sábado, 30 de janeiro de 2016

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O silêncio cúmplice da oposição

Mais espantoso que as revelações da Lava Jato – sequentes e ininterruptas há meses - é o profundo silêncio que lhes devota a oposição. É como se não lhe dissesse respeito.

A operação chega aos calcanhares do ex-presidente Lula, revela doações de dinheiro roubado da Petrobras à campanha eleitoral da presidente Dilma, e não se ouve manifestação alguma daqueles que têm por missão institucional fiscalizar o governo.

Não há dúvida de que essa passividade patológica explica a sobrevivência do governo, que, em circunstâncias normais, já teria caído – e levado alguns de seus principais integrantes à cadeia.

Lá já estão alguns dos mais íntimos amigos do ex-presidente Lula, gente com quem conviveu estreitamente durante e depois de deixar o governo. Um deles, José Carlos Bumlai, foi distinguido com acesso permanente, “em qualquer hora ou circunstância”, ao gabinete presidencial, privilégio não explicado e inédito na história.

E o que extraía dessa intimidade? Segundo a Lava Jato – e segundo seus próprios depoimentos -, facilidades para negócios escusos, envolvendo dinheiro público, na escala dos bilhões.

Bastaria, porém, a intimidade promíscua do acesso irrestrito ao presidente da República – e somente isso - para desencadear um turbilhão de justificadas suspeitas e provocar, no mínimo, uma CPI e mesmo um pedido de impeachment.

Na época, porém, pareceu banal, como, aliás, tudo o mais. Ora, se ninguém se espanta com o índice de mais de 50 mil assassinatos anuais no país – índice de guerra civil -, que se repete há mais de uma década, o que dizer de meros ladrões engravatados? Afinal, argumenta-se, corrupção sempre houve, é coisa antiga, não foi inventada pelo PT etc.

O mesmo poderia ser dito por um homicida, lembrando que se trata de delito antigo, inaugurado por Caim. Portanto, se sempre se fez e se sempre se fará, não se trata de crime, mas de mero culto à tradição. Eis a lógica vigente. A banalização do mal, de que falava a filósofa Hannah Arendt, traduz e resume o Brasil de hoje.

Uma entidade como o MST, sem personalidade jurídica – e, portanto, insusceptível de processo -, invade propriedades produtivas, destrói laboratórios de pesquisas, mata e faz reféns, e nada lhe acontece. Seu líder, João Pedro Stédile, circula dentro e fora do país, dá entrevistas e merece honras de chefe de Estado. Por meio de verbas governamentais, repassadas a ONGs, mantém sua milícia, que Lula trata como um “exército” particular.

A bola da vez é o tríplex de Lula, no Guarujá. Ele nega, contra todas as evidências, ser seu proprietário. Repete o estratagema consagrado por seu aliado Paulo Maluf: nega tanto que chega a ter dúvidas sobre se é realmente o dono.

O apartamento não é fato isolado: há, ainda, o sítio de Atibaia, o duplex de São Bernardo e os R$ 27 milhões acumulados de “palestras”, as mais bem remuneradas de toda a história humana. Tudo deriva da Petrobras, da Eletrobras, dos fundos de pensão, da Bancoop – numa palavra, do dinheiro alheio.

Poupo o leitor dos detalhes operacionais, monótonos de tão repetitivos - e que inundaram a imprensa nas últimas semanas; a rigor, nos últimos anos. Importa registrar que, apesar das evidências, Lula não está sequer denunciado.

Deu ao dito de Sócrates – “só sei quenada sei” -, que traduzia humildade perante o conhecimento, versão espúria que o velho sábio grego jamais imaginaria possível.

A ausência de espanto é o grande espanto que o país provoca. E aí cabe voltar à oposição: por que o silêncio? Ainda que tivesse perdido o senso moral, não perderia o senso de oportunidade, inerente à ação política, sobretudo em ano eleitoral.

Deduz-se então que teme alguma coisa, que também tem o que ocultar, suspeita já instalada, à espera de refutação.

Afora a ação individual e isolada de um ou outro parlamentar, sem respaldo partidário, não se faz nada. O PSDB é o autor da ação contra a campanha de Dilma no TSE, mas não investe em seu resultado. Não diz nada.

O governador do Amazonas, José Melo, acaba de ter seu mandato cassado pelo TRE, por – imaginem! – compra de votos e desvio de dinheiro público para sua campanha eleitoral. É o mesmo delito que condenou o ex-governador tucano Eduardo Azeredo – e diversos outros prefeitos e governadores.

Segundo a lei, não importa se o titular da campanha sabia ou não do que ocorria: é o responsável e responde pelo delito – exceto, claro, se for do PT. É o que se deduz da intocabilidade de Dilma. Sua campanha de reeleição foi brindada com R$ 100 milhões de dinheiro da Andrade Gutierrez, roubados da Petrobras, segundo delataram executivos da empresa ao juiz Sérgio Moro e ao Ministério Público.

Segundo contaram, foram achacados pelo hoje ministro da Comunicação Social, Edinho Silva (tesoureiro daquela campanha), e seu hoje assessor Giles Azevedo. Não é denúncia isolada.

Há outras, similares – como a do dono da UTC, Ricardo Pessoa -, mas bastava essa. Não obstante, o governador Geraldo Alckmin, fazendo coro a diversos correligionários e juristas de aluguel, repete que “não há motivo para o impeachment”.

O Brasil, sob o PT, tornou-se um país desmotivado: não encontra motivo para coisa alguma – nem para se espantar.

Do Aedes aegypti à Tsé-tsé

A crise brasileira é um fato internacional. Dentro dos nossos limites, estamos puxando a economia mundial para baixo. Nossa queda não impacta tanto quanto a simples desaceleração chinesa. Mas com alguma coisa contribuímos: menos 1% no crescimento global.

