terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

clayton

Jatos de lava

O ex-presidente Lula acaba de entrar no raio das investigações sobre o tráfico de influências em favor de grupos de interesse privados que teriam corrompido decisões públicas durante seu governo... e além. Começa a sentir na própria nuca o bafo quente de investigadores independentes que acreditam no aperfeiçoamento institucional de nossa ordem jurídica e, por consequência, de nosso sistema político.

O que lhe parece impertinente perseguição política é na verdade a exigência de uma sociedade aberta ante as dimensões vulcânicas da corrupção sistêmica. Suas evidências são como jatos de lavas lançados sobre uma classe política que há tempos nos deve forma decente de tratar a coisa pública.

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A erupção da Lava-Jato deve causar em 2016 muito calor, suor e lágrimas entre uma elite política que transformou o que deveria ser “presidencialismo de coalizão”, movido por princípios comuns de políticas públicas, em “presidencialismo de cooptação”, movido por propinas para apropriação indébita de recursos públicos.

Tem sido um enorme desafio a marcha institucional de saída do regime militar rumo à construção de uma sociedade aberta. Em meio a avanços e retrocessos, seguimos nesta trajetória de transição ainda incompleta.

Tudo foi deixado pela metade. Com a expansão ininterrupta dos gastos públicos como porcentagem do PIB, seguimos há décadas com o mais longo e socialmente desastroso programa de combate à inflação da história universal.

Com a escalada da inflação, dos juros, dos impostos e da taxa de desemprego, constatamos também a precariedade dos esforços de inclusão social que desconsiderem o aumento da produtividade da população por sua integração nas engrenagens da economia de mercado.

Somos prisioneiros dos limites cognitivos de uma obsoleta plataforma social-democrata. Perdemos nossa dinâmica de crescimento. Essa armadilha de baixo crescimento é o resultado da falta de sintonia de nossas lideranças políticas com as exigências da nova ordem global a uma democracia emergente.

Buscando apoio no oportunismo político de mercenários e nos interesses econômicos de maus empresários, essas despreparadas lideranças de inclinações “socialistas” acabaram transformando o “capitalismo de estado” do regime militar em um “capitalismo de quadrilha”.

O novo-rico ridículo com luxos de pequeno burguês arrogante

Atenção! Você, brasileiro médio, fica sem jeito por não entender o que é uma offshore? Encontra-se meio perdido quando a conversa trata de lobista, lobby e tal? A única coisa em que consegue pensar, no cotidiano de denúncias da roubalheira lulopetista, é que foi sempre assim? Disfarça que não compreende os nomes das fases da Lava Jato nem ela se chamar “a jato” durando quase dois anos? Tem patrimônio obtido com trabalho honesto e está em seu nome? Ora, seus problemas acabaram! Sim, agora, há um apartamento no rolo que o ajudará a entender que o jeca humilde é somente o álibi fajuto para que o jeca milionário leve uma vida de jeca milionário.

Mas, espere, não é só isso. Você também leva no lombo um sítio reformado e mantido pelos pagadores de propina! A humildade simulada foi útil e eficaz até ontem não só pelo fato de a grana vir de colossal roubalheira inédita, mas sobretudo porque nutria o mito de santidade protetor de um pecador miserável. Não é simples quem tem um tríplex, nem humilde quem se vale de um poder institucional para se favorecer pessoalmente porque isso é trapacear todos os brasileiros e se chama patrimonialismo; mais uma das doenças que sempre nos infelicitaram e que a súcia comandada pelo jeca agravou ou não triunfaria.


OK, o apartamento se chama tríplex, coisa não muito corriqueira para um brasileiro médio, mas continua sendo um apartamento com quarto, cozinha, sala e até um elevador privativo. Chique no último! Só que não: crime não é chique e é crime ocultar patrimônio, acusação que o Ministério Público faz ao jeca vitalizada pelas negativas vexaminosas de advogados e demais devotos. O fato de a OAS ter pagado tudo impõe a certeza: o tríplex de frente para aquele marzão besta tem vista para o petrolão.

Quem se escoraria numa figura dessas? Dilma Rousseff, o PT e a súcia inteira que buscou um projeto asqueroso pelo que foi bem paga. Também não é chique a arrogância da família em travar o elevador quando acompanhava as obras e a decoração, revoltando os outros moradores. Como presidente, a conduta seria outra demonstração da jequice no poder; sem ser presidente, ela demonstrou o poder da jequice. E aqui, a clareza solar do texto de J.R.Guzzo ilumina outro aspecto do retrocesso lá constatado: a crença mofada de uns poucos estarem acima de leis e regras a que nos submetemos na celebração do princípio que a todos iguala perante elas, e sem o qual a convivência civilizada se inviabiliza, também formata as relações cotidianas.

