própria Polícia Federal. Já imaginaram uma greve da PF, contra ingerências nas investigações, na autonomia funcional da corporação? Seria um escândalo internacional.

Dilma sabe de tudo isto. O seu problema é que Lula só quer saber de salvar a sua própria pele. Exige demonstrações de “fidelidade” sob pena de autorizar o PT a tocar fogo no circo.

Vontade não falta, para muitos petistas. Segundo eles, Dilma traiu a causa. Ou, como disse o senador Lindemberg Farias, de forma pouco sutil: “a presidente escolheu uma pauta que vai contra os nossos”.

Diante do avanço da Lava-Jato, Lula não se contentará apenas com os anéis. Exigirá também os dedos: a transformação da PF e do Ministério da Justiça em correias de transmissão de seus interesses pessoais e partidários.

Ainda assim será pouco. Vai exigir também mudança de rota na política econômica. Nelson Barbosa que se cuide. E o novo ministro da Justiça também.

O sonho de consumo de Lula é ter no cargo um comissário mão de ferro, capaz de fazer tudo que o mestre mandar.

Só falta conferir se Dilma está disposta a se imolar para salvar Lula.

Não é a primeira vez que a tela do meu computador me desafia

Não é a primeira vez nem será a última que a tela do meu computador me desafia. Enfrentar de peito aberto esta nossa conversa semanal é, também, um ato de coragem. E, como qualquer cronista (ou, ao contrário, o que faço aqui está muito distante da verdadeira crônica?), sucumbo ao barulho ensurdecedor dos temas considerados hegemônicos. E a política, com certeza, é o maior deles.

E sempre (não aprendo a lição) aguardo ansioso que algo otimista surja em meio ao desânimo que abala aos poucos a confiança que ainda mantenho em nosso país. Procuro, então, a maneira menos traumática e, talvez, mais elegante para me dirigir a você, leitor. 

O desânimo a que me refiro tem como causa principal esta dolorosa realidade: a presidente Dilma Rousseff, depois, sobretudo, de fazer uso da mentira – por meio dela ou do seu guru da comunicação, enfim preso pela operação Lava Jato – para se reeleger presidente da República, está perdendo agora o apoio do PT, seu partido. E o PMDB, que seria seu maior aliado e detém as presidências do Senado e da Câmara, sonha, diariamente, em fazer oposição aos dois.

Para agravar ainda mais as crises política, moral e econômica, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é investigado pelo STF em sete inquéritos. Seis deles têm relação com a operação Lava Jato e um se refere ao caso Mônica Veloso, mãe de um dos seus filhos. Se o presidente do TSE, ministro Dias Toffoli, concordar com a Procuradoria Geral da República, que autorizou mais uma investigação contra Renan, por movimentação financeira suspeita, no valor de R$ 5,7 milhões, incompatível com seus rendimentos anuais, o alagoano comemorará o oitavo inquérito contra ele. Uma proeza!

Por sua vez, o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafia os Poderes Executivo e Judiciário. Não teme nada nem ninguém. Em outubro do ano passado, o STF autorizou inquérito contra ele, sua mulher, Cláudia Cruz, e sua filha Danielle, por se beneficiarem de recursos de quatro contas na Suíça. A PGR investiga a relação desse dinheiro com o esquema de propina da Petrobras, mas Cunha afirma que não tem contas no exterior. É, apenas, conforme disse, “usufrutuário em vida de ativos geridos por um truste”. E, anteontem, o procurador geral da República, Rodrigo Janot, requereu a abertura de novo inquérito contra ele baseado em delações premiadas.

Se o STF decidir (escrevo antes da sua decisão) que o deputado Eduardo Cunha deva ser processado por corrupção e lavagem de dinheiro subtraído da Petrobras, ele se tornará réu (de número 180) na operação Lava Jato. Se tal ocorrer, o STF também terá que decidir sobre seu afastamento definitivo, pois Cunha (pasme, leitor!) é o primeiro na linha de sucessão, depois do vice-presidente Temer, e isso implicará imediata eleição do seu substituto na presidência da Câmara Federal.

Finalmente, depois que a Lava Jato decidiu investigar se o ex-presidente Lula recebeu vantagens indevidas de empreiteiras, e um dia depois de demitir o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (em seu lugar, foi nomeado o promotor baiano Wellington César Lima e Silva, ligado ao ministro Jaques Wagner), a presidente Dilma se vê, pessoalmente, humilhada com a denúncia de que a Andrade Gutierrez pagou “por fora” despesas da sua campanha presidencial de 2010.

Atenção: se nós, brasileiros, de fato quisermos, poderá nascer desse lixo um novo país – ético, democrático e justo.

O futuro está em nossas mãos.

Superior à canalha

(Alberto) Fujimori (ex-presidente do Peru) utilizou a imprensa como arma para eliminar seus inimigos. Os poderes quiseram, sempre, ter o jornalismo do seu lado. Na democracia há uma diversidade que permite cotejar a informação e buscar a verdade. Essa é sua superioridade 
Mario Vargas Llosa

Lula, o corajoso covarde

Admirável a capacidade de líderes políticos do PT de manipularem fatos na tentativa de transformar uma coisa que lhes é desfavorável em outra que possa beneficiá-los – ou ao seu chefe. Não é de hoje.
Lula negou-se a comparecer para depor pessoalmente ao Ministério Público de S. Paulo que investiga o caso do tríplex do Guarujá, reformado de graça pela OAS para abrigá-lo e à sua família.