Na crise da indústria do petróleo, com os baixos preços do momento, o Brasil aparece com destaque. Cerca de 30% dos projetos do setor cancelados no mundo foram registrados aqui, com o encolhimento da Petrobrás. Dizem que os brasileiros eram olhados com um ar de condolências nos corredores da reunião de Davos. Somos os perdedores da vez.


Diante desse quadro, Dilma diz-se estarrecida com as previsões negativas do FMI. Quase todo mundo está prevendo uma crise de longa duração e queda no PIB. Centenas de artigos, discursos e relatórios fortalecem essa previsão. Dilma, se estivesse informada, ficaria estarrecida por o FMI ter levado tanto tempo para chegar a essa conclusão. Ela promete que o Brasil volta a crescer nos próximos meses. No mesmo tom, Lula declarou aos blogueiros amestrados que não existe alma viva mais honesta do que ele. Não é recomendável entrar nessas discussões estúpidas. Não estou seguro nem se o Lula é realmente uma alma viva.

A troca de Levy por Barbosa está sendo vista como uma luta entre keynesianos e neoliberais. Pelo que aprendi de Keynes, na biografia escrita por Robert Skidelsky, é forçar um pouco a barra acreditar que sua doutrina é aplicável da forma que querem no Brasil de hoje. É um Keynes de ocasião, destinado principalmente a produzir algum movimento vital na economia, num ano em que o País realiza eleições municipais. É o voo da galinha, ainda que curtíssimo e desengonçado como o do tuiuiú.

O Brasil precisa de uma década de investimentos vigorosos, para reparar e modernizar sua infra. Hoje, proporcionalmente, gastamos nisso a metade do que os peruanos gastam.

O governo não tem fôlego para realizar essa tarefa. Isso não significa que não haja dinheiro no Brasil ou no mundo. Mas são poucos os que se arriscam a investir aqui. Não há credibilidade. O populismo de esquerda não é uma força qualquer, ele penetra no inconsciente de seus atores com a certeza de que estão melhorando a vida dos pobres. E garante uma couraça contra as críticas dos que “não querem ver pobre viajando de avião”.

Em 2016 largamos na lanterna do crescimento global. Dilma está estarrecida com isso e a mais honesta alma do Brasil diz “sai um lorde Keynes aí” como se comprasse cigarros num botequim de São Bernardo do Campo.

Aos poucos, o Brasil vai se dando conta da gravidade da epidemia causada pelo Aedes aegypti. Gente com zika foi encontrada nos EUA depois de viajar para cá. As TVs de lá martelam advertências às grávidas. Na Itália quatro casos de contaminação foram diagnosticados em viajantes que passaram pelo Brasil. O ministro da Saúde oscila entre a depressão e o entusiasmo. Ora exagera o potencial das campanhas preventivas, ora reconhece de forma fatalista que o Brasil está perdendo feio a guerra para o mosquito. Com nossa estrutura urbana, é quase impossível acabar com o mosquito. Mas há o que fazer.

Não se viu Dilma estarrecida diante da epidemia. Nem a mais honesta alma do Brasil articulando algo nessa direção. Solução que depende do tempo, a vacina ainda é uma palavra mágica.

No entanto, estamos nas vésperas da Olimpíada. Os líderes que a trouxeram para o Brasil, nos tempos de euforia, quase não tocam no assunto; não se sentam para avaliar como nos degradamos e como isso já é percebido com clareza lá fora.

A Economist publica uma capa com Dilma olhando para baixo e o título: A queda do Brasil. Na economia, área em que as coisas andam mais rápidas, não há mais dúvidas sobre o fracasso.

A segunda maior cidade do Rio, Estado onde se darão os Jogos, simplesmente quebrou. Campos entrou em estado de emergência econômica, agora que os royalties do petróleo parecem uma ilusão de carnaval.

O problema dos salvadores do povo é que não percebem outra realidade exceto a de permanência no poder. Quanto pior a situação, mais se sentem necessários. Os irmãos Castro acham que salvaram Cuba e levaram a um patamar superior ao da Costa Rica, por exemplo. O chavismo levou a Venezuela a um colapso econômico, marcado pelas filas para produtos de primeira necessidade, montanhas de bolívares para comprar um punhado de dólares. Ainda assim, seus simpatizantes dizem, mesmo no Brasil, que a Venezuela está muito melhor do que se estivesse em mãos de liberais.

O colapso, a ruína, a decadência, nada disso importa aos populistas de esquerda. Apenas ressaltam suas boas intenções e a maldade dos críticos burgueses, da grande mídia, enfim, de qualquer desses espaços onde acham que o diabo mora. O Lula tornou-se o símbolo desse pensamento. Na semana em que se suspeita de tudo dele, do tríplex à compra de caças, do petrolão às emendas vendidas, chegou à conclusão de que não existe alma viva mais honesta do que ele.

Aqueles que acreditam num diálogo racional com o populismo de esquerda deveriam repensar seu propósito. Negar a discussão racional pode ser um sintoma de intolerância. Existe uma linha clara entre ser tolerante e gostar de perder tempo. O mesmo mecanismo que leva Lula a se proclamar santo é o que move a engrenagem política ideológica do PT. Quando a maré internacional permitiu o voo da galinha, eles se achavam mestres do crescimento. Hoje, com a maré baixa, consideram-se os mártires da intolerância conservadora. Simplesmente não adianta discutir. No script deles, serão sempre os mocinhos, nem que tenham de atacar a própria Operação Lava Jato.

Considerando que Cuba é uma ditadura e a Venezuela chega muito perto disso com sua política repressiva, como explicar a aberração brasileira?

Certamente algum mosquito nos mordeu para suportarmos mentiras que nos fazem parecer otários. Não foi o Aedes aegypti. A tsé-tsé, quem sabe?