Esse mofo iguala gente autoritária de origem social diversa, convicta de que privilégios materiais ensejam os imateriais e que gentileza e respeito são obrigações de mão única; assim, considerar o direito alheio a destituiria da nobreza imaginária que, nobreza fosse, saberia mais conceder do que exigir. Para tristeza do jeca e dos devotos – nem elite, nem povo, mas apenas a escória – a Lava Jato desenha, para o tipo de brasileiro que Lula finge ser, o novo-rico ridículo com luxos de pequeno-burguês arrogante bancados pelo país que o farsante arruinou.

Direita esquerda, volver?

Não somos donos da nossa vida, não temos a liberdade desejada, não dispomos da nossa propriedade adquirida. Como vamos buscar a nossa felicidade?

Diziam que a ditadura militar era de direita. Dizem que o governo atual é de esquerda.

Vejam o que está ocorrendo no Brasil do PT, Dilma Rousseff repete todas as políticas adotadas pelo mais estatista, coletivista, socialista e intervencionista dos presidentes militares que o Brasil já teve, o Gal. Ernesto Geisel.

Alguém poderia chamá-lo de direita? Ou seria ele um representante da esquerda? Confuso, não é? Num caso ou noutro haveria uma polêmica superficial.

Não vamos saber o que cada um realmente representa se não polarizarmos, se usarmos conceitos vagos. Prefiro que sejamos mais claros: estatistas, coletivistas, socialistas ou intervencionistas, de um lado; livre-mercadistas, individualistas, capitalistas ou liberais, de outro. Desta forma, fica claro o que tivemos no passado e o que enfrentamos no presente.

O governo de Dilma Rousseff é tão estatista, coletivista, socialista e intervencionista quanto era o do Gal. Geisel. Ambos desrespeitaram nossos direitos, apropriando-se do que é nosso.

Lembro que em plena ditadura militar, o General Ernesto Geisel promulgou um decreto-lei, determinando que todo brasileiro, que quisesse viajar ao exterior, teria que fazer, antecipadamente, um empréstimo compulsório ao governo, sem o qual, não teria acesso legal à compra de passagens e dólares necessários para sua viagem.

Passados quase 40 anos, Dilma Rousseff, para cobrir o seu rombo federal, resolveu replicar algo semelhante, tributando, duplamente, a renda de quem gasta o seu dinheiro com turismo no exterior.

Exigir retenção de imposto sobre valor já tributado é o auge da desfaçatez.

Como o governo brasileiro não tem o direito de cobrar tributos sobre a renda de estrangeiros obtida no exterior, esse imposto retido na fonte não passa de cobrança em dobro, como se fosse substituição tributária.

Não apenas é ilegal. É absolutamente imoral.

Sugiro, a quem for viajar para fora, alegar para fins de isenção do imposto, que seus gastos com o turismo se enquadram nas exceções. A instrução normativa da Receita Federal prevê que, em viagens para fins de saúde e de educação, não haverá retenção.

Por que alegar tratamento de saúde? Porque sair do Brasil do PT, mesmo por poucos dias, é remédio contra a depressão.

Por que alegar que vai-se atrás de educação? Porque sair do Brasil do PT, mesmo por poucos dias, é curso de formação. Aprende-se, in loco, que existe civilização.

A zica do Planalto

Zica com “c” é uma gíria brasileira que significa mau agouro, azar, maldição, momento de baixo-astral, quando tudo dá errado. A origem da palavra não se sabe ao certo, mas há quem jure que seria uma contração da palavra ziquizira. Faz sentido. Não tem nada a ver com a zika, triste doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.Triste porque infecta o cérebro de bebês no útero materno, triste porque atesta nossa incompetência de país subdesenvolvido diante do mosquito que também transmite a dengue, triste porque pode atingir 1,5 milhão de pessoas no Brasil neste ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Cada fala da presidente Dilma Rousseff sobre a zika vira uma festa para humoristas e um constrangimento para a maioria da população – não, claro, para os militantes dilmistas, que a perdoam sempre e atribuem esses lapsos à pressão da dieta argentina ou da “inquisição medieval” contra ela e contra Lula. Dilma já chamou o mosquito de vírus. Dilma já chamou a zika de vetor. Dilma já disse que a doença é transmitida por ovos infectados por vírus. Dilma já inventou um outro inseto que seria especializado em zika, e que não seria o mesmo da dengue.
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Dilma também disse que “o Brasil não parou e nem vai parar” – e não vai mesmo parar de piorar enquanto ela achar que o inferno são os outros. A microcefalia do Planalto não permite que criatura e criador caiam na real. Dilma e Lula estão juntos na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. Juntos no idioma maltratado. Juntos na solidariedade a Zé Dirceu, o consultor-modelo que mais voou em jatinhos de empreiteiros e lobistas, abastecidos por propinas. Juntos no discurso de perseguição da “mídia”, da Lava Jato e dos delatores premiados.

