sábado, 23 de janeiro de 2016

Os mais ricos

mario

A aposta de Lula

Lula tem pressa. Tem pressa em voltar. Está chateado com o que é sussurrado sobre ele, como demonstrou em seu recente encontro com um grupo de jornalistas, com sua contundente declaração de inocência: "Não há uma alma viva mais honesta que eu".

O ex-presidente Lula durante encontro nesta quarta-feira com jornalistas e blogueiros.Heinrich Aikawa/Instituto Lula

Sua astúcia política lhe diz que o Brasil não vai bem. Em seu foro interno, está convencido de que isso está ocorrendo porque não lhe deram ouvidos. Sua receita econômica é simples: menos ajuste e mais crédito, mais crescimento, mais consumo, mais emprego, mais diálogo político. Seria tão simples assim?

O medo é de que os pobres que haviam começado a desfrutar do fruto proibido da abundância possam ser expulsos do paraíso devido à crise.


Lula quer voltar a demonstrar que sua receita do passado continua funcionando. Tem pressa em declarar que será candidato em 2018 ou antes, se a Presidenta Dilma tiver que sair.

Está convencido de que voltaria a ganhar se fosse candidato, porque seria apoiado pelos pobres e pelos ricos ao mesmo tempo. Pelos pobres, porque continua vivo o axioma de que ninguém pode entendê-los como ele, que os ajudou a sair da pobreza. Pelos ricos, porque confiam em sua intuição política, e porque nunca foram tão ricos como quando ele estava no poder. Quando os bancos ganharam tanto?

Afirmou que atualmente é o palestrante mais bem pago pelas empresas, porque foi quem tirou "mais pobres da miséria". E as empresas precisam de consumidores.

Lula está chateado. Quer anunciar sua candidatura, que também resgataria o PT da crise, mas sabe que não pode nem deve, até ter a certeza de que sairá incólume das possíveis acusações contra ele na operação Lava Jato, comandada pelo juiz Sérgio Moro, de quem Lula depende, já que não goza mais de foro privilegiado.

Há quem tenha interpretado as declarações do ex-presidente aos repórteres como mais um blefe "à la Lula". É mais do que isso. Suas palavras indicam que quis se antecipar e fazer uma aposta. Quis jogar todas as cartas juntas.

Lula tem pressa e não se conforma com a espera de que algum de seus velhos amigos presos possa, com alguma declaração indiscreta, com alguma pequena ou grande acusação, bloquear seu caminho de volta à presidência.

A paciência não é o forte de Lula. Sua tática é o ataque, se adiantar para desmentir alguma coisa da qual ainda não tenha sido acusado.

E assim tem feito. Confessou sua inocência em público, se antecipando a possíveis acusações.

Mesmo enfraquecido politicamente, Lula ainda tem força eleitoral.

"Tenho endereço fixo, todo mundo sabe onde eu moro. Se tem uma coisa que eu me orgulho, neste país, é que não tem uma viva alma mais honesta que eu. Nem dentro da Polícia Federal; nem dentro do Ministério Público, nem dentro da Igreja Católica, nem da Igreja Evangélica. Pode ter alguém igual, mas mais do que eu, duvido."

Não foi apenas um desabafo. Suas palavras, ditas diante da imprensa, soam como uma aposta, um desafio, o ponto final. Significam: "Parem de importunar com ameaças de acusações contra minha conduta, porque sou inocente de todos os lados".

Lula, com seu desafio, mandou um recado a todos os níveis da polícia e da justiça: é inútil que investiguem, porque não encontrarão nada contra ele.

Sua aposta é arriscada, mas está lançada.

Não é possível saber quanto tempo Lula ainda vai esperar para que a polícia, promotores, juízes e delatores declarem que ele está definitivamente fora das investigações.

Sua urgência para se livrar de qualquer acusação possível ou indiciamento é que a incerteza pode manchar seu nome dentro e fora do país, e diminuir sua influência político-eleitoral.

Tem urgência de que seu nome saia limpo da Lava Jato para poder anunciar seu retorno aos ringues.

Lula ainda se sente o rei da intrincada selva política brasileira. E continua sendo um presidente à sombra

Há até quem imagine que, se a polícia e os juízes não derem uma resposta rápida às suas exigências de sair ileso de possíveis acusações, Lula se antecipe anunciando sua candidatura como último desafio.

Seria como dizer: "Sou candidato porque estou certo de que não há nada oculto contra mim".

Aqueles que acreditam que o Lula briguento, apesar de todos os desafios contra sua inocência, chegaria pelo menos ferido, devido às condenações de tantos líderes de seu partido, podem estar errados.

Mesmo enfraquecido politicamente, Lula ainda tem força eleitoral. Pode ser dito do leão: que quando caminha pela selva ferido, os outros animais se afastam.