A desgraça da mentira

Janeiro ainda?! Saudades de 2015

Na boquinha de se abrir o berreiro carnavalesco, o folião treina em blocos o sucesso do ano: "Ei você aí/Me dá um dinheiro aí..."

Momentos de alegria? Quem dera. O pula-pula nas ruas, o esgoelar-se, a bebedeira serão a tentativa de exorcizar-nos da urucubaca petista.

Se o mês mostra que a situação está pior do que no mesmo período do ano passado e as perspectivas honestas e confiáveis são de que o país fica em maior escuridão com o passar dos dias, há que se preparar para nova leva de desastres.

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Como os tempos são carnavalescos nas ruas e nos palácios, câmaras, tribunais, a gente vai levando... e tomando.

Governos como este daqui nem mudam nem mudarão para o bem público. No máximo, trocam de fantasia. Tiram a gasta, já manjada, para vestir outra ... esfarrapada, mas purpurinada.

Esperava-se milagre? Transformar mula em gente? Criminoso em beato? Nem Deus resolveria essa mudança. Não por não poder, mas para não avacalhar de vez Sua criação e até ser culpado de conivente com o erro, quando Sua ficha limpa só tem acerto. Seria desonesto da parte Dele assinar embaixo da roubalheira: Deus.

A porcaria é nossa e temos a obrigação de limpar. Não esperemos dos outros o que é trabalho nosso. Vai-se chorar o ano que passou, sim, mas que se tenha a dignidade de pegar logo no esfregão e fazer a faxina, que Ele ajuda.


E o que está esperando? Dê seu grito de Carnaval contra a roubalheira. Ao menos, isso.

Ideologia da trambicagem, uma vocação brasileira

É preciso admitir. O brasileiro sofre de vocação do trambique, que é a tradução perfeita dos siameses jeitinho e corrupção. Não me refiro apenas aos corruptos que enxameiam os poderes executivo, legislativo e judiciário. Falo dos pequenos e permanentes trambiqueiros: falo daqueles que furam fila, desrespeitando os que ordeiramente esperam sua vez; falo daqueles que estacionam seus carros nas vagas dos idosos ou dos deficientes físicos; daqueles que avançam o sinal e não respeitam as faixas de pedestres. Falo daqueles que ultrapassam os limites de velocidade, trafegam pelo acostamento e ultrapassam pela direita. Falo daqueles que condenam a corrupção, falam em cidadania, em decência, em caráter, mas que, no fundo, gostariam de pertencer à turma dos trambiqueiros. Falo também dos brasileiros que votam nos políticos envolvidos em processos de improbidade, peculato ou falta de decoro. Falo, enfim, de todos que trambicam – e disso fizeram o seu modo de ser.

Não, não me refiro aos notórios corruptos. Nem da justiça que não os trancafiam no xilindró. Falo daqueles que apoiaram o AI-5, sabiam que havia tortura e morte nos porões da repressão, e hoje fazem cara de paisagem quando se discute se a tortura é passível ou não de anistia. Falo de ex-ministros da ditadura que não se envergonham de falar, em tom de crítica, do “regime autoritário”, confiantes de que o Brasil e os brasileiros não têm memória. Falo das pessoas que usam o celular enquanto dirigem. Falo daqueles que cospem no chão. Falo de todos que são incapazes de um gesto de ternura.


Falo de todos que repetem clichês, como direitos humanos, desenvolvimento sustentável, igualdade, democracia, paz, transparência, mas agem na contramão de tudo que apregoam. Falo daqueles que mantêm os arquivos da ditadura inacessíveis a todos nós. Falo dos professores que não se autorrespeitam e dos estudantes que compram diplomas, agridem professores e se orgulham de nunca ter lido um livro sequer na vida.

Não, não falo apenas daqueles que fazem jogadas no mercado financeiro. Falo dos magistrados que negam habeas corpus a uma mulher que pixou paredes do Museu de Arte Moderna de São Paulo, mas são rápidos em ordenar a libertação de corruptos e criminosos. Falo dos brasileiros que poluem as praias, provocam incêndios criminosos, são traficantes de animais silvestres, de mulheres, de crianças, de órgãos humanos, de armas e drogas. Falo contra as autoridades brasileiras que estimulam o não saber, a incultura e a ignorância. Falo das autoridades que reduzem os impostos dos automóveis, mas não fazem nada semelhante em relação aos livros e às artes em geral.

O trambique é a fraude das fraudes. O trambique age sorrateiramente, faz parte da cultura brasileira, soma-se à ideologia do “primeiro eu”, do “tirar vantagem em tudo”, da “farinha pouca meu pirão primeiro”, do “depois de mim, o dilúvio”, do “sabe com quem está falando”, do “meu cargo me dá esse direito”, do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. O trambique impregna e mutila o caráter nacional brasileira, age como uma lagarta que rói as folhas das plantas.

Falo, enfim, das elites brasileiras, que deram as costas ao povo brasileiro. Que enxergam no povo uma espécie de carvão, a ser queimado e gasto na produção. Falo das autoridades que dão maus exemplos. Falo dos donos do poder e do poder dos donos. Falo dos embusteiros. Falo daqueles que riem alegremente quando o presidente utiliza palavras chulas e expressões vulgares em meio a discursos que deveriam ser sérios. Falo dos comentaristas políticos de meia tigela, que bajulam o poder. Falo dos analistas econômicos que, em razão da crise, querem o fim das leis trabalhistas, mas nada falam sobre os lucros exorbitantes dos bancos, das grandes empresas e das remessas ilícitas de lucros para o exterior.

Falo dos arrastões, dos políticos que se dizem preocupados com o desemprego, mas recebem verbas ordinárias e extraordinárias – sem a necessidade, comum aos mortais, de prestar contas e devolver o excedente. Falo dos brasileiros que estão conformados com o que fomos, somos e seremos – o país do futuro, do carnaval, do futebol, da cervejinha gelada, do cafezinho requentado, do pão de queijo borrachudo.