Pode continuar a trocar o ministro da Saúde, o ministro da Fazenda, o ministro do Planejamento, o ministro da Educação (aliás, por onde anda Aloizio Mercadante, qual será seu bloco escolar este ano?). De nada vai adiantar essa dança das cadeiras ministeriais para agradar a um ou outro partido. Não são eles os mosquitos vetores que contaminaram o Brasil com uma ziquizira da qual será muito difícil sair. O da Saúde, Marcelo Castro, formado em psiquiatria, depois de espalhar piadinhas de mau gosto com mulheres grávidas, cometeu o pecado fatal: foi sincero. Marcelo Castro disse que o Brasil “está perdendo feio” a guerra contra o mosquito – e isso é o fim da picada, não é, presidente?

Dilma não convive com a sinceridade. Seu governo não erra. Aliás, “se erra”, como admitiu há alguns meses, erra pouco e sem maldade – e tudo tem conserto. Erra porque foi vítima. Suas amigas, do gênero Erenice Guerra, também sempre acertam. Se erram, é por ingenuidade ou por falta de memória. A ex-ministra Erenice é ingênua, dá para sentir. E nem lembra quem pagou viagens aéreas dela. Dilma também já se esqueceu de muitas canetadas nessa roda-viva de Petrobras, Casa Civil, Presidência da República. Seu problema não foi o mosquito, mas a mosca azul.

Para a mosca azul não há antídoto nem vacina. A mosca, num passe de mágica, tira as contas do vermelho num gráfico ilusório, com a sua, a nossa ajuda. Uns bilhões do FGTS aqui, outros da CPMF ali, e pronto. O país fica cor-de-rosa, a cor dos programas eleitorais do PT. Só que não, a conta não fecha mesmo assim, porque o Estado brasileiro é voraz e gigantesco. Não há foco na redução do tamanho. Só no aumento de taxas, impostos e contas de serviços públicos. A dívida pública federal terminou 2015 em R$ 2,793 trilhões. A dívida – assim como o Brasil – não vai parar.

Diante do Conselhão de quase uma centena de empresários, empreendedores, banqueiros e autoridades – sem a presença incômoda da imprensa –, Dilma lançou um plano de sete medidas para liberar R$ 83 bilhões em crédito para habitação, agricultura, infraestrutura, pequenas e médias empresas. A maior parte desse dinheiro viria do FGTS. Crédito para um país em recessão, que não acredita na capacidade do governo para enfrentar a crise. Dilma disse que, para “a travessia a um porto seguro”, a CPMF é “a melhor solução disponível”.

Não existe nem espaço para o crédito moral, quando se vê Lula, o fiador de Dilma, acuado por delações que o envolvem em reformas milionárias e obscuras de imóveis como o tríplex do Guarujá ou o sítio de Atibaia – hoje amaldiçoados. Na vida real, os juros batem recorde e famílias endividadas precisam refinanciar seus débitos porque não podem lançar mão do dinheiro alheio. O Solaris não nasce para todos. A zica que contaminou o país tem origem na Capital.

Salário de fome

Sem falsa modéstia, R$ 120 mil (por mês) é irrisório
José Dirceu, portador de um "atestado de honestidade" da Receita Federal

A desunião nacional


O Congresso parou antes de iniciada a segunda quinzena de dezembro do ano passado. Só recomeça a trabalhar a 15 de fevereiro. Natal, Ano Novo, recesso e por último Carnaval imobilizaram as atividades parlamentares.

Enquanto isso, a crise avança, tanto política quanto econômica e social. As denúncias de corrupção seguem cada vez mais escandalosas, mas o Legislativo dá de ombros. E não apenas ele. O Judiciário comporta-se no mesmo ritmo de tempos atrás, sempre atrasado. O Executivo nada produziu em termos de combate ao desemprego galopante, o aumento de impostos, taxas e tarifas, além da vertiginosa elevação do custo de vida. Assim como da estagnação.