Ainda existe o medo de Lula.

Seu desafio pode ser arriscado, mas não seria ele caso se intimidasse, esperando sentado algum raio inesperado.

Lula ainda se sente o rei da intrincada selva política brasileira. E continua sendo um presidente à sombra, como sabe muito bem sua pupila, Dilma Rousseff.

O Brasil logo vai saber se Lula tem ou não razão. A crise aperta, e os brasileiros estão com pressa. Tanto ou mais do que ele.

'Aedes brasilis'

O Aedes aegypti é um produto do Aedes brasilis: os brasileiros imprevidentes com saneamento e educação cívica. A consequência do casamento entre estes dois Aedes é o sofrimento de milhões de doentes contaminados com o vírus da dengue, e milhares com o vírus zika, que, possivelmente, provoca a tragédia da microcefalia.

O cérebro humano cresce três gramas por dia, durante o terceiro trimestre de sua gestação; depois, mais dois gramas diários durante os seis primeiros meses de vida, dependendo da alimentação e de estímulos físicos e educacionais. A partir daí, continua crescendo lentamente, ao longo de alguns anos iniciais de vida, mas seu potencial intelectual cresce indefinidamente graças aos diversos meios de educação, sobretudo na escola. Raramente, a natureza interrompe o crescimento natural do cérebro, mas no Brasil, nós o interrompemos pela omissão como tratamos o locus do seu desenvolvimento: na escola.

Desde a Proclamação da República, provocamos limitações intelectuais em dezenas de milhões de brasileiros, contaminados pelo Aedes brasilis que induz analfabetismo, impedindo brasileiros de reconhecer a própria bandeira, por não serem capazes de ler “Ordem e Progresso”. Este é o grau mais violento, mas não o único, na interrupção do crescimento intelectual do cérebro, provocado pelo Aedes brasilis.

Também é vítima do Aedes brasilis cada criança jogada para fora de uma escola de qualidade antes do fim do ensino médio. Ao longo de nossa história, a maioria da nossa população vem sendo contaminada por um zika social transmitido pelo Aedes brasilis. Ainda mais grave para um país que se diz republicano, o Aedes brasilis seleciona a vítima conforme a renda familiar. As crianças de alta renda dispõem de recursos para protegerem-se do vírus da microcefalia intelectual, são vacinadas em boas escolas, enquanto as crianças da baixa renda ficam condenadas ao vírus social.

A tragédia pessoal destes milhões de contaminados se transforma em tragédia histórica, porque, ao impedir a população de desenvolver plenamente seus talentos intelectuais, o Aedes brasilis limita o aproveitamento de centenas de milhões de cérebros, provocando uma microcefalia social que impede transformar o Brasil em um potente centro de desenvolvimento científico e tecnológico.

As consequências desta microcefalia social são o atraso econômico e social; além de dificultar o avanço político e a construção de uma sociedade democrática, eficiente e harmônica. Ainda mais, é a microcefalia intelectual que impede o Brasil de ter os sistemas de saneamento e de educação cívica propiciando o desenvolvimento do Aedes aegypti. O Aedes brasilis provoca microcefalia social, que termina sendo a principal causa das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti e todas as demais formas de pobreza intelectual.

Depois da farsa, a tragédia...

O que acontece quando um governo populista quer agradar ao povo, sem preocupação com a origem e as limitações dos recursos disponíveis? Certamente, um desastre, pois em algum momento as contas não fecham. O desastre é ainda maior quando oferece mimos a grandes empresas. A atitude de agradar, tanto a um povo carente quanto aos empresários amigos – para preservar o poder –, acaba por desagradar a todos. Ou seja, torna-se obsoleta a velha e recorrente estratégia de “subir no caminhão” e falar o que agrada aos peões e, depois, na “sala da diretoria”, falar o que os patrões querem ouvir, pois não há mais o que oferecer para ficar bem com todos. Tal estratégia, como sempre, é boa enquanto mantém partidos populistas no poder e, na hora de fechar as contas, argumenta que liberais malvados querem tirar o que progressistas bonzinhos oferecem ao povo.


Essa é a triste sina de uma América Latina tão distante de Deus e do mundo adulto e tão incapaz de assumir a culpa por seus próprios desastres. Em vez de aproveitar seus ciclos de bonança com a exportação de grãos, minérios e petróleo para investir e modernizar suas infraestruturas e indústrias, prefere queimar os recursos obtidos com estímulos ao consumo e um assistencialismo que não incorpora efetivamente as pessoas à educação moderna e ao processo produtivo. Nenhuma economia se sustenta, em prazo mais longo, com base na ignorância, na exacerbação do consumo e em baixos níveis de investimento. Tentativas de breves ciclos de ajustes e correção de distorções nas contas públicas são sempre seguidas de longos ciclos de irresponsabilidade fiscal e devastação de fundamentos econômicos básicos. O velho fetiche de estimular o crescimento pelo aumento do consumo e “um pouquinho” de inflação se torna incontrolável e todos acabam sofrendo com a conjugação de inflação alta e crescimento baixo.