Falo, enfim, dos brasileiros que aceitam com resignação a mais vergonhosa das nossas heranças históricas: a consciência da trambicagem.

Lula e Dirceu vivem sob regime da 'amigocracia'

O Ministério Público e a Polícia Federal ficam aí falando mal de Lula e Dirceu, mas na verdade eles só merecem admiração. Numa espécie de autodelação, os dois confessaram ter cometido o crime da amizade. Tornaram-se amigos seriais. Está certo, dá dinheiro. Dá muito dinheiro. Dá dinheiro demais. E essa é uma das misérias desse tipo de delito. Porque o brasileiro é invejoso. Não suporta a prosperidade alheia. Sobretudo quando ela é exorbitante.

Em depoimento ao juiz Moro, Dirceu admitiu que a reforma de sua residência, estimada em R$ 1,8 milhão, foi mesmo bancada pelo lobista Milton Pascowitch, um dos delatores do escândalo da Petrobras. Pascowitch foi tão generoso em troca de quê? “Da relação de amizade que ele tinha com Dirceu”, disse Roberto Podval, advogado de Dirceu, ecoando declarações feitas por seu cliente ao juiz.

O doutor Podval acrescentou um palpite pessoal: “Se você perguntar para mim em troca de quê [Pascowitch pagou a milionária reforma], eu vou te falar: em troca de vender a amizade de Zé Dirceu.” Nessa versão, Dirceu é vítima. Sofreu uma exploração indevida da amizade que nutria pelo lobista. Pobre homem rico!

Dirceu também admitiu ao juiz ter utilizado o jatinho de outro amigo-lobista, Julio Camargo. Fez isso uma, duas, três, quatro, cinco… 113 vezes. Coisa normal, disse o advogado, “prática de uma vida inteira''. Como assim? “Ele voou, os aviões foram cedidos.” Heimmm?!? O doutor recitou as palavras do seu cliente: Ele “disse que na 'minha vida inteira os aviões sempre foram cedidos, por ele [Julio Camargo], por outros'.''

A Procuradoria e a PF estimam que, no total, Dirceu recebeu R$ 11,9 milhões dos seus amigos da Lava Jato. Imagine-se a quantidade de vezes que seu imaculado nome foi indevidamente explorado para cavar negócios na Petrobras!

Simultaneamente, a assessoria de Lula divulgou nota oficial para confirmar que, noves fora o triplex do Guarujá, de cuja titularidade abdicou, o ex-presidente dispõe de um aprazível sítio para as horas de descanso, em Atibaia. A propriedade é de “amigos da família.” Foi reformada pela companheira Odebrecht. Mas sobre isso a nota silencia.

Os amigos proprietários do sítio se chamam Jonas Suassuna e Fernando Bittar. Ambos são sócios do primeiro-filho Fábio Luís da Silva, o Lulinha. Um indício de que o crime da amizade é hereditário. Quem sai aos seus não endireita.

Diz a nota: “Embora pertença à esfera pessoal e privada, este é um fato tornado público pela imprensa já há bastante tempo. A tentativa de associá-lo a supostos atos ilícitos tem o objetivo mal disfarçado de macular a imagem do ex-presidente.'' Quer dizer: a exemplo de Dirceu, Lula é vítima de suas amizades.

A imprensa deveria se ocupar de outra denúncia: brasileiros endinheirados estão adotando como amigos, clandestinamente, personalidades do PT e adjacências, recobrindo-as de mimos. Dão preferência aos cardeais petistas, que passam a viver numa espécie de Pasárgada particular, sob o regime da 'amigocracia'. A discriminação é evidente: por que excluir o resto dos brasileiros? O preconceito é intolerável.

Dilma deveria pensar no lançamento de um programa novo: ‘Meu amigo, Minha Vida’. Afinal, todos têm direito a desfrutar de um jatinho no hangar, um triplex na praia e um sítio a 50 quilômetros da metrópole. Ou locupletam-se todos ou o povo vai acabar cansando de se fingir de bobo pelo bem do Brasil.

Os últimos governos e o caos moral, político, econômico e social

O meu primeiro contato com as urnas se deu nas eleições presidenciais de 1960. Muito novo na época, era aceitável debitar-me aos arroubos da juventude o entusiasmo que externava pela candidatura de Jânio Quadros. Afinal, na idade de então, cursando a Faculdade de Direito de Minas Gerais, que já não permitia o velho e dedicado Samuel soar-lhe os sinos famosos porque o austero prédio que os abrigava havia sido demolido por um diretor insano, era pouco mais que um adolescente. E os moços tendem à generosidade, ao idealismo, à proteção dos mais fracos e dos oprimidos.

O edifício ainda inacabado transbordava de agitação que decerto lhe comprometia as estacas de sustentação. De um lado, apoiava-se o ex-governador de São Paulo com todos os seus trejeitos de político populista, despido de qualquer intenção séria com a nação que pleiteava governar, mas com o discurso farto do enganador empedernido, que se amparava nas eleições para desferir o golpe de Estado, de modo a legitimar-se com o governo autocrático que sonhava instalar.


Contou seu ex-chanceler Afonso Arinos, em almoço oferecido certa feita pelo governador Francelino Pereira, que o político mato-grossense, após um despacho no Planalto, foi até uma janela de vidro de onde se divisava o Congresso Nacional e disse-lhe: “Sr. chanceler, eis ao fundo a Casa do povo. Se este a invadisse, que faria a nação para defendê-la? O mesmo que os ingleses diante da invasão de Westminster?”. Nada mais se falou.

O deplorável nacionalismo ignorante foi propagado com os tiques de expressiva parte de seus companheiros de farda – que, na verdade, eram mais pelegos do que soldados das Forças Armadas. No meio de tudo, um matreiro PSD, que não tinha nenhuma dúvida da derrota do candidato Henrique Lott, e uma UDN sequiosa, que dizia acreditar na pregação em favor de um governo democrático forte, com as togas desligadas de um verdadeiro Estado de direito.