Indaga-se até onde poderá chegar a falência de nossas instituições, com cada poder da União sem curiosidade a respeito do que faz o outro, ou deveria fazer. Os presidentes do Congresso, da República e do Supremo Tribunal Federal deveriam reunir-se todas as semanas, conscientes de que são comuns os problemas a enfrentar. Não dialogam, não equacionam, muito menos se preocupam com as questões que obrigatoriamente precisariam enfrentar em conjunto. Praticam a desunião nacional.

Faz muito que os três Poderes deixaram de ser harmônicos e independentes. Até mesmo o Executivo legisla, o Judiciário executa e o Legislativo julga. O resultado é que nenhum cumpre o seu destino. No máximo perdem-se em tertúlias desimportantes, acusando-se muito mais do que cooperando. Com todo o respeito, Dilma Rousseff, Renan Calheiros e Ricardo Levandowski são competentes apenas porque competem e não chegam a lugar algum. Melhor seria saírem de cena, mas substituí-los por outros iguais, praticando o mesmo modelo, equivaleria a trocar seis por meia dúzia.

A hora seria de ampla reforma institucional, com uma Constituição capaz de recompor as funções dos três poderes, unidos e interligados, ainda que sem a predominância de um deles. No passado, Roma foi gerida por dois triunviratos, redundando em guerra civil e na prevalência do mais forte ou do mais esperto. Também já tivemos Juntas Militares, quando as forças armadas não conseguiam entender-se em torno de um general. Não deu certo, logo ocupando a chefia aquele que tivesse mais tanques.

Em suma, não sabemos por onde ir, mas conhecemos muito bem o contrário: sabemos por onde não ir. No caminho que hoje trilhamos..
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Carlos Chagas

Escandalização de denúncias prejudica imagem do país

Getúlio Vargas matou-se por causa de uma campanha anti-corrupção onde ele era o epicentro. Governou o Brasil por 15 anos e mais 4 no segundo Governo. Deixou de herança um apartamento de 3 quartos na Tijuca e 1/5 de uma fazenda em São Borja que herdou do pai, general Manoel Vargas.

Juscelino Kubtschek, construtor de Brasília, pintado pela mesma imprensa de hoje como a “7ª fortuna do mundo”, morreu e deixou a muito digna viúva dona Sarah com recursos mais que medianos, depois de certo tempo dona Sarah teve que vender quadros que estavam na parede do apartamento para se manter.


Mario Andreazza, poderoso ministro dos Transportes do Governo Militar, contratante de incontáveis obras de rodovias e pontes, era cantado em prosa e verso pela imprensa como multimilionário. Morreu e seu singelo enterro foi bancado por amigos. Andreazza, militar de carreira, não era só ministro dos Transportes, fazia parte do núcleo central de poder.

O hoje quase imortal Delfim Netto teve seus tempos de fama de corrupto, atacado por uma mídia ávida de escândalos em torno de um certo “relatório” onde se afirmava que ele cobrava 10% em obras. Hoje, o sábio ex-Ministro vive e sempre viveu uma modestíssima vida de classe média em São Paulo. Mandou nas finanças do Brasil como poucos e não enriqueceu, vilipendiado por décadas assim como Roberto Campos, outro que se foi desta vida legando um simples apartamento no Arpoador que já era dele há 40 anos e um Opala velho, mas sempre no visor das acusações da mídia inconsequente.

O Brasil e o Chile são os dois países de menor índice de corrupção na América Latina, não é frase de efeito.

Os 13 presidentes da República Velha, depois Getúlio, Dutra, Café Filho, Carlos Luz, Nereu Ramos, JK, Janio, Jango, Castelo, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo saíram do poder como entraram, alguns adquiriram bens mas nada fantástico, enquanto os presidentes do PRI mexicano saíam do governo com US$1 a 2 bilhões cada um, em um acordo tácito de cúpulas onde se permitia tal feito e parte do pacto era sair do México depois que deixassem a Presidência.

Na Argentina, Perón saiu com US$ 200 milhões, em moeda de hoje seriam bem mais que US$1 bilhão, no Paraguai Stroessner saiu multimilionário, Odria no Peru, Marcos Perez Gimenez na Venezuela, Somoza, Trujillo e os cubanos Gerardo Machado e Fulgencio Baptista, os dois Duvalier, por toda a América Latina o enriquecimento dos poderosos é a regra, no Brasil a tradição é bem mais modesta e muitos, incontáveis ministros poderosos, saíram como entraram.

