sábado, 17 de dezembro de 2016

Pobreza cresce na Alemanha, aponta relatório governamental

Os ricos da Alemanha estão ficando mais ricos, e os pobres, se não necessariamente mais pobres, estão ficando mais numerosos. Essa é uma conclusão que se pode extrair do quinto "Relatório sobre Pobreza e Riqueza" do governo alemão. O documento não será publicado até o início de 2017, mas detalhes preliminares foram divulgados por vários jornais.

A boa notícia: o número de milionários na Alemanha subiu para 16.495, contra 12.424 em 2009, e os salários dos empregados fixos aumentou mais de 10% nos últimos quatro anos. Os lucros para autônomos aumentaram numa margem similar.

A má notícia: 4,17 milhões de alemães – cerca de 6,1% da população – estão fortemente endividados, e a remuneração no setor de baixos salários não manteve o mesmo ritmo da média nacional. O número dos sem-teto passou de 223 mil em 2008 para 335 mil em 2014. Cerca de 5,6% da população é oficialmente classificada como pobre.

"O centro está se estabilizando", resumiu a ministra do Trabalho da Alemanha, Andrea Nahles, ao jornal Bild. "Mas nas margens, a sociedade está um tanto debilitada."


O documento de cerca de 600 páginas é publicado pelo governo alemão a cada quatro anos, visando, entre outras metas, fornecer um panorama da situação no mercado de trabalho e do desenvolvimento dos salários e rendimentos dos cidadãos.

Antes mesmo da divulgação, o relatório já provocou controvérsia, depois que o jornal Süddeutsche Zeitung afirmou, em reportagem publicada nesta quinta-feira (15/12), que o governo teria cortado do texto passagens sobre a influência política dos mais ricos, como um trecho afirmando que é mais provável as mudanças políticas ocorrerem se forem "apoiadas por um grande número de pessoas de rendimento mais elevado".

As reações iniciais aos dados se dividiram entre especular se os ricos estariam lucrando em detrimento dos pobres e se o governo deveria fazer mais para redistribuir a riqueza. Para melhorar a compreensão de uma situação complexa, a DW conversou com dois especialistas com perspectivas muito diferentes.

Christoph Butterwegge, professor de ciência política da Universidade de Colônia e candidato do partido A Esquerda ao cargo de presidente da Alemanha, pede um aumento imediato do salário mínimo alemão para 10 euros por hora e acusa o governo de não estar realmente preocupado com o combate à pobreza. "Os relatórios ficam cada vez mais volumosos, mas os problemas não são enfrentados. Seria bom se a ação acompanhasse esses dados. Posso dar uma série de exemplos específicos."

Além do salário mínimo, Butterwegge cita divergências sobre se o apoio às mães solteiras deve ser financiado pelo governo federal ou pelos estaduais, a falta de assistência para aposentados com baixos rendimentos e aposentados por invalidez, e a relutância em financiar programas sociais com um imposto sobre o patrimônio ou um imposto sobre altos ganhos de capital.

"Isso é luta contra a pobreza?", pergunta retoricamente o esquerdista. "Só se tem que olhar o acordo de coalizão [entre conservadores e social-democratas], para ver que essa não é uma prioridade central."

Markus Grabka é especialista em pobreza e pesquisador do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica em Berlim, tendo colaborado em todas as edições anteriores do relatório. Tendo também ficado surpreso que o risco de se tornar pobre tenha aumentado na Alemanha, ele diz acreditar que isso tenha a ver com o número de idosos, particularmente da Alemanha Oriental, que recebem aposentadorias mínimas.

Mas ele contesta a ideia de que o governo não esteja interessado em combater a pobreza. "O atual governo alemão criou um salário mínimo. Isso foi um sinal importante. Nós ainda não sabemos que efeito isso terá."

Grabka não vê necessariamente a redistribuição da riqueza como uma panaceia para a pobreza. "É sensato cortar a torta ainda mais? Ou será que não deveríamos estar tentando aumentar o tamanho da torta como um todo? A posição do nosso instituto é que há redistribuição suficiente na Alemanha. Pessoalmente, penso que precisamos de políticas diferentes destinadas a criar riqueza, para que as pessoas no centro da sociedade tenham uma parcela maior."

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