A onda cresceu, e Jânio levou a palma. A partir daí, a agitação tomou conta do país e dos desejos de desforra com os quais muitos queriam vingança desde os acontecimentos dos anos 20 e, mais tarde, da Revolução Constitucionalista e do golpe de 1937.

Esgotado o Estado Novo, veio a reconstitucionalização de um país que queria democracia, em confronto com a retórica nacional-populista dos restos getulistas. Tudo acabou nos governos discricionários dos anos 60, 70 e 80, que desembocaram na frustração causada pelas forças do destino e nos caprichos dos deuses.

Provavelmente, se a nação não tivesse sido golpeada pelos acontecimentos das vésperas da posse de Tancredo Neves e os fados ajudassem, o primeiro ato da Nova República seria a institucionalização do Estado democrático de direito, não como único passo, mas como o inicial de várias esferas sem as quais a democracia não floresce, a República não se agiganta e as instituições ficam sujeitas a mortíferas paralisias.

Em pouquíssimo tempo, interregnos se passaram, um ainda em andamento. Desses, o mais operoso foi o de Fernando Henrique Cardoso. Infelizmente, comprometeu-se com o segundo mandato, não se incluindo o primeiro, o melhor de todos. O de Sarney, ora, melhor seria não ter existido. Itamar Franco, apenas para completar, nunca seria eleito pelo povo. As duas outras candidaturas, Deus dos meus descendentes, nunca mais, seja piedoso conosco. A não ser que, de tantos pecados cometidos, não reste alternativa.

Lula começa campanha para derrubar Deus

Os evangélicos cortaram definitivamente as relações com Lula. Estão chocados com as declarações do ex-presidente de que é mais honesto do que a igreja deles. O pastor Silas Malafaia, líder espiritual de milhares de crentes, foi o primeiro a esbravejar na rede social: “Piada! Lula roubou o discurso de Paulo Maluf. ‘Não existe gente mais honesta que eu’. Vai ser cínico lá no raio que o parta, um palhaço mentiroso”.

Lula continua insistindo que é honesto. Se diz o homem mais honesto do mundo. Mais do que Deus, que o Papa, que a Justiça e que as igrejas pentecostal e católica. É mais honesto do que Zé Dirceu, Delcídio, Vaccari, Delúbio e Vargas, a sua tropa de choque que está na cadeia. Lula se mostra também um homem sem impurezas, de alma honesta. Nem o Papa é tão honesto quanto ele. É possível que a essa altura Lula já teria desistido de uma provável campanha presidencial em 2018 para fazer um intensivão e virar santo. É um curso rápido para chegar lá em cima com a possibilidade de substituir Deus com as credenciais de ter sido, na terra, o homem mais honesto, o grande benfeitor da humanidade, um homem sem mácula.

É bem provável que não passe nem pelo purgatório, um departamento intermediário que limpa os pecados depois de interrogar o candidato a uma vaga no céu. Lula, a estrela maior da honestidade, não passará pela triagem obrigatória, vai direto ao encontro de Deus, a quem dirá cara a cara ser pretendente ao seu trono.

Na terra negou tudo, não existiu. Diante de Deus é capaz de dizer que foi o melhor presidente do Brasil. E negar que é dono de um tríplex no Guarujá, que não conhece o presidente da OAS. Negar que ele reformou seu apartamento na beira da praia e um sítio no interior do São Paulo. Que não conhece Zé Dirceu e os diretores da Petrobrás. Que não ficou rico – fortuna comprovada de 53 milhões de reais, segundo o fisco -, e que, por fim, nunca foi sindicalista.

Com essa plataforma de campanha tentará mudar o quadro político lá de cima, convertendo os aliados de Deus em opositores. Lula vai organizar no céu um partido que represente os petistas honestos que um dia subirão já redimidos dos pecados que cometeram aqui na terra. Mas só ingressa nessa nova agremiação quem for, comprovadamente, honesto como ele, uma missão quase impossível, mas que ele promete cumprir.

No entanto, diante das injúrias contra os evangélicos, certamente terá uma oposição aguerrida para barrar suas pretensões de virar Deus, a julgar pelas críticas também do líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Sóstenes Cavalcante, deputado federal: “Lula diz que não tem ninguém mais honesto que ele, até o diabo ficou revoltado com ele, otário falastrão, cínico. Os tempos mudaram. As pessoas não são mais desinformadas. Sabem que essa é uma estratégia sua para se descolar do PT, que é um partido de ladrões. Ladrões condenados pelo STF”.

Como se vê, Lula terá sérios problemas para convencer esse exército evangélico que se diz representante de Deus na terra, de que teria sido o homem mais honesto do universo. E, com essa proposta de honestidade, derrubar o Homem lá de cima.

Como estará o apoio a Dilma em abril?

Janeiro se foi. O Congresso está prestes a retomar suas atividades. Passado o carnaval, o Planalto estará de novo às voltas com a batalha do impeachment. Mas muitos analistas estão convencidos de que a presidente tem razões de sobra para se tranquilizar. Com a intervenção do STF e o fortalecimento da resistência ao impeachment na base aliada, especialmente no Senado, o risco de afastamento da presidente teria desaparecido. O impeachment estaria enterrado de vez. Será?

É curioso que, em geral, esses mesmos analistas contemplam cenários extremamente pessimistas. Vislumbram grave aprofundamento do quadro recessivo e persistência da inflação muito acima da meta. Assustam-se com o crescimento explosivo do endividamento público e com o brutal aumento adicional de desemprego previsto para os próximos meses. E alarmam-se com a paralisante falta de perspectiva com que se debatem investidores, empresas e famílias, descrentes de que a presidente possa retirar o país da colossal crise econômica em que o meteu.


