quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Perdas e perdas de 2016

Talvez este artigo represente quase todos os brasileiros. Quase todos – porque, em um país como o nosso, há os que não perdem nunca, há os que sempre escapam de perder e há os que, entre mortos e feridos, acabam por se locupletar. O resto se dana. Penso nos que se danaram e nos que se importam com os que se danaram.

Primeiramente, as perdas pessoais: desemprego para tantos; decomposição das famílias por simples (simples?!) motivo de uns gostarem do azul e outros do amarelo. E quando a política e a economia azedam, a coisa fica complicada. Mudanças de vida, desejadas há muito tempo e agora nem tanto. Amigos que se estranham porque cada um tomou um lado das polarizações da vida política ou institucional.


No meu caso, porque escrevo, tenho um leitor que pega no meu pé no caso do governador de Minas, sendo que foi o leitor quem não leu meu artigo sobre o caso, publicado neste O TEMPO no dia 12.10.2016 sob o título “Vitória de um, derrota de todos”.

Não vou ficar batendo numa tecla só, nem por rancor, nem por desprezo. A vida não espera a gente, e atrás sempre vem mais gente.

Depois, as perdas sociais, políticas e econômicas. Pus no fim as econômicas porque neste mundo do “rei mercado” tudo começa (e parece acabar) na economia... Mas tem escaramuças entre instituições, no interior de cada uma delas, e essa sensação de que o mundo inteiro está despencando no abismo. Abismo sideral – fica uma frase linda, mas o que dizer das vítimas de Aleppo, dos refugiados que morrem no mar Mediterrâneo, das feiras de Natal (tão lindas, tão comoventes) das ruas de Berlim, atropelada uma, recentemente, pela estupidez do Estado Islâmico?!

Que fazer contra o preconceito nas redes sociais que perseguem a linda menina negra adotada pelo casal de artistas? Mesmo se ela fosse feia, ela é gente como eu, como você, como todos nós. Agora a (re-descoberta da) violência contra as mulheres, quando se faz uma campanha e mulheres chiques, atrizes e modelos expõem os hematomas de multidões de mulheres do Brasil – não, do mundo afora...

Àqueles para quem eu gostaria de escrever nem vão ler este jornal, porque a vida deles é difícil demais. Nada possuem.

Passaremos este Natal e Ano-Novo recolhidos.

Nada temos a comemorar entre os que ruidosamente lotam as ruas de comércio popular ou os shopping centers fazendo de conta que estão bem. Desde o Carnaval passado, em Belo Horizonte, percebo um certo frenesi incontido nas pessoas, cada um querendo se acabar porque sente que talvez não tenha amanhã. Dia desses, num restaurante, a algazarra parecia o filme Cabaré” de antes da Segunda Grande Guerra...

Não, leitor, não tenho como desejar boas festas. Festa não há!

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