Os filhos engenheiros do presidente Médici vivem de seu trabalho em empregos mais que médios, fui amigo de um digno militar, chefe do Estado Maior do Exército, vida simples em casa simples, é uma tradição do militar brasileiro, sinto dizer que é bem diferente no resto da América Latina.

O Brasil deveria se orgulhar do conjunto de seus homens públicos, mas hoje, graças à escandalização, estamos sendo apresentados ao mundo em termos de corrupção africana com grave prejuízo à imagem do País.

Lula trata os brasileiros como se fossem uns idiotas!

Sem despesas pessoais, pelo menos, durante os 8 anos em que governou o país, e tendo recebido rios de dinheiros de empreiteiras para fazer palestras e, desconfia-se, lobby, nada mais natural do que Lula dispor de renda suficiente para comprar um tríplex com vista para o mar na praia do Guarujá, e reformar seu sítio em Atibaia, interior de São Paulo.

Mas não é disso que se trata. Trata-se do que existe de escandaloso, de imoral, de agressão à ética pública em se aceitar “agrados” de empreiteiras fornecedoras do governo.

Vejam que nem falo da suspeita de que as reformas do seu apartamento no Guarujá e do sítio em Atibaia serviram para que a OAS e a Odebrecht o remunerassem por fora.

Caberá ao Ministério Público e, mais tarde à Justiça, dizer se a suspeita tinha cabimento ou não.

Um homem público não pode aceitar regalos de quem quer que seja, muito menos de quem está sujeito aos efeitos de suas possíveis decisões.

É por isso que mesmo um presidente da República, ou principalmente ele, é proibido de receber presentes que excedam determinado valor.

A condição de ex-presidente ou de ex qualquer coisa que dependa do voto, não libera ninguém da obrigação de se comportar com sobriedade, bom senso, e respeito ao que manda a lei ou o consenso social.

Lula não é um ex-homem público. Continua sendo um homem público. E costuma apresentar-se como a “alma viva mais honesta” do país.

Ou, num surto de modéstia incontida, como uma das almas vivas mais honestas. De resto, como ele mesmo admite, ainda poderá ser candidato à presidência da República. Seria a sexta vez.

Só um idiota acreditará na história de que a OAS gastou mais de um milhão de reais para reformar um tríplex que poderia ou não vir a interessar a Lula.

Ela o reformou, sim, para atender às exigências do casal Lula da Silva, que só renunciou ao mimo porque a maracutaia acabou descoberta.
Quanto ao sítio, onde a Odebrecht gastou, pagando com dinheiro vivo, mais de R$ 500 mil: certamente Lula dirá que não lhe pertence. Que está registrado em nome de dois sócios de um dos seus filhos.

Isso significa que a Odebrecht gastou uma boa nota com um sítio de terceiros só porque o ex-presidente, de vez em quando, lá se hospeda.

Quanta generosidade! Quanto cinismo!

Em respeito à inteligência coletiva, recomenda-se a Lula que invente outra desculpa para a reforma do sítio de Atibaia. A do tríplex não colou.


Existe lula pequena
lula média e até gigante;
e meu amigo, acredite
existe lula falante

Não é nada disso

Há coisas que, para entendermos, basta um pouco de lógica formal. Se o mundo se recupera, se até a Argentina volta a crescer e, além de nós, a Venezuela é o único país sul-americano a perigo, como a economia internacional pode ser considerada a exclusiva culpada pela nossa crise? E se a China é a vilã responsável pela nossa desgraça, por que permitimos que nossa economia, ao longo dos últimos anos, se tornasse tão dependente do que acontece por lá?

Em Lisboa, num certo fim de noite de algum vinho, um amigo meu, professor em universidade local, desabafou irritado me dizendo que não entendia por que os brasileiros viviam pondo a culpa nos portugueses pelo atraso do Brasil, quando nós somos independentes desde 1822. Fingi não ter ouvido, meu amigo estava até sendo gentil pois, na verdade, somos uma nação desde 1808, há mais de dois séculos.

Entre nós, o estrangeiro é sempre o culpado de tudo. Talvez porque precisamos vencer o trauma da incompetência, justificar nossa impotência, explicar sem culpa o nosso atraso. Primeiro foi o colonialismo português, depois as grandes nações europeias, finalmente o imperialismo americano. A estratégia não é original. Joseph Goebells, o marqueteiro de Hitler, já havia ensinado que, para unir um povo com agressividade em torno de uma mesma causa, nada como nomear um inimigo externo que seria o responsável por nossos males. Quando o nazismo botou a ideia em prática, ela gerou o Holocausto.