A nova matriz econômica do primeiro governo Dilma foi uma tentativa de dar sobrevida a algo que já se mostrava inviável no segundo governo Lula. Após um período de estabilidade da moeda, aumento do poder de compra, previsibilidade e confiança nos negócios, equilíbrio fiscal e ordenamento das contas públicas – proporcionado pelo Plano Real e mantido no primeiro governo Lula –, seguiu-se um movimento oposto, que desagregou todo o esforço anterior.

Essa desagregação comprometeu, inclusive, um processo continuado de melhoria na distribuição da renda, por causa da inflação. Afetou, ainda, a credibilidade internacional, em razão dos rebaixamentos nas avaliações de risco. Desnecessário acrescentar a óbvia deterioração do ambiente político, resultante da estratégia de poder baseada no princípio do “eu pago, eu mando”. Tanto a inevitável explosão de sucessivos escândalos de corrupção como a radicalização irresponsável do projeto de dominação do poder desfiguraram todo o comedimento e a antiga sabedoria de contornar crises políticas.

Inflação e desemprego de dois dígitos, com longa recessão e queda do PIB, são ingredientes que levam a graves crises políticas e ao desmonte das instituições de Estado. A história do País mostra isso desde a crise de 1929-32, passando pelas de 1954-56, 1960-62, 1980-82, 1990-92. Com exceção da de 1929 e, em parte, da de 1982, pelo forte impacto do fator externo, são recorrentes o abandono de cuidados com ajuste fiscal, ordenamento das contas públicas e controle da inflação, além da falência de modelos baseados no fetiche do desenvolvimento a qualquer preço e/ou exacerbação do consumo.

Como existe aquele outro fetiche de que a História se repete, primeiro como tragédia e, depois, como farsa, é bom atentar para o fato de que, ao contrário, no Brasil as tragédias se repetem monotonamente como decorrência de farsas. A repetição resulta tanto de erros trágicos do próprio fazer como da escassez de prudência, bom senso e comedimento. Erros e húbris sempre dissimulados pela farsa e o burlesco, como convém ao exuberante e irresponsável ambiente tropical...
Josef Barat

A inteligência burra


A declaração de Lula de que “não há vivalma neste país e no mundo mais honesta que eu” apenas enriquece o já de si colossal folclore desta era, que no futuro será estudada como um período de ocaso da inteligência e da sanidade mental.

Lula disse ainda, a uma plateia amestrada, de jornalistas subsidiados pelo estado (contradição em termos), que “pode até haver (gente tão honesta quanto ele), mas acho difícil”, numa demonstração comovente de humildade – e de cara de pau.

Tal declaração – dita no momento em que se avolumam os sinais de que comandou a maior rapina da história mundial - se soma a outras, igualmente insanas, como a da homenagem à mandioca, “uma das maiores conquistas da humanidade”, proferida pela inigualável Dilma Roussef, que também disse que o “vírus do mosquito zica (sic) é transmitido pelo ovo”.

Não vale a pena – nem é o caso, nem haveria espaço para tanto – examinar as declarações em si. São inúmeras. Quem quiser se aprofundar no tema, dispõe de dois livros bem ilustrativos: o “Dicionário Lula”, de Ali Kamel, e o “Dilmês, o Idioma da Mulher Sapiens”, de Celso Arnaldo Araújo. Recomendo. Serão indispensáveis ao historiador do futuro.

Essencial é indagar como – e por que – a burrice e a ignorância subiram ao pódio e governam o país há tantos anos. Se Dilma concluir o seu mandato, o que é rejeitado por mais de dois terços da população, terão sido 16 anos de petismo no poder.

O partido, criado em 1980, foi forjado, no final da década dos 70 nas universidades paulistas (USP, Unicamp, PUC etc.), por intelectuais esquerdistas. Tinha como vitrine o sindicalismo que emergia das greves do ABC, com Lula à frente.

Foi apresentado como novidade, independente, embora, como se vê, não o fosse. O instinto peleguista que hoje exibe faria corar Getúlio Vargas, Peron e Mussolini. “Nunca antes”, diria Lula.

Mas é interessante notar que foram justamente os intelectuais os responsáveis pela queda do padrão intelectual – e, em decorrência, moral – que o partido introduziu na política nacional. Firmou-se perante o público com um discurso moralista, acusatório, que fugia ao debate com o conhecido truque erístico de demonizar o adversário, desacreditando-o previamente.