A percepção de desgoverno vai muito além da política econômica. Um bom exemplo é o que vem ocorrendo na área da Saúde. Dilma parece ter se dado conta, afinal, de que o ministro da Saúde — nomeado de afogadilho em outubro, em desesperada manobra para reforçar o apoio do PMDB na Câmara — não tem envergadura para enfrentar os enormes desafios com que o governo vem tendo de lidar na área. Mas terá Dilma condições de demitir o titular do ministério de maior orçamento na Esplanada, num momento político tão delicado, sem risco de um desabamento sério no castelo de cartas a que está reduzido seu apoio parlamentar? Claro que não. As urgências da Saúde terão de esperar.

Seja pelo aprofundamento da crise econômica, seja pela paralisia administrativa, justo quando a eficácia das políticas públicas se faz mais necessária, o Planalto não terá como evitar forte desgaste político nos próximos meses. O tempo conspira contra a presidente. Alguns meses mais podem lhe ser fatais. E é bem possível que o Congresso não se pronuncie sobre o afastamento de Dilma antes de abril. Em que estado estará a imagem da presidente em abril?

Há também que se ter em conta o desgaste adicional que advirá da longa e estreita relação de Dilma com a Petrobras. Há cerca de um ano e meio, na campanha presidencial de 2014, Dilma ainda não se dera conta das proporções do desastre que se abatera sobre a Petrobras. Ainda se congratulava por seu envolvimento de mais de uma década com a empresa: “Quem olhar o que aconteceu com a Petrobras nos últimos dez anos e projetar para o futuro, conclui que fizemos um grande ciclo. Eu estive presente em todos os momentos”. (“Folha de S. Paulo”, 2/7/2014)

Seja pela percepção cada vez mais nítida de quão devastadora foi a gestão da empresa no período, seja pelo fluxo cada vez mais intenso de revelações constrangedoras da Operação Lava-Jato, seja pelo avanço de ações judiciais que vêm sendo movidas no exterior contra administradores da empresa, a presidente está fadada a ficar cada vez mais desgastada com o descalabro da Petrobras. Em que estágio estará esse desgaste em abril?

Por sólidas, precisas e bem embasadas que sejam as razões formais que deram lugar ao pedido de abertura do processo de impeachment, ao fim e ao cabo, o julgamento de Dilma será político. A presidente será julgada pelo conjunto da obra. Em instigante artigo na “Folha de S. Paulo”(21/1), Marcus André Mello resgatou oportuna citação de Gerald Ford, o desajeitado presidente que foi guindado à Casa Branca quando Richard Nixon se viu obrigado a renunciar para evitar o impeachment: “um delito merecedor do impeachment é todo aquele que dois terços da Câmara de Deputados considerarem que assim seja, com a concordância do Senado”. Como o conjunto da obra de Dilma será avaliado pelo Congresso em abril?

A verdade é que ainda falta muito para que o impeachment chegue a seu desfecho. E a presidente bem sabe que, quanto mais demorado for o processo, mais provável será seu afastamento.

Lula não está acima da lei. Ninguém está

Nada atesta melhor o atraso político de certas cabeças coroadas da República do que a reação extemporânea e insolente a notícias ou a meras suspeitas em torno do possível envolvimento do ex-presidente Lula com fatos investigados pela Operação Lava-Jato.

Voltou a acontecer ontem quando a Polícia Federal, autorizada pelo juiz Sérgio Moro, saiu à caça de provas e de pessoas, dessa vez ligadas a um eventual esquema de offshores criadas para enviar ao exterior dinheiro desviado da Petrobras.

Todos os apartamentos do condomínio Solaris, em Guarujá, São Paulo, podem ter servido à prática de lavagem de dinheiro – entre eles um tríplex reformado pela construtora OAS para ser ocupado por Lula e sua família. Eles teriam desistido da compra.

Natural que áulicos e admiradores sinceros de Lula defendam sua honra. Se até eles se omitissem o que sobraria do ex-líder metalúrgico que, no passado, acusou, revoltado, o Congresso de abrigar mais de 300 picaretas, e a política de ser feita à base da ladroagem?

Patética, contudo, é a maneira como procedem de hábito. Em um país onde, pela primeira vez, a Justiça parece não distinguir entre poderosos e pés rapados, quer-se que a Lula seja conferido um tratamento especial. Como se ele estivesse acima da lei. Como se merecesse estar.

Que bom que não está. E que bom que nem ele e nem ninguém mereça um tratamento especial. Convenhamos: isso é prova para lá razoável de que, embora a um ritmo lento, finalmente avança entre nós a intolerância com a corrupção e com os gestores irresponsáveis.

É preciso bani-los do nosso meio.

A rua

Bem sei que, muitas vezes, 
O único remédio
É adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem,
A dívida, o divertimento,
O pedido de emprego, ou a própria alegria.
A esperança é também uma forma
De continuo adiamento.
Sei que é preciso prestigiar a esperança,
Numa sala de espera.
Mas sei também que espera significa luta e não, apenas,
Esperança sentada.
Não abdicação diante da vida.

A esperança
Nunca é a forma burguesa, sentada e tranquila da espera.
Nunca é figura de mulher
Do quadro antigo.
Sentada, dando milho aos pombos.

Cassiano Ricardo 

O apelo de Dilma


Dilma Rousseff foi enfática no apelo. "Eu preciso do conselho", disse. "Conto com vocês", insistiu. "Da minha parte, podem esperar toda a disposição do mundo para ouvir e dialogar", prometeu.

Parecia campanha eleitoral, mas era a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão. Esquecido por mais de um ano e meio, o órgão acaba de ser ressuscitado para tentar ajudar o Planalto a romper o isolamento político.