Preferiu depor por escrito, respondendo a perguntas que lhe seriam feitas. Lula não era obrigado a comparecer. O Ministério Público deu-se por satisfeito com as respostas que ele lhe enviou.

Naturalmente, isso não quer dizer que tenha acreditado nelas.
Que versão para o fato o PT se empenha em oferecer? Que Lula trombou com o Ministério Público. Que o desafiou. Que o afrontou na condição de líder político perseguido.

Foi o contrário. Com medo de depor, com medo de ser surpreendido por perguntas para as quais não teria respostas prontas, Lula preferiu não encarar o procurador que o havia intimado.

Não foi um gesto de coragem, mas de covardia.

O vício da corrupção

É uma história que acompanhei desde o começo através do entusiasmo de amigos como Hélio Pellegrino, Frei Betto e Henfil e de personalidades como Mario Pedrosa, Antonio Candido, Sérgio Buarque, Apolônio de Carvalho, que se orgulhavam de terem participado da reunião no Colégio Sion, em São Paulo, no dia 10 de fevereiro de 1980, quando foi aprovado por aclamação das cerca de duas mil pessoas presentes o manifesto de fundação do Partido dos Trabalhadores. O sonho era possível, pensava-se diante daquele movimento que reunia sindicalistas, intelectuais, professores, jovens, velhos, a geração de 68, todos os que tinham lutado contra o regime militar, mas também contra o autoritarismo do Partido Comunista e a herança populista de Vargas.


Vinte anos depois, Lula anunciava orgulhoso que o PT estava pronto para chegar ao poder com a bandeira da ética. Reconhecia que teria de desenvolver alianças, mas “sem jamais cair na promiscuidade política”. Bastaram mais dez anos para que ocorresse a perda da inocência. No dia 10 de fevereiro de 2010, quando os petistas festejavam o 30º aniversário, a repórter Soraya Aggege publicou uma corajosa entrevista do então chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, dizendo com todas as letras: “o vício da corrupção entrou em nosso partido”. E explicava que o PT, que nascera questionando as instituições tradicionais, acabara “se assemelhando aos outros partidos”.

Mais do que denúncia, era um alerta que, aliás, não adiantou muito. Esse vício é muito poderoso e, mais do que todos os outros, difícil de ser abandonado, porque não faz mal à saúde e é muito rentável. O cigarro e o álcool matam; já a corrupção dá dinheiro e só agora está dando cadeia no Brasil. Daí a dificuldade de combatê-la e até de reconhecê-la. Tanto que no evento comemorativo dos 36 anos do PT no último fim de semana, nenhum companheiro teve coragem de tocar no assunto, mesmo sabendo que ele continua atual e é responsável pelo desgaste do “partido da ética”. Hoje, de acordo com o Datafolha, 49% dos eleitores não votariam em Lula de jeito nenhum. Mas isso não o desanima, ao contrário. Ele aproveitou o encontro partidário para dizer que, “se for necessário”, aceita ser candidato em 2018: “estarei com 72 anos e tesão de 30 para ser presidente da República”. Como parte da campanha, mostrou sua força derrubando um suposto obstáculo, o ministro da Justiça, para com isso atingir também a PF. Ele sabe que, para alcançar seu intento, precisa provar aos investigadores da Lava-Jato que, apesar das aparências, não é dependente do maldito vício da corrupção. 

'Acordo com governo só defende patrimônio de mineradoras'

Para o Ministério Público Federal, o acordo anunciado nesta quarta-feira entre governos, Samarco, Vale e BHP Billiton "só se preocupa com o patrimônio das empresas e os reflexos financeiros sobre as mineradoras", e não com o meio ambiente ou as pessoas afetadas pelo desastre de Mariana (MG).

À BBC Brasil, o procurador Jorge Munhós de Souza, que atua na força-tarefa que investiga a tragédia causada pelo rompimento da barragem de Fundão, em novembro passado, classificou o anúncio feito no Palácio do Planalto como "injustificável" e "incompreensível".

Segundo ele, da maneira como foi apresentado, o texto "inviabiliza, na prática, o pagamento de multas pelas responsáveis pelo desastre".


De acordo com o anúncio, que teve a presença da presidente Dilma Rousseff, a Samarco deverá que desembolsar R$ 2 bilhões em 2016 e outros R$ 2,4 bilhões até 2018 na reparação dos impactos da tragédia ambiental, considerada a maior da história do Brasil. O acordo inclui as mineradoras e os governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo.

"O Ministério Público Federal tentou até o último momento entender essa negociação. Mas ela foi feita entre governo e empresas, éramos convidados em cima da hora e nunca recebemos a documentação técnica que embasou as decisões", diz Souza. "Agora trabalharemos para que o acordo não seja homologado judicialmente."

Em nota, a mineradora Vale disse que o "acordo de longo prazo assegura recuperação do meio ambiente e retomada da atividade econômica na região impactada".

Ainda segundo a companhia, uma das proprietárias da Samarco, dona da barragem que se rompeu, o texto "garante voz para as comunidades e estabelece programas baseados em estudos científicos".

A Procuradoria, entretanto, discorda. "Os afetados não tiveram nem chance de participar. Está claro que este é um acordo do poder público. Aconteceu em Brasília, e este é um dos principais problemas", diz o procurador.