Se não havia algum delito à vista, o partido tratava de fabricá-lo, por meio de militantes infiltrados no Ministério Público (a propósito, onde anda o procurador Luiz Francisco de Souza, o Torquemada?). O truque era eficaz: um jornalista amestrado publicava uma nota, segundo a qual havia “rumores” no Ministério Público de que determinado delito “teria” ocorrido no governo.

Com base na nota, Luiz Francisco (havia outros, mas ele se destacava) abria um processo investigativo, que era sucedido por um pedido de CPI na Câmara ou no Senado. Instalava-se a gritaria, ainda que nada tivesse ocorrido. Lula dizia que “quanto mais CPI, melhor” – o inverso de sua prática no poder.

Em resumo, eis a receita: acusação sem provas, demonização de adversários, desgaste do governo, afirmação do papel moralista e moralizador do PT.

Dois episódios, entre numerosos outros, ficaram célebres: as acusações de corrupção a Eduardo Jorge, chefe da Casa Civil de FHC, e a Ibsen Pinheiro (PMDB), ex-presidente da Câmara, que acabou cassado. Posteriormente, a farsa foi desvendada, mas os danos já tinham ocorrido – e eram irreparáveis.

Com essa estratégia predadora, o partido chegou lá, deixando muitas vítimas no caminho – inclusive dois cadáveres do próprio PT: os prefeitos Celso Daniel (Santo André) e Toninho do PT (Campinas). Lula, claro, não quer CPIs para esses casos.

“Um outro país é possível”, proclamavam os petistas. De fato, não mentiam: outro país se instalou – e é este: o da mandioca, do Petrolão, da ruína moral e econômica, soma nefasta de burrice, desonestidade e violência.

A violência tem algumas siglas: MST, MTST, CUT, MPL (Movimento Passe Livre), que contam com a colaboração das milícias dos Black Blocs, em plena atividade há dias no Centro de São Paulo. Foi preciso que uma crise econômica de proporções avassaladoras se instalasse para que a sociedade despertasse do torpor em que se encontrava, ocasionando as maiores manifestações de rua da história do país. Os escândalos mostraram a verdadeira face de Lula e de seus aliados.

Mas o ponto central é outro: o único foco de resistência à saída do PT do poder são justamente os intelectuais – escritores, artistas renomados, professores universitários. São os maiores (únicos) defensores da permanência da burrice no comando do país – burrice e desonestidade. Relativizam os escândalos, acusando a justiça e a imprensa (que em grande parte ainda minimiza o que ocorre). É espantoso que a burrice tenha como defensora a inteligência (ou o que deveria expressá-la).

Buscam argumentos convincentes e apenas mostram que foram contaminados pela burrice que patrocinam. Acusam a multidão de milhões que protestam – mais de dois terços do país -de “fascista, reacionária, coxinhas”.

Desprezam o conteúdo do protesto e negam evidências – inclusive a crise econômica e os escândalos, mesmo os confessados -, sustentando que a culpa da febre é do termômetro.

Há ao menos aí uma coerência: o PT sobrevive graças ao núcleo que o gerou – e degenerou: intelectuais esquerdistas e pelegos sindicais, que aparelharam as principais entidades da sociedade civil”: ABI, OAB, UNE, CNBB.

O povo caiu na real - e, se algum benefício teve, a crise econômica (made in PT) tratou de revogá-lo. Não era benefício, era um truque. O demagogo é sabido, mas não é sábio – e esperteza (viu Marina) é uma rede, mas sem sustentabilidade alguma.

As ideologias já morreram, mas muita gente ainda não percebeu

É claro que este artigo desagradará a muitos comentaristas que frequentam a Tribuna da Internet, mas não fui criado para agradar a ninguém. Tenho recebido com tristeza as manifestações de radicalismo que estão marcando este blog, criado justamente para que as opiniões pudessem ser livres, que a troca de ideias conseguisse nos conduzir a conceitos em prol do bem comum, confesso que tinha essas tolas aspirações.

O tempo passa rápido, tive de recorrer ao Google para saber que a Tribuna está circulando na internet desde 2008, lá se vão oito anos em que venho trabalhando sem interrupção, 365 dias por ano, em busca deste sonho de um veículo de comunicação independente, em que todas as tendências e ideologias fossem respeitadas e se buscasse destacar as características positivas e negativas de cada uma das correntes, o que é até fácil de identificar, porque nos dias de hoje todos nós temos exata noção do que é certo ou errado.

Mas este sonho é também um pesadelo. Oito anos já se passaram e o resultado é desalentador. É como se nada tivesse acontecido nos últimos dois séculos e as antigas ideologias ainda existissem, com o comunismo e o capitalismo se contrapondo e se digladiando sem cessar.