A primeira tarefa da presidente não será fácil: buscar apoio da chamada sociedade civil para um pacote que inclui a recriação da CPMF e a reforma da Previdência.


Dilma tentou limpar o terreno com um anúncio simpático. Mesmo quebrado, o governo dará um jeito de injetar R$ 83 bilhões na economia, com recursos do BNDES e do Fundo de Garantia. A abertura de novas linhas de crédito atende às cobranças cada vez mais duras de Lula e do PT.

No entanto, o principal do pacote são medidas impopulares para reequilibrar as contas públicas, o que inclui a volta do antigo imposto do cheque. "Muitos aqui podem ter dúvidas e até mesmo se opor a essas medidas, em especial à CPMF. Mas eu peço, encarecidamente, que reflitam sobre a excepcionalidade do momento", suplicou a presidente.

Dilma precisará de sorte para unir capital e trabalho em torno dessa agenda. Os empresários não querem ouvir falar em mais tributos, e os sindicalistas já prometeram greves se o governo mexer nas aposentadorias.

Mesmo que o Planalto consiga o aval do Conselhão, quem tem poder para aprovar o pacote é o Congresso, onde o ambiente continua hostil. O comando do PMDB, por exemplo, fez questão de esvaziar a reunião e ignorar o apelo presidencial.

Enquanto Dilma discursava em Brasília, o vice Michel Temer viajava em turnê partidária na região Sul. Em Curitiba, ele evitou a agenda do governo e indicou que seu partido está mais interessado em eleger novos prefeitos em outubro.

Bernardo Mello Franco

Entenda como o governo do PT tenta se perpetuar no poder

Sponholz trata da deterioração moral e intelectual do PT após dez anos no poder
As perspectivas da economia brasileira são tenebrosas. A escalada da dívida pública indica uma irresponsabilidade administrativa sem precedentes. A crise é tão grave que vai implicar num retrocesso jamais visto neste país. Um ano já se passou, e nada – mas nada mesmo – foi feito para enfrentar a recessão. Ficou claro que o governo não se importa com o país. A única prioridade do PT é se manter indefinidamente no poder, como se isso fosse possível e aceitável.

Muitos oposicionistas perdem tempo em denunciar uma suposta comunização ou bolivarização do país, com base em teorias conspiratórias que beiram o ridículo, envolvendo o Foro de São Paulo e outras fantasias. A realidade, porém, é muito diferente.

Os dirigentes petistas são basicamente sindicalistas que nunca se submeteram a influências ideológicas. Quando chegaram ao poder, fizeram questão de marginalizar e expurgar os quadros de maior capacidade intelectual. O resultado, como se vê, foi catastrófico. Como diria Oswaldo Aranha, hoje o PT é um deserto de homens e ideias. A única obsessão de seus dirigentes é o sonho ensandecido de permanecerem no poder, sustentados por duas bases principais – de um lado, o aparelhamento da máquina estatal; de outro, os programas sociais que distribuem recursos públicos sem a menor fiscalização e produzem votos em profusão. Simples assim.

Contra a crise econômica e social, não há projeto algum, o governo do PT pouco se importa com o retrocesso que o país está vivendo, mas contra o impeachment houve a preocupação de montar um esquema praticamente infalível, dividido em diversos flancos:

1) através do aparelhamento do Supremo, tumultuar juridicamente o processo da Câmara, meta que está em curso vitoriosamente, levando o impeachment para as calendas, como se dizia antigamente;

2) usar Eduardo Cunha como fator diversionista, atribuindo-lhe a culpa por existir o processo de impeachment, para tirar do foco das discussões as pedaladas fiscais e os decretos ilegais;

3) contar com o apoio irrestrito do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que mantenha o fogo cerrado sobre Cunha e trate com total leniência aliados corruptos como o senador Renan Calheiros;

4) através da repartição dos cargos do governo pelos partidos da base aliada, evitar que haja quorum na Câmara para condenação de Dilma, caso falhe o esquema montado no Supremo;

5) transformar Ciro Gomes num agente perturbador da política, para estabelecer o máximo de confusão e desviar as atenções que deveriam estar voltadas ao processo de impeachment.

6) comprar o apoio da grande imprensa, o que até está saindo barato, porque a mídia atravessa uma de suas piores crises e enfrenta graves problemas de solvência.

Tudo o que está escrito aqui é rigorosamente verdadeiro e do conhecimento de todos, só faltava a consolidação das partes para que se vislumbrasse a estratégia como um todo. E a conclusão é de que o esquema contra o impeachment realmente é de grande engenhosidade e parece ser a única iniciativa do governo que está funcionando à perfeição.

Neste esquema anti-impeachment, é claro, o Supremo desempenha um papel primordial. Para manter o foco em Eduardo Cunha, o Planalto recentemente vazou a informação de que o ministro Ricardo Lewandowski, como presidente do STF, teria sinalizado que não há elementos para afastar o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara.

Ligado diretamente ao Supremo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tem cumprido a missão com forte desempenho. Em 16 de dezembro, pediu ao STF o afastamento cautelar de Cunha, sob argumento de que o presidente da Câmara faz uso do cargo para atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato e as apurações do Conselho de Ética, que analisa o pedido de cassação de seu mandato.

Era uma jogada para as arquibancadas, porque Janot limitou-se a alinhavar acusações, sem apresentar provas consistentes. Com essas lacunas na denúncia, é óbvio que o Supremo então tem argumentos para manter Cunha na presidência da Câmara, agindo para que os holofotes da imprensa possam ser mantidos sobre o deputado, que funciona como uma espécie de anteparo para a presidente, ao atrair as atenções do noticiário.

Por fim, quanto à comunização ou bolivarização do governo e do PT, trata-se de denúncias destinadas a entrar para o folclore político. Os petistas não têm e jamais terão a mínima competência para conduzir um projeto de tamanha envergadura. Para eles, continuar no poder é o que basta.