Esta semana, mandei para aquele professor lisboeta o número de janeiro da revista “Piauí”, recomendando a leitura de reportagem sobre um certo brasilianista americano que eu não conhecia. Tendo sido professor na Business School da Universidade de Nova York, o economista Nathaniel Leff dedicou parte de sua vida a estudar a história econômica do Brasil, tentando entender o mistério de nosso atraso crônico. Ele publicou o livro “Subdesenvolvimento e desenvolvimento no Brasil”, editado em 1982, com ensaios produzidos entre o final dos anos 1960 e o início dos 70.

Na primeira metade do século 19, o Brasil tinha um PIB próximo ao dos Estados Unidos, mas concentrado nas poucas mãos de fazendeiros extremamente conservadores. Segundo Leff, o país se tornou uma máquina de produzir gente “barata”, uma abundância de trabalhadores não qualificados que custavam pouco e consumiam nada. “Uma industrialização baseada no mercado interno”, diz ele com ironia, “precisa, como condição prévia, de um mercado interno”.

Desde 1862, com a aprovação do Homestead Act pelo Congresso americano, quem ocupasse terras sem dono por mais de cinco anos se tornava seu proprietário, fosse nascido nos Estados Unidos ou não (levas de imigrantes começavam a chegar ao país). No Brasil, no Império e na República, as terras sempre pertenceram ao Estado, que cobrava caro por elas, além de exigir pagamento à vista. Não tendo como comprá-las, os trabalhadores corriam ao fazendeiro mais próximo e vendiam por nada sua força de trabalho. “No caso brasileiro”, escreve Leff, “interesses de classe eram tão obviamente distintos que é razoável questionar a validade de se usar a ‘nação’ como unidade de análise”.

Leff aponta a passagem do século XIX para o XX quando, há algum tempo, o Brasil não era mais uma colônia, como o momento em que o país organiza, por sua própria conta, a síndrome de seu atraso. Ali, quando finalmente o país começa a fazer crescer sua malha de transporte (um dos principais motivos de nosso subdesenvolvimento era a falta de integração econômica, ocasionada pelos altos custos do transporte, num país imenso sem estradas ou ferrovias), ela é implementada para atender às necessidades exclusivas dos grandes proprietários de terra da época, os trogloditas do café.

Apesar de os números serem outros, não sei se Leff consideraria a situação de hoje muito diferente daquela. Os culpados pelo “desenvolvimento do atraso brasileiro” somos nós mesmos, submetidos ao poder dos poucos que disputam o resultado do butim nacional. Ninguém tem nada a ver com isso, somos nós os desinteressados pelo país.

Debret, o pintor da Missão Francesa do século XIX, registrou a metáfora desse desinteresse em célebre gravura saudada como singela ilustração da verve brasileira. Nela, um aristocrata nacional, protegido do sol pela sombrinha de um escravo, faz xixi na via pública contra um muro de rua, uma metáfora histórica de como os grandes tratavam o país. Hoje, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), sabemos que o Brasil só universalizará a coleta de esgoto em 2053. Se fosse vivo, Debret ainda poderia pintar muito xixi de poderosos.

Cacá Diegues

Os 15 desafios invisíveis que ameaçam a vida no planeta

Uma das ilhas artificiais criadas pela China recentemente.

Já nos alertaram no passado sobre o aceleradíssimo declínio da população de elefantes e rinocerontes nas mãos de caçadores furtivos, a legalização do uso de drogas recreativas ou o uso da genética para erradicar os mosquitos que transmitem doenças como a dengue ou o zika. Riscos – e oportunidades– emergentes que, como todos os anos, um painel de especialistas se encarrega de apontar para ajudar a identificar os fatores que podem ser decisivos para a vida no planeta. Fenômenos que hoje parecem estranhíssimos ou de ficção científica, mas que num futuro próximo podem acabar moldando o mundo.

Neste ano, também fizeram a lista dos 15 “problemas com relevância mundial e conhecimento limitado dentro da comunidade de cientistas, responsáveis políticos e profissionais dedicados à conservação e restauração da biodiversidade”, como resumem esses especialistas, coordenados por William Sutherland, professor da Universidade de Cambridge e presidente da British Ecological Society. Inteligência artificial, suplementos de testosterona, o novo cenário no Ártico provocado pelo aquecimento ou a energia azul estão entre os assuntos cujas consequências não devemos ignorar.