Em 1978, o grande jornalista Mauritônio Meira teve a ideia de criar uma revista que circulasse simultaneamente encartada em jornais de todo o país e me convidou para dirigi-la, com absoluta liberdade editorial. De repente, lá estava eu trabalhando com monstros sagrados como Rubem Braga, Joel Silveira, Sebastião Nery, Nina Chavs, Raul Giudicelli, Fernando Lobo, Antônio Nássara, Nertan Macedo e muitos outros.

Logo nas primeiras edições da revista, que rapidamente se tornou o órgão de imprensa com maior tiragem e penetração do país, escrevi uma série de artigos sob o título “A morte das ideologias”. No primeiro deles, fazia ironia dizendo que, se Karl Marx e Friedrich Engels estivessem vivos e fossem morar na União Soviética, estariam presos na Sibéria, chupando picolé de gelo. O regime soviético os perseguiria implacavelmente.

Naquela época, quase 20 anos antes da queda do Muro de Berlim, já se sabia que a guerra fria ideológica era um papo furado, apenas disputa de poder, porque a ameaça do comunismo e a evolução social fizeram o capitalismo se aprimorar, aceitando os direitos trabalhistas e o Welfare State (Estado do Bem-Estar Social). Portanto, aquela conversa da exploração do homem pelo homem estava com os dias contados, embora até hoje insista em se fazer presente em países menos desenvolvidos, vejam como na prática a humanidade ainda continua estupidamente atrasada.

Meus textos fizeram sucesso pelo ineditismo. Encontrei o delegado Manoel Vidal (que depois se tornaria chefe de Polícia no RJ), ele estava fazendo o curso da Escola Superior de Guerra e me disse que a instituição colocara meus artigos sobre a morte das ideologias para serem discutidos pelos alunos e professores.

Como o equilíbrio está sempre no meio, a política também funciona assim, e a solução viria através de uma simbiose entre os conceitos do capitalismo e do comunismo, o que naquela altura já começava a acontecer nos países escandinavos, onde a democracia plural acabou dando tão certo que hoje as maiores discussões ideológicas lá existentes se concentram em temas como a defesa do meio ambiente e os problemas da migração.

Criou-se naquela inóspita região do planeta uma espécie de neocapitalismo, que vem a ser irmão xifópago do neosocialismo, a diferença é só questão de ponto de vista.

Diante desta realidade da evolução política, que é concreta e não tem como ser contestada, é triste ver a falta de consideração que ainda é demonstrada em relação a Karl Marx e Friedrich Engels, que continuam sendo caluniados pelos erros cometidos por ditadores como Josef Stalin, Fidel Castro e Kim Jong-un, três exemplos de péssima execução do marxismo na era contemporânea.

Os críticos de Marx e Engels se comportam como se eles ainda estivessem vivos, tomando um cafezinho no bar da esquina. Esquecem que eles desenvolveram suas teorias políticas na época em que viveram, há quase 200 anos, quando a exploração do homem pelo homem ainda era abertamente tolerada.

Antes de Marx e Engels viera outro alemão, Georg Hegel, que questionava as concepções políticos e filosóficas da época. Marx deu um passo à frente, ao definir que “os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo”.

Como os empresários não manifestavam nenhuma preocupação com a saúde e a duração da vida dos trabalhadores, o que Marx e Engels pretendiam era idealizar uma sociedade mais justa, com uma melhor distribuição de renda, sem a exploração exacerbada dos trabalhadores, que ainda não tinham conquistado direitos sociais. Os dois pensadores não queriam escravizar ou subjugar ninguém, muito pelo contrário. E não têm culpa de que suas ideias tenha sido deturpadas por meros tiranos, que aplicaram as teorias de maneira completamente equivocada, criando ditaduras sangrentas, tudo errado.

Discutir ideologias na época em que vivemos, sem dúvida, é apenas perda de tempo.

A temperatura vai subir

Intensa atividade começa a registrar-se a partir da próxima semana no Supremo Tribunal Federal, na Procuradoria Geral da República e na Polícia Federal. Essas instituições não vão esperar o Carnaval para iniciar mais uma operação do Lava Jato, agora voltada para os parlamentares envolvidos nos escândalos da Petrobras. O procurador Rodrigo Janot liberou, semanas atrás, uma lista parcial de deputados e senadores acusados de participação nos desvios de verbas, superfaturamento, distribuição de propinas e demais falcatruas celebradas à sombra da estatal e com a participação de empreiteiras, doleiros e altos funcionários públicos.