'Boom' do Brasil que aprende na tela

Aprender inglês pelo celular no caminho de volta para casa, dentro do ônibus, ou probabilidade estatística na fila do banco pelo tablet. O avanço das tecnologias, somado às mudanças no perfil dos alunos, que já não aguentam mais ficar horas sentados recebendo informação dos professores nas tradicionais salas de aula, impulsionaram o crescimento do ensino a distância (EAD) no mundo todo. Somente no Brasil, o segmento apresentou um salto significativo nos últimos cinco anos, com o surgimento de diversas startups voltadas para os mais variados níveis educacionais, desde o ensino básico até a pós-graduação e o treinamento corporativo. Nesse período, o número de matrículas em EAD cresceu 70%, passando de 2,2 milhões de alunos em 2005 para mais de 3,8 milhões em 2015. Os dados são da Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed).

Em um país de dimensões continentais, onde o acesso à sala de aula em regiões afastadas dos centros é bastante dificultado, onde menos de 20% dos alunos que concluem o ensino médio chegam às universidades, onde a falta de flexibilidade do horário de trabalho inviabiliza que muitos profissionais dediquem o tempo demandado por cursos tradicionais de especialização, parece natural que o modelo de ensino a distância tenha crescido exponencialmente nos últimos anos.

São os cursos livres, que não emitem certificação, no entanto, os que mais contribuíram para a evolução do ensino a distância, fator que está diretamente ligado à popularização dos MOOCs (Masive Open Online Courses) mundo afora. Os MOOCs nasceram como videoaulas gratuitas e abertas para quem quisesse acessá-las, gravadas por professores universitários de renomadas instituições, como Harvard e MIT, durante suas tradicionais aulas presenciais. O conteúdo era disponibilizado no site das universidades e até no YouTube e viraram febre entre os usuários de internet de todo o mundo.

Aproveitando o conteúdo disponível online dessas universidades, muitasstartups lançaram sites que reuniam esse material e os transmitiam aos seus usuários. A mais conhecida delas é a Coursera, fundada por professores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, em 2011, em parceria com outras 17 instituições de ensino. O Brasil, contudo, é hoje o quarto maior usuário do Coursera. Dos 16,5 milhões de alunos cadastrados, 700.000 são brasileiros. Por conta disso, a plataforma começou até a legendar seus cursos em português.

O sucesso do Coursera não demorou a inspirar startups brasileiras a fazerem o mesmo. Em 2012, por exemplo, nasceu o Veduca, site que reúne MOOCs de universidades internacionais e nacionais de renome, como USP e Unicamp. O site conta com 300 cursos livres de 20 instituições de ensino e mais de 800.000 alunos cadastrados. “Nos primeiros quatro meses que ficamos no ar, recebemos 50.000 usuários cadastrados e 270.000 visitas únicas”, conta um dos sócios-fundadores, Marcelo Mejlachowicz. O crescimento da startup chamou a atenção de investidores e a empresa chegou a receber 3,5 milhões de dólares de grandes fundos de investimento globais, como Bolt Ventures e 500 stratups. Com o investimento, a Veduca conseguiu colocar no ar 15 cursos no formato MOOC e, mais recentemente, lançar seus dois primeiros MBA online, que são direito a certificado reconhecido pelo Ministério de Educação (MEC).

Governo tem que sair em defesa do brasileiro

Se ainda restava alguma dúvida, não existe mais nenhuma. O governo, quem sabe com as rezas fortes do coroinha Gilberto Carvalho, talvez até entre com um pedido no Vaticano para a canonização inédita de um santo em vida.

No cúmulo de falta de vergonha na cara, basta as investigações da Lava-Jato apertarem o cerco à família e principalmente a Lula, para a gentalha governista por a mão no fogo pela santidade. É Deus no céu, e Lula no Brasil. 

Com a peculiar distorção petista e governamental, Dilma, o chefe da Casa Civil, Jacques Wagner, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, foram unânimes e ligeiríssimos em sair na defesa incondicional do ex-presidente. Os três não se deram conta de que servem para defender o brasileiro e não um único brasileiro.

Lula já é bem grandinho e hoje, graças ao sacrifício do povo brasileiro, possui dinheiro suficiente para pagar a defesa própria e de familiares. Não precisa que o governo também se vire em blindagem a qualquer investigação ou condenação ao Grande Honesto. Que a presidente se dedique a assuntos sérios como defender o brasileiro dela própria.

Afinal cadê a justiça pública de Dilma com os outros brasileiros? Foi ligeria em defender os sobreviventes de Mariana? Ou os miseráveis presidiários em Barreinhas? Como a mãe dos pobres socorreu imediatamente as grávidas ameaçadas de ter filhos com microcefalia? Combateu efetivamente o Aedes para não causar mais sofrimento?

A lista é grande de defesas do brasileiro que deveriam ser tomadas pór Dilma, mas que se negou a fazer esse trabalho como presidente e brasileira. Preferiu se calar e os problemas morreram nas páginas da mídia. E agora basta uma operação policial colocar em risco a honestidade de Lula para a presidente sair do trono em defesa do seu criador.

Fede longe esse gesto indefensável. O mesmo acontece em ditaduras consolidadas. Alguém se atreveria a condenar Kim Il-sung, o Grande Líder, avô de Kin Jon-Un, o Grande Sucessor? Morreram todos os que criticaram Papa Doc, no Haiti, durante o reinado de terror, de Baby Doc.

Vamos decretar aqui que ex-governantes petistas e alidados, ou meros comparsas, são imunes à Justiça? Se estamos num Estado de Direito, como tanto defende Dilma, por que usar o cargo para defender apenas o incólume honestildo?

Será que os não defendidos por Dilma são desonestos ou não brasileiros? Certo é que são honestos com maiúscula, o que não se pode dizer de seus governantes com tais atitudes.