Saco-Dilma-Lula-Dirceu
Não começa propriamente a fase das apurações, já iniciada. Em linguagem do surfe, pode-se deduzir estarmos entrando na reta final. O Procurador formalizará as denúncias, os ministros do Supremo abrirão ou não os processos e os policiais federais continuarão suas investigações, já em curso. Seria prematuro supor que pelo menos vinte deputados e cinco senadores estão na alça de mira, até porque valerá o segredo justiça para as peças iniciais e os primeiros passos processuais, mas, como em casos semelhantes, os vazamentos continuarão indo muito bem, obrigado.

O conteúdo principal dessa nova operação fundamenta-se nas delações premiadas colhidas recentemente, sabendo-se que a movimentação na Praça dos Três Poderes a partir de segunda-feira ganhará ritmo mais intenso. Parece óbvio que na semana do carnaval os trabalhos arrefecerão, mas nem tanto. Alguns ministros da mais alta corte nacional de justiça já se encontram em Brasília, o procurador geral comparece todos os dias ao seu gabinete e a Polícia Federal, de resto, jamais interrompeu suas atividades.

Tem-se a informação de que já se movimentam com seus advogados os parlamentares objeto das apurações, empenhados em dissecar as acusações. Não todos, mas muitos, parecem próximos da beira de um ataque de nervos, mesmo pretendendo não passar recibo. Não há necessidade de fulanizá-los, seus nomes tem frequentado o noticiário das delações.

Em suma, este segundo semestre promete, não obstante os recursos e artifícios postos à disposição de Suas Excelências por força da lei. Mas que a temperatura vai subir, é evidente. Além do Congresso, há preocupação, também, no palácio do Planalto, na medida em que muitos dos implicados formam na base do governo e até foram ministros do Lula e de Dilma. Madame mostra-se tranquila, o antecessor um pouco menos.

Carlos Chagas

Apertem o Reset

Precisamos apertar o botão de RESET e reconstruir o país sem a presença dos bandidos que o destruíram. Muito mais perigosos do que as pessoas acreditam
Leandro Ruschel

Passagem gratuita é passagem financiada para campanha


As manifestações cretinas, direcionadas por interesseiros políticos, está enchendo tanto o saco que nem petista aguentou. O prefeito paulistano Fernando Haddad mandou um recado direto para a turba local e os demagogos do próprio partido, em prefeituras vermelhas, que ainda "defendem" os ônibus gratuitos (sic), versão partidária do passe livre. 

Haddad foi curto e grosso com os ideais de falastrões do próprio partido e de outros, que advogam a causa com a cara de pau costumeira. "Agora quer passe livre para todo mundo. Então é melhor eleger um mágico em outubro, porque prefeito não vai dar conta disso”.

O passe livre ou os ônibus gratuitos ainda podem ser aplicados em cidades de pequeno porte, mas muito bem administradas. E há esse serviço no país com bons resultados. Não serão nunca solução nos feudos petistas, onde as administrações são um esculacho. Na verdade, apenas aparelhos de recolhimento de recursos públicos para sustentação do partido e de seus comissionados, ou boquinhas, com o único intuito de se manter no governo.

Exemplo de que má administração pública (para não dizer, nefasta) não combina com transporte gratuito e é apenas mais um recurso dos socialistas de boteco é Maricá (RJ). Retrato 3x4 do Brasil petista, sob o reinado de Quaquá, o Pato, municípo sofre uma sangria nos cofres públicos mensal com a criação da autarquia Empresa Pública de Transportes (EPT, sugestivo não?) e sua manutenção.


Quaquá adora desfilar suas "grandes realizações" em favor do povo
Depois de gastar R$ 10 milhões na compra de ônibus standard, outros milhões foram aplicados na compra de veículos de turismo para servir (sic) à população. E Quaquá, o Pato, amigo de Dirceu e Lula, com o título de Real Defensor do Povo, pretende ampliar o número de ônibus e de gastos com a empresa.

O grande problema é que os ônibus foram obrigados pela Justiça a circularem em trajetos alternativos - para não competirem com as empresas como gostaria o santo prefeito - e estão sempre praticamente vazios. Há viagens em que os veículos parecem trem fantasma sem viva alma, gastando dinheiro público para promoção de um governo populista e demagogo.

Como Quaquá, sempre atento às reivindicações populares, tem fixação em acabar com as empresas de transportes no município - pirraça de cretino -, pouco se dá de que está gastando aos borbotões para levantar a bola da EPT a fim de garantir a permanência do PT no descomando do município.

Lula: Loucura como método

Humildade, modéstia e autocontrole não parecem ser palavras presentes no dicionário do ex-presidente Lula. Quarta-feira, em entrevista a blogueiros chapa-branca no instituto que leva seu nome, Lula praticamente canonizou a si próprio: “Se tem uma coisa que eu me orgulho, neste país, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da Igreja Católica, nem dentro da Igreja Evangélica. Pode ter igual, mas mais do que eu, duvido”. Como a afirmação soa megalomaníaca até mesmo para um fã inveterado do ex-presidente, é preciso parar e questionar. Será que, passados alguns dias da espantosa afirmação, compreendemos o alcance e as intenções de quem solta um desvario desses? Como estamos tratando de Lula, todo cuidado é pouco e precisamos exclamar, como o personagem de Hamlet: “Loucura, sim, mas tem seu método”.

Dirá alguém que circunstâncias extraordinárias exigem ações extraordinárias, e essa afirmação exagerada de uma honestidade a toda prova só foi necessária porque o cerco está se fechando sobre o até então intocável ex-presidente. Embora não esteja sendo investigado na Lava Jato, Lula foi chamado a depor na Operação Zelotes, por causa das suspeitas que envolvem um de seus filhos, Luís Cláudio, e das relações com o lobista Marcos Marcondes Machado, que foi preso, acusado de operar em suposto esquema de compra de medidas provisórias. O incômodo sentido por Lula com essas investigações aparentemente é maior que qualquer outra inquietação do ex-presidente, que mesmo no auge do mensalão parecia tranquilo em sua estratégia, navegando do “não sei de nada” para o “fui traído” e, finalmente, para o “isso nunca existiu”.

Mas os tempos são outros e o ex-presidente parece estar se preparando para uma batalha de comunicação mais intensa. Além de proclamar a sua indubitável honestidade, Lula ainda quis posar de defensor dos direitos humanos ao defender o manifesto dos penalistas que advogam na Lava Jato: “Achei o manifesto pertinente, atualizado e acho que está na hora de a sociedade brasileira acordar e exigir mais democracia, mais direitos humanos.” Antes de Lula, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, já havia defendido o manifesto.

Parece claro que as defesas dos acusados no petrolão, já desesperançosas de conseguir anular os processos da Lava Jato nos tribunais e se livrar das acusações de corrupção, resolveram investir em uma campanha midiática vitimista para convencer a opinião pública de que as garantias constitucionais estariam sendo violadas. É nessa canoa que Lula e Rui Falcão embarcaram, embora ainda não seja possível saber para onde estão remando.

Se o plano é dar à militância argumentos para defender o partido e seus principais nomes, é provável que essa meta seja alcançada. Basta ver quantos petistas ainda aclamam os mensaleiros condenados como “guerreiros do povo brasileiro” e acusam o STF de ter promovido, na época, “julgamento político” – expressão que já surgiu no caso do ex-tesoureiro João Vaccari Neto, preso pela Lava Jato.

Mas, se a intenção for a de sensibilizar a população a favor de si próprio, do PT, ou mesmo a de evitar o impeachment da presidente Dilma, dificilmente a estratégia surtirá efeito – como, aliás, ocorreu no mesmíssimo mensalão. Quem viu as grandes manifestações contra o PT em 2015 sabe que o discurso da vitimização e da ofensa à ampla defesa já não cola mais.

Ainda há uma terceira possibilidade: com esse discurso de defesa dos direitos humanos e de que neste momento “está muito mais difícil que na ditadura”, Lula pode estar acreditando que pode influenciar no discernimento de algum dos ministros do STF, que julgará eventuais réus da Lava Jato com foro privilegiado ou acabará analisando recursos de condenados em instâncias inferiores – esta, sim, uma estratégia de resultado imprevisível, ao contrário das outras duas.

Certo é que, diante de manifestações tão estapafúrdias de alguém que não dá ponto sem nó, seguir de perto a raposa é essencial, pois ainda é possível que haja algo mais que não se esteja conseguindo identificar
.

O caixão tá aberto

O PT se autoassassinou. Há uma diferença entre autoassassinato e suicídio: suicídio é um gesto consciente, em que existe até uma dignidade; o autoassassinato nem é consciente nem carrega dignidade.
O PT se autoassassinou por recusar o mérito nos seus dirigentes: nomeava ministro, vice-ministro, subministro, diretores apenas por interesses imediatistas, corporativos. Se autoassassinou por não pensar o médio e longo prazo do Brasil, por ficar prisioneiro da próxima eleição, por abrir mão das reformas necessárias que poderia ter feito, sobretudo com a grande liderança que era Lula
Cristovam Buarque

Rapar o tacho

A desonestidade do PT, do governo e de seus comparsas não tem medidas. Estão prontos a fazer com o país qualquer desgraça desde que mantenha o osso sob o controle. Seria como teria dito Lula a Dilma, segundo revelou O Antagonista: "Essa p. é nossa e não vamos entregá-la a ninguém".

A fase é bem própria de Lula que não só defende ser o Brasil do PT como assim assegurar a imunidade para companheiros, família e a si próprio. Bem típico daqueles tiranetes que ficaram na história como donos de republiquetas ou chefões do tráfico. Lula, para não ficar igual, só falta ter penas.

A expressão de Lula tipifica o que se tornou o Partido dos Trabalhadores, que parte das lutas sociais para a tomada das instituições. É o double face: cara de esquerda, sem ser socialista, para ganhar votos, e atitude de direita populista e amiga dos bancos.

São tão esculachadamente contra o país que não se satisfazem em rasparem os fundos de pensão, os bancos públicos, as estatais, utilizarem dinheiro público para manter nos cargos mercenários petistas. Agora, Nelson Barbosa, um dos idealizadores da "nova matriz", anuncia que também assaltarão o FGTS.

Para garantir o poder, o próprio Partido dos Trabalhadores sequer respeita o fundo dos trabalhadores, e de há muito. Assim poderão dar mais dinheiro aos bancos, que sempre foram, na encolha, os grandes beneficiários do paraíso petista.

Vão raspar o que puderem até o Brasil ficar no osso, na desgraça, para parecerem, em 2018, os salvadores da nova solução. Isso é que é honestidade, segundo Lula: raspar os cofres não é roubar.

O dicionário informa: Lula não é honesto

Na mais recente missa negra celebrada no Instituto Lula, com um bando de blogueiros de joelhos caprichando no papel de coroinha sabujo, Lula comunicou no meio do sermão que é ele o detentor do título de campeão brasileiro de honestidade. “Se tem uma coisa que eu me orgulho neste país é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu”, louvou-se o pregador. “Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da igreja católica, nem dentro da igreja evangélica. Pode ter igual. Mais, eu duvido”.

Uma consulta a qualquer dicionário informa que só leva a sério o palavrório de Lula gente que acharia muito justa a vitória do seu colega Marcola no concurso que elegeu o Presidiário Modelo. O verbete ensina que o adjetivo honesto só é aplicável a alguém que seja 1) honrado, probo; 2) consciencioso, sério, digno de confiança; 3) justo, escrupuloso; 4) imparcial; 5) veraz; 6) decente, decoroso, virtuoso; 7) casto, pudico, recatado. Nem Marilena Chauí ousaria enquadrar seu santo padroeiro numa das sete opções.

O ex-presidente nasceu desprovido do sentimento da honra, nunca rimou com seriedade, inspira tanta confiança quanto um hipnotizador de circo mambembe, desconfia que escrúpulo é nome de inseto, é mais parcial que torcida organizada, mente como Dilma Rousseff, é tão virtuoso quanto Rosemary Noronha e acha que decência é coisa de otário. Para o homem que liderou a execução do projeto criminoso de poder, o único pecado mortal é perder eleição. A eternidade no poder é o fim que justifica todos os meios ─ do furto do cofrinho da bisavó à venda da mãe em suaves prestações.


Se os dicionários berram em coro que Lula não é honesto, o vídeo acrescenta que nunca foi. Os 22 segundos iniciais reproduzem a discurseira em que o camelô de empreiteira revelou aos blogueiros estatizados que será aprovado com louvor no Juízo Final. Os 68 segundos restantes registram o momento mais assombroso da conversa ocorrida em 25 de março de 2004 entre o então presidente e um faxineiro que, dias antes, havia devolvido ao dono a sacola com 10 mil dólares que encontrara no banheiro do aeroporto de Brasília.

Graças ao exemplo de honradez, o faxineiro Francisco Basílio Cavalcante conseguiu alguns minutos de notoriedade e um encontro com Lula no Palácio do Planalto. O visitante lutava pela sobrevivência permanentemente acossado por contas atrasadas. O anfitrião já entrava sem bater no clube dos milionários. Era o chefe supremo de um partido com os cofres abastecidos por dinheiro público ou negociatas com empresários generosos. E já havia pacificado o Congresso com a farra do Mensalão, que só seria descoberta em meados de 2005.

─ Você acha que tem muitos brasileiros que fariam o que você faz? ─ pergunta Lula de saída, com a expressão de quem contempla uma esquisitice nativa.

─ Tem ─ responde Francisco sem titubeios. ─ Tive alguns amigos que me disseram para ficar com o dinheiro, mas esse é o lado desonesto.

─ Mas nem é desonestidade, não ─ discorda o presidente. ─ Quem acha um dinheiro assim, sem dono, pensa em melhorar de vida. Os que têm a consciência muito forte como você são muito poucos.

Ele nunca esteve entre esses “muito poucos”. Se fosse ele o faxineiro, o dono da sacola nunca mais veria a cor do dinheiro. Lula faria com os 10 mil dólares o que fizeram com os bilhões da Petrobras os canalhas que escolheu e apadrinhou.